1942 escrita por GabanaF


Capítulo 5
Capítulo IV — Intrigas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. Enfim, esse capítulo é mais um dos que eu chamo "capítulos lentos que precisamos ter" e, então, me desculpem pela demora nos momentos Faberry que, assim como eu, vocês tanto esperam.
Não quero enrolar vocês aqui, então espero que gostem deste capítulo e vejo vocês lá embaixo!



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Janeiro de 1937

Quinn acordou cedo no primeiro dia do ano. Não conseguira dormir muito por causa do diário de Sam, colocado estrategicamente embaixo de seu travesseiro; não arriscaria ir dormir com ele jogado por aí.

Levantou-se para se espreguiçar e abriu as cortinas, deixando a claridade entrar no quarto. Nevava fracamente em Berlim e, pelo silêncio da casa, devia ser a primeira a acordar. Podia ouvir claramente os roncos de Oliver no quarto ao lado.

Quinn lembrou-se do modo de como Frannie a tratara na noite anterior. Ela exalava inveja e rancor sempre que lhe dirigia a palavra. Quinn queria saber por que da irmã tê-la tratado daquela forma tão fria (embora tivesse uma pista sobre o que poderia ser) e até queria conversar com ela, mesmo sendo tarde da noite, mas quando o último convidado fora embora, Oliver informara que a mulher já havia ido dormir. O jeito era esperar o café da manhã para falar com a irmã.

Deixando Frannie e sua inveja de lado, Quinn deitou na cama novamente, pegando o diário militar. Abriu-o, desesperada para lê-lo, e se surpreendeu ao ver uma dedicatória de Sam.

“Quinn,

Eu sei que não é muita coisa, considerando o que passei e o que há por vir, mas espero que ajude você a ver o quão doentio é o nosso Führer.

Nessas páginas contém fatos que nunca, jamais, deveriam sair do quartel de Berlim. Trabalhando nesse quartel, e graças aos contatos de Russell, tenho acesso privilegiado às informações do Reich. Algo que descobri ao recolher esses dados: há pessoas aqui que também não aprovam Hitler. Sussurram, como eu, pois têm medo do que pode acontecer com eles e suas famílias.

Um dia, talvez, eu possa levá-la ao bar onde nos encontramos. São raros, esses encontros, mas por você, eu faço qualquer coisa. Espero que aproveite esse conteúdo.

De todo o coração,

Sam”

Quinn sorriu ao terminar de ler a carta. Havia pessoas lá fora querendo o mesmo que ela e Sam. O pensamento lhe trouxe uma estranha paz. Talvez tais militares amigos de Sam, junto com ela, poderiam formar um complô contra o Führer, tirá-lo do poder de alguma forma.

Com essa ideia na cabeça, Quinn começou a ler o diário militar.


— Onde está o mais novo membro da família Fabray? — indagou acidamente Frannie quando Quinn entrou na sala de jantar, atrasada para o café da manhã por causa da leitura do diário de Sam.


— Saiu ontem à noite, Frannie — disse Russell com a boca cheia de bacon, sem perceber no tom frio da filha mais velha.

Quinn tentou se sentar o mais distante possível de Frannie, mas mesmo com a mesa enorme de jantar que tinham, ainda ficou perigosamente perto da irmã. Começou a servir-se de ovos e salsichas sem falar nada. Estava esperando a explosão, mas não seria ela a causá-la.

— Frannie, por favor — pediu Oliver calmamente, porém sem sucesso.

— Grande pedido de namoro, na frente de todo mundo — Frannie disse, olhando para Quinn cruelmente; a garota se ocupava enfiando o maior número possível de comida na boca para evitar responder a irmã. — Sam quem planejou? Ou foi algo de surpresa por que você estava bêbada demais para ter noção dos seus próprios atos?

Judy arregalou os olhos, chocada. Quinn se engasgou com o bacon, quase o cuspindo no rosto de Frannie. Apesar de ter mais de dezoito anos, os seus pais não permitiam Quinn tomar um gole de álcool até completar vinte e um anos. Sinceramente, ela estava mais surpresa pelo fato de eles não terem notado que ela estava bêbada do que a irmã jogando isso na cara deles.

— Noite passada era a minha noite — disse Frannie azedamente. — Era a minha noite!

— Como todas as noites de Natal e Ano Novo têm sido? — Quinn indagou friamente, engolindo o resto de comida que ainda tinha na boca. Pousou o garfo e a faca na mesa e fitou a irmã, aborrecida. — Frannie, pelo o que me lembro, você é a estrela dessa família, não eu.

Os pais de Quinn não procuraram discordar. Ambos estavam petrificados pela discussão, algo que nunca acontecia durante nenhuma refeição na casa dos Fabray. Ninguém comentava os maus sentimentos, ninguém discutia aos gritos. Todo o ódio, a inveja, o rancor, todos eles eram expurgados da casa escondendo-os embaixo do tapete. Talvez seja por isso, Quinn pensou amargurada, que ela passara tantos anos na sombra da irmã sem reclamar.

— Estou grávida — murmurou Frannie. Russell ergueu as sobrancelhas, em choque. — Esse era meu momento da noite anterior que você roubou, Quinn.

A patológica necessidade de atenção de Frannie precisava ser controlada, Quinn pensou, assim como seus hormônios. Alguma coisa dizia que Oliver não seria capaz disso. Cuidar dela? Sim, Oliver podia fazer isso. Mas controlá-la? Ah, isso era outra coisa, completamente diferente.

— Parabéns! — exclamou Judy, incerta, se levantando para abraçar a filha, desconcertada. — Vai ser um lindo bebê.

— Tenho certeza que sim, obrigado, senhora Fabray — agradeceu Oliver em nome da sua mulher. Ele ajudou Frannie a se levantar, dizendo levá-la para o quarto a fim de aprontar as malas para irem embora logo depois do anoitecer.

— Tão cedo? — disse Quinn para o seu prato, baixinho.

Ao levantar a cabeça, encontrou os pais olhando para ela raivosamente. Ela sorriu, sem saber o que dizer.

— São os hormônios, provavelmente — Judy comentou antes de Russell. — Você e Sam não fizeram nada demais.

— Mas... — Russell continuou, pigarreando — para evitar problemas... Eu sugiro que...

— Que ligue ao Sam dizendo que ele não pode vir aqui hoje? — adivinhou Quinn desanimada.

Judy e Russell assentiram ao mesmo tempo. Quinn bufou, irritada.

— Ainda bem que eu não vou vê-la nos próximos seis meses — disse para si ao sair da sala.

Desconvidar uma família toda por causa de Frannie não era feitio de seus pais, então Quinn esperava que a irmã estivesse muito orgulhosa do seu feito.


Maravilha! — exclamou Sam assim que Quinn contou a ele que não poderia ir ao almoço dos Fabray.


— Aposto que sua mãe não vai achar isso tão bom — comentou Quinn. — Ela parecia estar gostando da companhia da minha mãe.

Leu a minha carta no início do diário? — indagou Sam, sussurrando agora. Quinn disse que sim e ele continuou: — O grupo tem uma reunião hoje e eu disse que iria com você.

— E como você sabia que iria se livrar do almoço dos meus pais? — Quinn atiçou curiosamente, mas por dentro estava agitada.

Seu pai me ama, eu faria um jeito de deixar-nos sair.

— Você está muito convencido em relação a isso, Sam Evans — retrucou Quinn, rindo.

Do outro lado da linha, Sam riu também.

Vou buscá-la as 11 — disse ele, e pareceu hesitar em relação a algo. — E, Quinn... E-eu...

— Sim?

F-feliz ano novo — Sam murmurou e desligou o telefone.

Quinn conhecia o garoto o suficiente para saber que um desejo de ano novo não era o que ele queria dizer. Ela colocou o telefone no gancho novamente e subiu as escadas para se arrumar para ir ao tal encontro com Sam.


— Olá! — disse Sam animadamente quando Russell abriu a porta da casa dos Fabray às onze horas em ponto.


— Sam...! — exclamou Russell com incerteza, olhando para Quinn, que observava a cena no pé da escada. — O que você está fazendo aqui?

— Vim buscar Quinn para nós irmos... — Sam começou a explicar, mas a garota interviu:

— Desculpa não ter avisado, mas Sam me chamou para almoçar com ele quando liguei para sua casa — disse, descendo as escadas, passando por seu pai e abraçando Sam, dando-lhe um selinho logo depois. — Volto antes das cinco.

Russell parecia surpreso com toda a cena, mas não fez nenhum esforço para impedi-los de sair. Quinn beijou as bochechas do pai, despedindo-se dele e oferecendo sua mão a Sam. O garoto ficou mais vermelho ainda com o aperto de mão da namorada, e acenou a Russell quando Quinn fez o mesmo, fechando a porta atrás de si.

Quinn riu audivelmente quando se afastaram o suficiente de casa.

— O que foi? — Sam indagou, curioso.

— Como é esse encontro? — perguntou Quinn, sem responder o garoto.

— Ah, é o nosso terceiro encontro. Somos todos militares e os encontros estão acontecendo desde as Olimpíadas. Foi ideia minha — Sam sussurrou no ouvido de Quinn, parecendo orgulhoso de si. — Esse encontro deveria acontecer à noite, mas a segurança está particularmente falha hoje.

O tom de Sam era animado. A última vez que Quinn o vira daquele jeito fora durante a abertura das Olimpíadas, quando conhecera Jesse Owens. Vê-lo daquela forma a deixava incrivelmente feliz.

Caminharam em silêncio, de mãos dadas. Quinn sentia-se confortável do jeito que estava. Ela lembrou que era oficialmente a namorada de Sam desde a noite anterior e um pânico estranho invadiu sua mente. Quinn Fabray agora era namorada de alguém. Ela não precisava mais aguentar pessoas comparando-a com Frannie, por que ela própria já tinha um futuro cônjuge. Pensar nisso fez a cabeça de Quinn esfriar um pouco.

Sam a parou cerca de dez minutos mais tarde em frente ao bar mais sujo que Quinn já vira. Ela franziu a testa para o namorado, mas o garoto apenas deu de ombros e pegou a mão dela, puxando-a para dentro.

— Não há ninguém aqui — notou Quinn, quando Sam parou para analisar o local.

— E não deveria — retrucou o garoto, soltando a mão de Quinn.

Sam foi até uma das paredes do bar e bateu três vezes. Como não recebeu nenhuma resposta, bateu novamente. Por cinco longos minutos, não houve som nenhum, a não ser pela respiração calma de Sam e a meio descontrolada dela. O que o garoto queria no bar abandonado?

Ele bateu novamente na parede, mas antes que completasse três batidas, uma porta se escancarou ao lado de Sam, fazendo Quinn dar um grito assustado. Sam revirou os olhos, abrindo um sorriso para o garoto que abrira a porta. Ela o reconheceu como um dos colegas de Sam que cumprimentara na abertura das Olimpíadas, o garoto mais baixo e mais afetado.

— Sam! — exclamou o garoto, feliz. Quinn não se recordava de seu nome, mas se aproximou, tentando não parecer mais assustada do que estava. Alguém murmurou algo atrás dele e a sua expressão mudou para uma determinada. — O que você mais quer na vida?

— Uma Alemanha livre — respondeu Sam seriamente. Quinn o observou, e o orgulho por namorar Sam Evans jorrou em seu íntimo.

— E o que a garota quer? — uma voz atrás do garoto delicado perguntou.

Quinn se sobressaltou. Sam não informara sobre uma senha. Engoliu em seco, tentando formar uma frase, mas sua gagueira e nervosismo a traíram.

— O mesmo que eu — respondeu Sam por ela, pegando sua mão, ato que não passou despercebido para o garoto que vigiava a porta.

— Podem entrar — a voz disse, deixando que o amigo de Sam liberasse a porta para eles.

Quinn entrou no esconderijo, logo atrás de Sam. Era uma sala pequena, escura e que cheirava fortemente a mofo. Nela estavam mais cinco homens. Ela notou que Sam, e mais outros dois garotos que conhecera nas Olimpíadas, eram os mais jovens dali. Uma garrafa de uísque acompanhava vários papéis na única mesa do pequeno local.

Ela tentou controlar o riso enquanto se sentava ao lado de Sam. Estava mesmo ali, participando de uma reunião secreta? Parecia impossível. Imaginou o que Russell faria se a encontrasse ali, sozinha entre seis homens, planejando algo contra seu amado Führer.

— Quinn, esses são Kurt e Finn — Sam apresentou-os novamente. Kurt e Finn, que estavam ao seu lado, sorriram abertamente e apertaram sua mão.

— Uma pena que não nós tivemos a chance de conversar na última vez — Kurt disse educadamente. Finn concordou com a cabeça. — O serviço chamava a gente.

— Não há nenhum problema nisso — respondeu Quinn, sorrindo. Havia algo em Kurt que ela gostava. Não sabia o quê, mas sentia que podia conectar-se com ele de alguma forma.

— E esses são... Dieter, Wagner, Albert, Franz e Anton — apresentou Sam em sentido horário. Cada um deles cumprimentava Quinn com a cabeça, sem se preocupar em apertar sua mão. — Dieter é o nosso oficial de maior patente aqui.

Quinn assentiu, observando o homem. Ele não deveria ser mais velho que seu pai, mas as rugas em volta de seus olhos o deixavam com a aparência de um homem de sessenta anos. Os cabelos grisalhos e seus olhos azuis, por trás de um par de óculos meia-lua, o deixavam inteligente.

— Quinn Fabray — Dieter disse. Era dele a voz que ditara as instruções a Kurt pouco tempo antes. — Filha do grande contador Russell Fabray. O que trás você aqui?

— Sam me convidou — ela respondeu determinada. Não abaixou os olhos, não desviou o olhar, nem aparentou estar com medo.

Dieter fitou-a por longos minutos, até desistir do que quer que sua mente estivesse planejando e voltou seus olhos aos papéis espalhados pela mesa. Ele se levantou, pegou uma caneta e passou a escrever dados em um quadro pregado à parede enquanto todos os observavam, em silêncio.

Quinn estava inquieta. O que Dieter possivelmente queria com ela? Não fora ali para espioná-los, se era o que ele estava pensando. Dieter, e nenhum dos outros homens ali a conheciam como Sam, não sabiam que ela já havia ajudado uma judia a escapar da fome na noite anterior. Aqueles militares não tinham o poder para julgá-la de ser uma espiã como pensavam que tinham. Provaria para eles isso.

— Juventude Hitlerista — leu Finn assim que Dieter terminou de escrever.

— O que sabe sobre a Juventude Hitlerista, Srta. Fabray? — perguntou o homem para Quinn, fitando-a fixamente.

Quinn de repente percebeu que fora um erro aceitar o convite de Sam. Os homens mais velhos, especialmente Dieter, não a deixariam livre. Ela pigarreou e, sem perder o tom superior que seu pai lhe ensinara, disse:

— Instituição que obriga as crianças a trabalharem e servirem ao governo. Creio que hoje há cerca de três milhões de recrutas. — A última informação seu pai lhe passara dois dias antes, numa conversa que envolvera os dois e Oliver. — Sei que Sam esteve nela, e provavelmente Kurt e Finn também.

Dieter assentiu de mal-humor. Percebeu que ele não seria impressionado tão facilmente.

— Seu pai lhe contou sobre os números. — Quinn se virou para Anton; ele não perguntara, afirmara confiantemente. Ela aquiesceu sem entender. Todos estariam contra ela? — Como poderemos saber se você não é uma informante do grande Russell?

Quinn abriu a boca, abismada. Então o grupo estava mesmo suspeitando dela. Ela olhou para Sam, que estava igualmente em choque, para Kurt e Finn — eles fitavam seus sapatos, envergonhados. Wagner, Albert e Franz a encaravam, esperando respostas.

Sam, como o bom namorado que era, tentou intervir.

— E-eu já disse! Q-quinn é uma boa pessoa, ela não viria aqui apenas pra espiar para o pai dela!

— Há pessoas boas também no lado de Hitler — retrucou Franz de forma calma.

Quinn estava começando a se irritar com aqueles homens.

— No último ano eu passei apenas um mês com meus pais — disse Quinn, tentando controlar a raiva. — Eu não tenho ideia de seus negócios com o Führer; foi por essa razão que eu quis ir para a universidade, para me afastar da minha família.

Os homens pareceram considerar a estória de Quinn. Kurt comprimiu os lábios e olhou para ela com certa pena. Finn estava sem expressão, e Sam tinha um olhar de puro orgulho em seu rosto.

— Estamos de olho em você, mocinha — disse Wagner, e os outros quatro homens concordaram com a cabeça.

Quinn assentiu, sem dizer mais nada. Assim como grande parte daquela sociedade, eles deveriam pensar que Quinn não servia para nada além de passar roupa e cozinhar. Bem, como ela não sabia como fazer nenhuma daquelas coisas, o jeito era se aventurar nos estudos e na revolução.

— Os últimos acontecimentos da semana? — indagou Franz, e a discussão começou.

Quinn tentou ficar quieta para não levantar mais falsas suspeitas, mas a tática acabou não dando certo. Havia pontos em que sabia um pouco mais que os homens ali e não hesitou em fazer suas colocações. Sam chutou-lhe a canela milhares de vezes, tentando chamar-lhe a atenção, mas isso só a fez discutir em um tom mais alto.

Lá pelo fim da tarde, Kurt e Finn já tinham desistido de contrapor Quinn, assim como Sam se cansara de tentar controlá-la — embora a garota não tivesse notado nada disso, ocupada demais discutindo a educação alemã com Dieter.

— Ok! — exclamou Anton, acenando para que ela fizesse silêncio, quando seu relógio de bolso indicou que eram seis horas. — Nosso tempo acabou. Assim que planejarmos outra reunião, contatamos com os quatro.

Dieter sorriu à Quinn e apertou sua mão. Eles suavam como se tivessem corrido uma maratona. Quinn retribuiu o sorriso com um maior ainda e apertou a mão estendida com vigor.

— Sam, traga sua namorada mais vezes! — exclamou ele. Ninguém nunca acreditaria que, horas antes, Dieter era abertamente contra a entrada de Quinn no grupo.

— Lamento, mas amanhã voltarei para à minha universidade — disse ela, puxando Sam pelo braço para que saíssem da sala apertada. — Talvez no verão.

Todos se despediram do lado de fora novamente. Kurt acompanhou Sam e Quinn por boa parte do caminho, elogiando as suas falas cheias de argumentos durante as discussões.

— Sam, você tem um partido e tanto aqui — disse o garoto quando o trio parou ao portão de sua casa, vinte minutos mais tarde. — Não ouse perdê-la.

Quinn riu, mas não ousou olhar para Sam; sabia que o garoto tinha ficado vermelho. Kurt beijou a bochecha de Quinn delicadamente e bateu continência a Sam. Por um momento, ela se esquecera de que Sam era um oficial e que estava duas promoções acima de Kurt.

— Vejo você amanhã no quartel. — Kurt acenou em despedida ao entrar em casa.

— Como ele conseguiu entrar no exército? — indagou Quinn quando ela e Sam voltaram a caminhar. — Kurt me parece ser tão... delicado.

Sam riu.

— Sim, de fato ele é. Mas é muito inteligente, para falar a verdade, então creio que seja por isso que continua. Trabalha grande parte do tempo dentro do quartel, preenchendo papeladas.

— E Finn?

— Ele não iria gostar disso, mas é meu segundo melhor amigo, somente atrás de Kurt. Enquanto Kurt fica dentro do quartel, eu e Finn saímos por aí. Eu estou torcendo para que ele seja promovido, assim podemos ficar juntos por aí de novo, sem essa besteira de hierarquia.

Quinn assentiu. Entrelaçou sua mão na de Sam e deitou a cabeça em seu ombro. Ao comemorar as duas promoções do garoto, esquecera-se de que seus amigos continuavam sendo soldados. Deveria ser chato para Sam conviver com pessoas mais velhas e muito mais responsáveis que ele, além de dar ordens aos seus melhores amigos.

— Mas... — continuou Sam, e um sorriso brilhante apareceu em sua face — quanto mais perto eu estiver de Hitler, mais saberei sobre ele. Então, nós dois poderemos acabar com o Reich!

Ela olhou para o rosto sonhador do namorado e não deixou de soltar uma risada. Quinn pensou na garota que encontrara na noite anterior em sua cozinha, imaginando o que Sam diria se contasse que ela fizera um pouquinho contra seu odiado Führer. No entanto, sabia que deveria manter a garota judia em segredo. Ela era negócio seu, e de mais ninguém.

— O que foi? — Sam indagou, franzindo a testa para a expressão de Quinn.

— Não é nada... — Quinn respondeu vagamente, voltando a abraçar Sam. O vento gelado de Berlim estava chegando aos seus ossos. Como ela não podia contar ao garoto sobre a judia, disse: — Acho que vou ver você só em julho.

A rua já subia em direção à sua casa, e ela estava verdadeiramente triste por ter que ir embora para a universidade — talvez fosse a primeira vez em que sentia dessa forma. No verão anterior não fora assim, já que ela vira Sam todos os dias, praticamente. Agora, no entanto, encontrara com o garoto apenas duas vezes. Dois dias não eram suficientes para matar toda a saudade que tinha dele.

— Pois é... — Sam murmurou ao chegarem à varanda da casa dos Fabray. Ele fitava o chão fixamente. — Vou sentir sua falta, namorada.

Ela riu e empurrou o ombro do garoto. Com certeza levaria tempo para se acostumar com o termo. Ela puxou Sam pela gravata e beijou-o lentamente. Ao terminar o beijo, Quinn abraçou Sam pela cintura e enfiou a cabeça em seu peito. Nunca se sentira tão segura quanto se sentia quando estava com Sam.

— Quinn! — exclamou Oliver ao abrir a porta, carregando duas malas em cada braço. — Chegou tarde.

— São sete horas da noite — ela rebateu, soltando-se de Sam. Por alguma razão, sabia que, lá da sala de estar, seu pai a observava. — E Sam já estava indo embora mesmo! — gritou para dentro da casa.

Sam corou, mas concordou com a cabeça.

— Bem, antes Sam poderia me ajudar a levar essas malas para o carro — Oliver disse, soltando duas malas e fazendo um sinal para que Sam as pegasse. — Sua irmã realmente trouxe mais que o necessário.

— E quando Frannie não faz isso? — disse ela baixinho, observando Sam lidar com as malas pesadas da irmã.

Entrou em casa e se deparou com o pai a esperando no pé da escada, com os braços cruzados e a expressão fria.

— Você disse “antes da cinco” — Russell sussurrou perigosamente.

— Perdi a hora enquanto brincava com os irmãos de Sam, me desculpe — disse Quinn rapidamente. Era muito boa em mentiras, e talvez se livrasse dessa situação também; afinal, não poderia contar a ele que passara a tarde discutindo e conspirando contra seu amado Führer.

— Tudo bem — Russell disse após de longos minutos. — Mas da próxima vez que encontrá-lo, será sob minha vista.

Quinn revirou os olhos assim que o pai saiu do cômodo. Tinha certeza de que, até o verão, ele esqueceria aquela promessa. Felizmente, ela não teve muito tempo para pensar nisso, já que Sam e Oliver entraram em casa, conversando animadamente.

— Eu morava em Frankfurt! — dizia Sam. Ao ver Quinn, exclamou: — Por que não contou que sua irmã morava lá? Precisamos visitá-los um dia.

Quinn pigarreou, e iria ter começado a falar que a irmã não a suportava, se não fosse a própria Frannie descendo as escadas dramaticamente. Passou por Quinn sem sequer notá-la e foi em direção a Sam com um sorriso frio nos lábios.

— Você tem razão, Sammy — Frannie disse num tom perigosamente doce. Ela engoliu em seco; não sabia o que aqueles hormônios da gravidez poderiam causar na irmã. — Daqui a alguns meses, Quinn será tia e ela irá me visitar para ver seu sobrinho, não é?

Frannie lançou a Quinn um olhar tão venenoso que a garota apressou-se a concordar. Sam abriu um sorriso animado, mas Oliver parecia preocupado.

— Vai ser legal ir a Frankfurt sem ter que visitar meus avôs — disse Sam.

Um silêncio estranho entre eles se formou. Sam pareceu desconfortável de novo enquanto Frannie e Quinn ainda se encaravam, a raiva transparecendo no olhar de cada uma.

— Vamos, Frannie! — disse Oliver depois de um longo minuto. — As suas malas já estão no carro e eu já me despedi de seus pais.

— Sim, eu também — disse Frannie, desviando o olhar da irmã e sorrindo ao marido. — Tchau, Quinn, nos vemos em seis meses.

Frannie abraçou Quinn superficialmente e depois deu um rápido beijo na bochecha de Sam. Oliver foi mais carinhoso com Quinn e pediu desculpas pela mulher. Depois que eles saíram, Sam também murmurou que deveria embora.

— O reitor disse que instalaria telefones nos dormitórios nesse feriado — disse Quinn. — Se der, ligue em vez de mandar cartas.

— Prometo que ligarei. — Sam fitou os olhos de Quinn profundamente. A garota pensou que ele falaria mais alguma coisa, talvez o que deveria ter dito no telefone algumas horas antes, mas não. Sam apenas beijou a testa dela e saiu.

Quinn já se sentia sozinha.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? No próximo capítulo, Rachel e Quinn terão mais uma interação para chegarmos finalmente ao ano em que a fic se refere, então podemos comemorar depois de tanto Fabrevans KKKKK Ah, e eu resolvi fazer essa pequena rixa entre a Frannie e a Quinn apenas para esquentar um pouco as coisas, e eu não aprofundei muito nas discussões do grupo do Sam por que eu queria deixar para vocês imaginarem o que seria discutido naquela época por revolucionários do próprio exército e tudo mais.
Bem, espero que tenham gostado desse capítulo, mandem seus reviews com xingamentos e/ou elogios e espero vocês no próximo capítulo.
Boa Páscoa para todo mundo e até o lá! :)