“Rue, desça! Os carreiristas vão te ver aí, cuidado!” - grito para a pequena garota em cima da árvore.

“Katniss, não há ninguém aqui para nos incomodar. Eu gosto de cantar nessas árvores e olhar pro céu, me lembra minha casa. Me lembra minha mãe e meus irmãos.” - ela indaga, sonhadora.

“Mas eles não devem estar muito longe, Rue. Se posso falar com você, vocêpode falar com eles! Rue, pense na felicidade de sua família, Rue!”

“Está tudo bem, Katniss. Eu posso sintir eles perto de mim, posso imaginar suas vidas. Prim sente sua falta Katniss, ela gostaria de poder conversar com você.” - Rue desce da árvore com agilidade, como se fizesse isso o dia todo.

“Prim… Como ela está? Diga a ela que não foi culpa de Gale, diga a ela que…”

“Ela sabe disso, Katniss. Mas você tem que se preocupar com outras coisas. Ameaças. É disso que preciso falar com você.” - ela diz se aproximando seriamente, com um ar preocupado.

“O que é, Rue?”

“Francie não mentiu em momento algum, você corre perigo. Snow está mais perto que imagina, cuidado minha amiga, cuidado!” - ela disse me estendendo um papelzinho com uma letra infantil - “Lembre-se da minha música. Lembre-se dos tordos. Lembre-se de mim.”

De repente, Rue tremulou e atrás dela apareceu Cinna, Finnick e até mesmo Prim. Eles estenderam o papelzinho, e sorriram preocupados. Depois disso parecia que estivesse caindo de um lugar muito alto, caindo das nuvens? Não dava para saber. Senti suas mãos me abraçarem, me protegerem de qualquer mal, me acalentando.

Acordei com um sobressalto, três e meia da manhã. O suor escorria friamente pelo meu pescoço. Com as costas da mão limpei o suor presente em minha testa e olhei para o lado, Peeta dormia quietamente. Afaguei meu travesseiro para voltar a dormir e senti algo embaixo dele.

Um papelzinho amassado estava ali. Dizia em uma letra infantil. “WONS NILLOC”. Não fazia sentido as duas palavras presentes ali, e porque estava aí? Seria o mesmo papelzinho do meu sonho, impossível. Pensei em acordar Peeta e mostrar para ele, mas vendo seu rosto angelical dormindo não tive coragem, simplismente guardei o papelzinho em minha gaveta e me enrolei nos cobertores junto de Peeta, para um sono sem sonhos.

Os dedos suaves de Peeta dançaram sobre minha pele, seguindo das têmporas para meus lábios. Abri meus olhos lentamente, me adaptando à luz do quarto. A luz pálida da manhã entrava forte pelas cortinas do quarto, iluminando o rosto de Peeta e o meu. Selei nossos lábios rapidamente, abraçando-o logo após, sentindo seu perfume adocicado.

Suas mãos cobriram-me com o cobertor, enquanto este depositava um beijo em minha testa e se levantava calmamente. Ele já estava vestido, e em suas calças jeans estavam visivelmente sujas com farinha e a blusa também. Puxei-o com pelo antebraço e contei tudo o que aconteceu em meu sonho e mostrei o papelzinho. Ele também não entendeu o que queria dizer, mas disse que um ex-presidente de Panem tinha se chamado Wons, mas isto 50 anos atrás, o que não teria nenhuma relação com o presente.

Descemos as escadas e ali encontramos Collin, Haymitch, Johan e Effie. Ambos comiam algum tipo de pão com manteiga e olhavam intrigados para a televisão. Havia apenas mais duas crianças nos Jogos Vorazes da Capital. Uma era uma menina com os cabelos rosa e tinha parte do rosto ralado com (provavelmente) um ralador, e o outro era um garota asiático que tinha os cabelos amarelo neon e o rosto cheio de picadas feias e inchadas.

O garoto asiático corria atrás da menina com um tijolo nas mãos, embora ele mal conseguisse carregá-lo. Eles corriam entre as árvores por ali. A menina tropeça, ele joga o tijolo em sua cabeça. Um rasgo se abre nas têmporas da menina, está ensanguentada, o menino está caído no chão assustado. Um tiro de canhão é ouvido, e o menino ganha o último Jogos Vorazes.

Decido sair da sala, pois logo me lembro de Francie, e sinto saudades dela. Calço minhas botas rapidamente e saio de casa, caminhando sobre a neve com pisadas fortes, apenas nervosa demais para ficar no abafo da Vila dos Vitoriosos. Desço para o Prego, mas evito-o me lembrando da antiga sopa quente daquela senhora que já até me esqueci o nome. Chego ao lago congelado, perto da antiga casa de Madge, onde as plantações de morango são visíveis e as minas estão perto.

“Você é muito polêmica.” - diz Collin se sentando ao meu lado.

“E você muito intrometido, o que quer?” - desde a última vez que vi Collin, três semanas atrás, nos tornamos grandes amigos, bem próximos na verdade.

“Nada, só precisava de um ar. Francie, onde está?”

“Não faço ideia, talvez no 13 ou foi para um lugar melhor para ela viver. Eu não sei. Mas faz mais de um mês que não tenho notícias suas. Temo por sua segurança.”

“Ela está bem, ela é a menina do ralador. Ela sabe se virar.”

“Sim, está certo. Mas uma carta não seria mal.”

“Falando em cartas, vou ter que viajar. Para a Capital.” - ele disse em um suspiro.

“Porque está me deixando? Como todos Collin?!”

“Não, é só uns probleminhas bobos, coisas fáceis. Vou voltar em menos de duas semanas. Você nem vai sentir minha falta. E vou te mandar telegramas e cartas. Eu prometo, Katniss.” - ele disse pegando calorosamente minha mão.

“Está certo. Eu te perdoo, Collin.” - logo depois ele se aproximou e roubou um beijo meu.