Sentia uma vontade absurda de dormir, meus olhos pesavam e parecia que ainda carregava uma tonelada nas costas. Cheguei até a sala comunal da Grifinória e de longe cumprimentei alguns conhecidos, subindo diretamente para o dormitório masculino, imaginando que minha cama estaria ali, à minha espera. O alivio ao me deitar foi inestimável, mas ao fechar os olhos pude reviver alguns momentos da batalha e lembrei que nada mais seria como antes, tínhamos perdido Fred, Lupin, Tonks e tantos outros que apesar de tudo haviam morrido lutando por um mundo bruxo melhor. Pensei em como a Sra. Weasley deveria estar se sentindo, e Ted, o pequeno Teddy Lupin, tão novo, e assim como eu, órfão de pais, pelo menos ele teria uma ótima criação e se dependesse de mim não faltaria nada a ele. Estou disposto a dar aquela criança tudo o que não tive durante a minha infância, não coisas materiais, mas sim carinho, amor e atenção, ao pensar nisso lembrei-me da ruiva caçula dos Weasley’s, como senti sua falta, de tudo, seu calor, seus beijos, e com esses pensamentos me entreguei a um sono, tão pesado que não teve a presença de sonhos, muito menos de pesadelos.

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Abri minimamente meus olhos e pude sentir a claridade incomodar, senti meus músculos doloridos, acho que poderia ter dormido por dias seguidos tamanho era o cansaço. Olhei pra cama ao lado e não me espantei muito ao perceber Rony e Hermione dormindo juntos abraçados ali, não pude deixar de sorrir, depois de tantos anos eles mereciam aquilo, ainda mais depois que tudo que passamos, e sorri me lembrando dos dois na Câmara Secreta, quem diria que Hermione tomaria uma atitude daquelas? Levantei e fui até o banheiro e me olhei no espelho, estava horrível, por Merlin! Sujo, com a barba e o cabelo crescidos. Entrei no chuveiro e tomei um banho aproveitando pra me livrar dos resquícios da batalha que estavam ali, sangue seco, terra, fuligem. Sai do banheiro com uma aparência um pouco melhor e dei de cara com uma ruiva sentada na minha cama olhando para baixo, e percebi que Ron e Hermione já tinham saído do quarto. Não pude deixar de respirar aliviado ao vê-la ali, pelo menos ela estava bem, quero dizer, não estava ferida, pelo menos não fisicamente.

–Oi, Gina. - saudei chegando perto da cama.

–Oh, Harry. - ela levantou seu olhar pra mim e pude ver seus olhos castanhos esquadrinharem meu rosto como se a procura de alguma coisa, talvez algum machucado mais grave ou algo assim. - Seu idiota. - ela levantou da cama me dando um tapa. - Como você se faz de morto Harry Potter? Não tem noção de como eu me senti, seu imbecil, babaca. - ela continuou a dar seguidos tapas no meu braço. -Achei que tivesse perdido você. - ela deu mais um e do nada me abraçou. - Nunca mais faça isso Harry, por favor achei que fosse morrer junto com você. -passei meus braços pelo seu corpo e afundei meu rosto em seu cabelo.

–Me desculpe Gina, foi necessário. Prometo-te, não farei mais isso. -apertei ainda mais seu corpo entre meus braços, sentindo o perfume que passei todos os meses tentando me lembrar, minha memória não fazia jus a realidade.

–Senti sua falta, cada segundo desse tempo que passamos separados. - ela fungou, eu puxei seu rosto delicadamente para cima e pude ver lágrimas descerem. Passei meu dedo por uma limpando-a, eu nunca havia visto Gina chorar.

–Eu também Gina, não imagina como senti. Como você está? – perguntei olhando diretamente em seus olhos, me afastando ligeiramente de seu corpo para poder observa-la melhor.

–Bem. Triste pelo Fred, Tonks, Remo, Colin... Mas feliz por tudo isso ter terminado, eles morreram lutando por um mundo melhor para todos nós. - ela sorriu de leve

–Eu me sinto.... – comecei, e antes que pudesse terminar minha frase, a ruiva fez aquela cara de irritada que costumava me dirigir quando eu ia falar alguma coisa que ela não queria ouvir.

–Se você disser que se sente culpado pela morte deles eu te azaro, Potter. – comentou aumentando ligeiramente o tom da sua voz.

–Mas eu me sinto. – essa era a verdade, não tinha como não me sentir, todas aquelas pessoas, todas aquelas vidas e famílias.

–Todos eles tiveram a opção de não lutar, mas todos que morreram, não só eles, mas todos morreram por um mundo melhor, Harry. Será que você não entende? Você não pode se culpar, não tem que.

–Mas será que você não entende... – tentei outra vez me explicar mas a ruiva não me deixou.

–Potter, cala a boca. Ao invés de ficar se culpando, você deveria estar orgulhoso de si mesmo, matou o maior bruxo das trevas. Está vivo, está ai, devia se sentir orgulho deles também, que te ajudaram, e não ficar se culpando, ficar triste eu até te entendo, todos estamos, mas pare com isso. Poupe-me desse seu ataque. - ela falou tudo irritada, não pude deixar de sorrir, aquele discurso era tão dela.

–Não sei como pude ficar tanto tempo longe de você. - disse passando meus dedos pelo seu rosto. Olhei para ela tentando memorizar onde ficava cada sarda. -Posso? - perguntei quando aproximei meu rosto do seu.

–Só você Harry Tiago Potter, pra perguntar se pode me beijar. - ela falou baixinho e juntou nossos lábios, permitindo que ambos matássemos a saudade que sentíamos um do outro.

–Eu te amo Gina. Eu te amo tanto, você quer voltar a ser minha namorada? - falei em meio ao nosso beijo.

–Harry, - ela falou - também te amo, nunca deixei de ser. - ela respondeu e juntou nossos lábios novamente.

Ficamos ali por muito tempo e depois Monstro apareceu com uma bandeja de café da manhã. Comemos lado a lado, não pude deixar de reparar que Gina tinha alguns cortes nos braços e mãos. Ela terminou antes de mim e ficou me olhando, coisa que me deixou muito sem graça.

–O que foi? - perguntei.

–Você está precisando cortar o cabelo e fazer a barba, urgente. - ela sorriu.

–Uhum - respondi calmamente mastigando. - não sei como fazer isso.

–Eu sei, posso? Vi meus irmãos fazendo isso no mínimo um milhão de vezes. - ela sorriu.

–Tem certeza que sabe? - perguntei apreensivo.

–Não duvide da minha capacidade, Potter. - ela disse puxando a varinha, e me fez sentar direito. Ela fez alguns floreios, e minutos depois ela guardou a varinha no bolso do Jeans, e sorriu. -Agora sim, o herói do mundo bruxo está apresentável.

–Obrigada, ruiva. - sorri. - Vamos descer?

–Sim, mamãe estava doida pra saber como você está. – ela sorriu ao falar da mãe, me lembrei do que havia acontecido horas ou dias atrás, a Senhora Weasley defendendo seus filhos como ele nunca havia visto.

–Ah claro. - demos as mãos e fomos em direção a saída do dormitório. Quando chegamos no salão comunal percebi que a família ruiva estava sentada em um canto, Sr. e Sra. Weasley estavam um de cada lado de Jorge que estava de cabeça baixa. Percy, Gui e Fluer estavam sentados lado a lado calados, Carlinhos, Rony e Hermione estavam em pé. Assim que chegamos perto Sra Weasley se levantou do seu lugar e veio em nossa direção.

–Harry querido! Estou tão orgulhosa de você! - ela falou me abraçando, Gina saiu de perto de mim e foi pro lado de Carlinhos que abraçou a irmã. - Você está bem? Já comeu?

–Obrigada Sra. Weasley, estou sim, e já comi também. - respondi sem graça. Ela me puxou para outro abraço.

–Nunca mais ouse se fingir de morto está me ouvido senhor Potter. Era como se eu estivesse perdendo outro filho. - ela falou pra mim e pude sentir as lágrimas da bruxa ruiva molharem minha camisa.

–Foi preciso, mas não farei mais. - sorri

–Está tudo bem agora, não sei como, mas nós vamos superar. Agora só nos resta seguir em frente, temos que aproveitar que não temos mais Voldemort perseguindo nosso cunhadinho, a vida está só começando. - Jorge levantou a cabeça e ainda fez graça. - Tudo vai ficar bem.

–CUNHADO? - ouviu-se o espanto dos outros três Weasley's

–Fred até iria querer matar o Potter por isso, mas acho que não iria querer nossa irmãzinha triste, e nem nenhum de nós. Ainda temos que ajudar a Sra Tonks, Ted vai ser nossa pequena esperança nesse momento. - Jorge falou novamente ignorando os irmãos. -Todos juntos vamos conseguir. - ele falou e foi abraçado por uma Sra Weasley muito emocionada e Arthur Weasley chamou todos para um abraço em família. Apesar das perdas, tudo iria se arrumar.