Senhas escrita por xMilax


Capítulo 3
Burocracias à parte




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- Sra. Malfoy. – Hermione se arrumou na cadeira e teve que esticar o pescoço para tentar nivelar seus olhos com os da mulher. Odiou isso. – Sente-se, por gentileza.

A bruxa sentou-se, afastando levemente a cadeira para que pudesse cruzar as longas pernas, as mãos repousando em seu colo. Por ser pelo menos um palmo maior que Hermione, mesmo sentada, a loira continuava em um nível superior. A mulher olhava para baixo em direção a ela com óbvio descontentamento – que foi rapidamente substituído por uma expressão indiferente. 

Hermione pigarreou. Olhando a pose toda composta da mulher, a elegância com que ela se portava e se vestia, quase se sentiu imediatamente inferiorizada. Ajeitou-se na cadeira, para que sua coluna ficasse mais reta. Recusava-se a se sentir diminuída pela mulher à sua frente. 

- Sra. Malfoy... não esperava encontrá-la aqui. – Fez uma pequena pausa. – Dadas as circunstâncias.

Orbes azuis miraram-na com tanta frieza que ela poderia muito bem congelar na cadeira. Mas não foi isso que fez um arrepio nauseante passar pela sua espinha. Foram as memórias. Hermione não podia evitar. Toda vez que via a loira, depois do que aconteceu na Mansão Malfoy, as memórias sempre retornavam, invocadas de imediato pela presença dela. Procurou portar-se na sua melhor pose profissional, buscando espantar os pensamentos. Não conseguiu controlar, entretanto, sua posição tensa. Ombros contraídos e os pés inquietos debaixo da mesa.

- Srta. Granger. É exatamente por causa das circunstâncias que eu tive que vir até aqui. Tenho certeza de que você consegue compreender. 

Ela curvou minimamente a cabeça para o lado e apertou os lábios em uma linha fina. Não entendia. A família Malfoy já fora atingida, por que a mulher se preocupava? Talvez...

- Você ainda pensa correr perigo?

- Não. Não eu. – A loira mexeu-se desconfortavelmente pela primeira vez desde que chegara. – Draco. – Sussurrou, quase como se tivesse medo de que pronunciar o nome de seu filho pudesse fazer alguma coisa ruim acontecer. 

Hermione encarou os olhos da mulher por um segundo. Sabia o quão orgulhosa Narcissa Malfoy podia ser. Depois que o depoimento dela e de Harry salvaram a família Malfoy de Azkaban, não ganharam nem ao menos um “obrigado”. Não que esperassem isso. De fato, tanto ela quanto o amigo apenas depuseram a favor deles por um senso de justiça inato. Era o certo. 

Então Hermione compreendeu claramente: Draco era a única motivação que levava a mulher a estar ali. Colocando-se em uma situação em que dependia dela, Hermione Granger. Não fosse o filho, Narcissa provavelmente procuraria na clandestinidade um elfo, ou pagaria alguém suspeito para conseguir um. Mas não era a vida dela na linha, e a morena supôs que ela queria tentar fazer aquilo da forma certa primeiro. 

- Entendo. – Baixou o olhar em direção aos formulários em branco na sua mesa com a expressão pensativa. Resoluta, afastou os pergaminhos e pegou, dentro da gaveta, um papelzinho destinado a recados. Rapidamente rabiscou instruções e encantou o papel, fazendo-o voar até seu chefe.

- Não há um questionário que devo responder? – A mulher perguntou quando Hermione virou-se para ela. 

- Não terá necessidade. O nome da sua família será adicionado na nossa lista de prioridades. Até o final do dia um elfo se apresentará para servi-los. – Então ela pegou um pergaminho em branco e, com um aceno de varinha, as palavras começaram a preenchê-lo, brilhando por um instante antes de fixarem-se em um tom de dourado. Assinou seu nome no fim do papel e empurrou-o na direção de Narcissa. – Preciso que você assine isso. Um contrato mágico. Por gentileza, leia as cláusulas com cuidado. Basicamente é um termo de compromisso de que você não usará o elfo contra outros. Embora possamos identificar os donos dos elfos caso algo aconteça, é uma precaução extra. Também, a senhora deve se comprometer a não libertá-lo por um período mínimo de dois anos. Não queremos que as criaturas sofram mais do que já estão sofrendo. Um pouco de estabilidade fará bem a eles. 

Os olhos da Sra. Malfoy faiscaram por um instante, e as mãos no colo apertaram os joelhos. A mulher não fez qualquer movimento para pegar o contrato mágico. 

- Simples assim? – A pergunta foi pronunciada com uma clara nota de desconfiança.

Hermione suspirou.

- Simples assim. Veja... Entendo sua preocupação, acho-a relevante. Se pegaram seu marido por suas ações recentes, Draco... – Hesitou, talvez estivesse sendo insensível. – Draco pode ser um alvo. Ainda mais se os mandantes dos ataques forem quem pensamos que são. – Suspirou novamente. A família Malfoy tinha sido absolvida totalmente após a guerra. Alegaram que nunca mais participariam de atividades sequer remotamente ligadas às trevas. Eram vistos pelos comensais remanescentes como traidores. – Só... só trate-o bem, ok?! Quando ele chegar hoje. 

Narcissa Malfoy ouvia Hermione com o rosto impossível de se ler. Se a mulher se ofendeu ou se magoou com alguma coisa dita, ela não demonstrou. 

- Certamente o elfo será bem tratado. Certificar-me-ei de que os grilhões não sejam apertados demais, e que as chicotadas não sejam tão fortes. 

Hermione ergueu uma sobrancelha, na dúvida se a loira estava tirando uma com a cara dela, ou se estava falando sério. Então, os cantos da boca da mulher se curvaram em um quase-sorriso, e ela perplexamente compreendeu que aquele senso de humor bizarro era a forma da outra aliviar os ânimos.

A morena então respirou fundo e arrumou os papéis em sua mesa. Não compactuaria com uma piada sobre maus-tratos a elfos domésticos. Não, não. Entretanto, seus ombros realmente relaxaram e abandonaram um pouco sua posição tensa.

Nesse meio tempo, a outra alcançou o pergaminho, lendo-o rapidamente antes de assinar.

- É só isso? Já está resolvido? – A loira perguntou, alisando o vestido e deixando clara sua intenção de partir. 

- Sim. Você pode se retirar, Sra. Malfoy. Se quiser se mostrar grata de alguma forma por eu ter resolvido seu problema tão rápido... ofereça ao elfo um salário. – Falou antes que conseguisse se conter. Não doía soltar no ar a sugestão, afinal.

Narcissa Malfoy mirou-a em silêncio por alguns instantes, como se estivesse esperando ela continuar. Hermione percebeu que a bruxa estava confusa, e não sabia se ria ou se ficava irritada com o pensamento.

- Um salário? – A bruxa disse por fim, os olhos se estreitando. 

- Alguma quantia em ouro ao final da semana ou ao final do mês. – Hermione fez questão de usar seu tom de voz estou-explicando-que-dois-mais-dois-dá-quatro, enquanto fazia um gesto de descaso com a mão. – Um valor que o recompense pelo serviço doméstico e de proteção que ele prestou em tal período de tempo. – Então ela adotou uma postura séria. – Os modos de tratamento que nós bruxos damos aos elfos estão mudando, Sra. Malfoy. Principalmente em tempos como esse. 

Os olhos da loira se estreitaram ainda mais, encarando Hermione como duas perigosas fendas azuis gelo. Ela encarou de volta, desafiando a mulher a contradizê-la, mas a bruxa eventualmente assentiu com a cabeça e se levantou.

- Perfeitamente, Srta. Granger. Tenha um bom dia. – Com isso a mulher girou em seus calcanhares e virou em direção à porta. 

- Quando você receber seu elfo, Sra. Malfoy, vou mandar em anexo um manual de como tratá-lo bem. Grilhões e chicotadas constam na seção “O que não fazer”. E em negrito! – Ela falou séria, com toda a intenção de realmente mandar o tal manual. E, embora a outra não tivesse virado ou dado qualquer sinal de ter ouvido, Hermione tinha quase certeza de que escutou uma risadinha em resposta enquanto Narcissa Malfoy caminhava imponente para fora da sala. 


O resto da semana de Hermione passou como um trovão. A pilha de trabalho que se acumulava na sua mesa parecia realmente querer chegar até o teto, e ela não parara um segundo. Entre lidar com bruxos que não tiveram seus pedidos atendidos e enviar elfos aos que tiveram, a morena ainda tinha que fazer seu trabalho habitual e ajudar os aurores e o Ministério a controlar a crise. 

Septimos, seu chefe, estava resmungando a torto e a direito sobre a falta de pessoal. Dawlish era um pau mandado dos aurores e só atrapalhava, tentando impor novas burocracias ao já bastante burocrático departamento. 

- Não, não é necessário duplicar os acordos mágicos. – Hermione levou a mão à testa, contendo-se para não gritar. 

- Senhorita Granger, é ordem direta do próprio ministro que o departamento acate sugestões dos aurores. E nós precisamos ter acesso aos- 

- Dawlish. Pela milésima vez... – Hermione suspirou. – Os aurores podem ter acesso aos contratos na hora que eles quiserem. É só ir até a minha mesa e dizer o nome do bruxo que eu entrego o contrato para análise. Nesse momento estou com muita coisa para fazer, não sei se conseguirei tempo para supervisionar isso. Aliás, você está ciente do trabalho que dá duplicar um contrato mágico? Não é simplesmente xerocar! – Respirou fundo, não podia perder o pouquinho de paciência que tinha sobrando. – Por favor, apenas informe Robards que, se isso for realmente necessário, sábado eu vejo o que consigo adiantar. 

O auror, que ainda parecia confuso com a palavra “xerocar”, não respondeu imediatamente. 
Jonathan Gregor, um funcionário do departamento que entrara um ano antes de Hermione, e estava passando por eles, parou e se virou.

- Hermione! Você é a última a sair daqui todo dia! Dawlish, não acredito que você está passando mais trabalho pra mulher! – Jonathan abriu um sorriso. – Pode deixar, se precisar, eu mesmo cuido disso. Tenho um amigo inominável que conhece um método mais rápido para fazer a duplicação. Não se preocupa não, viu, Hermione. Se você desmaiar de exaustão, o departamento está perdido. Não podemos ficar sem você aqui. – O bruxo deu uma risadinha e colocou a mão no ombro da mulher.

Se não o conhecesse melhor, ela acharia que ele estava dando em cima dela. Mas Gregor era muito prestativo e simpático com todos. Sempre encontrava pontos positivos nas pessoas para elogiá-las, e nunca tirava aquele sorriso do rosto. A única pessoa que não parecia gostar dele era Septimos, mas, na verdade, ele não parecia gostar de ninguém. 

Hermione suspirou.

- Obrigada, Jonathan, você está salvando minha vida.

- Imagina. Você já está fazendo muita hora extra. Tenho certeza que Dawlish não iria realmente colocar você para trabalhar aos sábados. – O bruxo lançou um olhar quase severo para o auror, que deu de ombros e disse que passaria as instruções para Gregor assim que falasse com Robards, saindo logo em seguida, aparentemente satisfeitíssimo por conseguir o que queria.

- Obrigada novamente. Semana que vem vai ser osso também, preciso descansar um pouco esse fim de semana.

Pfff – Jonathan abanou os agradecimentos com um gesto de mão. – Segunda eu resolvo isso. Semana que vem você vai começar a inspecionar os elfos nas novas famílias, não é?!

- Sim. Vou ver se chegaram bem, dar dicas para melhor adaptação, coisas assim. 

- Bom... Boa sorte, então. Preciso ir ali resolver uma coisa. Nos falamos depois. – Jonathan sorriu antes de acenar e retomar seu caminho.


Já passava das dez da noite quando ela finalmente chegou em casa. Arrastou-se exausta até o sofá. Já estava alcançando o controle remoto quando uma elfo decididamente brava agarrou o apetrecho em suas mãozinhas.

- A senhorita demorou. O jantar está quase frio e Winky já comeu. Por favor, senhorita, alimente-se antes de ligar essa... – A criatura pausou, como se estivesse procurando um adjetivo que servisse para expressar seu desagrado com a televisão. Winky nunca gostara de artefatos trouxas. 

Hermione mirou-a com a sobrancelha erguida, e a outra resmungava sem parar sobre o quanto era péssimo para ela ficar tanto tempo sem comer. Por um instante, a morena lembrou da Sra. Weasley enquanto Winky claramente continuava com seu sermão.

- Senhorita! 

- Certo. Jantar. – Hermione suspirou e ergueu as mãos em sinal de rendição. 

A bruxa foi até o fogão sem se preocupar em ligá-lo. Com um aceno de varinha sua comida estava na temperatura ideal. 

Já estava sentada à mesa e devorando seu prato – não tinha reparado o quanto estava com fome até então – quando Winky postou-se ao seu lado e pigarreou.

- A senhorita de cabelos vermelhos pediu que eu a informasse, e eu repito exatamente suas palavras, “que nem mesmo se os dementadores retornarem do exílio, causando uma onda de profunda melancolia e desesperança no mundo, você está autorizada a perder o jogo de estreia das Harpias na temporada”.

- Faltam meses para esse jogo. – Hermione balançou seu garfo com descaso.

- Faltam quinze dias. A senhorita de cabelos vermelhos também mencionou que a senhorita tende a se esquecer de qualquer coisa que envolva quadribol, mesmo que seja capaz de se lembrar do que comeu no café da manhã de anos atrás, e quantas vezes a palavra “calabouço” foi citada no livro “Hogwarts, uma história”.

- Oras, o livro fala sobre a fundação de uma escola. Cento e oitenta e dois certamente é um número absurdo para a palavra “calabouço”. – Hermione se defendeu com um bufo irritado. 

- Winky está apenas repassando o recado, senhorita. – A criaturinha se curvou até quase o chão, mas a bruxa percebeu um sorrisinho irônico no rosto dela.

A bruxa suspirou, mas não pôde deixar de sorrir também.


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Notas finais do capítulo

Hey, galera!
Eu sei que faz tempo demais que eu postei aqui.
Mas bem, a vida andou acontecendo e... ok, não tenho desculpa. O capítulo já estava pronto e foi pura preguiça mesmo :/
Mesmo assim, espero que relevem e me digam o que acharam. Prometo que o próximo vem loguinho (SEM PREGUIÇA AGORA, JURO!! VOTO PERPÉTUO NESSA PORRA E... hahaahha)
Sei que essa não é uma história convencional, mas continuo dizendo que vale a pena o tempo de vcs.
Stick with me ;)
Mereço um comentário? Sim ou sim ou quem sabe sim? HAHAHA



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