Formatura do 3º ano do ensino médio.

15 de dezembro de 2010 – São Paulo.

- Estou exausta! – disse ela enquanto tirava os sapatos de salto alto ali mesmo, na calçada de uma rua escura. Ainda estava muito bonita. Seus cabelos soltos eram iluminados apenas pela luz de um poste que piscava algumas vezes. E os dois amigos eram os únicos seres vivos naquele lugar.

Ele parecia um tanto encantado, mas sabia disfarçar. Era necessário disfarçar. Sempre foi. Mas aquele vestido dela não permitia que uma gracinha não fosse tirada.

- Exausta? Não me pareceu. Você dançou muito hoje. E os caras que só faltavam comer você com os olhos? Também, com esse seu vestido aí. – disse ele enquanto acompanhava com os olhos aquela criatura que acabara de diminuir alguns centímetros sem o salto. Ela o encarou.

- Está com ciúmes Apolo? – perguntou ela.

Ele encolheu-se e fez uma careta.

- É claro que não Júlia. Te enxerga! – disse ele.

Ela virou o rosto. Sentou-se na calçada e começou a olhar o céu. A noite estava absolutamente linda.

- Vou sentir falta disso. Escola, amigos. Brincadeiras, curtição. Você...

Ele andou em sua direção e sentou-se ao seu lado naquela mesma calçada.

- Eu também. Mas a vida segue, e uma hora sabíamos que tudo isso iria acabar.

Ela assentiu com a cabeça. Mexeu no vestido brilhante e cheio de detalhes únicos. Havia sido desenhado pela irmã e costurado pela tia. Não havia outro igual.

- E como nós ficamos com isso tudo, Apolo? – perguntou ela enquanto passava as mãos nos cabelos embaraçados pelo vento e com um tom triste de uma quase despedida.

- Nós ficamos bem. Continuaremos amigos como sempre fomos. – ele esticou a mão para segurar a dela. – Lembra da minha promessa? Você vai para o Rio de Janeiro e em seis meses eu estarei lá também. E nós vamos dividir aquele apartamento juntos. E vamos morrer bem velhinhos depois de tanto reclamar um do outro por causa de besteiras, como sempre reclamamos.

Ela o olhou. Não estava contente, não era o que queria.

– Não gosto muito dessa história. Esse lance de “amizade colorida” já dura um ano. Preferia quando éramos apenas amigos.

- Nós somos apenas amigos. – ele riu.

- Tudo bem. Não vamos discutir sobre isso. – ela soltou a mão dele e levantou-se. – eu viajo em três semanas.

Ele se assustou com a notícia.

- Mas já? Você vai ficar onde naquela cidade? Sozinha? – perguntou ele preocupado.

- Não! Eu tenho alguns parentes lá. Só preciso convencer meus pais em seis meses a me deixar dividir um apartamento com você.

Ele levantou-se e segurou novamente as mãos dela.

- Júlia, eles vão deixar. Acredite.

As palavras dele soavam com tanta serenidade e certeza que acreditar se tornava muito fácil.

Eles se abraçavam. Já passava das duas horas da manhã. Ela queria ir pra casa, mas ele queria ficar ali e abraçá-la mais um pouco. Ele queria que aquilo durasse por seis meses e que ninguém precisasse ficar longe de ninguém.

- Promete que não vai ficar com ninguém? – sussurrou ela baixinho.

- Prometo. Eu já sou comprometido. Com a minha melhor amiga.

Eles se beijam. Ainda como amigos.