Murmúrio escrita por bundadopatch


Capítulo 56
Dia dos namorados




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Consultei o relógio mais uma vez, estava sentava no reservado mais afastado do há uma hora e meia. Vee estava atrasada pra variar. Eu já havia tomado dois daiquiris e passado a maior parte do tempo encarando os cactus de cerâmica e os coiotes empalhados acima da minha cabeça. Corações mal cortados de cartolina vermelha estava espalhados por todo o salão da Borderline. Dia dos namorados, a data que durante anos fora o ritual de filmes e sorvete por qual eu e Vee passamos.
- Saia! - Escutei uma voz muito conhecida berrar. Era Vee, ela estava batendo com a bolsa no homem com sombreiro que dedilhava no violão, músicas mexicanas sobre amor não correspondido.
Não pude deixar de rir.
- Ah, baby me desculpe o atraso. - Ela praticamente gritava, enquanto afundava o corpo no estofado a minha frente. 
- Sem problemas. - Franzi a testa. - O que vai querer?
- O de sempre. - Ela mal consultou o menu, e acenou para um dos garçons. - Quatro chimis com creme azedo extra, uma porção de nachos e outra de feijão preto.
- Como vai o casamento?- Perguntei, tomando mais alguns goles do copo suado de daiquiri.
- Bem. - Ela hesitou por um segundo . - Essa data me trás tantas recordações, Nora. Alguns anos atrás quando eu imaginava passar o dia dos namorados com alguém… esse alguém era Scott.
- Nem me fale, Vee. - Comecei a rodar o copo com as pontas dos dedos, enquanto me concentrava em espantar as lágrimas. - Encontrei com Lynn, ela continua aturdida, mas está bem. Não posso ouvir uma música sequer da Serpentine que eu já imagino Scott… - minha voz falhou. Algum tempo depois que Scott morreu a banda que ele costumava tocar baixo, se tornou uma das mais famosas em todo EUA.
Comemos o pedido em silêncio, mas eu podia notar que a língua de Vee coçava.
- O que quer me perguntar? - Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, me preparando pro pior.
- Patch? - Ela passou o guardanapo vermelho nos cantos da boca, sem levantar os olhos. - Como vocês estão?
- Vee, se não se importa, não gostaria de falar sobre isso. - Limpei a garganta. - Não hoje.
- Nora, você não pode brigar com ele pra sempre. - Suas mãos estavam espalmadas sobre a mesa. - Me diga qual foi o motivo dessa vez?
- Nem eu sei, mas eu não gosto de ser pressionada. - Tomei mais um gole e me levantei. - Ligo pra você depois.
Os gritos de Vee foram abafados pelos mariachis. Atravessei a rua correndo e me joguei dentro do carro. Eu precisava ir pra casa, precisava dormir e só acordar no dia seguinte, quando não fosse o dia dos namorados, quando não precisasse me deparar com programas na televisão sobre encontra as escuras, músicas e famosos fazendo surpresas para os seus parceiros. Não obrigada.
Os pisos da varanda rangeram sobre meu peso, como sempre a chave nunca girava de primeira. Tirei os sapatos e joguei as chaves no aparador, o som de panelas chamou minha atenção. Será que minha mãe já estava de volta?
- Mãe? - Chamei, enquanto andava até a cozinha. Mas meu coração parou antes mesmo que eu conseguisse pronunciar alguma coisa.
Lá estava ele. Usava a mesma roupa do dia em que nos encontramos no Delphic, até o boné.
- Eu… gostaria de saber - Limpei a garganta, minha voz não estava tão alta e autoritária como eu desejava. - o que você está fazendo dentro da minha casa.
- Tacos? - Ele não se virou, apenas largou os talheres e apoiou as mãos na bancada. Eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
- Tacos? - repeti.
Ele jogou um pano de prato sobre o ombro e se virou, com um sorriso malicioso que significava piada interna.
- Tomate, alface, queijo.
- Eu sei o que é um taco! - Gritei. - E pare, Patch, pare. Eu sei o que está tentando fazer.
Antes que eu pudesse impedi-lo, ele atravessou a cozinha e descansou o corpo a centímetros do meu.
- Até quando, Nora? - Sua voz estava seca e calma. - Até quando? Eu fui até o inferno e voltei por você…
- Não jogue as coisas na minha cara, Patch. - Soquei seu peito. - Você sabe que eu também sofri com tudo isso. 
Eu estava prestes a protestar, quando suas mãos se tornaram trancas em meus pulsos, puxando-me para mais perto, ele não parou até que eu estivesse bem diante dele. Subitamente, ele me levantou e me sentou no balcão. Meu rosto estava na mesma altura do dele. Ele não lançou um sorriso convidativo como da última vez, apenas me lançou um olhar profundo e levou a boca até minha orelha.
- Eu não aguento mais isso, anjo. - Seu hálito quente fazia cócegas em minha pele. - Todas essas brigas sem nem saber o porquê. Você não me quer mais? Fale comigo, mas não me ignore. Eu amo você, Nora, nunca tenha dúvida disso. Se eu não estou acorrentado no inferno é porque escolhi ficar com você, eu sempre escolhi você e sempre escolherei.
- Patch… - Tentei protestar, as lágrimas teimando em meus olhos.
- Eu não terminei. - Ele rebateu. - Algum tempo atrás, antes de cair, eu só ouvia sobre o dia dos namorados, eu desejava ter um corpo humano, para englobar todas experiencias, incluindo trocar doces e flores com alguém. - Ele riu. - Mesmo que isso seja meio brega e se for pra fazer isso , anjo, eu quero que seja com você. 
Ele levantou meu queixo entre os dedos. 
- Se não se lembra - Sua boca estava a centímetros da minha. - Eu cai por você e que eu saiba nada me impede de ficar com quem eu amo a não ser você.
- Patch… - Minha voz estava trêmula e minhas pernas bambas. - Tire o boné.
Um sorriso mortal deu lugar ao olhar sombrio e negro de Patch, ele obedeceu, deixando a aba para trás.
Inspirei fundo duas vezes e puxei seu corpo contra o meu. Seus lábios selando o meu.
- Não quero mais brigas. - Sussurrei entre os beijos. - Já desperdicei tempo demais com isso. Vamos esquecer.
- Você é a minha, anjo. - Ele ignorou minhas palavras, sugando levemente meu lábio inferior. - Tem algo que quero lhe dar - Ele sorriu, apoiando suas mãos em meus quadris.
- O que? - Minha voz soou como de uma criança.
- Seria muito fácil se eu falasse, então… - Ele me levantou da bancada e começou a andar escada a cima em direção ao meu quarto - Você vai ter que encontrar.
E lá estávamos eu e Patch, que apesar das brigas e de todos os problemas sempre se preocupava em me lembrar da época em que ainda éramos namorados, uma época em que anos atrás, naquele mesmo lugar eu comia Tacos e temia ser morta, mas hoje não, afinal era Dia dos Namorados.


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