A Guerra Dos Seis Mundos - A Batalha dos Magos escrita por VítorXimenes


Capítulo 1
Prólogo - Verão Tempestuoso


Notas iniciais do capítulo

Essa é a primeira parte do Prólogo, que é dividido em três capítulos. Posteriormente, se houver algum incentivo (alguém ler), eu continuo a história, postando as outras duas partes.



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PRÓLOGO

Verão Tempestuoso







Os primeiros raios da alvorada entravam pela grande vidraçaria para inundar o salão de luz. Refletiam nas paredes e lançavam ao chão uma dança de cores azul escuro e amarelo vivo. Por fora, as pedras que constituíam o castelo eram negras como o céu da noite, mas por dentro ganhavam um tom azul tremulante. Era o primeiro dia em muitos anos que o sol aparecera sem que as nuvens de chuva estivessem na frente. Era um bom sinal, esse. Um sinal de paz.

O sol acabara de nascer e a cidade ainda estava acordando, mas por onde se andasse; qualquer rua ou beco; podia-se ver magos contemplando o céu, claro e sem nuvens, de suas janelas ou falando sobre o fim da grande guerra. As noticias vinham do Vale e não eram muito certas ainda. Mas o fato era que Graanfsett estava morto, e isso dava fim à guerra.

A luz ia avançando de minuto em minuto sobre o chão de mármore negro em direção ao trono de pedra e ouro, encimado por almofadas vermelhas como sangue, onde o rei esperava sentado, pacientemente. O manto real esperava pendurado às costas do trono, branco e azul, feito para o inverno durante a guerra. Era de se pensar se o rei mago o usaria novamente com a iminente volta do verão. O outro rei, o rei humano, estava ao seu lado, sentado em uma cadeira de ouro postada à direita. Era alto, tinha cabelos que desciam emaranhados até quase o seu ombro e uma barba negra crescia em seu rosto, desde o inicio da guerra sem que fosse aparada. Tinha a cabeça baixa sobre uma mão enquanto ouvia um intendente do Vale relatar sobre a destruição que fora causada nas proximidades da propriedade de seu lorde. Ele fora o primeiro de muitos intendentes, cavaleiros e até mesmo lordes que haviam vindo à capital desde a batalha que pora fim à guerra. Estava ajoelhado ao pé dos degraus de mármore que antecediam ao trono, de cabeça baixa e espada desembainhada sobre o primeiro degrau. O rei dos magos apenas assentiu e resmungou que lhe seria dada indenizações pelo transtorno causado pela luta. Quando o intendente de Lorde Brossen Lockemer se retirou do salão com uma longa reverência, o curandeiro subiu os degraus e ajoelhou-se à frente do seu rei.

Um dos guardas postados à porta retirou os últimos convidados, com exceção do rei humano e dos outros Seguranças do Rei, para que o curandeiro pudesse fazer o seu trabalho. A grande porta de ferro rangeu quando ele a fechou. O mago amarrou a longa barba grisalha com um cordão de linho e tirou o capuz de sobre rosto, revelando-se quase careca e com muitas rugas na face. Ele levantou a manta do rei mago e o pediu que retirasse a cota de malha. O rei tinha um ferimento estranho na barriga, causado por um tipo de feitiço bruxo durante a Batalha de Retomada do Mundo Elfo. Segundo um curandeiro elfo, não era grave, mas precisava ser tratado.

Tinham chegado ao avançar da madrugada, quando ainda chovia, e se instalaram em segredo na Fortaleza Negra, mas, ao que aparentava, todos já começavam a tomar conhecimento de que haviam regressado. Estavam antes no Mundo dos Elfos, onde foram com um exercito de sessenta mil humanos e oitenta mil magos e uniram forças com o resto do exercito elfo para cair sobre os hommnes e os bruxos que dominavam o mundo. Mas o duende Graanfsett não estava lá, e seu exercito foi facilmente desbaratado.

O curandeiro molhou o ferimento com uma pasta branca que borbulhou ao entrar em contato com o sangue do mago, depois tirou uma taça velha das vestes cinzentas, encheu-a com um líquido para evitar as dores e a ofereceu ao rei. A pasta queimou o ferimento e o fechou quase que imediatamente, deixando apenas uma leve cicatriz que o mago curandeiro prometeu desaparecer.

Quando o curandeiro ficou de pé para devolver a vestimenta do rei, a porta do salão rangeu alto ao ser entreaberta e todos os presentes olharam ao mesmo tempo. O Primeiro Intendente adentrou o salão rapidamente e se dirigiu ao rei mago, arrastando sua veste branca de seda pelo chão de pedra e segurando um longo pergaminho enrolado em suas mãos. Era muito jovem, o humano percebeu. Tinha um sorriso no rosto que não vacilava. Ele fez uma breve reverência e esperou o rei assentir para subir os degraus de mármore que levavam ao trono. Um dos seguranças aproximou-se, com a mão no cabo da espada. O intendente entregou o pergaminho ao rei, que quebrou o selo vermelho e dourado e o abriu para lê-lo.

— Uma mensagem do próprio Lorde Marry — Falou o intendente dando um passo para trás e olhando pelo canto do olho para o humano, que o observava em sua cadeira enquanto coçava a sobrancelha. — Um conselho que não pode ser adiado. Esperam esclarecer o que tem de ser esclarecido. Para ambas as partes.

— Não conseguem perceber que acabemos de voltar de uma guerra? — Resmungou o rei, tomando a cota de malha das mãos do curandeiro e vestindo-a.

— Lorde Marry me pediu que insistisse. Este conselho não pode ser adiado.

O intendente fez outra reverência, desta vez mais longa, enquanto descia de costas os degraus de mármore.

— O aguardam na Cúpula dos Lordes, se o agradar — Completou endireitando-se.

— Onde mais haveria de ser — Retrucou o rei para si. — Vamos, Dumed.

Ele levantou-se. Rapidamente, seu escudeiro aproximou-se para ajuda-lo a vestir novamente a armadura. Era toda feita em aço brilhante e prateado, sem qualquer resquício de ouro. Uma coisa pesada, mas o pequeno mago parecia não ter problemas em carregá-la. Depois de vestir a formosa placa de peito, o escudeiro teve que ficar de ponta de pé para encaixar o gorjal da armadura. Quando o Rei Andêgo Billytian estava finalmente vestido para a batalha que não aconteceria, o pequeno se afastou de volta para o canto do salão e o capitão da guarda avançou para prender o manto branco e azul à armadura.

O humano apoiou o braço dormente na cadeira para levantar-se. O intendente não deixou aquilo passar despercebido. Quando Dumed levantou-se, ele interveio.

— Não é mina intenção ofender, mas... Não seria mais sensato, Meu Rei, que o rei humano não participasse deste conselho? O senhor mesmo pode reportá-lo à sua maneira sobre os...

— Os Lordes não podem me impedir de levar quem me agrade ao conselho! Nem você — Respondeu bruscamente o rei, descendo a escada. — Siga-me, Dumed.

— Se agradar ao Meu Rei — O intendente encolheu os ombros e fez mais uma longa reverência enquanto Andêgo passava por ele sem olhar para trás.

Os guardas de armaduras prateadas como a do rei, postados ao canto, aproximaram-se e formaram um arco atrás dele. O guarda postado à entrada do grande salão empurrou a porta pesada para que a comitiva pudesse passar e desaparecer à esquerda, através do corredor principal do castelo. O intendente lançou um último olhar sorridente à Dumed antes de virar as costas e partir ao rastro do rei mago.

O humano ficou um tempo observando o portal vazio do salão e só despertou quando seu capitão da guarda aproximou-se. Era um homem alto e corpulento, seus cabelos castanhos podiam ser vistos escorrendo sob o elmo pontudo. Sua armadura era de um metal fortificado, fabricado pelo melhor ferreiro de Cazä, o rei humano sabia. Sua espada também era poderosa, e isso passava segurança.

Ao saírem do grande salão, viraram à esquerda e seguiram pelo corredor negro e longo que era sabido ligar todos os locais do castelo. Pedra Negra, a fortaleza do rei, era composta por quatro grandes castelos interligados por torres e passarelas de pedra antiga. Dumed contava como sendo duas ou três vezes maior do que sua fortaleza em Cazä. Não que isso fosse uma coisa boa. Os moradores costumavam perder-se entre os corredores escuros de Pedra Negra. Alguns corpos eram frequentemente encontrados tempos depois nas câmaras subterrâneas, depois de vagarem dias sem rumo. O humano nunca andara sozinho entre essas paredes, nem mesmo durante o dia.

Mesmo sendo a parte mais externa desta parte do castelo, a escuridão do corredor era tanta que o impedia de ver onde estava indo. A cada dez metros havia buracos redondos nas paredes que permitiam a entrada de um pouco de luz e, a cada três destas janelas, encontrava-se grandes arcos que davam acesso à parte externa da fortaleza.

Dumed contou cinco arcos ligando o pátio externo, mas só atravessou no sexto. Ele já havia feito algumas vezes esse mesmo caminho, anos atrás, e sabia exatamente aonde ir agora. Saíram em um pátio grande e arborizado, calçado com pedras cinza escuras, lineares e fortes. Havia um bonito jardim a frente que se estendia por cem metros para ambos os lados e pelo menos duzentos metros à frente. Depois do jardim, após um lago que rodeava a construção e uma ponte arqueada que a acessava, estava a Cúpula dos Lordes. Mesmo àquela distância e com todas as árvores na frente, a construção ainda parecia fabulosa. Enorme, Dumed concordou. Tinha paredes brancas não tocadas pela sujeira e colunas pomposas que erguiam um grande teto dourado em forma de abóbada. O lago parecia proteger a cúpula. O único modo de acessá-la era através da ponte arqueada.

— Esses Lordes parecem ter muito poder neste mundo — Comentou o cavaleiro ao lado de Dumed.

O rei riu. Passavam agora sobre o caminho de pedra entre o jardim.

— De fato. Os magos têm políticas um pouco diferente das nossas neste mundo. Mas não devemos nos preocupar com esses Lordes. Eles servem ao mundo, não à política. Eles não jogam este jogo, e tem orgulho de deixar isso bem claro.

Ao meio do percurso entre o jardim, eles rodearam uma grande estátua de mármore construída no centro; um mago empunhando uma espada a poucos centímetros maior que ele próprio. Ela parecia brilhar fabulosamente com o ar a sua volta. Ao redor da estatua havia um gramado mal tratado pela constante chuva do longo inverno e mais além havia um pátio, onde se podiam ver pequenos magos brincando com espadas de madeira. Alguns conseguiam alterar o curso do vento, mas não mais que isso. Porém, conseguiam aproveitar como ninguém o sol do verão.

Depois, Dumed e o guarda passaram por baixo de uma gárgula de pedra que lançava água da boca para uma fonte dois metros adiante. Algumas senhoras haviam saído do castelo para aproveitar o primeiro dia de sol do verão. Estavam sentadas às beiradas das fontes, cochichando e sorrindo baixo. Era de se esperar que o frio e o enclausuramento da guerra às fizessem mal, mas aquele pensamento provou-se ser não de todo certo. Algumas delas estavam, de fato, mais pálidas e magras que nunca, mas algumas pareciam estar mais rechonchudas e sorridentes. Uma delas, a de cabelos loiros encaracolados que usava um vestido verde, a filha de um senhor pequeno da capital, acenou para Dumed, que retribuiu o cumprimento com uma aceno cordial de cabeça.

Depois de passarem pelas estatuas e pelas senhoras, atravessaram um emaranhado de densas árvores antes de chegarem à passarela que os levava diretamente para a ponte. Dumed sentiu a ponde medindo-o quando passou sobre ela. Deveria ser algum tipo de rastreamento, ele pensava. O edifício estava bem protegido.

Árvores vermelhas como o fogo se apertavam para fazer sombra à porta da cúpula. Seus galhos se entrelaçavam com os galhos das outras árvores e lançavam folhas que se agarravam às paredes brancas da construção. O cavaleiro tomou a frente e depois virou o corpo de frente para o humano. Pondo-se de lado para não atrapalhar a passagem, fez uma reverência. A porta da cúpula abriu-se sozinha, sem ninguém a frente ou atrás para fazê-lo. O rei humano entrou e virou-se de volta para o guarda, fazendo girar sua capa presa ao gorjal da armadura.

— Aqui você fica — Dumed falou. — Eu não acho que me permitiriam um guarda meu dentro da cúpula. Não seria sensato da minha parte, também. Os Lordes se ofendem fácil — Ele olhou a sua volta, mas não havia ninguém perto.

— Sim, Senhor — O guarda fez outra reverência. — Devo retornar à porta de seu aposento privado?

— Sim. Espere por mim lá. E... — Dumed enfiou a mão na abertura lateral da armadura, onde escondia um bolso por trás da placa de peito, e de lá tirou um pergaminho ainda enrolado e intacto, selado com o símbolo da Casa Dumed. A havia preparado ainda no Mundo dos Elfos, antes de voltar da guerra. Sabia que o momento certo de usá-la chegaria. Era hora de voltar para casa. — Leve esta carta. Apenas a leia quando estiver dentro da Torre do Rei Humano.

— Sim, Senhor.

O cavaleiro pegou a carta e a guardou imediatamente entre as vestes. Fez outra reverência antes de virar-se e se afastar. Quando ele ultrapassou a ponte, Dumed adentrou a Cúpula dos Lordes.

A cúpula era maior por dentro do que aparentava ser. O teto em forma de abóbada era sustentado por inúmeras grossas colunas de outro humano, muito valioso neste mundo desde os primeiros magos mineradores que viajaram ao Mundo dos Humanos, há muitos e muitos séculos. O chão era todo ele em mármore cinza e se estendia até desaparecer na escuridão das laterais. O centro, porém, era muito bem iluminado por uma esfera de fogo que pairava flutuante como o sol humano no centro da abóbada. Mais de mil cadeiras espalhadas pelo salão formavam um grande arco e só terminavam quando o mármore preto dava lugar a um de tom cinza muito claro que refletia a luz do pequeno sol e inundava de luz as quinze cadeiras principais, que mais pareciam cabines de ouro do que cadeiras propriamente. Três blocos separados com cinco cabines perfiladas no centro, cinco para a esquerda e cinco para a direita, formando um arco menor que acompanhava a esfera de mármore. Ficavam encima de uma elevação e tinha uma bancada à frente cada uma. Simetricamente no centro, havia o trono mais desconfortável que poderia ser honrado sentar-se, antigo e com algemas para as mãos.

Os Lordes eram todos magos idosos, mas seu poder não podia ser questionado por ninguém. Traziam em suas mãos bengalas prateadas com uma única tira de um tecido vermelho caindo da superfície como uma cauda e adornadas com o brasão da Ordem dos Lordes, desenhado em vermelho e prata. Alguns deles não a usavam para apoiar-se. Vestiam túnicas vermelhas amarradas por uma corrente na cintura. Eram cobertos de prata, mas não possuíam nenhum ouro. Um pajem e um cavaleiro sem armadura era a comitiva que escoltava de perto cada um dos Lordes enquanto eles caminhavam vagarosamente sob a cúpula.

Rei Andêgo Billytian se encontrava no centro do salão, bem abaixo da luz, conversando baixo com um cavaleiro de armadura fina negra. Os cavaleiros da cidade se espalhavam nos cantos da cúpula, onde a luz da esfera de fogo não os podia alcançar. Todos vestiam armaduras prateadas que os escondiam nas sombras. Dumed encontrou uma brecha entre o arco de cadeiras comuns que enchiam a cúpula e caminhou em direção ao centro. Ele podia sentir a tensão que havia sob a abóbada. Levou apenas alguns minutos para chegar ao centro e sentou-se sobre a cadeira destinada ao rei humano, ao lado do rei mago, entre as cinco cadeiras centrais.

As cinco cadeiras no centro da abóbada simbolizavam uma antiga história do mundo mago. Diziam as profecias que um dia os cinco mundos iriam unir-se contra a escuridão, e que os cinco reis: o mago, o duende, o elfo, o humano e o bruxo; iriam sentar-se naquelas cadeiras para selar a união e lançar seu exercito salvador. Dumed não conseguiu evitar sorrir ao pensar naquilo. Ficou observando os Lordes caminharem lentamente até seus lugares. Quanto mais tempo eles demoravam, parecia que Andêgo ficava com menos paciência, e isso não era nada bom para enfrentar um conselho desta importância.

Os Lordes subiram os três degraus da elevação central com dificuldade e se encaminharam para seus lugares, enquanto os cavaleiros que os escoltavam se postavam a frente das cabines. Houve um grande momento de silêncio enquanto os conselheiros do rei ocupavam parte da primeira fileira de cadeiras comuns. Eram quatorze conselheiros no total, alguns com muita importância, outros se quer apareciam nas reuniões comuns. Mas aquela não era uma reunião comum. Quando estavam todos acomodados em seus lugares, todas as portas de acesso à cúpula começaram a se trancar sozinhas, sem ninguém ao menos se aproximar. No momento em que as trancas pararam de bater, a esfera de fogo no centro pareceu brilhar menos, tornando impossível de se ver os cavaleiros e servos de pé ao canto do salão.

Quatro pequenos pajens saíram em meio ao escuro, provavelmente filhos de pequenos senhores, vestidos em pijamas de seda vermelha sob o couro cozido, todos trazendo nas mãos jarras douradas. Eles subiram os degraus de mármore.

— Não vinho. Água. Para todos — Falou um dos Lordes quando os servos chegaram para encher as taças postadas sobre de todas as bancadas das cabines. Todos eles recuaram comportadamente de volta para o escuro com suas jarras.

O representante dos Lordes que acabara de falar levantou-se. Era com toda certeza o mais velho entre os dez. Além de tudo o que os outros Lordes usavam, este tinha uma grande corrente de ouro e prata pendurada em seu pescoço e um chapéu vermelho que descia até o ombro. Apoiava-se com dificuldade em sua bengala de prata para conseguir manter-se de pé. Tinha uma cicatriz que ia do olho à boca e os fios brancos de cabelo escorriam separadamente na frente do seu rosto. Mesmo assim tinha um sorriso amigável.

— Entreguem as armas... E paguem o tributo! — Falou ele forçando a voz, tão fraca que quase não se pode ouvir as últimas palavras da frase.

Não era permitido o uso de armas na Cúpula dos Lordes, e até mesmo Dumed sabia disso. Todos, com exceção dos guardas na escuridão e os cavaleiros à frente das cabines, desembainharam suas espadas e punhais e os puseram na fenda a frente de suas respectivas cabines; uma fenda no centro da bancada com exatamente o formato de cada arma. O humano empurrou sua espada escura e grande na fenda da bancada e ela pareceu brilhar. A conferência estava oficialmente aberta. O Lorde prosseguiu:

— A guerra chegou ao fim! Podemos comprovar com a chegada do verão. Nosso exercito, em união aos humanos e aos elfos — Apontou uma mão trêmula ao rei humano. — Uniram-se para derrotar em batalha um inimigo em comum. Os hommnes e...

— Eu estava lá, Lorde Marry, e os outros Lordes e conselheiros viverão o suficiente para ouvir as histórias e as canções — Resmungou o rei dos magos. — Conte-me o que eu não sei! Graanfsett está morto, é o que dizem. Como?

— Sim, sim — O Lorde pareceu um pouco desconcertado, mas prosseguiu. — É uma história confusa, sim. O que sabemos ao certo é que aconteceu no Vale. Mas há quem saiba, sim... É por isso que convoquei esta cúpula. Sim...

Lorde Marry fez um movimento com a mão e um cavaleiro saiu das sombras no fundo da cúpula fazendo tilintar sua armadura. Ao seu lado havia um ser de barba longa e vestido em farrapos. Uma explosão de conversas particulares e objeções abertas ecoou na abóbada quando o elfo caminhava cambaleante até o centro. Mesmo com a aparência tão humilde, tinha um ar pomposo. De repente o silêncio tomou conta, e o único som que se ouviu foram os passos do elfo ecoando na cúpula. Ele fez uma reverência ao chegar ao centro e sentou-se na desconfortável cadeira de pedra.

— Quem é esse elfo? — Perguntou Andêgo, medindo-o.

— Não sou ninguém, Meu Rei — Antecipou-se o elfo. Parecia não temer responder diretamente ao rei.

— Ele presenciou a morte de Graanfsett, Senhor — Falou Lorde Marry. — Tem informações valiosas a compartilhar com este conselho.

— Se for útil, não lhe faltará ouro ou um lugar nesta fortaleza. Dependendo da informação, poderá haver terras para o senhor e seus filhos — Prometeu o rei.

— Muito obrigado, Meu Rei. Mas não é nada disso que quero.

Todos olharam desconfiados para o pobre elfo, mas ele apenas ignorou.

— Eu sou um peregrino — Começou. — Peregrino há muitos anos em meu mundo, e quando Graanfsett ascendeu, tive que me deslocar para este mundo. O Destino frequentemente me fala, Senhor. E Ele diz para que não seja esquecida a antiga profecia, a qual é motivo desta guerra sem fim...

— A guerra está acabada! — Falou um Lorde. Dumed não pode ver qual.

— A guerra não está acabada — Sustentou o elfo. — A profecia...

— Vá direto ao assunto! — Ordenou o rei impaciente, alterando a voz. — Fale-me o que veio falar sobre a morte de Graanfsett, ou deixe esta cúpula!

— Sim, Meu Rei. Sim.

O elfo endireitou-se na cadeira de pedra. Estava claramente desconfortável, até para um ser como ele.

— Desde a queda dos elfos, eu venho peregrinando no Fim do Mundo. Havia a pouco partido para o Vale dos Chills, para buscar por algum lugar sob o teto do Lorde Protetor do Vale. Eu tinha esperança de ficar lá por um tempo, antes de vir para a capital. Estava em uma estalagem perto da Dádiva, quando ele apareceu. Estava disfarçado com algum tipo de magia obscura, mas eu já o tinha encontrado uma vez antes. Assim que ele entrou, pude perceber pelo tamanho de seu poder. Tão grande e monstruoso... Mas Graanfsett estava fraco. Estava doente...

— Doente? — Exaltou-se um dos Lordes, o que estava na ultima cadeira.

— É um comentário muito pertinente, Meu Rei — Falou Lorde Marry. — Ao que se sabe, a última aparição do duende Graanfsett foi durante a conquista do mundo elfo, e mesmo assim ele já estava... Diferente. Não apareceu diretamente no campo de batalha, apenas atacou o rei em Quebra Raio. Não demonstrou o verdadeiro poder que mostrara antes no mundo dos duendes.

Andêgo Billytian pareceu um pouco perturbado.

— Fomos à guerra para recuperar o mundo elfo, mas mesmo unindo três exercito ainda temíamos a presença de Graanfsett no campo de batalha — Falou o humano pela primeira vez. — No entanto... Ele não apareceu. E tivemos uma vitória consideravelmente tranquila.

— O que ele estava fazendo aqui enquanto o mundo que acabara de conquistar estava sob ataque? — Perguntou o rei mago olhando fixamente para sua espada que enfiara na fenda. Era a mais brilhosa entre todas na cúpula.

— Talvez fugindo da luta... Por estar tão doente — Sugeriu um conselheiro qualquer.

— Não — Interveio o elfo imediatamente. — Ele aproveitou a batalha para vir. Ele estava à procura de um mago. Até mesmo em meu mundo esse mago é conhecido por seu poder e confesso que não acreditei em meus olhos quando o vi falando abertamente com Graanfsett.

— Quem era? — Perguntou Lorde Marry apreensivo.

— Um mago que estava desaparecido há certo tempo, creio eu...

— Diga logo o nome do infeliz! — Gritou Andêgo.

— Aquele a quem chamam de Mago dos Cinco Destinos.

Era de se esperar uma grande agitação na cúpula, mas pareceu por um momento que todos haviam perdido o fôlego. Por duas vezes Andêgo abriu e fechou a boca para falar, mas nenhum som escapou. Dumed olhou para todos os lados e viu apenas rostos espantados, e tinha certeza que o seu rosto estaria da mesma forma. O Mago dos Cinco Destinos era o mago mais poderoso conhecido atualmente e um dos mais poderosos já nascidos. As histórias diziam que ele tinha enfrentado o próprio Destino em batalha singular e tomado para si parte de seu infinito poder. Ele desaparecera pouco antes do início da guerra. Alguns diziam que ele estava morto, mas Dumed nunca acreditara nisso.

— O Mago dos Cincos Destinos está morto! — Falou um Lorde de voz firme.

— O Mago dos Cinco Destinos não pode morrer — Respondeu o elfo calmamente. — Há coisas que nenhum ser jamais soube e jamais saberá. Coisas que apenas Graanfsett e o Mago sabiam.

— O que ele fazia com Graanfsett? — Perguntou o rei, tentando controlar a voz.

— Parece, Meu Rei, que Graanfsett queria que ele o curasse. Ele estava muito doente, perdendo poder, e o Mago dos Cinco Destinos o recebeu. Acho que o Mago era o único com o poder necessário para curá-lo. Um poder que nem mesmo ele tinha.

— E o que aconteceu em seguida? — Perguntou Lorde Marry sentando-se ofegante. Estava velho demais para tudo aquilo.

— A batalha se iniciou.

— Como?

— Eu não sei, Meu Lorde — Respondeu o elfo, levantando-se da cadeira de pedra e parando de pé no centro da cúpula. — Nenhum dos dois mostrou sinais exaltados. Quando percebi que começaria, só tive tempo de me afastar, ou teria morrido — Ele girou no próprio eixo, agora para encarar o Rei Andêgo. — Creio que nenhuma outra batalha como esta tenha sido travada antes. E não falo de combates singulares. Receio que o próprio campo de batalha no Mundo dos Elfos tenha sido mais belo de se ver em comparação a batalha que eles travaram. Mesmo doente, os poderes de Graanfsett estão além da compreensão de qualquer ser e o Mago tinha o poder do próprio Destino. É uma batalha impossível de ser descrita pelos lábios. Eu vi coisas que nem mesmo sei o que eram; coisas que eu queria poder esquecer... Parecidas com nada que já tenha visto alguma vez.

— Se não se importar, elfo, gostaria que participasse de algumas seções de abertura da mente — Falou um Lorde de face rubra e voz grave, o mais próximo do humano. Ele levantou-se. — Precisamos de informações mais detalhadas. Os meus magos não lhe farão mal.

O elfo começou a andar em direção à bancada onde estavam os Lordes.

— Não me incomodaria, Meu Lorde — Respondeu. — Mais receio que não encontre muito mais coisas aqui. O medo paralisa mais que o mais poderoso inimigo. Não me envergonho em admitir que senti medo ao me deparar com tal batalha. Mas quem não o faria? — Ele girou sobre os calcanhares bruscamente e olhou para os rostos de todos os presentes. O silêncio tomara conta da cúpula, então ele continuou. — Se quiserem saber, lhes direi tudo o que sei. Não encontrarão nada mais aqui.

— Eu insisto — Falou o Lorde.

— Não vai conseguir extrair nada de mim, Lorde Rellestonne — Assegurou o elfo, cravando o olhar no Lorde. Por um momento o humano viu algo nos olhos do Lorde antes dele sentar-se novamente. — Mas eu posso contar-lhes.

Virou-se mais uma vez, desta vez para encarar o rei dos magos.

— Fogo tão alto e tão quente quanto nunca puderam imaginar, mesmo com vossas experiências. Tremores de terra tão fortes como nenhum rei humano jamais ousou produzir. Água capaz de lavar os cinco mundos se não tivessem sido evaporadas pelo fogo ou engolidas pela terra. Se querem saber, Meus Lordes, os mortos levantaram nesta batalha. Eu pude ver... Os espectros mortos dos Cinco Grandes Reis retornaram e lutaram ao lado do Mago dos Cinco Destinos. A batalha só acabou com os dois caídos, impossibilitados de lutar mais um com o outro. Graanfsett venceu, afinal. Porém, no momento em que o duende iria finalmente matá-lo, o Mago puxou uma espada que carregava nas costas. Uma espada que ele nunca havia usado; tenho certeza de que os senhores sabem do que estou falando.

— A Espada Seladora do Mago Branco... — Deixou escapar Lorde Marry em meio ao silêncio.

O elfo assentiu.

— A Espada Seladora. Este foi o fim de Graanfsett, o maior dos seres.

Quando terminou, o peregrino lançou outro olhar para o rei mago. Andêgo pareceu ficar assustado com isso. Desviou o olhar, mas o elfo continuou o olhando fixamente.

— Onde está o mago? — Perguntou finalmente o rei com a voz fraca.

— Eu acho que... Nem mesmo uma figura lendária como o Mago dos Cinco Destinos poderia sobreviver ao poder de Graanfsett, Meu Rei — Respondeu o elfo voltando a sentar-se na cadeira de pedra. — Ele foi levado pelo Destino.

— A espada... — Balbuciou Lorde Marry, mas não conseguiu terminar de falar. Encostou a cabeça na almofada da cadeira e fechou os olhos por alguns segundos. Mesmo em sua experiência, parecia assustá-lo a perspectiva de uma batalha entre o duende mais poderoso de todos os tempos e o mago mais poderoso da atualidade.

— A espada! — Repetiu Andêgo, tentando dar um pouco de vivacidade a sua voz. — Eu quero a espada em minhas mãos antes do fim deste dia! — Gritou.

— Terá a espada, Meu Rei — Falou Lorde Marry, acenando mais uma vez. Outro cavaleiro saiu das sombras e caiu sobre um joelho. Vestia a mesma armadura prateada que os demais usavam. — Reúna um grupo e vá imediatamente ao Vale. Traga a espada e o que mais encontrar lá.

— Sim, Meu Lorde — Ele levantou-se e fez duas reverências, uma para o Lorde e uma para o rei, depois se dirigiu para uma porta no canto.

Ouviu-se um único barulho de ferro e a porta abriu-se sozinha. Quando o cavaleiro saiu, ela voltou a trancar-se. Depois o silêncio pareceu ecoar pela abóbada enquanto todos olhavam fixamente para o elfo.

— A espada precisa ser encontrada — Falou o peregrino. — Graanfsett está aprisionado nela, mas não está morto, receio. Pode ser muito perigosa em mãos erradas.

— Está querendo dizer que... Quem tiver a espada, terá também os poderes de Graanfsett? É isto? — Perguntou Dumed, coçando o rosto.

— Suponho que sim.

— Está brincando comigo! — Falou o rei mago, tentando, mas não conseguindo rir. — Então o que foi que o Mago fez? A história pode se repetir se ela for parar em mãos erradas.

O rei olhou para os Lordes, mas quem falou foi Lorde Marry:

— Temos que encontrar a espada. Ela é perigosa demais.

— Há mais, Meu Rei — Falou o elfo de repente, e todos os olhares retornaram a ele. — No auge da batalha, o próprio Destino se manifestou. Uma energia que pode superar em muito o poder de Graanfsett. Uma profecia foi cantada. Não como sempre. Desta vez o Destino não falou a mim. Ele formou-se através do grande poder dos dois. Eu apenas pude ouvi-la, e tenho certeza que ambos também.

— Uma profecia — Deixou escapar Lorde Marry em voz alta. — Qual era o seu teor?

O elfo voltou a ficar de pé, e neste momento a esfera de fogo pareceu brilhar com menos intensidade. A escuridão o alcançou. Ele cantou com uma voz aguda e forte, uma voz que não era a dele. E quando terminou, veio o mais longo silêncio desde o inicio da conferência. O humano estava em choque, não conseguia acreditar. Não queria acreditar. Andêgo estava imóvel também. Sua boca tremeu antes dele conseguir falar.

— Isto não acontecerá!

— Não cabe ao senhor decidir, Meu Rei — Respondeu o elfo, olhando destemidamente para o rei. — Nem a mim. Creio que não tenho nada mais a compartilhar com este conselho.

Dumed viu uma têmpora pulsar na testa do rei mago e uma raiva vermelha subir ao seu rosto. Aquilo não era bom. Se Andêgo explodisse dentro da Cúpula dos Lordes... O humano estava inclinando-se para acalma-lo na hora em que o mago respirou fundo e falou com o tom mais calmo possível.

— Muito bem. Você veio e compartilhou importantes informações com este conselho. Diga o que deseja e será seu. Ouro? Terra? Um lugar neste castelo como desejava?

— Não desejo nada disso, Meu Rei — Respondeu o elfo docilmente. — Já não tenho mais nada a fazer neste mundo, creio. Minha missão aqui está acabando.

— Então o que quer?

— Paz.

O elfo encarou o rei por alguns segundos, antes de virar-se repentinamente e caminhar em direção à saída. Foi atravessando o salão, muito devagar, por entre as cadeiras, convergindo o olhar de todos os presentes. A tensão crescia no silêncio a cada passo pesado do peregrino que ecoava. O som da porta sendo aberta ecoou alto na abóbada de ouro e voltou a ecoar ao ser fechada. E o silêncio se prolongou até que o rei voltasse a falar, desta vez direcionando-se a um dos guardas de armadura ao lado da porta:

— Capture-o. Lorde Rallys deve querer saber o que ele viu tanto quando eu. Extrairá tudo o que puder — Ordenou ao Lorde, que assentiu com um leve sorriso de satisfação.

O cavaleiro imediatamente chamou mais dois guardas de armadura prateada e levou-os para fora da cúpula. Assim que a porta terminou de ranger e bateu com força, Lorde Grovver, um dos mais jovens do grupo, fez um som com a garganta e levantou-se sem ajuda da bengala.

A essa altura, a cabeça de Dumed latejava tanto que parecia querer explodir.

— Se o senhor permitir, Meu Rei, tenho um cavaleiro vindo do Vale para reportar a situação.

— Mande-o entrar de uma vez — Disse por fim o rei, levando a mão aos olhos. Estava cansado, era visível.

O cavaleiro entrou segundos depois pela mesma porta em que o elfo saíra e ajoelhou-se. Não era como os outros guardas naquela cúpula. Sua armadura era feita de prata e na sua placa de peito tinha o símbolo da família Erlyth do Despenhadeiro, um leão sobre quatro patas desenhado em ouro mago. Sua espada era quase tão grande quanto à de Andêgo, mas nem de longe emitia o mesmo poder. Ele depositou-a no chão a sua frente.

— Trago importantes informações para compartilhar com este conselho, Meus Lordes. Meu Rei.

O rei assentiu e ajustou-se em sua cadeira. O cavaleiro afastou a bainha da espada com uma das mãos, e com a outra encontrou uma fenda na armadura, de onde tirou um pergaminho amassado e bem enrolado.

— É bom que o rei humano esteja aqui também. Tenho informações sobre seu mundo também, Senhor — Olhou para Dumed. — Mas trago primeiro notícias deste mundo. Metade do Vale Continental foi afetada pela batalha, mas felizmente apenas um vilarejo foi atingido. Ele foi completamente destruído, assim como a paisagem ao seu redor. Nenhum sobrevivente foi encontrado. O resto do mundo passa bem, mas os senhores do sul estão insatisfeitos. Todos querem detalhes do que está acontecendo. Eles estão assustados, Meu Rei.

— Lorde Marry — Falou o rei de repente. — Envie uma mensagem a todos os principais lordes. Eles devem enviar um intendente ou vir pessoalmente. Tudo então será esclarecido. O quanto antes esta guerra acabar, melhor será para todos.

— Sim, Meu Rei — Respondeu o Lorde. — Será minha primeira providência ao fim da conferência.

— E não esqueça Lorde Wyshior. Principalmente ele.

— Sim, Meu Rei.

Todos ficaram em silêncio novamente. O cavaleiro limpou a garganta e prosseguiu.

— O Mundo dos Duendes continua estável, apesar de tudo. Um novo rei foi escolhido enquanto travávamos a guerra e os duendes começaram sair da Grande Fortaleza. Eles continuam dizendo que não se responsabilizarão pelos atos de Graanfsett e recusaram o pedido de conferência feito pelo novo rei elfo.

— Uma Conferência dos Cinco Reis a essa altura seria uma loucura — Falou outro Lorde careca, quase tão velho quando Lorde Marry. — Não depois de tudo o que aconteceu.

— Seria uma farsa, isso sim — Resmungou o rei mago.

Os duendes eram reconhecidamente os seres mais poderosos dos Cinco Mundos. Declararam desde o início que não participariam da guerra, mesmo tendo sido atacados repentinamente por Graanfsett. Tendo-o como líder do lado dos hommnes, era de se esperar que os duendes se declarassem aliados aos magos e aos humanos. Mas isso não aconteceu. Graanfsett atacara a Fortaleza dos Duendes e assassinara o rei duende, e isso os desestabilizara. Mas mesmo assim preferiram ficar à margem das batalhas, sempre com um discurso moralista de ordem dos cinco mundos.

Dumed, particularmente, não gostava de duendes.

— Os bruxos recuaram após a batalha e montaram cerco a todas as entradas do Mundo dos Bruxos. Preparam-se para defender nosso poderio máximo. Esperam uma invasão imediata. O mundo está praticamente inexpugnável — Continuou o cavaleiro Erlyth. — O rei dos elfos retomou o trono em Quebra Raio e a notícia começa a se espalhar pelo mundo. Soube que alguns bruxos ainda resistem nas montanhas de Princesa Lucy, mas estão muito fracos para suportar muito mais.

O rei humano já estava ficando impaciente. O cavaleiro já falara de todos os mundos, menos do seu.

— Sobre o Mundo dos Humanos as notícias não são boas — Falou ele, agora olhando para Dumed. — Durante a Retomada, uma hoste bruxa conseguiu adentrar o mundo. Os bruxos recuaram para seu mundo após a derrota no Mundo dos Elfos, e foram pegos pela retaguarda quando metade do exercito humano voltou para casa. Eles se viram encurralados e perderam a batalha, mas... — O cavaleiro fez uma pequena pausa para medir as palavras. — Daí para frente é incerto, Senhor. Mas o fato é que o mundo está fechado. Algum feitiço foi lançado sobre o mundo, é o que dizem. Um poderoso e irreversível feitiço.

— Um feitiço? — Perguntou Lorde Marry com um sobressalto. — Que tipo de feitiço? O que ele...

— Não se sabe ao certo, Meu Lorde. O fato é que todas as passagens para o mundo estão bloqueadas. Não há como entrar ou sair. Também não há comunicação com os humanos. É impossível saber o que se passa lá. Os bruxos que estavam lá também não retornaram.

— Mais nenhuma informação? — Perguntou de repente Dumed, levantando-se. Sua respiração pareceu parar por alguns segundos e agora estava ofegando.

— Por hora não, Senhor. É tudo o que eu tenho.

Todos na cúpula se olharam, assustados e incrédulos, e congelaram o olhar no rei humano. Dumed se manteve imóvel. Suas pernas tremiam tanto que ele caiu de volta sobre a cadeira. Tentou não mostrar o medo que sentia, mas sabia que sua boca também tremia. Olhou para Andêgo. O rei mago olhava fixamente para o chão de mármore, com a cabeça baixa apoiada na mão.

— Não há outra maneira de entrar no mundo? — Perguntou um conselheiro, sentado na primeira fileira das cadeiras comuns.

Dumed olhou para o conselheiro, um mago alto e careca, e tentou recompor sua voz para responder.

— Não. No início da guerra, me certifiquei eu mesmo de lançar uma barreira contra transporte de energia. Se não pelos portais, é impossível entrar — Falou ele sem pensar muito. Sua cabeça voava longe dali.

Um dos Lordes riu.

— Não há mais quem domine o transporte de qualquer modo — Falou o rei mago olhando para o Lorde que rira. — Os últimos foram Graanfsett e o Mago dos Cinco Destinos e ambos estão mortos.

— Talvez não, Meu Rei — Respondeu o mesmo conselheiro que perguntara antes. — A espada... Se possuirmos a espada em que Graanfsett está aprisionado...

— Sim, pode ser — Falou rudemente Lorde Grovver. — Mas alguém tem que tomar uma atitude sensata. A espada é uma hipótese, nada mais. O mais certo seria enviar alguém ao Mundo dos Bruxos e exigir conhecimento da situação.

— Eu mesmo irei! — Falou imediatamente Dumed.

Andêgo levantou-se repentinamente.

— Eu quero um pergaminho pronto e transportado ao mundo bruxo ainda hoje — Ordenou. — Exigindo a abertura dos portais para o rei humano e salvo-conduto para ele e seus seguidores!

O Lorde no canto riu novamente, mas desta vez quase ninguém pode ouvir, então o rei continuou:

— Justifique o pedido, mas não faça concessões! Lorde Marry, mande reunir cem magos para acompanhar o Rei Dumed àquele mundo nojento. Se não deixarem-no entrar, se saírem sem respostas ou se algo acontecer a ele... Haverá guerra!

— Sim, Meu Rei — Falou por fim Lorde Marry, depois de um pequeno período de silêncio em que os Lordes e conselheiros digeriam aquelas palavras.

— Envie também uma mensagem aos elfos. Instáveis ou não, eles tem uma enorme dívida para conosco, principalmente para com os humanos. Mande-os reagrupar o exercito e deixá-lo à disposição. Não aceitarei recusa nem ouvirei justificativas.

Murmúrios explodiram por toda a cúpula, até que Lorde Grovver riu alto, fazendo-os todos parar.

— Meu Rei, com todo o respeito, não ouviu o meu cavaleiro? — Perguntou maliciosamente. — Os bruxos guardam a entrada e estão prontos para enfrentar toda nossa força. Com os portais fechados, será difícil enviar um exercito para invadi-lo. Não poderemos contar com o exercito humano — Dirigiu um breve olhar à Dumed, mas ele não vacilou. — Então seremos apenas nós e a tropa desordenada dos elfos. Não seria uma batalha tão tranquila como a anterior, mesmo sendo apenas os bruxos.

O rei estava pronto para responder àquilo, mas Lorde Marry antecipou-se.

— Eu sei que é duro, Meu Rei, mas ele pode ter razão. Acabamos de por fim a uma guerra, não seria sensato prolonga-la por mais tempo. Além disso, os elfos ainda estão fragilizados. E se eles recusarem sua convocatória, o que fará o senhor? Cairá sobre eles também? Deste modo eles se uniriam aos bruxos e a situação mudaria muito. É a pequena diferença entre a nossa destruição, a destruição dos humanos ou a destruição deles.

— É como ele diz — Falou um Lorde magro com uma barbicha pontuda engraçada. — Os humanos estão fora do jogo agora! Nós estamos bem.

Rei Andêgo Billytian pareceu transtornado. Dumed conseguiu sentir a raiva em seus olhos. Ainda de pé, o rei mago segurou a base de sua grande espada e puxou-a com violência da fenda onde estava cravada. Neste momento, a esfera de fogo que iluminava a cúpula do centro pareceu quase apagar. Ao invés disso, quem brilhou foi a espada; um brilho prateado que chamou a atenção de todos naquele conselho. Em um curto segundo, Dumed ouviu o som de espadas raspando o couro de suas bainhas e aço batendo, então virou-se e encontrou o olhar de Lorde Marry. Ele parecia horrorizado com a cena. Os Lordes todos tinham suas bengalas levantadas à frente do rosto e os cavaleiros que os protegiam, até agora imóveis como estátuas, seguravam o cabo da espada. Os outros saíram das sombras, com as espadas desembainhadas, apontando para o centro. Um dos conselheiros puxara um punhal e se erguera, mas outro segurava seu braço com segurança, puxando-o de volta para baixo.

Dumed ficou atento. A qualquer sinal puxaria a espada também, mas não iria se precipitar desta vez. Os únicos inocentes pareciam ser ele e Lorde Marry naquele momento. O Lorde não empunhara a espada ou sua bengala, mas seu olhar penetrante tinha mudado, e seu rosto tornou-se menos amigável. As coisas pareciam só piorar.

— Meu Rei — Disse ele, com uma voz grave e segura, como ainda não tinha mostrado. — Não queremos uma luta aqui na Cúpula dos Lordes. Abaixem suas armas imediatamente!

Os cavaleiros embainharam suas espadas e voltaram para as sombras, parecendo desconfiados. Os guardas que acompanhavam os Lordes também fizeram o mesmo, mas os próprios Lordes continuaram com suas bengalas levantadas. O rei abaixou a sua grande espada, mas não a colocou de volta na fenda.

— Vão fazer como eu ordeno! — Gritou Andêgo. — Que o exercito seja reunido mais uma vez, em nome do rei! Lorde Marry, envie mensagens a todos os principais senhores e mande-os reunir suas tropas para aguardar o meu chamado. Exceto o suficiente para defender suas fortalezas ou cidades.

— Serão enviadas — Respondeu Lorde Marry, mas agora sua voz era seca e grossa.

— Não quero ouvir mais nada.

Andêgo embainhou a espada e a sensação que caiu sob a cúpula era de que a luz tinha sumido do mundo. O rei desceu da plataforma e foi saindo a passos largos, sem falar com mais ninguém. Todos olhavam para ele enquanto seus passos apressados ecoavam, e só ousaram se mexer quando atravessou a porta. Quando o fez, os Lordes tiraram vagarosamente suas espadas da fenda na grande bancada e voltaram a apoiar as bengalas no chão. Dumed puxou sua espada e a embainhou o mais rápido que conseguiu. Quando todos ficaram de pé, ele decidiu levantar-se também.

Os Lordes começaram a sair lentamente de seus lugares, mas o humano não tinha paciência para esperá-los. Desceu a elevação de mármore no centro da cúpula e caminhou rapidamente até a saída. Evitou ao máximo olhar ao redor até passar pela grande porta principal que se abrira sozinha. Ele caminhou pelo pátio de pedra banhado pelo sol e adentrou o jardim depois de atravessar a ponte arqueada. Quando chegou próximo a uma fonte que jorrava água sobre a cabeça de quem passava por baixo, Dumed desviou seu caminho através das árvores e foi parar na extremidade do pátio, onde havia um parapeito de pedra branca e uma maravilhosa vista da cidade.

O pátio era elevado sobre o teto de um dos grandes salões do castelo, e de lá, onde Dumed estava, podia-se ver grande parte da cidade. Os magos saíam das casas às pressas, com cargas nas costas e nos braços. O mercado já estava fervilhando de gente gritando para anunciar seus produtos. Ao longe viu um chill, um grande cavalo peludo, alado e branco como o nada, vagando sem dono por uma rua movimentada, abrindo caminho por entre as pessoas, que apenas o ignoravam. O humano olhou para o céu. O sol ardia como não se via há muito. Era hora de voltar para o castelo, Dumed pensou. Era hora de buscar respostas para o que estava acontecendo. Queria estar pronto para partir imediatamente ao Mundo dos bruxos quando a hora chegasse.

Sua cabeça latejou e ele mal pode ver quando alguém chegou ao seu lado, encostando-se ao parapeito. Mas antes de o ver, soube exatamente quem era.

— O que você quer? — Perguntou ao elfo. — A esta altura devia já estar capturado pelos guardas do rei.

— Ninguém irá me capturar hoje. Preciso falar com o senhor.

— Não tenho muito tempo.

O rei humano virou-se, mas o peregrino segurou seu ombro. Dumed parou para encara-lo.

— Há uma coisa que não pude falar antes — Contou o elfo. — Uma coisa que apenas o senhor deve saber. Mais ninguém.

— Saber o que? — Conseguiu perguntar Dumed.

— A profecia que citei antes, na cúpula. Aquilo foi só a metade de seu verdadeiro conteúdo. Pelo bem dos cinco mundos, pela paz, fui obrigado a esconder a parte mais importante dela. Essa profecia pode vir a se tornar uma arma nas mãos do inimigo. É importante que ninguém saiba o que ela diz, não antes do tempo apropriado.

Dumed continuou parado, imobilizado, olhando para o rosto do elfo, que se adiantou e começou a contar a segunda parte da profecia. A cada palavra que ouvia, o humano começava a ficar mais incrédulo e assustado. Ele desvencilhou-se do aperto do peregrino em seu ombro e deu um passo cambaleante para trás. Dumed sempre acreditara no poder do Destino e em sua sabedoria, mas aquilo que o elfo acabara de falar... Era improvável. Era loucura.

O elfo segurou o seu pulso e puxou-o mais para perto.

— Sua raça não é fraca. A profecia que acabei de citar... Apenas o senhor deve saber. Isso é essencial.

— Então, um humano vai... Realmente...

— Sim. Sim. O inverno retornará aos mundos — Ele respondeu. O humano não estava exatamente entendendo agora. — Voltará mais forte do que antes. Eles não estão mortos. Acredite nas profecias. Não esqueça a Antiga Profecia. Se ela for esquecida, a nova não poderá ser concretizada. Duas profecias não podem ficar em contradição, uma delas será destruída. É a lei do Destino.

— A Antiga Profecia... — Pensou Dumed, sentindo as palavras em sua boca. — Você fala da antiga profecia bruxa? — Perguntou por fim, agora começando a entender.

— Ela tem que ser destruída — Falou o elfo, e Dumed tomou como uma resposta positiva. — Ou tudo o que conhecemos irá acabar. Apenas a destruição da primeira, concretizará a segunda.

— A profecia está esquecida. Não! — O humano balançou a cabeça. — A antiga profecia nunca existiu. Ela é apenas uma história inventada para justificar o massacre no Mundo dos Hommnes, nada mais...

— O senhor não acredita nisso — Não era uma pergunta. — O senhor sabe tão bem quanto eu que ela é real. E que ela é o verdadeiro motivo desta guerra sem fim.

Dumed estremeceu por um segundo. Poucos sabiam realmente sobre a profecia, e menos ainda acreditavam que ela fosse real. Olhou nos olhos do elfo, desvencilhando-se do aperto forte em seu braço.

— Você quer dizer que eu... Eu preciso encontra-la? Eu preciso destruí-la?

— Não — Respondeu o peregrino imediatamente. — Não cabe ao senhor esse fardo maldito.

— Então por que está me contando isso? Quem deve destruí-la?

— Você viverá ainda para vê-lo. Tenha certeza disto. Mesmo que não saiba que está olhando para ele, você o verá. E quando este dia chegar, não falhe com ele.

Eles encararam-se por um tempo, olho a olho, sem vacilar, e Dumed sentiu o mesmo que um dos Lordes sentira antes, quando o elfo o encarara na cúpula, e entendeu tudo o que tinha de ser entendido. Era como algo quente que havia penetrado em sua mente. Um entendimento absoluto e imediato. O elfo era mesmo poderoso, pensou ele, mas não sabia o que o teria feito pensar isto tão de repente.

— Eles estão atrás de você — Falou finalmente, olhando em volta para se certificar de que nenhum guarda do rei os observava naquele momento. — Tem que sair agora da capital, se possível do mundo. Não importa para onde vá, Andêgo quer ver o que você viu, quer saber o que você sabe, e irá caça-lo para conseguir isto. Vá. Agora! Antes que eu recupere os sentidos.

O peregrino sorriu e encostou os cotovelos ao parapeito para olhar a cidade. Dumed não soube o porquê, mas fez o mesmo. O chill agora corria livre por uma avenida vazia e levantava voo, brilhando com a luz do sol que caía sobre suas penas muito brancas. Era um animal muito bonito, o chill. O elfo riu ao lado dele, e o humano sentiu uma coisa boa.

— Você é um bom homem, Rickard Dumed. Não mude sua natureza e continue forte para suportar o que está por vir — O elfo suspirou. — Não falhe com ele Dumed... Não falhe com ele...

O vento soprou forte daquele lado, balançando os cabelos negros de Dumed. Não ouvia mais a voz do elfo e nem mesmo sua respiração. Olhou de lado, sem tirar muito o olhar do chill, e viu que ele não estava mais lá. Tinha partido, para onde o humano não sabia. O chill voou mais alto e desapareceu por trás de uma nuvem, então ele desceu o olhar para o mercado da cidade. Era grande e cheio, com milhares de magos apertados nas ruas vendendo e comprando mercadorias do verão e os restos dos espólios do inverno.

Mas seus pensamentos estavam longe dali. Longe das vozes que anunciavam e das que compravam; perdidas e misturadas ao forte vento que batia lá encima. Longe do sol que brilhava forte como não brilhara há muito tempo. Lorde Marry tinha razão. Se os elfos mudassem de casaca para o lado dos bruxos, eles não teriam chance. Os humanos estão fora do jogo, foi o que dissera um dos Lordes. Eles tinham vencido a guerra, mas no fim não levaram nada, apenas a destruição. Os hommnes haviam sido destruídos nesta última guerra, mas agora ele não tinha mais seu mundo. Não tinha mais sua casa. Não tinha mais para onde retornar. Do que valera esta guerra, Dumed se viu pensando. Há muito os humanos lutavam contra os hommnes, e há muito não havia vencedores, apenas perdedores. E mais uma vez assim ocorrera nesta guerra sem sentido.

Alguém se encostou ao parapeito ao seu lado, libertando-o do transe dos seus pensamentos. Por um momento, Dumed pensou que o mago havia retornado, mas quando virou-se apenas viu o corpulento rei dos magos. Andêgo recostou-se ao parapeito e olhou a cidade. Para nada em particular, apenas para a cidade como um todo. Seu olhar vagava entre os tetos das casas.

— Esta é a cidade! — Falou o mago de repente. — É realmente a cidade. Não falo apenas de beleza. Olhe para ela — Bateu com a parte de trás da mão no braço de Dumed. — Movimentada. Viva. Fui muitas vezes a Castelo do Vale, a Mago Branco e ao Despenhadeiro... Dizem que Mago Branco é a cidade mais bela deste mundo, mas não é verdade. Nem tampouco o Despenhadeiro, apesar de todas as riquezas. Desde que vim do Fim do Mundo pela primeira vez, depois de passar tantos anos fora com o irmão do meu pai... Desde a primeira vez que subi aqui e olhei para esta cidade, me apaixonei por ela. Meu pai costumava me levar a sua torre privada, para que eu observasse a cidade, e pudesse conhecer cada canto dela. “Você deve conhecê-la para governá-la”, dizia ele — Andêgo riu discretamente, mas o som de sua risada morreu com a tristeza do vento.

Dumed não sabia o que dizer. Ficou olhando para a cadeia de montanhas que cercava as muralhas da cidade, onde o chill agora voava livre. Era chamada Dádiva da Terra porque dividia os quatro cantos do mundo dos magos. A Dádiva rodeava Pedra Negra e a Cidade Central, separando os territórios das quatro grandes famílias. Mas eram histórias antigas, dos tempos em que elas brigavam entre si e a única coisa entre elas era a grandiosa cadeia de montanhas. Quando Lorde Koltmen Billytian foi erguido Rei dos Magos, Pedra Negra foi construída, e as batalhas cessaram. Agora a Dádiva era apenas um monumento antigo que separava as fronteiras e dificultava a chegada à capital.

— Eu sei o quanto pode ser difícil, Dumed — Voltou a falar o mago, mais uma vez trazendo Dumed de volta de seu devaneio. — Nós vamos devolvê-lo seu mundo. Nem que para isso eu tenha que matar até o último bruxo daquele mundo sujo.

O humano apenas assentiu.

— Você acha que é verdade o que o elfo disse — Perguntou Andêgo, olhando mais uma vez para o horizonte da cidade. — Você realmente acredita que a espada possa conter os poderes de Graanfsett?

— Acredito — Respondeu finalmente Dumed, forçando a garganta para mostrar uma voz audível.

O mago abaixou a cabeça e encolheu os ombros.

— Pensar em um portador daquela espada fazendo uso dos poderes de Graanfsett... — Sua voz era firme e claramente preocupara, beirando o medo. — Não podemos permitir que qualquer um... Não! Esse poder é muito perigoso... Muito perigoso. Essa espada tem de ser encontrada... E destruída!

— Sim. Ela tem de ser destruída, mas... — O humano parou por um segundo. Uma ideia comaçara a se apoderar dele; uma ideia louca na verdade. Andêgo olhou para ele. — Graanfsett foi o ser mais poderoso que já existiu. Com aquela espada... Com todo esse poder em mãos... Poderíamos vencer a guerra de uma vez por todas. Poderíamos retomar meu mundo... Diga-me se, com todo este poder, conseguiria destruí-lo.

O rei mago olhou para Dumed com um olhar incrédulo e balançou a cabeça avidamente.

— Esse poder é grandioso demais... E maligno! — Conseguiu dizer, com sua voz tremendo. Esperou um tempo e limpou a garganta para continuar. — Não sabemos quais foram as verdadeiras intenções do duende, mas ele poderia ter destruído tudo o que conhecemos. O seu poder tentará qualquer um para fazê-lo retornar, disso pode ter certeza. Não sei como, mas Graanfsett tentará retornar. E pode conseguir se a espada cair em mãos erradas.

— Você está certo — Concordou Dumed, anuindo com a cabeça, mesmo sabendo que o outro rei não estava o olhando.

Andêgo tinha razão, ele sabia. O poder de Graanfsett era até mais temido do que desejado. Nenhum ser jamais poderia ser capaz de controlá-lo, Dumed tinha certeza. Outra ventania balançou fortemente seus cabelos.

— Talvez ela não esteja por ai. Talvez o próprio Mago a tenha destruído — Arriscou o humano. — Antes de morrer.

— Não. Não acredito nisso. E enquanto essa espada não for destruída, Graanfsett continuará vivo.

— Vamos destruí-la...

Andêgo suspirou.

— Essa guerra vai ser prolongada — Falou ele, como que com nojo do que saía de sua boca. — Eu não queria admitir isto, tanto quanto os Lordes não querem admitir, mas é a verdade. Isso não vai acabar enquanto nós não estivermos nos banqueteando naquela sua fortaleza escura.

Dumed queria dizê-lo que não se importasse com seu mundo. Queria dizê-lo que o mundo dos magos não precisava de outra guerra por causa dos humanos, mas não conseguiu dizê-lo. As palavras, mesmo ele sabendo que seriam em vão e que Andêgo as negaria veementemente, não conseguiram passar por sua garganta. No lugar delas, saiu apenas uma tosse rouca.

— Na minha fortaleza escura? — Riu-se ele, olhando para a Fortaleza Negra ao seu lado, e depois olhando para o amigo, que também gargalhou discretamente.

Cazä era um lugar escuro, era verdade, mas o castelo era tão iluminado e claro o quanto se podia ser. Andêgo iria falar mais alguma coisa, mas Dumed nunca soube o que, pois ele parou no ato quando percebeu alguém se aproximando. O mago girou sobre os calcanhares enquanto o humano apenas virava o rosto para olhar de soslaio quem se aproximava.

Lorde Marry vinha apoiado em sua bengala, arrastando suas vestes vermelhas, lentamente em direção a eles. Na outra mão, ele segurava um pequeno pergaminho enrolado ao máximo. Um cavaleiro andava ao seu lado, segurando o seu braço para ajudá-lo a caminhar. Tinha sobre ele uma armadura cinza com um urso branco desenhado na placa de peito, erguendo-se sobre as duas patas traseiras. O Lorde não tinha uma cara feliz, nem o cavaleiro.

— Lorde Marry — Falou o rei, parecendo intrigado e curioso, enquanto o cavaleiro fazia uma lenta reverência. Dumed virou-se para olhar os dois.

— Meu Rei, Rei Dumed — Falou o mago com sua voz fraca; desta vez um pouco mais fraca que o normal. Mostrou o pergaminho selado com cera azul e branca da Casa Sollyeck e o estendeu para Andêgo. — Notícias de Techkar.



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Notas finais do capítulo

Como já disse antes, essa é a primeira parte do Prólogo. Postarei o resto se houver alguém lendo.



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