Filha Da Noite escrita por Liza T


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Aqui está (finalmente) o capítulo três. Um pequeno aviso para quem está lendo: eu demoro MUITO para escrever. Não é sempre que eu tenho ideias, eu tenho que bolar os detalhes da continuação dos capítulos, e ainda tem os trabalhos e provas para estudar. Fica difícil assim. Mas enfim, aqui está o capítulo. Espero que gostem.P.S.: Fiz um desenho da Mia, vou postar quando der, provavelmente no cap. quatro.P.P.S.: Enquanto escrevia o primeiro cap., esqueci de escrever que o primeiro nome completo de Mia é Amelia. Isso já foi arrumado nos outros cap. também.



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O momento de insanidade passara, junto com a sensação de que estava se transformando. Mas isso era impossível. Não era lua cheia. Então como...

A porta abriu-se. Melodie entrava esbaforida, mas quando avistou Mia no chão parou.

– O que houve? Você saiu correndo tão rápido, não sabíamos o que tinha acontecido.

Mia cortou-a explicando-se:

– Eu... Passei mal. Achei que ia vomitar, então corri para o banheiro mais próximo.

A expressão de Melodie suavizou-se devagar.

– Você está melhor agora?

Mia assentiu. Melodie não questionou o fato de que a garota estivesse sentada no chão, meio enrolada nos cobertores que estavam toscamente esticados de sua cama até o chão.

– Certo... Vou falar para o Nicholas que você está bem. Ele estava bem preocupado com o jeito que você saiu correndo.

Mia assentiu novamente. Deixou que Melodie saísse do quarto, e então soltou o ar com a boca, sentindo-se estranha. Afinal, achava que estava se transformando, apesar de nada assim ter acontecido antes.

Pensou em ligar para a mãe, mas desistiu na hora. Mia tinha a impressão de que, mesmo estando assustada, queria saber o que estava acontecendo. Sua parte lobo instigava-a a isto. A jovem sacudiu a cabeça, levantando-se do chão. Mia passou o resto da noite na cama.

Ela sequer percebeu quando Melodie entrou no quarto, e caiu no sono sem notar a diferença entre a realidade e o sonho. E esse foi o pior erro dela. Mas o que poderia fazer? O sonho misturava-se à realidade, e a visão da escola à noite escorria entre seus dedos. Primeiro, estava tudo escuro. E então uma garra ergueu-se, esticando os dedos com longas unhas prontas para arranhar. E Mia percebeu que a garra era sua, mas a garota não conseguia pará-la. As unhas fincaram-se no escuro, que agora se transformava em tecido.

A mão deslizou para baixo, partindo fio por fio, até surgir no meio do rasgo uma grande bola flamejante, fria e branca. O escuro ao redor agora parecia fluido, deslizando sobre si mesmo em uma infinita corrida. Árvores surgiam e desapareciam, e sua respiração se condensava na frente de sua boca. A terra seca, agora coberta de orvalho, estalava sob seus pés inexplicavelmente devagar, apesar da desesperada corrida. E seu corpo virou-se, de repente, olhando para o extenso campo onde ela corria.

No fundo do campo havia a fachada lateral do dormitório masculino e, um pouco mais além, uma parte do feminino. E, apesar da distância imensa que separava o prédio da garota, seus olhos captaram um detalhe.

A janela do primeiro andar estava aberta.

* * *

Mia acordou na manhã seguinte ofegante, ciente de que algo terrível estava acontecendo. Sua mão subiu e agarrou o colar de sua avó, que estava pousado sobre seu peito. Era um antigo medalhão com uma corrente que em alguma época fora prateada, com uma pedra oval e vermelho-sangue, que a ajudava a controlar-se quando era lua cheia. E ajudava, porque quando era dia de Lua, ela transformava-se, saía para poder correr e não ia longe de casa. Principalmente porque não queria encontrar os outros. Uma vez perguntara à avó se havia outros lobos, e ela dissera que sim. Mia devia ter treze anos àquela época. E pediu porque nunca vira, nunca falara, ou pelo menos encontrara algum dos outros alguma vez. Sua avó apenas disse que ela era muito nova para encontrar-se com os outros, e que a maioria não tratava os jovens bem. E não entrou em mais detalhes. Em nenhuma vez.

Pela primeira vez, Mia duvidou da palavra de sua avó. Agora ela não era mais tão jovem, e ainda assim nunca falara com outros lobos.

E ela sentia seu colar falhando.

A jovem não sabia bem de onde essa sensação vinha, mas o medalhão da família não exercia o efeito que deveria. Isso se comprovava pelo fato de que sua audição e visão estavam mais aguçadas, pois todos os detalhes saltavam sobre seus olhos com um leve brilho dourado. Seu coração bateu mais rápido. Dourado.

Mia jogou-se na frente de um pequeno espelho pendurado no armário, que ficava encostado na parede da porta. O reflexo dançou em seus olhos, mas depois de um tempo estabilizou-se, e a imagem refletida desesperou Mia.

Seus olhos estavam cor de mel, brilhantes, suas íris pareciam fundas e flamejantes como ouro derretido. Ela desequilibrou-se com a visão, e então parou. Não queria acordar Melodie, que jazia envolvida em seu sono.

Mas Mia precisava desabafar com alguém. Não era parecido com nenhuma das outras vezes que contara à força para alguma de suas colegas de quarto. Dessa vez era diferente.

Porque ela sentia um imensurável pânico crescendo dentro de si. E Mia também sentia que a visão de ontem à noite não fora apenas um sonho.

* * *

Ela não dormiu pelo resto da noite. Mia deitou-se sobre as cobertas, rolando de um lado a outro, finalmente decidida a não falar nada para Mel. Elas só se conheciam há um dia. Além disso, se Melodie perguntasse algo a ela, não devia explicações. Quando Melodie acordou, porém, Mia estava vestida com o moletom cinza da escola, com a gravata obrigatória para todos os alunos amarrada toscamente, e ainda de calça, como se a esperasse. Ela encarava a parede, que não continha nada, como se houvesse um monstro à sua espreita.

– Mia? – Melodie chamou, unindo as sobrancelhas.

Mia virou a cabeça rapidamente, finalmente se dando conta de que a colega de quarto acordara. Ela levantou-se e sorriu, cansada.

– Bom dia.

– O que está fazendo acordada tão cedo?

– Só não queria me atrasar no primeiro dia. – ela arrastou-se para o banheiro e saiu com a saia (algo extremamente desnecessário, já que a escola não parecia conservar esses costumes clichês), e os sapatos já vestidos, o cabelo arrumado e a expressão de cansaço já varrida do rosto. – Então, qual é a sua primeira aula de hoje?

Melodie demorou um pouco até levantar-se da cama, pegar a grade de horários e ver a primeira aula.

– Inglês avançado.

Mia torceu o nariz.

– A minha é História. Parece que não vamos estar juntas. – depois ela sorriu. – Se não nos encontrarmos mais, te vejo no almoço.

Ela não esperou mais. Despediu-se e partiu porta afora, sem ter certeza do porque estava fazendo isso. Ao dobrar o corredor, Mia soltou a respiração que nem sabia que estava prendendo. Quando percebeu o que fizera, uma careta formou-se em seu rosto, e seus olhos fixaram-se em um ponto distante.

Então Nicholas apareceu na curva do corredor, trombando com ela. Entretanto, antes que se tocassem, pararam bruscamente e seus rostos ergueram-se, fitando os olhos um do outro. Ele era mais alto que Mia, então ela ficou olhando para cima e ele, para baixo.

O momento se quebrou, e eles se afastaram. Ele passou a mão no cabelo.

– Onde está Melodie?

– No quarto.

Nicholas assentiu devagar.

– Então vou até lá. Te vejo depois. – ele ensaiou um sorriso e partiu corredor adentro.

Mia seguiu seu caminho até a ala das salas de aula.

* * *

Mais uma surpresa. O professor James, além de supervisor da escola, seria seu professor de História. Ele saudou todos com um incrível sorriso de dentes muito brancos e começou a aula pedindo aos alunos para se apresentarem. Após, apresentou a si mesmo, e enquanto falava a turma ficou em absoluto silêncio. Mia nunca vira um grupo tão grande de jovens respeitando alguém que tinha quase a idade deles. O professor fez algumas perguntas, e dirigia-se a eles pelos primeiros nomes; algo que Mia estranhou, principalmente pelo fato de que ninguém a chamava de Amelia. Todavia, o grande fato do dia aconteceu no almoço.

Ela estava com Mel e Nicholas próximo à calçada que chegava aos dormitórios, e eles três estavam sentados na grama verde do campo que se estendiam até onde seus olhos alcançavam. Após o campo, havia um enorme lago no qual nenhum aluno tinha permissão para entrar, e além e ao redor disso, apenas florestas e mais florestas, densas e enormes. A umidade das árvores chegava até Mia pelo vento, e dava para sentir o cheiro de musgo, terra úmida e folhas secas que se desprendiam dos galhos, pois era outono.

Eles conversavam animadamente, até que Mia levantou-se para devolver sua bandeja ao refeitório. Na volta, antes de poder se aproximar deles novamente, duas garotas ridiculamente lindas se aproximaram da garota. Uma delas, a mais alta e a de frente à Mia, era tinha cabelos ruivo claro que desciam em voltas perfeitas, e os olhos eram felinos e verdes. A outra tinha cabelo escuro e olhos cruéis cor de mel. Definitivamente, eram populares, do tipo que é cercada de garotos e usa muita maquiagem. Mia não gostou delas de cara.

A ruiva falou primeiro.

– Você é nova, não é?

Seu sorriso dizia que ela estava falando aquilo para agradar alguém. Seus olhos continuavam queimando, então Mia retribuiu o olhar mortífero e elas ficaram alguns segundos se encarando.

– Sou.

– Então eu vou te explicar algo... – o sorriso desapareceu, e ela ergueu um copo de suco na frente do corpo. Mia finalmente lembrou-se da garota. Era a ruiva que estava na porta do refeitório noite passada, a qual Mia virara a bebida enquanto corria para o quarto. Os instintos de Mia começaram a apitar. – não sei quem você pensa que é, mas quem manda aqui sou eu. Então da próxima vez que achar que pode jogar suco em cima de mim, é melhor pensar duas vezes.

Antes que a garota pudesse reagir, a ruiva virou o copo sobre a cabeça de Mia, encharcando-a instantaneamente. O líquido estava tão frio que os músculos de Mia se retesaram, e ela foi invadida por uma vontade imensa de pular sobre a ruiva e sua amiga e arrancar a alma de seus corpos com os dentes. Antes que fizesse algo, porém, sentiu o olhar dos alunos ao redor sobre ela. Foi uma sensação imediata, aterrorizante e constrangedora.

– Oh, não. Mia! – a voz de Melodie ergueu-se, e som de passos foi instantâneo.

Mia foi inundada por outra sensação estranha: apesar de ser dia, pensou estar se transformando. Seus dedos curvaram-se em garras, os cheiros estavam mais fortes, os sons mais altos e os detalhes do ambiente saltavam em seus olhos.

– Isso mesmo, Mia. É bom correr de volta para o lugar de onde veio.

Ela queria, mais do que tudo, retribuir o comentário da garota abominável em sua frente. Mas o medo soava mais alto. Não podia deixar que Melodie, ou Nicholas, ou qualquer um dos outros alunos a vissem assim...

Mia forçou suas pernas para que corressem, içando o corpo para frente com uma guinada. Sua visão começava a ficar embaçada, brilhando mais que o sol. Ela seguiu com as mãos sobre o rosto, e não se importou nem um pouco se os outros pensassem que ela estaria chorando, mesmo sendo um absurdo. Mia não se abalava tão facilmente. Todavia, seu corpo começou a pinicar, e a pele formigava. A garota passou entre os prédios do dormitório feminino e das salas, para uma área sem nenhum aluno, que estava nos limites da floresta e que continha um estreito, porém longo, pedaço de grama que circulava a construção.

A jovem pensou em jogar-se na grama e ficar ali, contorcendo-se de dor, esperando alguém segui-la até encontrar um animal onde ela estaria. Ou talvez apenas esperar aquilo passar e depois dizer que se sentira humilhada ou talvez...

Nada disso aconteceu. Seu corpo em pânico chocou-se com outra pessoa, e ambos desabaram, rolando sobre o chão enlameado. Mia soltou um som de ultraje, que parecia mais um choro, já que todo o ar de seus pulmões pareceu ser arrancado dela. Não conseguia ver seu rosto, mas com certeza era um garoto. Era bem mais alto que ela e visivelmente mais pesado, e Mia não conseguia se mexer para soltar-se, pois, com a sorte do destino, ele caíra com todo seu peso por sobre ela. Pelo menos, a transformação parara.

Lutando para fazer o ar voltar para o corpo, Mia fechou os olhos e inspirou pela boca, sentindo o peso do garoto saindo do seu peito. Quando já respirava normalmente, ela abriu os olhos.

E perdeu o fôlego novamente.

Mia podia ser uma mutante, mas ainda tinha uma parte garota dela que praticamente suspirou em seu interior quando seus olhos focaram o rosto do jovem. Ele tinha cabelos e olhos castanho-claros, e então balançou a cabeça tentando se recuperar do tombo. Mia prendeu a respiração. Não tinha mania de olhar os garotos pela sua aparência, mas tinha de admitir que ele era lindo. Ela se retesou, claramente constrangida, mas parou. Mas que diabos ela estava pensando? Ela estava se transformando há poucos segundos atrás. Lembrou-se repentinamente da ruiva com o copo. Seus olhos se arregalaram em silêncio.

– Desculpe. – sussurrou o garoto, levantando-se desajeitadamente e passando a mão no cabelo. – Não tinha visto você.

– N-não tem problema. – as palavras saíram sem pensar. Seus olhos estavam detidos em como o blusão da escola apertou-se contra o peito do jovem assim que seu braço levantara-se para a cabeça. Mia torceu para que sua boca não tivesse se aberto. – Eu...

Sua voz morreu na garganta.

Mia achou que deveria dar um tapa em seu próprio rosto para tirar-se do transe, mas uma piscada de olhos já ajudou bastante. Então ela se deu por conta de que estava toda molhada e cheia de lama. Ela choramingou baixinho.

Ele percebeu a lamentação de Mia e seus olhos faiscaram preocupação.

– Você está bem? Ou precisa ir à enfermaria?

Ela balançou a cabeça fortemente em resposta. Seus olhos fecharam-se e ela respirou fundo.

– Uma garota acabou de virar suco em cima de mim. E eu... Saí correndo. – assim que falou, percebeu como as palavras soavam ridículas e infantis. Mia quis que houvesse um buraco bem fundo para que entrasse dentro, de preferência para nunca mais sair. E afinal, por que se estava confessando a um garoto que ela não conhecia e, ainda por cima, trombara com ela e a deixara enlameada? Nada disso tinha o menor sentido.

Ela pensou em voltar devagar para Melodie e Nicholas, e nunca mais olhar para o rosto daquele menino. Provavelmente pela vergonha.

Entretanto, Mia ficou parada encarando aqueles olhos castanhos que, pela pouca distância entre eles, continham pequenas linhas verdes que se arrastavam até suas íris. Ele se moveu primeiro. Andou até a curva que o prédio das salas de aula fazia e espiou para a área central. Em um dos bancos, a ruiva e a amiga estavam cercadas de outros alunos e todos riam exageradamente com elas. O jovem fez uma careta.

– A garota que fez isso com você... É uma ruiva alta e patricinha?

Mia assentiu.

– Nossa... É seu primeiro dia? – nem esperou a garota responder. – Que azar, hein? Não são todos os novatos que conseguem virar um alvo de Evangeline Grimm no primeiro dia. Deve ter sido grave.

Ela assustou-se com o comentário. Ele pareceu perceber que todas as outras sensações que Mia deveria estar sentindo no momento não a deixavam interpretar direito o comentário. Por isso, corrigiu-se.

– Desculpe... – ele balançou a cabeça. O jovem ergueu o rosto e deu um sorriso tímido, pela metade. – O que quis dizer foi que Eve se irrita por pouca coisa, então qualquer pequeno gesto contra ela vira um insulto.

Mia torceu o nariz e começou com uma voz baixa e incerta.

– Eu derrubei suco nela ontem à noite. Mas foi um acidente. Eu juro que foi.

O garoto amenizou a expressão e sorriu pela metade. Um dos cantos subiu, deixando sua face com aparência brincalhona e sedutora. O rosto de Mia queimou.

– Não precisa se explicar, depois de um tempo ela vai esquecer.

A conversa se encerrara ali. Mia se afastou devagar, virando-se de costas quando alcançou a curva. Quando achou que poderia finalmente soltar o ar de alívio, ele chamou-a novamente.

– Espere! – aproximou-se dela mais uma vez. – Você não me disse seu nome.

Ela piscou. Não esperava por isso.

– Mia. Meu nome é Mia.

Ele sorriu novamente, e o efeito foi incrível.

– Nome bonito.

A garota não sabia o que dizer, então apenas devolveu o sorriso e se juntou a massa de alunos. Em poucos e constrangedores segundos, ela fora perdida de vista.

Demorou alguns instantes para ela localizar os amigos. Antes que o fizesse, porém, percebeu que o garoto não dissera seu nome.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu sei que ficou muito grande porque eu me emocionei enquanto escrevia, então ficou assim.Comentem se gostaram, preciso de suas opiniões!*-*



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