Minhas mãos tremiam no bolso do moletom. Eu não podia permanecer na cena do crime. Após a ligação anônima para a polícia sequei o rosto de Harrisson mais uma vez e o deixei descansando sob a luz prateada da Lua. 

Continuei andando pelas calçadas fantasmagóricas e frias, faltavam dois quarteirões para minha casa, quando um Toyota cantou pneu no cruzamento poucos metros de onde eu estava, um homem de porte atlético e roupas caras, saltou. Um anel que parecia ser bronze cintilava em sua mão.

Como  se lesse meus pensamentos ele agarrou meu braço como uma força inumana numa fração de segundos, seus olhos cintilavam diabolicamente. 

- Nem um passo, meu rapaz. - Ele sorriu, exibindo dentes extremamente brancos. - Você sabe quem eu sou?

Não respondi, dei um puxão no meu braço mas em resposta o homem apenas apertou com mais força.

- Podemos ficar aqui a noite toda se quiser fazer da forma difícil. - Ele passou a língua nos lábios, para umedece-los. - Entre no carro.

Eu não tinha escolha. O homem dirigiu durante um bom tempo até parar em uma das encostas perto de Delphic Beach.

- Sai. - Foi a única coisa que ele disse, depois de retirar a chave da ignição. 

O homem andava de um lado pro outro como se escolhesse as palavras.

- Vou ser claro, você é amaldiçoado. - Ele falou, como se comentasse do tempo com um vizinho no elevador.

- O que? - Soltei uma risada sem humor nenhum, não estava com tempo para piadas, nem maníacos que me sequestravam perto de casa. Comecei a pensar em uma forma de sair dali, mas eu não podia deixar de cogitar a força do homem e ... seu celular começou a tocar, era agora ou nunca mas suas palavras me prenderam a atenção.

- Sim Hank, encontramos o nephilim que ajudou Harrisson , sim, hm, ele está aqui, o anel? ah, hm sim, tenho um reserva no carro. tudo bem.

E desligou.

- É o seguinte garoto, você é fruto de um mortal com anjo caído, mas não estamos com tempo para explicações, não é mesmo? - Ele checou o Rolex de forma impaciente - Meu irmão tem um jogo importante hoje e preciso ir assistir, então serei direito. Você é um nephilim e está na idade amaldiçoada...

Sua menção de idade amaldiçoada me fez lembrar as palavras de Harrisson. O homem foi ao carro e voltou tão rápido que eu pensei ter sido fruto da minha imaginação.

- Queremos ajudar você, então sugiro que ajoelhe-se... - Como o mandado, minhas pernas se curvaram involuntariamente. - Não vai demorar...

Ele se direcionou para o anel na palma de sua mão, pude ver rapidamente que ele tinha a forma de um punho fechado. Uma seita? Talvez. O anel emitiu um brilho laranja e eu podia sentir o calor, era como se ele tivesse sido aquecido em brasas e como num passe de mágica ele estava sendo pressionado contra o meu pescoço.

Logo veio a dor acompanhada da agonia.

- Levante-se. - A voz do homem era baixa e dura, seus cabelos grisalhos flutuavam com a brisa salgada do mar. 

- Foram vocês que mataram Harrisson Grey, não foi? - Cuspi como se ácido pesasse em minha língua.

- Você não sabe de nada, garoto. - Ele sorriu de forma amigável. - Volte pra casa e não conte nada e também não perca esse anel, caso contrário você morrerá.

E foi o que ele disse antes de entrar no Toyota e me largar ali. Sozinho, longe de casa, com uma marca no corpo e um anel que decidiria o rumo da minha vida.