- Você é o garoto mais irritante, idiota e insensível pelo qual eu já me apaixonei em toda a minha vida! - gritei com ele, percebendo meu erro tarde de mais.

De repente, o chão parecia bem interessante. Ele ergueu a cabeça, voltando a olhar para mim. Meu rosto estava muito quente, eu provavelmente estava mais vermelha que um tomate. Como eu pude falar uma coisa dessas bem na frente dele?! Eu sou o ser humano mais idiota da face da Terra! O que ele pensaria de mim agora? Nós nos conhecemos há o quê? Dois meses? E eu já saio falando que estou apaixonada... E se ele não quiser mais ser nem meu amigo? Eu definitivamente devia ter ficado de boca fechada.

- O quê? - ele perguntou, me olhando meio confuso.

- Ah... Nada... Esquece isso.

A única coisa que pensei em fazer foi correr para o meu quarto e me trancar lá. Afinal, eu ainda estava de toalha. Depois de respirar fundo várias vezes e tentar me acalmar, coloquei uma calça jeans e moletom e saí do quarto ao ouvir batidas na porta. Eu ainda estava muito vermelha, minhas bochechas estavam ardendo. Nunca fiquei tão envergonhada em toda a minha vida. Ele continuava me encarando, como se quisesse ter certeza do que ouviu. Ele abriu a boca várias vezes, sem emitir som algum, fechando-a logo em seguida. Eu não sabia o que fazer, não sabia se falava alguma coisa, se ria e fingia que tudo não passara de uma brincadeira ou se saía correndo dali. Aquele silêncio parecia que nunca iria passar. Até que, finalmente, Nathan falou alguma coisa.

- Ah... isso é... isso é sério? - ele perguntou, ainda me olhando com uma expressão confusa.

Não respondi. E também não olhei em seus olhos. Estava aterrorizada pelo simples fato de contar a um garoto que eu gostava dele. Parecia uma garotinha de cinco anos. E ele também parecia não saber o que fazer. Silêncio total. Até a chuva parecia ter parado de cair. Finalmente tomei coragem e olhei-o nos olhos. Para minha surpresa, ele sorria.

- Quando você pretendia me contar? - ele perguntou.

- Ah... quando eu... quando eu tivesse certeza - minha mente lutava para formar as palavras e uni-las em uma frase enquanto eu me perdia naqueles olhos azuis tão cristalinos, tão profundos, tão encantadores, tão...

- Julie? - ele chamou, me fazendo voltar à realidade.

- S-sim? - gaguejei.

Ele não disse mais nada, apenas deu um passo à frente, segurou meu rosto delicadamente e me beijou. Eu realmente não esperava por isso. Eu esperava uma reação mais tipo "De onde você tirou essa ideia, menina? Ta ficando maluca? Tira isso da cabeça!", nunca isso. Percebendo minha confusão momentânea, ele fez menção de se afastar, mas eu imediatamente retribuí o beijo, o que, pelo visto, fez com que ele esquecesse essa ideia. Sua mão passou de meu rosto a meus cabelos ainda molhados, me mantendo perto dele. A sensação de seus lábios nos meus era com certeza a melhor coisa que eu já experimentara na vida. Eu poderia ficar ali para sempre. Mas, infelizmente, eu era uma mera humana, com um fôlego particularmente limitado e logo precisei de ar, tendo que quebrar aquele beijo maravilhoso. Depois de respirarmos um pouco, nós dois apenas olhamos um para o outro, exibindo sorrisos idênticos.

- Tem certeza agora? - ele perguntou depois de um certo tempo.

- Absoluta - respondi. Meu sorriso apenas crescia e eu tinha certeza de que não desapareceria tão rápido.

- Isso é ótimo, porque... bem... eu acho que... talvez eu... talvez eu goste de você também.

- Isso seira ótimo - falei, simplesmente, mas estava pulando de alegria internamente.

- Bem, eu... ah... eu acho que tenho que ir - ele parecia tão constrangido quanto eu, o que era bem estranho. Normalmente os garotos não agiam assim. - Vejo você amanhã?

Acenei com a cabeça em resposta. Ele sorriu para mim, abriu a porta e saiu, voltando segundos depois para me dar outro beijo, que, infelizmente, durou apenas alguns segundos. Ele murmurou um "Tchau" antes de sair definitivamente. Tranquei a porta e deitei no sofá, o enorme sorriso ainda presente. Eu acabara de me declarar para um garoto pela primeira vez na vida e ele me beijou. Era simplesmente o dia mais feliz de toda a minha existência. Não demorei a dormir, perdida em meus pensamentos. Mal sabia que acordaria no dia seguinte com os músculos das bochechas doendo de tanto sorrir.