The Winner escrita por Sially


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Se você está lendo isso, saiba que sou muito grata por você estar lendo desde quando eu postei o primeiro capítulo que faz muito tempo (para os leitores antigos). Os novos leitores também são bem vindos.
Eu ia abandonar a fanfic e por alguns motivos meus reli os primeiros capítulos e achei que seria interessante desenvolver a história. Várias ideas me passaram pela cabeça.
Então aqui está o capítulo 4. Espero que gostem e não deixem de comentar o que acharam da história e desse capítulo.
Boa leitura



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Annie gritava meu nome desesperadamente e vez sumia, vez aparecia. Estávamos na minha arena e pude ver meu tridente em seu pescoço. Ela parou de respirar e caiu na água, o tridente estava de volta em minhas mãos e ao meu redor todos os tributos que matei mas algo me incomodava na cena: Ela estava morta.

Acordei em um pulo. Estava suado e nervoso. O sonho tinha sido real demais e o fato de que Annie poderia realmente morrer naquela arena estava me perturbando como nunca. Eu ainda não tinha a menor ideia de como faria para ela sobreviver.

Mesmo depois de 4 anos como mentor, ainda tinha medo de passar a dica errada. Nosso distrito é um dos que tinham mais carreiristas, eu não sabia se mandava Annie se passar por eles ou se mandava se esconder.

Minha agonia me fez levantar da cama, não conseguiria ficar ali me revirando até dormir e ter outro pesadelo. Levantei e programei o painel da janela para mostrar o mar, o mar do meu distrito. Fui para o banheiro e tomei um banho rápido deixando que a água lavasse todas as preocupações, como se isso fosse mesmo possível.

Antes de deitar na minha cama de novo decidi passar no quarto dela para me certificar de que estava bem. Andei a passos leves até seu quarto e abri a porta sem fazer barulho. Fiquei apenas olhando ela dormir. Depois de alguns minutos sorri para mim mesmo vendo como o simples fato de ela estar ali me acalmava.

– Eu sei que você está ai, Finn - ela disse com voz sonolenta se virando em minha direção.

– Desculpa, eu acordei você?!

– Não.. mas acho que pode me ajudar a dormir. - ela chamou e eu me aproximei deitando me ao seu lado enrolando meus braços em seu corpo miúdo. - Obrigada. - ela disse baixinho. Beijei sua cabeça e fiquei mexendo em seus cabelos até que ela dormisse.

Xx

– Bom dia! - cheguei na mesa do café. Marcus ja estava lá beliscando algumas comidas.

– É tão estranho não ter só peixe para comer. - ele disse baixinho pegando um dos pães doces. E pude sentir sua humildade. Por mais que o distrito não fosse pobre, muitas famílias eram, inclusive a minha, então eu sabia o que era ter peixe para o café da manhã, almoço e jantar. E sempre agradecíamos nosso alimento já que tinham famílias que sequer sabiam pescar.

Não soube exatamente o que falar então simplesmente não disse nada. Peguei o suco e me servi, comi algumas torradas e ovos mexidos. Logo Annie se juntou a nós se aproximando e me dando um beijo rápido de bom dia.

Como estávamos todos reunidos decidi ja explicar como seria o dia.

– Hoje é o dia do treinamento e entrevistas individuais. Vocês verão pessoas que te darão medo mas não deixe que isso transpareça. Pareçam confiantes. Vocês tem alguma habilidade específica?

– Eu sei pescar. - disse Marcus.

– Sabe como faz uma vara de pesca? - perguntei. Ele assentiu. - Então fica mais fácil. Do mesmo jeito que você faz a vara pode fazer uma ponta fina e usar como lança. - pude ver seu olhar desviar distraído pensando em como faria aquilo, não pude deixar de rir. - não se preocupe vou ensiná-lo. Annie - olhei para ela um pouco mais preocupado. - Vou te ajudar também. Tem alguma coisa que você goste de fazer ou seja muito boa? - fazendo aquela pergunta pude perceber que eu ficara tanto tempo afastado que sequer sabia seus hobbys ou o que ela mais fazia bem.

– Eu sou boa com nós, eu acho. - ela disse tímida. Era engraçado como ela era mais confiante e decidida quando estávamos a sós e em uma mesa com Marcus a mais ela já se acanhava.

– Então você fará as melhores armadilhas. - sorri para ela confiante. - Não se preocupem, vocês sairão vencedores. - eu sabia que era mentira, eles sabiam que era mentira. E por mais remota que fosse a possibilidade de aquilo ser pelo menos meia verdade, os dois nunca ganhariam só havia prêmio para um vencedor.

Xx

– Certo, Marcus, podemos criar uma lança. - eu afirmei tentando transmitir confiança. Decidi começar o treinamento sozinho com ele. Peguei alguns bambus disponíveis e comecei a cortá-los.

Marcus se aproximou me observando. Dei um outro pedaço de bambu a ele para que pudesse me imitar.

– Marcus, lembre-se, na arena pode ser que não haja bambu mas outras árvores então se for preciso você precisa dar um jeito de cortar um pedaço da árvore e fazê-lo. Ou em último caso, vá para a Cornucópia e consiga alguma arma, te poupará tempo mas não use isso como sua primeira opção.

– Ta bom esse tamanho? - ele me mostrou um pedaço que já estava fino e curto demais.

– Você cortou demais, se ficar muito fino como uma vara mesmo quando tentar atacar alguém pode quebrar e sua arma se virará contra você. - expliquei. Ele concordou e recomeçou. Dessa vez parecia um pouco mais confiante talvez por estar conseguindo ver uma esperança de sair vivo.

Fui para outro lado e usei uma pedaço da árvore para esculpir um tridente. Era minha arma favorita, no distrito usava ela para pescar também. Era uma forma bem rústica mas era como meu pai tinha me ensinado. Ele dizia que antes de aprender do jeito fácil deveria saber o mais difícil e assim o fácil viraria somente uma possibilidade entre tantas formas melhores. Não tinha entendido ao certo sua frase mas desde então eu esculpira meu tridente e usava parar pescar as refeições.

Passado alguns minutos olhei rapidamente Marcus e ele estava bem concentrado. Marcus queria conseguir, era perceptível em seus olhos, havia uma força de vontade neles. Voltei ao meu tridente e depois de mais alguns minutos ouvi grunhidos frustrados e vi Marcus jogando sua lança quebrada no chão. Ele mesmo perdeu o equilíbrio e caiu no chão em prantos. Corri ao seu lado e me abaixei.

– O que aconteceu? - perguntei.

– É que… não.. - ele falava entre um soluço e outro - eu não.. Eu menti. - ele disse finalmente. Deixei que se acalmasse antes de terminar de falar. - Meu pai tentou me ensinar a fazer a vara, só que eu não conseguia, sempre cortava errado e alguma farpa entrava em meu dedo e nunca terminei o trabalho. Nunca consegui.

– Marcus, você só tem 13 anos, seria a maior proeza… - comecei.

– Não.. você não entende… - ele abaixou a cabeça nas mãos - quando eu não conseguia, meu pai batia em mim e dizia que eu devia aprender, se não da melhor, da pior forma. Nós éramos pobres e ele usava o pouco do nosso dinheiro para comprar bebida. Eu sei que é um péssimo pensamento mas eu fiquei muito feliz ao ser chamado no dia da colheita, assim ele pararia de me bater e me culpar pelos problemas da nossa família. Eu estava livre. - ele voltou a chorar e de repente senti uma enorme compaixão por ele e envolvi-o em meus braços como se fosse um irmão menor. - eu disse para minha mãe que ganharia os jogos vorazes, expulsaria papai de casa e ele nunca mais bateria em mim, ou na mamãe e conseguiríamos mais comida para minha irmãzinha. - Cada palavra era um soco novo em meu estômago. - ele irritava os pacificadores e os pacificadores castigavam ele. Em casa, quando mamãe tentava cuidar dos ferimentos, ele associava minha mão aos castigos dos pacificadores e machucava ela também. - ele agarrou minha camiseta, como se fosse sua forma de se agarrar a algo real e mais humano.

– Marcus, eu.. - eu não sabia o que dizer. Eu reclamava da minha vida aqui na capital mas não tinha ideia que esse tipo de violência ainda existia. - Marcus, eu vou te tornar um vitorioso. - era o que eu podia tentar fazer para ajudá-lo e eu não mediria esforços para tornar minha promessa verdadeira.

– Finnick, não precisa me prometer nada, eu sei que você irá proteger a Annie, eu também a protegeria. - ele deu de ombros parando de chorar um pouco.

– Marcus, eu vou tentar te manter vivo sempre que eu puder, não tenha duvidas disso. - eu tentei tranquilizá-lo. Queria que ele sobrevivesse, mas eu amava Annie. Era complicado. - venha, vamos tirar as farpas da sua mão. - levantei ele e indiquei uma cadeira para que ele se sentasse. Trouxe um kit de primeiros socorros e decidi cuidar dos ferimentos eu mesmo, se me enrolasse mandaria ele para a enfermaria, mas queria passar o máximo de tempo com ele.

Passei o remédio em suas mãos para que não infeccionasse e coloquei alguns curativos, em nenhum momento ele reclamou. Talvez estivesse acostumado com a dor.

– Finnick - ele chamou minha atenção quando já estava mais calmo - se eu não vencer, você precisa salvar minha mãe.. você matou vários tributos, acho que você consegue… - ele não terminou a frase e olhou as próprias mãos. Ele estava falando muito sério.

– Marcus, não é assim que funciona.. eu penso todos os dias em cada vida que tirei naquela arena.

– Mas é diferente - ele voltou seu olhar para mim - ela não merece sofrer mais nas mãos dele..

– Marcus, não sei se posso…

– Por favor, Finnick - ele segurou meus pulsos com força - me prometa. Eu preciso dessa certeza pelo menos.

– Eu prometo salvá-los. - eu disse olhando em seus olhos. Eu sabia qual o peso daquela promessa, eu tinha imunidade da capital para fazer isso. Entretanto, algo sempre me impediria de matar alguém, era simplesmente contra quem eu sou. - Pronto. - conclui ao terminar seus curativos. - acho que terminamos por hoje, descanse.

– Não. - ele afirmou convicto. - eu vou terminar aquela lança custe o que custar. - eu sabia que aquilo era bem mais profundo, como um teste a si mesmo, valia sua honra ali. Não discordei.

– Tudo bem. - voltamos à mesa dos materias e dessa vez ele não pegou o bambu e sim uma outra madeira mais forte. - Use essa, é mais firme na hora dos cortes para esculpir - aconselhei. Era uma questão de honra para ele e de certa forma eu admirava essa determinação que ele sentia.

Marcus aceitou meus conselhos e seguiu com a madeira esculpindo como eu mandava, vez ou outra eu deixava ele sozinho enquanto voltava a esculpir meu tridente.

– O que é isso? - Marcus perguntou indicando o tridente.

– Um tridente. É minha arma, é com ela que venci os jogos vorazes. - contei. Pude ver seus olhos brilharem.

– Me ensine a fazer isso.

– Não é assim - disse rindo - você precisa antes terminar sua lança. Não adianta fazer o mais letal antes de aprender o básico… o rústico - de repente as palavras do meu pai tomaram novas proporções de sentido. Ele não ensinava sobre madeiras e tridentes, era bem mais do que isso.

Pude ver Marcus fazer uma careta e senti ele mais a vontade.

– Certo, chega por hoje. Amanhã continuamos. - bati em suas costas e nós nos encaminhamos para os elevadores.

Marcus era bom, gentil e tinha um bom caráter. Ele merecia mais do que ser mandado aos Jogos Vorazes para morrer e matar.

Voltamos aos aposentos já de tarde e Annie tinha feito sua entrevista. No dia seguinte Marcus faria sua entrevista individual não oficial e eu treinaria Annie. Depois seria o treinamento com todos os tributos.

Xx

Após o jantar assisti um pouco de tv e acabei dormindo no sofá. Quando levantei já era de madrugada e ouvi um barulho vindo da nossa área de treinamento.

Me aproximei devagar me preparando para enfrentar qualquer ladrão que tivesse invadido o quarto andar - após esse pensamento percebi o quão insano era isso, nunca ninguém roubaria nada dentro da capital. Ninguém é pobre ou burro pra isso. - Mesmo assim me aproximei devagar em posição de ataque.

Me escondi atrás de um dos primeiros pilares e observei o que acontecia. Marcus estava moldando sua lança. Observei melhor ao seu lado e haviam mais duas lanças já perfeitas. Ele conseguira.

O que me incomodava era que, se ele tinha conseguido por que ainda estava lá?! Ainda tentando até àquela hora. Então percebi: a lança estava perfeita para mim, mas não para ele. Percebi que dessa vez ele não tentava esculpir uma lança, ele já tinha feito isso, duas vezes, agora estava tentando esculpir um tridente. Igual ao meu e estava fracassando em todas as tentativas. Observei o chão coberto por madeira e moldes que nunca dariam em nada.

Eu tinha plena certeza que nem eu e nem ninguém o faria parar. Aquele era um momento dele. Me afastei da área de treinamento e decidi dormir.

Antes passei no quarto de Annie para me certificar de que ela estava bem. Me aproximei dela e dei um beijo rápido em sua testa. Senti Annie agarrar minha camisa nesse momento e tentar me puxar para a cama junto dela.

– Annie - eu ri baixinho - daqui a pouco eu venho. Preciso tomar um banho. - afirmei e ela continuava me puxando. Segurei suas mãos e dei um beijo em cada uma delas. - Prometo que venho, aguarde só um pouco. - ela sorriu e recolheu os braços.

– Se você não vier, vou atrás de você! - ela ameaçou e eu assenti.

Cheguei ao meu quarto e acendi as luzes. A luz iluminou tudo no quarto inclusive o motivo da minha momentânea perplexidade e felicidade.

– Mags? - perguntei surpreso. Ela mexeu a cabeça em afirmação. Minha mentora estava sentada próximo a beirada da cama, me chamou com a mão e carregava o sorriso que eu tanto gostava. Mags mantinha os cabelos bem curtos, já brancos por conta da idade e tinha olhos brilhantes. Não havia mulher mais guerreira que ela. - Mags, senti tanto sua falta. - eu disse me aproximando e sentando-me ao seu lado.

Mags era quase como uma mãe para mim. Ela sempre esteve por perto quando eu precisei, inclusive durante minha edição dos jogos. Ela garantiu que eu sairia vivo e eu sai, era impossível agradecer o suficiente.

– Fiquei sabendo que Annie está aqui. - ela disse baixinho com a voz doce e rouca. - Sinto muito, Finnick. - Cada palavra era carregada de sentimento. Mags não era uma mulher de muitas palavras mas quando falava eram palavras que importavam. Apenas com essas algumas palavras, todas as minhas preocupações voltaram e junto delas senti minha pálpebra pesar sendo acompanhada de pesadas lágrimas salgadas. Ela conseguira me desarmar inteiro. Toda a máscara que aprendi a criar para os holofotes da capital caíra com algumas palavras de Mags. Eu nem sabia que existia alguém ainda por detrás da máscara. - Eu vou te ajudar, Finnick. - Eu não chorava apenas por Annie, todo o sentimento que eu depositava em Mags foram de todos os anos perdidos como escravo da capital. Eu não via Mags desde que fui vencedor, a partir desse ano não deixei que ela voltasse mais. Não deixei que ela visse mais pessoas morrendo no show de horrores da capital. Parece que dessa vez, esqueci de tomar as devidas precauções e ela conseguiu vir. Eu não estava triste, estava feliz por ela estar ali. Eu sentia muito a falta de Mags e eu sabia que se tinha alguém que pudesse me amparar nesse jogos vorazes era ela.

Mags me abraçou e eu cai em seus braços, parecia uma criança com sua mãe. Eu me sentia um filho consolado pela mãe - Mags tirou o cabelo da minha testa e depositou um beijo demorado lá, posso dizer que em anos não me sentia tão amado quanto naquele momento - Dessa vez não segurei nenhuma emoção, eu nunca consegui esconder nenhuma emoção de Mags, era impossível, ela era a única mulher que me conhecia completamente.

A única parte boa de ter guardado todo o sentimento e despejado naquela hora era que eu estava nos braços da mulher que há anos sentiu as mesmas lágrimas. A ultima vez que me permiti sentir alguma coisa, na minha edição dos Jogos Vorazes.


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Notas finais do capítulo

Eai o que acharam?
Pessoalmente, estou começando a gostar do Marcus e vocês??
Até o próximo capítulo
Xx



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