Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 33
Curiosos


Notas iniciais do capítulo

"Como qualquer pessoa ficaria
Eu estou lisonjeada por sua fascinação por mim
Como qualquer mulher de sangue quente
Eu quis um objeto simplesmente para almejar
Mas você, você não é permitido
Você não foi convidado
Um infeliz desprezado

Como qualquer território inexplorado
Eu devo parecer muito intrigante
Você fala de meu amor como
Se você tivesse experimentado amor como o meu antes
Mas isso não é permitido

Eu não acho que você não valha a pena
Eu preciso de um tempo para pensar"
—Uninvited -Alanis Morissette



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/337667/chapter/33

Ponto de vista de Renesmee

_Dor de cabeça_ ouvi minha mãe dizer enquanto caminhávamos para o elevador.

_Não exatamente, mas umas coisas indistintas piscando aqui_ respondeu Alice.

_Sobre o garoto_ Bella conjeturou.

_Pouco provável_ disse Edward.

_Suas noções de probabilidade já se equivocaram antes_ rebateu Alice_ Mas, na verdade, não sei_ Então o elevador se fechou e não pude ouvir mais, eles falavam muito baixo.

_O que vamos ver?_ perguntei, deixando as vozes sumirem.

_O que quiser_ disse ele como imaginei que diria.

Ele não fez muitos comentários sobre Alice, a não ser algo sobre palidez, beleza e genética. Obriguei-me a prestar atenção ao filme, para ter algo que comentar depois, pois como um bom estudante de mídia ele certamente teria muitas críticas.

_Nos vemos amanhã?_perguntou ele hesitante, ao nos despedirmos diante de meu prédio.

_Acho que não, programa de garotas com Alice_ encolhi os ombros desculpando-me.

_Mande lembranças minhas a ela_ pediu. Sorri concordando. Então ele me envolveu pela cintura beijando-me calorosamente.

_Até mais_ murmurei desconcertada após o beijo.

Meus pais e tia estavam na sala quando entrei, porém, sem tirar os olhos do livro que lia, Alice levantou-se e foi em direção aos quartos.

_Um momento, Renesmee_ disse minha mãe quando fiz menção de ir para a cozinha.

_Algo errado?

_Vejamos_ Bella com um gesto sugeriu que eu sentasse.

_Vamos direto ao ponto_ falou Edward_ Este rapaz gosta de você... Gosta mesmo de você. E não me parece que o mesmo ocorra a você_ não falei nada, meus pensamentos mudos até para mim. Ele continuou: _Não é justo que ele mantenha esperanças tão concretas de que isso mude_ falou ele ternamente, de pé na minha frente, enquanto que Bella estava sentada ao meu lado.

_Ele é humano, as coisas vão mudar para ele com mais facilidade do que mudam para mim_ disse eu sabendo que meu argumento não era muito válido, no entanto, ninguém é obrigado a produzir provas contra si, certo?

_Não está sendo julgada_ disse Edward me mostrando a ineficiência de meu escudo. _ Eu subestimei a pessoa mais importante da minha vida por sua humanidade.

_Por ele não ser como nós em durabilidade não é tão importante magoá-lo? Entendi certo, é isso mesmo?_ o tom de Bella entre desaprovação e incredulidade.

_Não quero magoá-lo_ defendi-me_ Não mesmo_ balancei a cabeça.

_ Não está sendo coerente. _falou Edward.

Eu não queria jogar as cartas de minha fraqueza e egoísmo sobre a mesa. Entretanto, não estava agindo por ser cruel, mas por instinto de sobrevivência.

_Deixei claro desde o início, que não correspondo, mas_ tinha de admitir_ Preciso dele! Sinto-me bem quando estou com ele e sei que é egoísmo.

_Parece que temos um impasse aqui_ disse Bella condescendente.

Sim, tínhamos. Não havia intenção de minha parte de romper o que quer que tivéssemos, ele me fazia bem. E eu precisava disso mais do que tinha coragem de explicar ou admitir. Aquela noite pedi ao meu pai um favor: que buscasse pela família de Jodelle e lhe desse alguma assistência, quem sabe uma boa escola de música não aceitasse sua irmã mais nova... Ele concordou, feliz, em me atender.

Entrei em contato com Aileen que nos fez uma breve visita. Ela realmente não confiava em vampiros, ficou claro que todo o tempo ela não esteve à vontade. Edward dissera que ela ainda sofria pelos “grilhões” que tentaram colocar nela quando mais jovem e que ela era mesmo de confiança.

Na madrugada de domingo, Alice e meus pais partiram, foi bom tê-los comigo, porém eu estava novamente só.

O tempo passava implacável e apesar de meu afeto por Chris, não conseguia não pensar que estava apaixonada pela lembrança de Jacob. O que eu não faria para saber onde ele estava, para fazê-lo voltar! Se eu realmente o amasse, o faria calada, nunca o constrangeria com meus sentimentos incestuosos. Além disso, nunca o faria me ver de outra forma, além de literalmente me ver nascer, ele amara minha mãe. E de certa forma ainda amava, embora ela tenha se tornado uma criatura que o repelia fisicamente, ele a amava o bastante para ter estado ao lado dela todos esses anos...

_Renesmee_ chamou Chris_ Está pensativa... _ Ele me abraçou por trás, fazendo-me escorar a cabeça em seu ombro. Ele sempre ficava quieto quando eu me perdia assim em pensamentos, não dizia mais que isso, apenas me trazia de volta a realidade.

_Nada de namoro na minha cozinha_ disse Pierre, fazendo com que nos afastássemos e voltássemos ao trabalho.

Fui levar o lixo para fora, estava quase na hora de fechar, a noite estava mais fria do que devia para o meio de abril. Eu não estava especialmente atenta a nada, mas então senti o cheiro e no mesmo instante algum instinto de autodefesa fora acionado: eu tinha que correr ou lutar.

Apesar do impulso de proteger o que meus instintos registravam como meu território, um instinto ainda mais básico lembrou-me que eu não ganharia luta alguma com mais de um vampiro, porém, não me restava mais tempo. Um vulto, prateado sob a luz pálida da lua, passou por mim. Minha reação automática foi correr, mas senti um baque forte e me vi presa contra a parede, mãos pétreas me segurando pelo pescoço. Minha agressora tinha um rosto infantil, e claro, muito bonito. Suas íris negras ainda com um resquício de vermelho enquanto ela me olhava curiosamente.                               

_Beatrice, brincando com a comida?_ disse uma voz acima de mim, a forma de cabelos muito escuros pousando atrás da mulher.

Inesperadamente, outra forma muito familiar surgiu pelo outro lado, vinda do telhado da cafeteria, fazendo com que o vampiro se aprontasse para uma luta, no entanto, ao cair agachada em posição de ataque, Aileen subitamente teve um espasmo, caindo de joelhos, ela parecia completamente tonta. Não conseguia me olhar, seus olhos de rubi pareciam sem foco enquanto ela tinha espasmos como uma humana enjoada.

_Acontece que não sou comida. A não ser que seja um recém criado. Vampiros não têm lá uma pele muito saborosa... Aliás, a pele é sempre uma inconveniência, não acham? Refiro-me as caças_ tagarelei rápida e friamente.

_O que você é?_ indagou a vampira, que ainda me segurava, seu francês continha um toque leve de algum outro sotaque. Ela olhou para meu peito, certamente, intrigada com meu coração.

_Seu estranho coração_ disse o homem avançando e parando ao lado da vampira, atrás deles Aileen tentou se levantar, no entanto ainda parecia muito tonta e os sons de ânsia que ela emitia estavam me dando náusea_ Quem você é?         

Não passou despercebido que ele disse “quem”, não “o quê”.

_Renesmee Cullen_ anunciei.

_ A herdeira híbrida do clã americano_ afirmou ela, seus cabelos muito claros brilhando quando muito rápido ela moveu-se para olhar o vampiro ao seu lado, me soltando imediatamente.

_Os dos olhos amarelos?_ perguntou uma voz que parecia brisa, suave, vinda indistintamente, me chocando por ter tantos vampiros num só lugar. Aileen pareceu melhor, ainda agachada, parecia uma cobra espreitando o momento do bote.   

Houve então outro acréscimo, o que fez com que parecêssemos uma turba no lugar pequeno. Vi a massa de seu corpo pousando atrás dos dois, ele era mais alto que os outros, pude perceber. Ainda irrequieta, Aileen, atrás da forma masculina, pareceu relaxar, sentindo sua intenção, imaginei. Eu continuava meio prensada na parede de tijolos.

_Nós éramos testemunhas Volturi_ disse o vampiro de cabelos escuros, como se não gostasse da lembrança_ Mas um clã que enfrentou e deteu àqueles italianos, certamente ganhou fama e respeito.

_Mudaram de idéia sobre os Volturi?_ demandei_ Não estiveram a seu favor?

_Ficara claro que tipo de governo temos em nosso mundo. Fomos dois dos que se retiraram antes do desfecho.

_Por curiosidade... _ disse a mulher, Beatrice_ Como se alimenta?

_Prefiro a dieta vampiresca, mas como comida humana.

_Seu clã está aqui?_ perguntou a mesma voz baixa e suave de antes, por um momento eu simplesmente me esquecera do quarto vampiro a se unir a nós, mas por alguma razão a ideia de olhá-lo era estranhamente repulsiva.

_Não_ respondi imaginando se a reação de Aileen e minha náusea tinham algo a ver... Resolvi então ativar meu escudo. E a sensação ruim desapareceu: isso era um dom, e eu podia me defender. O encarei então, e meus olhos não foram rechaçados, mas foi diferente do que imaginei: era um vampiro muito, muito bonito. Nada tinha a ver com a sensação de nojo de momentos antes. Era alto, loiro, e seus traços perfeitos desenhavam uma expressão apreensiva e ao mesmo tempo curiosa, misturadas a uma neutralidade instável. Porém tudo virou surpresa por um segundo enquanto eu o olhava, ele não esperava isso.

_Não deveria estar só, não tão perto da Itália, a propósito, meu nome é Jean_ disse o vampiro desviando minha atenção do loiro.

_Não estou desprotegida_ respondi automaticamente. Ele sorriu como quem ri da ingenuidade de uma criança, e percebi que era este o caso.

_Com licença, agora, mas estávamos caçando_ disse Beatrice com certa pressa.

Com um salto os dois já não estavam ali, o jovem loiro hesitou minimamente e partiu. No mesmo momento Aileen estava ao meu lado.

_Está tudo bem_ falei.

_Estão sentindo sua falta lá dentro_ falou ela.

Assenti, e virei-me, de volta a cafeteria. Dei de cara com Chris ao abrir a espessa porta de alumínio batido dos fundos, e estremeci ao imaginar-lhe lá fora, momentos antes.

_Você demorou_ disse ele sorrindo.

_Tomando ar fresco_ respondi.

_Ar frio_ disse ele reclamando e me puxando pra dentro depois de me beijar rapidamente.

 O vampiro, Jean, poderia ter razão sobre eu estar perto demais da Itália, mas Alice veria e estaríamos prontos caso alguma decisão ocorresse... Além disso, os Volturi, como a maioria dos imortais, contam o tempo de outra forma.

Ao sair da cafeteria com Chris, Aileen estava na calçada, desinteressada, como se não me conhecesse. Parecia apenas esperar alguém, passei por ela e a olhei interrogativamente de forma que ninguém percebesse. Ela olhou para cima, em direção as sombras no telhado da cafeteria... Havia alguém por perto. De repente a mão do garoto que segurava a minha pareceu muito mais presente. Seria um dos vampiros de mais cedo? Queria olhar Aileen uma vez mais, ter certeza de que ela parecia preocupada... Mas Chris perceberia.

_Tenho um convite para você_ disse ele.

_Convite_ repeti, tentando perceber alguma aproximação sobrenatural.

_Tenho um amigo, bem, filho de um importante cliente do meu pai, que tem uma fazenda, e ele disse que podemos ir, se você quiser, é claro.

_Fazenda?

_Fui lá há alguns anos, é muito bonito. Poderíamos ir de carro depois do trabalho, no sábado.

_Tudo bem_ respondi preocupada com outra coisa.

Ao ter me despedido de Christopher, Aileen se aproximou.

_Não se assuste_ falei pegando sua mão. O que houve?, pensei para ela, que me olhou surpresa.

_Há um vampiro, ele esteve perto por muito tempo, mas agora desapareceu_ murmurou ela. Quem?

_Imagino que seja o estranho, o loiro que não se apresentou. Porque não me falou que tem um dom?

_Há muito de que não falei_ disse soltando sua mão.

Achamos que seria seguro que ela fosse até meu apartamento comigo.

_Nada de errado por aqui_ disse ela quando entramos_ Não que isso signifique muito.

_O que quer dizer?_ Falei tirando o casaco_ Aliás, diga-me uma coisa mais importante, como você entra aqui, afinal?

_ Pela janela de ventilação da área de serviço_ respondeu sem se constranger_ Aliás, devia tomar cuidado, nós matamos e as pessoas roubam.

_ De muito mau gosto, sua frase. E não estou preocupada com ladrões no vigésimo andar_ fui até a cozinha procurar algo para comer.

_Que nojo!_ disse Aileen quando voltei da cozinha com um delicioso bolo de chocolate, ela estava zapeando pelos canais.

_ Então, seu dom... Você nasceu com ele? O que mais você pode fazer?_ indagou ela de cara feia para meu bolo.

_Sim, nasci. Posso projetar a distância também, mas achei que seria mais estranho para você. E tenho uma espécie de escudo, que quando ativo impede que outros dons atuem em mim_ expliquei observando sua expressão.

_Incrível! Outros híbridos possuem dons?

_Não os que eu já ouvi falar. _ respondi_ Diga-me uma coisa Aileen, porque nunca mudou de nome? Não é um nome comum atualmente, devem fazer perguntas...

_Sim_ ela sorriu_ Perguntam. É meu nome, quem sou. Sempre digo que é um nome tradicional de família. _ ela deu de ombros.

Quando ergui os olhos para ela novamente, sua expressão era cautelosa.

_Fique aqui_ ela pegou meu celular, sobre a mesa do canto e o jogou para mim enquanto ia em direção a cozinha.

_Aileen?_ levantei, porém hesitei se ia ou não atrás dela. Atenta, tentei ouvir, os segundos passando... Decidi por fim, segui-la, quando ela surgiu de volta.

_O que houve?

_Fique calma, certo, está tudo bem, confie em mim_ falou Aileen tranquilamente_ O vampiro loiro está aqui, disse que precisa falar com você. O deixei entrar_ ela ficou imóvel esperando minha reação.

_ Aileen!_ disse eu, engasgada, enquanto o dito vampiro loiro surgia.

_Ele não tem intenção de fazer nada de mal_ disse ela com um olhar frio para ele.

_Prometo_ disse ele em voz alta e clara.

Passado o susto do primeiro momento, eu estava curiosa. Mantive o celular seguramente em minha mão, não que eu fosse ter muito tempo para avisar alguém se a intenção do vampiro mudasse...

_Estou ouvindo_ falei, minha voz soando muito segura.

_Meu nome é Fred e desculpe assustar você, e mais uma vez, atacar você_ disse a Aileen. Todos nós espalhados na sala, de pé, de forma nada natural para uma conversa.

_ Você é membro do clã americano. Preciso saber se conhece ou conheceu uma jovem chamada Bree_ disse-me ele.

_Não, não conheci. Porque deveria?_ ele hesitou antes de responder:

_ Eu nasci... Fui criado para lutar contra seu clã. Eu e outros mais, ela era uma de nós, Bree. Mas havia muita coisa que não se encaixava, que não fazia sentido e eu fugi, ela viria depois... Que encontrasse um amigo, mas nunca veio.

_Victória e Riley_ citei e seu olhar injetado vacilou, de calmos tornaram ferozes por um milésimo_ Não sei muito sobre isso_ falei percebendo que as histórias de aventura que Jake contava para sua pequena era real demais, visceral demais,  e percebendo um pouco da dimensão das vidas que foram tomadas ali.

_Não conheci essa Victória, mas Riley... Sim. _ele disse.

_Sinto muito dizer, mas todos os que chegaram à clareira... Bom, nenhum saiu de lá_ ele não pareceu muito surpreso.

_ Obrigado_ ele sorriu um pouco e apontando sutilmente para a janela perguntou se podia usá-la, assenti debilmente e ele se foi.

_ Mas o que foi isso?_ perguntei para mim mesma.

_ Eu é que pergunto. Do que se trata isso?_ indagou Aileen. Lancei-me numa explicação sucinta sobre a vampira que queria vingar-se de meu pai e o que ela fez para isso e como tudo acabou.

_Então ele não é muito mais velho que você_ disse ela.

_ Não, não é_ respondi, meus pensamentos longe, há anos atrás, quando eu não existia.

***

_Gosta de cavalos? Já cavalgou antes?_ indagou Chris enquanto dirigia, eufórico, até o cheiro de seu sangue estava diferente tamanha era sua animação.

_Já_ respondi apenas fingindo estar distraída com a paisagem noturna, quando na verdade imaginava se seria muito diferente montar cavalos de lobos gigantes.

Após duas horas no carro alugado, chegamos à instância nas colinas. Chris ainda estava animadíssimo e perguntei-me quando ele desabaria de cansaço. Ele conversou brevemente com um empregado e levou-me a um quarto onde eu tomei banho e troquei de roupas. A casa era bonita, tinha uma decoração bem campestre.

_Está cansada?_ ele perguntou na base da escada, também de banho tomado e vestindo outras roupas enquanto eu a descia. Ele pegou minha mão, eu negando cansaço com a cabeça e ele me guiando até uma manta estendida no chão, diante de uma lareira tremeluzente. Deitamo-nos. Eu fitava as vigas no teto alto, ouvindo seu coração acelerado e sentindo seus olhos em meu rosto.

_Você é tão linda_ arrulhou ele, num sussurro. Sua voz causando algo surpreendente na boca de meu estômago. Ele chegou mais perto me abraçando e, em seguida me beijando, e... Confundindo-me. Era bom estar daquele jeito, porém Jake ficava piscando por trás de minhas pálpebras como em um filme antigo feito de imagens paradas, como um alerta indesejado e ao mesmo tempo tão desejável. Confuso, atordoante. Principalmente porque minha pele parecia arder da forma como imagino que seria se fossem os braços abrasadores de Jake a me envolver ali. E meu corpo reagiu a isso automaticamente, trazendo-o para mais perto de mim, colando-o ainda mais a mim.

_Espere_ ouvi-me dizer, baixo, mas assustada. Sentei-me abraçando minhas pernas.

_Desculpe, eu... Er... _ Chris gaguejava. Então tive um insight.

_Ah, não! Eu devia ter imaginado. Christopher, eu não quis dar a impressão errada quando aceitei o convite, eu sinto pelo mal entendido, mas eu não... Nós... Não_ balancei a cabeça_ Desculpe-me.

_Impressão errada? Ah!_ ele pareceu surpreso_ Não a convidei para... Você sabe. Não que eu não quisesse, sinceramente, mas... Quero ficar com você como for, e juro que não pensei em forçar nada a trazendo até aqui_ tocou meu joelho. Houve silêncio.

_Nunca esteve com alguém, não é?

_Claro que não_ só depois de falar dei-me conta que minha idade estava longe de estar estampada em meu rosto. Ele riu de meu tom assustado.

_Eu realmente gosto de você_ ele se sentou de frente para mim e tocou meu rosto_ Como nunca gostei de alguém antes. E o fato de te conhecer a alguns meses e você ser um mistério permanente não parece que vai diminuir isso_ ele me sorriu daquele jeito bonito que fazia rugas no canto da boca.

_ Realmente espero conquistá-la aos poucos, por você eu faria...

_Isso está errado_ declarei perplexa com a verdade com que ele falava_ Não nos conhecemos... Eu...  Não posso gostar assim de você, é egoísmo deixar que você acredite que... _ eu tentei, a diferença entre nós gritando em minha mente.

_Ouça-me_ interrompeu-me_ Eu sei, e imagino... Veja bem, quem quer que tenha te magoado, eu não vou fazer igual_ sua voz era fervorosa.

_ As coisas para mim são diferentes_ tentei mais uma vez, chocada com sua conclusão. Aquilo não daria certo. Não só porque eu andava sonhando acordada com sonhos incestuosos com meu melhor amigo desaparecido, mas porque logo eu iria a outro lugar, minha família me esperava, e também... Também porque Christopher valia muito a pena para que eu roubasse o tempo dele assim e porque eu gostava demais de seus abraços para ser bom para qualquer um de nós, sabendo que eu partiria assim que necessário.

_ Eu entendo se alguém quebrou promessas a você, mas nós dois_ ele pegou minha mão_ Somos seres humanos, e não há porque não tentar.

_O que você vê é metade do que eu sou, do que eu poderia ser. E é injusto, porque sou eu quem vai magoá-lo.

_A vida é assim, estamos todos expostos a isso_ disse ele puxando-me para deitar ao seu lado. _ Fique tranqüila, não vou pressioná-la_ Chris ficou em silêncio por alguns instantes brincando com meus dedos.

_Não fica chateada se te perguntar uma coisa?_ demandou de repente.

_Não fico. Porém, não garanto se haverá resposta.

_Sua pele é diferente. Lembra-me vidro, embora seja macia e quente_ ele até demorou a falar disso.

_Isso é uma condição rara e genética. _ expliquei.

_Como é? Quero dizer, ser assim...?

_Normal, nasci assim_ dei de ombros e ele riu da própria pergunta.

Logo ele começou a falar dos planos para o dia seguinte enquanto eu ignorava a sombra de culpa por não estar sendo capaz de não partir seu coração. Não demorou para que ele dormisse ali mesmo, perto da lareira. Fui para a varanda e fiquei lá até o sol nascer iluminando as colinas verdes através da neblina, eu tentava apenas não pensar em nada.

Quando Chris acordou fomos tomar café da manhã. Os empregados pereciam levar a sério o “apenas servir”. Depois, apesar de meus esforços, Chris não aceitou desculpas e me arrastou para o estábulo_ eu queria evitar a cena dos animais correndo e tremendo de medo.

Eu não tinha sede, havia me alimentado bem na véspera, no entanto, pouco antes de entrarmos os cavalos se agitaram em seus lugares, empurrando uns aos outros, puxando as cordas e batendo seus cascos freneticamente. Tudo isso fazia as paredes de madeira tremerem o bastante para sentidos menos aguçados perceberem.

_O que será que deu neles?_ murmurou Christopher. Dei de ombros esperando que eles se acalmassem logo.

Escolhi meu cavalo, um negro e robusto, que logo se acalmou sentindo tanto minha humanidade quanto a possibilidade de um predador. Foi divertido cavalgar. Depois do passeio, almoçamos e pela tarde fizemos trilha. Caminhávamos tranquilamente, Chris me fazendo falar de La Push, de correr entre o labirinto verde, ainda que ele não conhecesse a verdadeira conotação de correr.

Então eu ouvi a caminhada suave, o som macio de patas pesadas no chão, e farejei o ar. Podia ouvir o som de seu grande coração, os pulmões num ritmo constante: um urso. Eu queria esperar que fosse embora, no entanto ele vinha em nossa direção. Fiquei tensa, ursos são territorialistas, por isso é tão divertido caçá-los, mas havia Christopher...

_É melhor voltarmos_ pedi numa voz doce, ele sorriu.

_Você disse que não estava cansada. A vista do outro lado é linda, falta pouco_ argumentou ele sem hesitar em sua caminhada, eu parei.

_Minha água está quente_ menti, ansiosa.

_A minha não está_ ele balançou a garrafa enquanto eu dava passos voltando, tentando fazê-lo me seguir. O animal continuava se aproximando, e olhei em direção ao som, Chris olhou o mesmo ponto entre as árvores.

_Renesmee_ disse ele ao mesmo tempo em que falei seu nome. Chris andando um pouco mais, me incentivando e se afastando de mim.

_Não quero mais andar, vamos voltar_ declarei, desesperada para tirá-lo dali. Eu gostaria de uma boa briga, não tinha enfrentado mais que veados ultimamente, no entanto havia o humano, a possibilidade dele se ferir, ter seu sangue derramado e de matá-lo eu mesma, eu não queria arriscar meu controle.

_Você não combina muito com o tipo mimada, sabia?_ zombou ele se afastando mais e então eram doze metros entre nós.

_Vamos, Christopher!_ deixei que ouvisse minha ansiedade.

Houve um pequeno ganido, perto o bastante para que o humano ouvisse. E estava ali, um urso do tipo que enlouqueceria Emmett. O animal bufou fazendo Christopher estremecer, mais próximo do perigo do que eu.

_Não se mova_ falamos ambos. Revirei os olhos. O urso não ia mesmo embora, ao contrário disso estava grunhindo a poucos metros do humano. A bola de pelos começou a se aproximar dele, bufando e dando tapas no ar. Um rosnado baixo e ininterrupto irrompendo por meu peito, apenas o bastante para que o animal ouvisse e desviasse sua atenção para mim. Em reação a isso o animal postou-se nas patas traseiras revelando seus mais de dois metros e rugiu longamente.

O garoto parou de respirar e, eu juro, seu coração perdeu uma batida e voltou tão rápido quanto o meu. Absurdamente, tive vontade de rir (meu lado humano era surpreendente, aquilo não era engraçado!). O urso voltou a sua posição original ainda grunhindo, e então atacou o alvo mais próximo. Chris agachou-se erguendo os braços na defensiva.

Duas batidas de meu coração e eu estava entre os dois. As garras tentavam sem sucesso ferir minha pele, os dentes foram tão inúteis quanto borracha ao abocanhar meu braço, uma risada me escapou e eu me dei conta do tamanho do problema em que estava. Com as pernas sustentei o peso do animal, jogando-o de lado ao segurar sua cabeça, quebrando assim seu pescoço. Em um segundo rasgões e grunhidos enchiam o ar, noutro eram apenas dois corações e um arfar sufocado que não me pertencia.

Que grande azar o meu! Muito lentamente sentei-me e fitei a figura imóvel sentada no chão de terra, os olhos vidrados, a expressão apavorada, o peito subindo e descendo rapidamente. Qual seria sua reação? Ele correria de mim? Eu teria de alcançá-lo. O que eu faria? Teria de matá-lo?

_Você... _sussurrou ele_ Está bem?_ mas... Que pergunta era essa? Senti minha testa franzir.

_O que... Como... Eu... Deus!_ ele apoiou a cabeça nas mãos, os cabelos me impedindo de ver seu rosto. Eu tinha de confiar nele ou matá-lo eu mesma. Era isso? Ele morreria? Por minhas mãos, a sangue frio?!

Ele levantou-se cambaleante e se ajoelhou diante de mim, segurando meu rosto e me examinando, depois fez o mesmo com minhas mãos e braços. Olhou atordoado para o monte de pelos inerte ao meu lado, enquanto eu esperava.

Estava feito, eu tinha de enfrentar, tinha de dizer algo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vc's querem me matar?
Acho que não, pois é...
Entenderam mais o que ela sente sobre o garoto e a relaçaõ disso com o Jake?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reveille" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.