Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 32
Confissões


Notas iniciais do capítulo

"Você é como um verão indiano
No meio do inverno
Como um doce
Com uma surpresa no final
Como eu fico melhor
Depois que provei do melhor?(...)

Porque quando eu estou com ele
Eu estou pensando em você
Pensando em você
O que você faria se
Você fosse o tal
Que estava passando a noite?
Ah, eu queria que eu
Estivesse olhando nos seus olhos

Você é o melhor
E sim eu realmente me arrependo
Como eu pude me deixar
Deixar você ir"
—Thinking of you- K. Perry



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/337667/chapter/32

Ponto de vista Renesmee

A vida seguia normalmente para minha família: meus pais permaneciam na ilha, meus avós, Alice e Jazz estavam em Seattle e Emm e Rose em Forks. Eu não fora ao enterro de Jodelle.

Era quinta-feira e eu estava de saída, carregava a enorme tela do lobo, que eu mandaria para a casa de Forks onde Rose receberia e guardaria para mim, quando encontrei Christopher na calçada do meu prédio.

_Desculpe-me, não tenho nada para fazer sem a cafeteria aberta_ explicou-se ele rapidamente.

_Sem problemas, pode vir comigo. Estou indo mandar isso por correspondência_ ele assentiu satisfeito oferecendo-se para carregar o enorme embrulho de papel pardo.

Depois de enviar a tela fomos para seu apartamento. A TV estava ligada em um canal qualquer e nós conversávamos enquanto ele limpava as lentes de suas câmeras.

_Ele está pressionando, quer que eu volte para a faculdade de direito_ se queixava do pai_ Seu sonho é que eu seja um juiz tão importante quanto ele.

_Vale mesmo a pena bater de frente?_ perguntei, ele pensou por um instante.

_Eu quero viver disso_ ele ergueu a câmera em mãos_ Sei que tenho talento, e é minha paixão! Estudei direito por mais de um ano e... Não! Não conseguiria viver dentro de um terno rodeado de papéis_ meneei a cabeça_ Você nunca enfrentou seus pais por algo que quisesse?

_Sim, e não foi boa idéia, eles tinham razão. Exceto para vir para cá, acho que isso valeu a pena_ refleti.

_Bateu o pé para vir para Paris estudar artes plásticas?_conjeturou, curioso.

_Para vir sozinha. Minha mãe não gostou.

_Eu também não gostaria_ declarou_ Você só tem dezessete anos_ franziu o cenho mal sabendo que errava em dez anos.

_Você não é muito mais velho que eu_ na verdade era_ E a idade não diz tanto, afinal, são só números_ lembrei que Jake dizia-me isso sempre que me chateava com meu crescimento acelerado.

_Você ficou pálida. Sente-se bem?_ ele tocou minha bochecha sentando-se ao meu lado, sua outra mão buscando minha mão que estava presa ao peito, firmemente.

Seu rosto estava próximo, o hálito (seu cheiro mais concentrado) ardendo em minha garganta seca. As batidas úmidas de seu coração acelerado contribuindo para o aumento de minha sede. Seus olhos castanhos ligeiramente sem foco rapidamente sem encheram de uma determinação incisiva, mas sua reação a isso não foi rápida: Christopher se inclinou para mim com certa hesitação. Eu, porém, havia ignorado, negligenciado, tão veementemente a possibilidade que a idéia parecia-me descabida demais para mim, para parecer tão real para ele, mas então, seus lábios estavam nos meus, muito levemente.

Suas mãos encontraram meu rosto e seus lábios se moviam. Eu não me movi, encarando seu rosto, seus olhos fechados, preocupada, buscando qualquer indício de algo perigoso em mim. O sabor de sua boca me fazia imaginar o sabor de seu sangue, e até desejá-lo. De repente vi-me retribuir o beijo.

Inesperadamente outro rosto faiscou por trás de minhas pálpebras, e eu senti outros lábios_ grossos e quentes_ desejei outros braços: mais fortes e também mais quentes... O anseio foi tão forte, tão intenso, que por um instante, em minha mente, tudo fora muito mais real do que o que estava de fato acontecendo ali: eu estava beijando Christopher. Abri os olhos e decepção me inundou: não eram os olhos cor de noite que instintivamente eu esperava, os que me fitavam emocionados. Deslizei agilmente para longe dele e saí correndo, deixando-o provavelmente muito confuso.

Caminhei para casa tentando entender aquele novo anseio, tentando também me livrar da imagem que se formou por conta própria em minha cabeça e se alastrava como fogo em palha seca e criava raízes profundas: Jacob. Jacob me abraçando, me beijando... Para meu choque e repulsa completos, eu queria isso! Queria como há muito não queria nada.

Agarrei-me aquele pensamento como quem se agarra a vida, com a ânsia de quem precisa respirar. Era como um feixe de luz na escuridão que eu era. Quando eu pensei que nada poderia ficar mais confuso, todas as minhas vagas certezas foram chacoalhadas e novamente eu me via pairando no vazio como um satélite sem órbita. Cada vez que eu pensava ter chegado ao fundo do poço a superfície se desintegrava novamente sob meus pés.

Recapitulando!, ordenei a mim mesma: apesar de toda a culpa pelos acontecimentos envolvendo a morte de Jodelle, era inegável que eu estava melhor que em muito tempo, diferente também, mas sentia-me melhor, mais estável. Sabia que a proximidade de Chris me ajudou bastante, também sabia de suas razões para estar próximo e as ignorei, simplesmente porque eu não me importava com elas.

Sua companhia era agradável, conversar com ele era bom, mas nunca me importei com o porquê dele me contar sobre sua vida e se importar tanto com cada coisa que eu dissesse. E então ele toma a atitude que na verdade não era surpreendente, a possibilidade sempre esteve à espreita.

Quando Chris me beijou minha intenção em meio a não reação era manter meu controle, verificar o risco de seu sangue ser demais para mim, qualquer outra coisa não era importante. No entanto não havia risco e corresponder foi automático, ele era bonito, era atraente se pensasse nele dessa forma, seus lábios nos meus também era algo agradável... Porém, como se um gêiser entrasse em erupção o rosto de Jake explodiu em meus olhos de forma impensável. Não só seu rosto, sua pele, seus lábios... Como nunca imaginei. Afundei no sofá, em profunda agonia, já em casa. O que era tudo isto? Jacob era meu irmão! Como eu podia pensar em beijá-lo? Era algo sujo. Errado.

Entretanto a idéia estava ali, nítida e eu podia senti-la emaranhando-se em meu cérebro, recusando-se a ser deixada. Minha cabeça girava, o eixo do mundo havia sido seriamente atingido por algo, o meu mundo havia.

Eu havia presenciado por toda minha vida, visto em peças de teatro, livros... Insistira em confundir! E agora estava ficando louca com a possibilidade absurda de estar apaixonada por uma lembrança. Essa euforia e anseio era mais que saudade, fosse o que fosse este sentimento, meu cérebro híbrido devia ter pifado. Eram muitas mudanças, muitas informações, mesmo para mim.

Chorei desesperada, sem sucesso ao tentar abandonar as imagens que se implantaram em mim, vindas não sei de onde, e foi assim que adormeci.

***

E Chris, o que faria? O que aconteceria? Pelo resto da semana ele não entrou em contato. Fui caçar no sábado, mas não consegui. Os cervos que encontrei me interessaram tanto quanto terra, era como se o tempo voltasse, como quando eu tinha meses. Por mais que eu reprimisse, não era de sangue animal que eu tinha sede. Com isso uma profunda auto-reprovação me inundava. Voltei para casa sem caçar.

_Alguma notícia de Jake?_ me atrevi a perguntar durante a conversa com minha mãe.

_Eu não ia falar, mas se está perguntando _meu coração acelerou_ Fizemos uma busca, e estamos de olho em alguns lugares.

Eu não queria imaginar, mas e se algo houvesse acontecido? Todas as histórias sobre os vampiros do sul... Jake não fugiria de uma briga.

_O que houve exatamente?

_Uma pequena cidade no sul do México_ falou ela devagar_ Relatos sobre um animal sobrenaturalmente grande, mas deram pouco crédito.

_Há quanto tempo?_ eu decidia ir para o México, mal acreditando que estivemos perto, minha voz soava sufocada.

_Há algumas semanas, saiu num noticiário local. Uma reportagem pequena. Sabe como há muitas lendas por aqui_ falou enquanto meu estômago afundava_ Gostaria de ter notícias melhores, mas não tivemos pistas concretas, por isso não dissemos nada.

**

Seu sorriso era indescritivelmente alegre enquanto seu rosto se aproximava, seu cheiro almíscar fazendo cócegas em minha garganta... Meus olhos se abriram para o teto e a frustração me fez de moradia: estava sonhando. Espreguicei-me e levantei para começar a segunda-feira, o som de papel crepitando chamou minha atenção: eu sonambulara novamente. Os olhos de Jacob estampavam perscrutadores em algumas folhas, além de seu rosto humano de diferentes ângulos. Minhas roupas, mãos e braços estavam sujos de giz de cera e grafite, suspirei indo para o banho.

Hoje seria um dia difícil: o primeiro sem Jodelle, eu não dormia minimamente bem há algum tempo e isso me fazia perceber a ardência constante em minha garganta, com mais intensidade, e eu ainda encontraria Christopher. Minhas aulas arrastaram-se. Vi Aileen de longe e ela acenou. No trabalho a atmosfera estava triste. Vi Tifany chorar duas vezes (Jodelle e ela trabalhavam juntas há dois anos). Senhor Pierre também estava abatido, Alex não estava muito diferente disso. Christopher não agiu diferente comigo durante todo o dia. Já não havia mais fregueses quando eu estava tomando chocolate quente, vendo os vidros embaçarem.

_Renesmee_ ele sentou-se ao meu lado. O encarei e ele sustentou meu olhar_ Você... Er... _ ele respirou fundo_ Eu não quero pedir desculpas, pois eu não estou arrependido. Mas sinto muito se a chateei, se era o momento errado ou sei lá...

_Não estou chateada_ falei sinceramente.

_Então porque saiu daquela forma? Posso ter entendido mal, mas você retribuiu meu beijo_ ele se encolheu um pouco ao falar.

_Sim_ concordei_ Foi... Uma reação estúpida, eu... _ não tinha argumentos plausíveis_ Desculpe-me.

Do outro lado do salão Tifany parecia atenta e confusa com nossa conversa em inglês. Chris sorriu e levantou-se.

*

_Não acredito que estou nervoso_ disse ele no caminho para casa e então suspirou:_ Estou apaixonado por você _ disse ele parando e segurando minha mão, fazendo-me parar também, prendendo a respiração. Olhei-o suplicante_ Não sei mais o que fazer.

Soltei o ar numa baforada formando uma espessa bruma entre nós.

_Nem eu_ demandei. Ele me puxou para perto de si.

_Tudo bem se você não gosta de mim_ murmurou_ Só deixe que eu goste de você, não se preocupe com isso agora... _ ele se inclinou para mim de forma familiar.

_Não é justo com você_ falei desvencilhando-me de sua tentativa de beijo. _ Não posso_ calei-me, sem poder explicar as razões.

Mas eu estava ciente dessa nova memória em minha mente, de algo impossível que nunca aconteceu. Jake era meu irmão e estava perdido a uma distância que eu sequer conhecia, enquanto Chris estava ao alcance de minhas mãos, não pedindo nada em troca.

_Eu assumo os riscos_ disse ele quase como se ouvisse meus pensamentos. Ele se inclinou para mim e eu permiti.

A nova perspectiva em relação a Jacob surgira num momento como este, tinha de haver uma lógica. Se eu estava apaixonada tinha de ser por Christopher, não por lembranças de meu irmão. Retribuí o beijo tornando-o pouco mais intenso. Não podia negar que era bom, estar nos seus braços macios, deixar-me ser beijada tão sinceramente, era como me sentir normal. Sua boca deixou a minha e estávamos levemente ofegantes.

_Fiquei louco esses dias sem ver você_ murmurou, os olhos fechados, nossas testas encostadas.

Ele era tão doce, não merecia dar-se conta de que eu era um caos completo quando era algo. Apesar de tão observador, parecia além de sua percepção o fato de que eu era como uma caixa vazia. Perfeitamente decorada, mas vazia.

_Não tenho nada para dar a você_ constatei. Chris abriu os olhos e passando o braço em torno de minha cintura, voltamos a caminhar, ele riu baixo.

_Pode, por favor, deixar isso por minha conta?!_ sem argumentos e no auge do egoísmo suspirei resignada, me negando a pensar no que exatamente acontecia ali.

Não sabia o que estava fazendo, não me importava tanto assim para procurar saber. Christopher e eu estávamos... Não me interessava. Sorte de Alice não poder ver meu futuro, ela estaria com dor de cabeça.

E é impossível escolher algo sem fazer uma renúncia. Cada coisa que ficava para trás era um pouquinho que eu deixava de ter. Eram muitos caminhos, muitas possibilidades, era tudo tentativa e erro. O problema é que eu não era a única afetada, por exemplo, minha família não ficaria feliz sobre minha sede crescente, em algum momento, e eu não poderia dizer quando, Chris acabaria se magoando e eu me importava demais comigo mesma para fazer algo a respeito. Ele era a ilusão de ter algo concreto, uma sombra de paz, era melhor que nada... Ainda assim eu tentei:

_Mal nos conhecemos_ franzi o cenho para o quanto ele não me conhecia enquanto sua impulsividade e sinceridade ferviam nos olhos.

_Não vou pressionar para que me diga o que a deixa tão pensativa sempre, mas se quiser me deixar conhecê-la_ ele deu um passo atrás e abriu os braços num ato de quem acolhe. Estávamos no exato ponto onde nos separávamos depois do trabalho.

_Não quero... Que nos magoemos. _ minha voz foi um sussurro e ele voltou a me abraçar.

_Eu disse que assumo os riscos_ não tinha certeza se ele falava para mim.

Longe de Chris, e às vezes perto, perdia-me em sonhos que me deixavam com vergonha de mim mesma pela sujidade de meus pensamentos, no entanto eles eram como um suporte. Perguntava-me o que teria acontecido se isso houvesse acontecido quando William me beijou... Bem, eu provavelmente não teria sido uma garota mimada e o mandado ir embora, e novamente me pergunto: porque ele foi, afinal?

Obviamente, Jake não iria me querer, eu era sua garotinha, sua irmã mais nova. Já em casa afundei em meus travesseiros fitando, sem ver, a TV.

Minha esperança era que quando eu conseguisse por minhas mãos em Jacob, tudo se dissipasse, e tudo seria apenas a falta que ele me faz. Até lá, quanto tempo mais?

***

Alimentava-me das comidas humanas de que gostava, não havia muita variedade, mas caçar animais não era apelativo o bastante. Além disso, sentia algo nefasto instilando-se em mim, sentia-me um monstro sedento por sangue, ainda que tivesse controle o bastante para não atacar ninguém, mesmo Chris que era uma presa fácil. A ardência e o desejo era uma razão a mais para sentir vergonha ao pensar em minha família, e na confiança que depositavam em mim na questão ‘controle da sede’. Talvez no fundo eu não quisesse mais resistir. Parecia tão distante da origem de todos esses preceitos que me perguntava se havia sentido em negar minha natureza, o fato é que todo o espaço mental e intensidade vampiresca mantinham-me num paradoxo constante: o eterno desejo contra os princípios vindos de berço, e ainda mais os que se adquire com determinadas experiências.

Era um sono superficialmente tranqüilo até a campainha tocar. Olhei confusa para o despertador que marcava 04:00, não era Aileen, ela não bateria na porta. Tocou de novo e levantei-me ouvindo meu celular tocar em algum ponto da casa, porém segui para a porta. Não acreditei quando olhei pelo olho mágico.

_Mãe, pai!_ abracei-os_ Alice!_ minha alegria foi surpreendente para mim, e os satisfez enormemente.

Depois de ser muito abraçada e beijada, ativei meu escudo que parecia extremamente pesado. Fingi não notar o olhar de meu pai.

_Que bom que gostou da surpresa_ disse Alice, sentada no chão a minha frente, ela afagava minha perna. Edward nos observava, sentado no braço do sofá onde estávamos.

_Quanto tempo ficarão?_ ergui o rosto para olhar para Bella, eu estava aninhada em seu peito, ambas sentadas no sofá.

_Este fim de semana_ respondeu me apertando em seus braços_ Jazz, Rose e Emmett estão fora caçando, seu pai e eu vamos à Argentina_ ela passou os dedos por minha franja, os olhos estreitos.

_Seus cachos, Nessie_ Alice fez um muxoxo, seus pensamentos combinando com os de minha mãe.

_Água fria resolve isso_ respondi.

_Mas adorei sua camisola_ ela sorriu lindamente.

Seguimos falando coisas banais. Ouvi atentamente cada detalhe do que era dito, enchendo minha mente com elas, queria outras coisas em minha mente para quando Edward ouvisse-me.

_Perspectiva interessante_ disse ele segurando um de meus desenhos, sempre espalhados, em cima do piano ou na mesa pequena ao centro da sala... Ele virou o papel para nós: era o desenho cujo só se via as patas ao tocar o solo.

_É um trabalho da escola?_ Alice perguntou curiosamente.

_Não... _ disse meu pai com cautela. Droga, minha mente estava desprotegida! Ele ergueu as sobrancelhas.

_Não sei bem como fiz... Acordei e estava feito_ admiti.

_Está sonambulando?_ Bella indagou alarmada.

_Não tenho dormido muito, e não aconteceu muitas vezes. São só desenhos, afinal, nada demais.

_O que quer dizer com “não dormido muito”?_ ela insistiu. Sentei-me ereta para encará-la.

_Tenho me ocupado muito, é só_ falei, preocupada com meu escudo. Ele estivera muito tempo inativo e agora estava mais difícil lidar com ele.

Meus pais ficaram apreensivos, no entanto, não me pressionaram. Porém, não durou muito. Cometi um deslize, pensando ao acaso que estava com sede e fora inevitável que lampejos da última vez que me alimentara de sangue enchessem minha mente e também a de meu pai. Imediatamente ampliei meu campo de energia, revestindo minha mente. Os olhos dourados de meu pai eram insondáveis enquanto me olhavam. Minha mãe e tia estavam fazendo algo em meu quarto enquanto eu tomava café da manhã. “Não conte a elas, não ainda”, pedi. Ele aquiesceu minimante.

Liguei para senhor Pierre e avisei que estaria de folga hoje, ele não poderia reclamar, uma vez que eu trabalhava mais que todos e de graça. Passei toda a manhã com eles, e como Alice previu, o sol se escondeu à tarde, e ela conseguiu arrastar Bella para as compras. Eu fiquei sob o pretexto de adiantar um trabalho de escola e meu pai para me fazer companhia.

Edward permaneceu como uma estátua, mesmo depois que elas saíram. Com um suspiro sentei-me ao seu lado na banqueta do piano.

_O que você fez, Nessie?_ sua voz baixa era inflexível.

Sem saber o que dizer pensei em minha corrida aquele dia. Senti meu rosto esquentar ao reviver aquela noite. Só percebi que prendia a respiração e chorava quando a lembrança se encerrou com a partida de Aileen, levando o corpo. Num átimo eu estava entre os braços de meu pai.

_Sinto muito, querida_ sussurrou.

_Não sinta por mim, eu estou viva_ Houve alguns instantes de silêncio enquanto ele me embalava em seu abraço.

_Quem é a vampira?

_Uma amiga, acredito_ respondi_ Aileen. Estuda na escola de Artes, não se preocupe, ela não é perigosa.

_Ainda assim, eu gostaria de conhecê-la. Para ter certeza. _ eu apenas dei de ombros_ Você está com sede_ suspirei.

_Caçar animais não é a mesma coisa depois de...

_É difícil, eu sei_ ele soltou o ar numa baforada, parecendo subitamente incomodado com algo_ Mas deve continuar tentando_ silêncio_ Entendo você.

_A questão não é se você entende. Desculpe-me, mas não importa se entende_ disse a ele.

_O que realmente quer dizer?_ ele precisou perguntar, minha mente naquele momento estava seguramente privatizada.

_Você não concorda, e não estou dizendo que deveria, é claro que não. Sabe do que tenho sede, e é mais que isso, e não é algo que você ou qualquer Cullen vá ignorar ou permitir_ desabafei_ Não importa se entendem.

_Você também é uma Cullen_ lembrou-me. Céus, como eu amava meu pai! Mais que nunca eu o admirava. Edward continuava me olhando com paciência.

_Matar pode ser viciante para nós que nos alimentamos disso. Entretanto, uma vez a sede saciada, a culpa é muito mais abrasadora e dolorosa que a necessidade por sangue_ falou calmamente.

_Não me arrependo, ele mereceu. E não se repetiu, eu tenho controle_ falei fitando minhas mão em meu colo.

_Até que esteja irritada demais ou que seja levada ao extremo pelas circunstâncias_ ele se levantou e cruzou os braços no peito parando diante de mim_ Você ouviu dos outros, sabe apenas o que todos sabem, mas eu nunca falei. Já matei, Renesmee, e não só pela sede, também por vingança e por arrogância_ Não imaginei que ele fosse falar disso, de repente ele não parecia estar falando com sua filhinha.

_É porque sei que você cresceu. Ainda que você seja eternamente minha criança, não vou menosprezar seus erros por isso_ seus olhos de jóia ferviam em conflito_ Erros que eu conheço, não porque ouço em seus pensamentos, mas porque já os cometi e, acredite, eu fiz muito pior. Anos de assassinatos, satisfação e, por fim, culpa_ Encolhi-me. Ele se ajoelhou diante de mim, sustentando meu olhar.

_Não vou dar permissão pra que esqueça tudo o que lhe ensinamos. E por mais que eu queira levar você daqui e nunca mais tirar os olhos de você, não vou fazer isto. Você tem que estar pronta para voltar_ ele franziu o cenho por um segundo respirando fundo_ Amo você, filha.

Eu estava estarrecida com o rumo da conversa, e, é claro, envergonhada, pois ele tinha razão e ainda assim estava colocando as opções diante de mim, e eu não me sentia capaz de escolher nada.

_Também amo você_ minha voz soou embargada_ Prometo que vou caçar uns veados_ minha careta foi automática, ele sorriu.

_Vai passar, como passou para mim_ Edward afagou meu rosto_ Você é ainda mais forte.

_Desculpe decepcionar.

_Não queria que passasse por isso, mas eu me orgulho de você.

_Acho que essa é uma coisa que um vampiro pode dizer para sua filha vampira_ senti meu rosto franzir. Meu pai riu.

_Teve coragem de me enfrentar e dizer o que sentia, eu fugi de meu pai. Orgulho-me de sua coragem. Esta fase não é meu sonho para minha filha, mas não é tanto uma decepção, uma surpresa, talvez.

_Vai contar a mamãe?

_Não gosto de esconder nada dela, ainda mais se tratando de você... _ sua voz era pensativa.

Passava pouco da hora do almoço e depois de ambas as confissões ele quis que pegássemos um trem para fora da cidade e caçássemos, assim fizemos. Ele quis saber sobre Aileen, eu tinha certeza que ele avaliava sua influência sobre mim. Contei-lhe sua história e ele pareceu compreender melhor que eu a afeição da vampira por mim. Foi uma tarde agradável.

_Pensei que me arrastaria para casa_ admiti enquanto caminhávamos pela calçada, já no quarteirão de nosso prédio, acabara de anoitecer.

_Você não vai tão mal tomando conta de si. Parece bem melhor_ ele sorriu tocando minha bochecha e beijando o alto de minha cabeça.

_Fomos caçar_ disse meu pai para o nada enquanto entrávamos no elevador_ Nós não avisamos e estão se perguntando por nós.

_Celulares desligados_ assenti, ligando o meu.


Alice estava nos mostrando as combinações que faria com as roupas que tinha comprado quando meu telefone tocou me fazendo lembrar de quem eu sequer pensara durante o dia. Ativei meu escudo.

_Renesmee_ Chris disse meu nome com alívio.

_Olá, Chris_ respondi com ânimo, assentindo para o que Alice me mostrava.

_O que houve? Você não veio para o trabalho e... _ ele hesitou_ Não me ligou.

Embora Edward, no momento, não pudesse ouvir meus pensamentos, na sala todos podiam ouvir minha conversa.

_É que... _ inventei enquanto falava_ Entrei e saí o dia inteiro, minha prima está na cidade_ olhei para Alice, meus pais estavam muito atentos_ Pelo fim de semana, então... _ mordi o lábio.

_Ah! Você não vem amanhã, suponho.

_Vou falar com Pierre, mas acredito que não.

_Gostaria de conhecer onde trabalha_ disse Alice sorrindo.

_Sinto sua falta_ sussurrou Christopher_ Ligo para você amanhã, certo?

_Ok, até amanhã_ virei às costas para todos e desliguei o telefone.

_Do que se trata isso?_ perguntou Bella se divertindo. Suspirei, derrotada, e os fitei.

_Chris é meu_ não sabia ao certo o quê_ Amigo_ minha incerteza fez a palavra soar como uma pergunta.

_Amigo?_ os olhos de meu pai eram estreitos. Bella e Alice riam melodiosamente. Não estavam ajudando.

_Tudo bem, meu amor, não vamos criticá-la_ falou-me Bella.

_Claro que não_ concordou Alice_ Ele é bonito?_ revirei os olhos e projetei imagens dele em sua mente. Ela sorriu aprovando-o.

_Você está namorando?_Edward perguntou numa voz suspeitosamente calma. Fiz careta com a palavra “namorando”. Desabei na banqueta do piano tentando manter uma linha de raciocínio: namorar não era uma palavra que eu pudesse aplicar a forma como me sentia sobre Chris, eu apenas deixava que ele gostasse de mim e gostava disso...

_É... Complicado_ murmurei_ Querem mesmo falar disto? Pois, eu não _ fui sincera. Ninguém insistiu. Aparentemente eles ainda não confiavam plenamente na minha estabilidade emocional. Evitei a todo custo pensar em Jacob, para que Edward não percebesse os novos tons. Isso era mais constrangedor que qualquer outra coisa.

Como pensei Pierre não reclamou pelos dias de folga que tomei, assim também planejei passar o sábado com meus pais e Alice. No meio da tarde ensolarada de sábado, houve uma batida na porta que me fez farejar o ar, mesmo sem a menor necessidade, pois só poderia ser uma pessoa.

_Acho que é seu amigo_ disse Edward.

_Não pode ver vocês dois_ falei urgentemente levantando-me do sofá.

_Por quê?_ os três perguntaram.

_Ele viu nosso retrato no medalhão de Nessie_ meu pai respondeu. Outra batida.

_Escondam-se, eu fico aqui. Prima, certo?_ disse Alice.

Caminhei até a porta enquanto meus pais desapareciam. Senti-me subitamente cheia de remorso por não ser justa com Christopher e não ter intenções de sê-lo.

_Oi Chris_ meu ânimo impensado me surpreendeu vagamente, embora não devesse, afinal, estar com ele era bom, eu gostava.

_Renesmee_ disse alegremente, avançando um passo e beijando-me de leve nos lábios. Um rosnado vindo de outro cômodo, ainda que baixo demais para que o humano ouvisse. _Edward!, soou, mordi o lábio para não rir de Bella repreendendo Edward.

_Desculpe-me aparecer assim, acho que não meço as coisas quando se trata de você_ admitiu numa voz melancólica. Sorri sem jeito.

_Não se preocupe_ garanti fazendo-o entrar_ Vou lhe apresentar minha prima, Alice. _ Minha tia levantou-se prontamente, um sorriso educado envolvia os lábios perfeitos.

Chris parou boquiaberto, pude sentir o cheiro inerente à adrenalina enquanto seu instinto de preservação tentava irromper por sua consciência. Alice avançou, um braço estendido para um cumprimento, ouvi meu pai rir.

_Muito prazer Christopher_ disse ela.

_ O prazer é todo meu_ respondeu ele.

_Ele estuda fotografia e vídeo na escola de artes_ eu comentei tentando deixá-lo mais a vontade.

_Mesmo? Que interessante_ a aparente sinceridade dela era incontestável. Ele sorriu.

_Renesmee, eu vim convidá-la para uma matinê, claro que o convite se estende a Alice.

_Ah, não. Podem ir, vou ficar bem. Na verdade estou com um pouco de dor de cabeça.

_Tudo bem?_ fitei Alice, querendo saber de meus pais.

_ Sim_ chiaram os dois.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A música simplesmente tem tudo a ver!
O que acharam da descoberta de Renesmee? E da atitude do Edward? Eu achei pertinente.
Acho o Chris um fofo, todo: "Me deixe cuidar de vc"