Santuário de Atena - Grécia

Com a necessidade de se resgatar todas as armaduras perdidas, Kiki, o Cavaleiro de Ouro de Áries, lidera uma missão de busca para encontrar os remanescentes de sua raça – os lemurianos. Para isso conta com a ajuda de uns poucos cavaleiros de Prata e de Bronze. Muitas armaduras ainda estavam vagas por não terem sido nomeados seus representantes, a situação do Santuário era bastante delicada pelo número de cavaleiros que possuía – muito pouco se comparado a um passado não muito distante. Na Sala do Grande Mestre, entra Kiki trajando sua armadura dourada e com a tradicional capa. Com aparência imponente, ajoelha-se em frente do trono e diz:

– Mestre, recebemos informações de que existe um pequeno vilarejo na Rússia onde seria possível que lemurianos estivessem vivendo. Peço sua permissão para convocar alguns cavaleiros de Prata e de Bronze para me ajudarem nesta missão.

O Mestre estava sentado no trono olhando atentamente o cavaleiro de Áries. Ele era alto, com aparência não muito velha, possuía cabelos pretos que se estendiam até pouco antes da cintura. Com uma voz grave e forte, responde ao ariano:

– Kiki, você é o último lemuriano de Jamiel e somente você no Santuário conhece sobre a arte de reparação das sagradas Armaduras. – disse com um olhar preocupado – Eu entendo que você esteja engajado nessa missão para encontrar outros de seu povo, mas eu temo pela sua segurança. Você é o mais jovem Cavaleiro de Ouro e acho que uma missão dessas ainda não é apropriada para você no momento.

– Mas, mas Mestre? – questiona surpreso Kiki.

– Recentemente recebi informações de uma inquietação no mar. Sabemos da situação agravante que se estendeu desde a Guerra Santa contra Hades há mais de 16 anos. Neste tempo Athena não respondeu aos meus chamados e ainda deve permanecer nos Elíseos. – Complementa o Mestre.

– Sim, nós sabemos disso, mas precisamos o quanto antes recuperar todas as armaduras perdidas caso algum inimigo surja para ameaçar a Terra! – diz Kiki.

– Eu irei mandar alguns cavaleiros até a Rússia, mas você não vai Kiki. Está decidido! – diz o Mestre em tom firme.

Ao terminar suas palavras, entra na sala do Mestre Alrischa, o Cavaleiro de Ouro de Peixes. Era uma figura notável pela sua aparência: cabelos curtos de cor preta, bem como olhos também pretos, estatura mediano-alta e pele clara. Sua chegada naquele recinto era tão inesperada que não foi possível evitar os olhares curiosos de Kiki e do Grande Mestre para descobrirem quem foi que interrompeu aquele assunto de suma importância. Possuidor de uma Cosmo Energia marcante e um tanto agressiva, ele se posta ao lado de Kiki e ajoelha-se diante do trono. Em seguida profere as seguintes palavras:

– Trago-lhe informações preciosas, Mestre. Como suspeitava, a inquietação no mar está aumentando. Um Cosmo poderoso e ao mesmo tempo pacífico se espalha pelos oceanos. Receio que toda a cadeia de acontecimentos desde a queda de Hades possa ter despertado o Deus dos Mares.

Neste momento, o Mestre levanta-se do trono e caminha para o lado da sala demonstrando preocupação.

– É possível que Poseidon tenha se libertado do selo de Athena. Nossas defesas não suportariam um conflito direto contra os Marinas. – diz o Mestre virando-se em direção aos Cavaleiros – Como não possuímos nenhum protetor na Casa de Aquário, que tem o dever desde os tempos mitológicos de ficar vigilante sobre qualquer movimentação de Poseidon, você Alrischa, como Cavaleiro de Ouro de Peixes e um dos mais experientes Cavaleiros de Ouro, ficará responsável por tal incumbência. Ainda não temos certeza de que ele possa ter despertado, seria muito difícil até mesmo para ele se livrar do selo de Athena. Com as informações de Kiki sobre um possível vilarejo lemuriano na Rússia, quero que você vá até lá para encontrá-los e trazê-los até a minha presença para que eu possa explicar a eles a nossa frágil situação. Convoque os cavaleiros que achar preparados e dirija-se à Rússia o quanto antes. Já você Kiki, eu quero que continue com seu trabalho de busca de informações sobre as armaduras perdidas.

– Sim, Grande Mestre! – diz Alrischa, orgulhoso de si.

– Sim, Mestre! – responde Kiki em tom de decepção.

Os dois levantaram-se e se dirigiam até a porta da sala andando lado a lado, até que o Mestre diz:

– Alrischa, permaneça aqui. Ainda tenho algo para lhe dizer. Quanto a você Kiki, pode se retirar.

Alrischa olha para Kiki e o confronta com um olhar, estampando um sorriso irônico no rosto, enquanto o lemuriano o fitava com certa revolta e dirigia-se à saída da sala do Mestre.

O Cavaleiro de Peixes dá meia volta e caminha lentamente até a frente do Mestre e então torna a se ajoelhar em sua frente, demonstrando respeito. O Mestre ainda de pé, vira-se de costas para o Cavaleiro e com a voz em tom baixo e um pouco receoso do que iria dizer, começa a falar:

– Alrischa. Eu possuo uma dívida eterna com você e tenho ciência disso a todo segundo. Lhe ensinei tudo o que eu sabia e você se tornou um dos mais poderosos dos 12 Cavaleiros de Ouro e eu me orgulho muito disso. Mas receio que eu não possa lhe dar aquilo que você a anos vem se preparando.

– Como assim Mestre? Sobre o que se refere? – questiona Alrischa demonstrando preocupação.

– O que ocorre é que você não poderá se tornar o meu sucessor no posto de Grande Mestre do Santuário! – as palavras do Mestre causaram um choque ao cavaleiro de Peixes. Esta parecia ser a notícia que jamais em sua existência haveria de ouvir.

– NÃO! – Alrischa grita reagindo às palavras do Mestre, levantando-se apressadamente e aproximando-se dele – Não, não... Isso não pode ser verdade. É um engano, o senhor não pode estar me dizendo isso... Diga que isso não é verdade!

– Eu bem que queria, mas não posso mentir a você... – O Mestre baixa a cabeça enquanto fala – De acordo com a precessão dos equinócios, estamos a deixar a Era de Peixes e ingressar na Era de Aquário. A cada 2150 anos em média ocorre essa mudança e de acordo com as normas estabelecidas por Athena desde os tempos mitológicos, no período de transição de uma Era astrológica para outra, o primeiro Mestre da nova Era deve ser o Cavaleiro da respectiva constelação que entrará em vigor.

– Mas, mas então isso que o senhor me disse significa que... Todo o meu esforço, todo o meu treinamento até aqui como Cavaleiro de Peixes foi em vão, é isso? – a preocupação estava estampada no rosto de Alrischa, pois havia se confrontado com uma verdade que jamais passou em sua cabeça.

– Você se tornou um Cavaleiro muito poderoso e eu me orgulho disso. É graças ao seu poder que hoje eu estou vivo. Não tem nada nesse mundo que eu possa fazer para lhe retribuir a graça que me concedeu, mas eu não posso ir contra as regras de Athena. Não sabe o quanto me dói dizer isso a você. Entende agora por que eu fui escolhido para ser o Mestre do Santuário? Eu represento o fim da Era de Peixes e... Com certeza o novo Grande Mestre que me sucederá neste cargo será o guardião da casa de Aquário.

– Isso é impossível, o senhor sabe disso Mestre! A casa de Aquário está vazia há mais de 16 anos e até hoje não surgiu nenhum Cavaleiro para ser nomeado a tal função. A armadura de Ouro de Aquário está aqui, com o senhor nessa sala! Como pode afirmar tal coisa? – o Cavaleiro de Peixes tenta convencer o Mestre a mudar sua decisão.

– Infelizmente essas são as regras de Athena. Era melhor você saber disso antes que os outros Cavaleiros para que não ficasse criando expectativas. Sempre fui honesto com você e estou sendo novamente agora. Espero que compreenda que essa não é uma decisão minha, e sim a vontade da Deusa Athena. – lamenta o Mestre.

Alrischa tenta conter a raiva que sentia escondendo seu rosto, seus olhos se encheram de lágrimas devido ao ódio de tal afirmativa. Desde seu treinamento ele estava sendo preparado para ser eleito Grande Mestre quando estivesse preparado, mas ninguém imaginava que essa hipótese fosse vir a surgir, nem mesmo o Mestre.

– E por quê nunca me disse isso antes? Fez eu me tornar Cavaleiro na esperança de um dia ser o Mestre do Santuário, para isso??? Não posso acreditar que tenha me iludido todos esses anos. – neste momento lágrimas correm pelo rosto de Alrischa.

– Eu só fui saber disso agora, como Mestre do Santuário. Estive a ler antigos escritos em Star Hill e em um deles mencionava sobre isso. É algo que nem mesmo eu poderia imaginar que aconteceria. Nunca lhe enganei e tampouco quis lhe esconder algo. Mas estes são os fatos. Agora que já sabe de tudo, você tem uma missão a cumprir. Vá, Alrischa. E esta é uma conversa que permanecerá entre nós. No momento certo os demais saberão disso. – diz o Mestre.

Com o punho direito cerrado demonstrando raiva, o Cavaleiro de Peixes não responde nada ao Mestre. Ele vira-se de costas e se dirige até a entrada da sala com passos rápidos, caminhando ainda com a cabeça baixa. Quando ele sai da sala, o Mestre puxa uma cortina na lateral que escondia algumas prateleiras, onde em uma delas, no alto, estavam Urnas de algumas Armaduras, dentre elas a de Aquário. Ele fica observando por um certo momento, refletindo sobre a conversa que teve com Alrischa. Tal atitude não era menos do que se devia esperar daquele que está acima dos 88 Cavaleiros, ele deveria agir de acordo com as ordens de Athena, mesmo ela não estando na Terra há tanto tempo. Ele era a autoridade maior no Santuário e suas determinações não poderiam ser conforme suas emoções, e sim equilibradas entre sentimento e razão. Mas não era assim que aquele Cavaleiro pensava.

Ao se dirigir para a casa de Peixes, Alrischa desce as escadarias do Templo onde estava a pouco e passando ao lado de uma parede, este dá um soco com força, onde um grande buraco se abre na mesma e uma coluna de pedra termina por cair devido ao impacto. Já não corriam lágrimas de seu rosto, seu orgulho foi ferido e seu sonho de um dia se tornar Mestre do Santuário foi arruinado. Um esforço de anos que se desmoronou em um dia.

– Maldito Mestre!! Maldita Athena!! Passei por anos de sofrimento para me darem isso em troca! Desgraçados, todos vocês! Eu ainda vou mostrar a todos que não existe ninguém nesse Santuário capaz de se tornar o novo Mestre! Nem que para isso eu tenha que quebrar todas as normas de Athena, eu irei conseguir o que tanto almejo... E nesse dia, todos se curvarão aos meus pés! Uma missão, não é? Hum. Eu vou cumpri-la com eficiência, pode deixar “querido” Mestre... Hehehehehehaha!

Ainda a falar sozinho, um misterioso vulto surge próximo de Alrischa. Sua presença parecia ser conhecida, por estar naquele lugar onde somente os Cavaleiros de Ouro podem transitar.

– Hei Alrischa, deu pra falar com as paredes agora? Pelo visto elas não gostam de seus assuntos, veja só, até um pilar caiu decepcionado, seja lá o que tenha dito. Hahahahahaha. - a silhueta daquela figura ficava mais clara conforme a proximidade, notava-se claramente que aquele era um Cavaleiro de Ouro, trajando sua capa.

– Cale a boca, Dirac! Fique quieto se não quer ter a cara partida como essa rocha! – Alrischa respondia em tom agressivo para Dirac, o Cavaleiro de Ouro de Leão. Notadamente ele era mais jovem que Alrischa e com estatura um pouco menor. Seus olhos eram de tom castanho escuro, cabelos de mesma cor e passando um pouco dos ombros. Sua fisionomia era alegre e jovial, com pele de cor clara. Ao ver a reação de Alrischa, ele tenta desfazer sua brincadeira.

– Ei, peraí, calma Alrischa, eu só estava brincando. Você não tem senso de humor, hein?

– Humpf! – o Cavaleiro de Peixes desce as escadarias sem responder a Dirac, ainda furioso com as revelações do Mestre.

Dirac fica no mesmo lugar olhando Alrischa descer até a casa de Peixes e fica coçando a cabeça se mostrando contrariado.

– O que esse cara tem? Não consigo entender ele, viu...