Elesis estava sentada em uma grande poltrona dourada da enorme sala que era o quartel general central de Vermécia. As janelas eram bordadas com madeiras de lei, e seus entalhes medievais davam um ar rústico ao local, que mais parecia o lar de reis e rainhas. As cortinas púrpuras eram de cetim e o grande tapete circular prateado, que cobria boa parte do piso de madeira da sala, tinha bordado ao centro duas espadas longas de duas mãos, que se cruzavam por cima de um escudo pentagonal. A brisa da manhã que entrava pelas janelas semi-abertas refrescava o ambiente, e as argolas que prendiam as cortinas tilintavam dando lugar a um som relaxante, tanto que qualquer ser que estivesse ali dormiria tranquilamente sem resistência, exceto Elesis.

Havia chegado ao local com uma hora de antecedência e aguardava a Comandante Lothos pacientemente. A expressão era séria como de costume, o cabelo vermelho era apenas uma trança grossa que percorria toda suas costas e as vestimentas eram pesadas, assim como as de um espadachim devem ser, por esse motivo não era incomum que fosse confundida com um homem. Apesar da pouca idade e do seu sexo feminino, Elesis já era reconhecida por todas pelo seu talento. Filha do grande herói Elscud e treinada por ele nas artes da espada, Elesis não apenas se tornou a primeira garota a entrar para os Cavaleiros Vermelhos de Canaban, como também com a ajuda de Gerard se tornou a líder deles logo em seguida, posto que antes de desaparecer em uma missão investigativa em busca de Cazeaje, era ocupado por seu pai.

A sala era silêncio completo, nenhum sinal de vida, pelo menos não até a entrada escandalosa de uma pequena maga subdesenvolvida chamada... – Arme, Arme, eu sou a Arme e vim derrotar o mau. Onde está o mau? Você é o mau? Você tem cara de mau, garoto feio, nossa! Você é mesmo muito feio! – Arme usava um vestido lilás, assim como as luvas e os sapatos. Os cabelos curtos e os olhos também eram da mesma cor, o que deixava bem claro para qualquer um que ela fazia parte da famosa Academia dos Magos Violetas. A maga apontava um cetro para o rosto de Elesis, três ou quatro centímetros afastado do nariz da espadachim, que tranquilamente desembainhou a espada e lançou um rápido ataque, de baixo para cima como um gancho levantando-se da poltrona em um salto, fazendo-a recuar e cair de bunda no tapete que amorteceu a queda.

- Meu nome é Elesis Sieghart, filha de Elscud Sieghart de Canaban. Espadachim e líder dos lendários Cavaleiros Vermelhos, e eu não sou um garoto, maga retardada! – Elesis falava enquanto voltava a embainhar sua espada.

- Olha o que você fez seu ogro, tá doendo! Vou te dar uma surra seu mau-criado – Arme se levantou ainda choramingando, esfregando a palma das mãos onde estava dolorido e partiu para cima da espadachim, que esquivou-se em um giro rápido de 360º graus, a maga caiu de cara na poltrona, mas logo se recompôs e voltou a atacá-la, girando os braços como uma criança desajeitada no meio de uma briga, enquanto Elesis parava-a usando apenas uma mão sobre a testa dela, impedindo sua aproximação. – Me solta, me enfrente como um homem de verdade, seu feioso!

- Eu já disse que não sou nenhum garot... – O som da porta sendo aberta novamente, e os passos que denunciavam a presença de uma terceira pessoa na sala, foi o que interrompeu a pequena discussão entre as duas garotas. Quem estava ali diante delas era uma elfa, o que era algo para se preocupar, já que elfos não costumam se envolver em assuntos humanos, exceto em casos de extrema urgência.

- Com... Licença, eu me chamo Lire. Vocês também foram chamadas aqui pela Comandante Lothos? - A arqueira tinha a pele clara, os cabelos loiros eram presos em um rabo-de-cavalo por uma fita verde, a mesma cor dos seus olhos e de suas vestimentas. Usava um vestido assim como Arme, as diferenças eram a cor verde, e o tecido mais leve que facilitava sua movimentação e aumentava sua agilidade no campo de batalha. Vestimentas estas que também eram características dos Elfos de Eryuell, conhecidos por todo o continente pela exímia habilidade em combate.

- Eu me chamo Elesis e sim, pelo menos eu fui chamada. Já essa outra criatura deve ter se perdido no caminho pro hospício.

- Socorro! Ajude-me, me proteja dessa aproveitadora, ela estava tentando me... Molestar! - Arme correu até Lire e se escondeu atrás da elfa que não compreendia o que estava acontecendo por ali. Enquanto que Elesis perdeu de vez a paciência e do jeito que estava, provavelmente partiria as duas ao meio em um só golpe com sua lâmina. Lire tentava conter os ânimos das garotas enquanto seu corpo era posto entre as duas.

- Parem com isso, por favor, ajam como adultas! – Lire também já estava com a paciência no limite, e isso é digno de nota, já que tirar do sério um elfo conhecido pelo pacifismo é algo muito difícil de conseguir.

- Vejo que todas estão presentes e que já se dão muito bem, isso é bom – A voz firme e feminina vinha da Comandante Lothos, que entrou no salão causando deslumbrem. Seus longos cabelos loiros chegavam até suas panturrilhas, a pele era clara e os olhos vermelhos assim como a armadura que vestia. Trajava-se como uma verdadeira cavaleira, o que provocava grande admiração por parte dos presentes ali, principalmente Elesis, que sentia seu peito encher de ar naquela presença quase divina para ela. Qualquer que fosse o motivo para ter sido chamada ali por Lothos, já era algo para se orgulhar.

- Sim senhora Comandante Lothos! E devo dizer que é uma honra apenas estar em sua presença, me espelho em você para me tornar uma grande cavaleira – Elesis já nem se incomodava mais com a presença da maga que outrora lhe causou tanta irritação. – Mas devo dizer que estou um tanto curiosa sobre o motivo de ter sido chamada aqui. E não só isso, o que uma das elfas de Eryuell faz aqui?

- Compreendo sua ansiedade quanto às respostas para essas questões, deixe-me explicar tudo isso e um pouco mais, sentem-se – Lothos sentou-se na poltrona mais elevada da sala, esta ficava atrás de uma mesa retangular de mogno puro, que havia sido envernizada há alguns dias atrás pelo forte cheiro que exalava. A poltrona mais parecia um trono régio, com vários detalhes dourados e duas espadas prateadas localizadas no topo do encosto. Ela suspirou e fez com que as mãos se encontrassem sobre a mesa, entrelaçando os dedos, observou lá fora alguns pássaros que voavam livremente pelo céu azul e límpido. Voltou à atenção para as garotas, agora já acomodadas cada uma em sua poltrona, esperando que Lothos voltasse àquele mundo e desse início as explicações.

- Creio que todos os presentes aqui, estão cientes da quantidade de guerras que o continente vem enfrentando nos últimos anos. Entretanto as coisas rumam para resoluções, e infelizmente, para mais uma guerra. Nesse exato momento, Canaban e Serdin estão unidas, se reconstroem e preparam um exército capaz de encarar a Rainha da Escuridão, Cazeaje. E é aí que vocês entram.

Elesis estava claramente inquieta e se remexia na poltrona, tentando achar uma posição confortável, pelo menos para o corpo, pois a mente era só desconforto após ouvir o nome Cazeaje. As lembranças de seu pai vieram à tona e teve de conter uma lágrima que ameaçava deslizar sobre a maçã do seu rosto agora pálido – Então, estamos sendo recrutadas para esse tal exército?

 - Não, pelo menos não exatamente. Apesar de todas as diferenças que existem entre vocês, o motivo pelo qual foram chamadas aqui foi por terem algo em comum. Vocês três são as melhores em seus grupos – Lothos levantou-se e rodeou a mesa lentamente antes de parar de pé a frente das três jovens guerreiras. – Elesis, líder dos lendários Cavaleiros Vermelhos de Canaban. Lire, a elfa prodígio, seus talentos se mostraram latentes desde cedo, por isso foi aberta uma exceção para sua entrada nos Elfos de Eryuell antes de atingir a maior idade. Por fim Arme, a maga violeta, filha do diretor da Academia dos Magos Violetas, apesar de ser adotada, todos concordam que parece ter herdado os talentos do pai – Arme se mexeu na cadeira toda orgulhosa e fez uma careta para Elesis, que ignorou. – Vocês não farão parte de um exército comum, a partir de hoje vocês fazem parte da tropa especial, Grand Chase...

- WOOOOW, que maneiro! Nós somos uma tropa especial, isso parece divertido, vamos brincar e nos divertir muito, eu estou dentro! – Arme levantou em um salto e deu seqüência com pulinhos e gritinhos histéricos, Lire ao lado dela sorria um tanto sem jeito com o ataque da menor e Elesis estava a ponto levantar para chutá-la.

- Temos então o primeiro membro da Grand Chase. Lire, Elesis? – As duas se entreolharam, pareciam curiosas sobre a resposta uma da outra, e uma esperava que a outra falasse primeira.

- Que seja. A idéia de abandonar a liderança dos Cavaleiros Vermelhos não me agrada muito, mas eu tenho alguns assuntos pessoais, e essa Grand Chase pode ser o caminho para resolvê-los. O único problema verdadeiro é fazer parte do mesmo grupo que essa aí – A ruiva apontou para a maga como quem aponta para um saco de lixo, cheia de um nojo sincero no olhar. – Tem certeza que ela vai ser mesmo útil?

- Mas é claro que serei. Não ouviu dizer que sou a melhor maga do mundo todo?

- Só a ouvi dizer que era a filha do diretor, isso não diz nada, é preciso mais do que um laço familiar para ser uma guerreira competente – As duas já se encaravam e se fuzilavam com os olhos, mas antes que se atracassem ali mesmo, alguém as interrompeu.

- Alguém precisa ser a babá dessas duas, então, eu, Lire de Eryuell aceito o convite.

- E assim está feito, a Grand Chase foi formada! – Encerrou Lothos, que já não agüentava mais aquela algazarra.