Capitulo 20

– Não!

– Não?

– Sim. Quer dizer, é só uma lenda Juliet. Uma lenda em que meu pai acredita só isso.

– Mas e se for mais do que “só uma lenda”?

– SE for mais do que “só uma lenda”, o que nós não sabemos.

– Precisamos descobrir. – Completei o interrompendo.

– SE não tiver nenhuma outra encantadora e charmosa Rhodes por ai.

– O que não há. – Disse percebendo que ele já havia se acostumado a ser interrompido pelas minhas palavras.

– Ai teria um grande “talvez”. – Peter disse dando-se por convencido.

Eu sabia que ele só estava sendo otimista. Eu sabia que não era possível que alguém tivesse inventado uma historia tão grande e antiga e cheia de detalhes e assustadora e, e...

Acho que o Peter percebeu que eu estava ficando nervosa pois se apressou pra dizer.

– Ei, não fica assim. Nós vamos descobrir tá? – E envolveu os seus braços ao redor do meu ombro. – Um bom começo seriam aqueles cartões do seu tataravô.

– Os que estão com o Adam. – Eu tinha que recordar!

– Juliet... – Peter começou a falar com dificuldade, aparentemente era um assunto delicado. – Você nunca me falou direito sobre a sua mãe.

Agora entendi porque o assunto era delicado.

– Não tem muito que falar. Ela nós abandonou quando eu tinha um ano, não tenho nenhuma lembrança concreta dela. – Disse dando de ombros.

– Mas será que você não se lembra de mais nada? Qualquer memoria seria importante.

Parei um pouco para pensar. Lembro-me de uma casa com vista para o mar e um quintal repleto de flores. Um cheiro forte de tinta invade os meus pensamentos. Lembro-me de brincar com um cachorro, um Golden retiver para ser mais exata, com apenas um ano de idade. Agora a lembrança mais concreta que eu tenho é a de uma musica. Uma linda melodia que começava assim:

“Feche os olhos e sinta essa canção invadindo o seu puro coração, se permita sentir essa emoção, feche os olhos já esta na hora de sonhar e amanha quando acordar saberá que para sempre eu vou te amar.”

Contei isso ao Peter e ele não pareceu satisfeito com a pouca quantidade de informação.

Como um raio que estoura do nada em um céu calmo, eu me lembrei de uma coisa. Tão repentinamente que até me desequilibrei e tive que me segurar na quina da mesa de mármore de jantar para não cair.

Eu já havia visto aquele lugar, escutado aquela musica sentido aquele cheiro. No hospital! Não dei muita importância para aquilo, pois achei que era apenas um sonho, mas agora... Tudo parecia claro como a agua.

Lembro-me de ter sentido uma sensação esquisita, um grande vazio no meu corpo. Havia uma mulher, linda, uma linda mulher, com cabelos escuros na altura do ombro e olhos em um tom de mel tão profundo que parecia um abismo.

Lembro-me de ter perguntado se eu estava morta e, para a minha surpresa, lembro-me da sua inesperada resposta:

“Aqui sim! Mas daqui a pouco você vai acordar e vai viver a vida que eu sonhei para você. Você precisa parar de procurar respostas, é o melhor a se fazer.”

E só para deixar a situação ainda mais esquisita, aquela doce mulher adicionou:

“Você não deve voltar á esse lugar entendeu? Se esqueça desse sonho, se esqueça dessas pessoas se esqueça de tudo que aconteceu aqui.”

Na época eu tinha acabado de voltar de um acidente de carro, uma experiência um tanto quanto traumática, não dei muita importância para esse “sonho”. Mas agora, a voz da mulher cantando no sonho era exatamente a mesma voz doce e fina da lembrança que eu tenho da minha mãe cantando.

Depois de alguns segundos paralisada me relembrando de todos esses acontecimentos a voz de Peter me tirou do meu devaneio.

– Ok esse assunto já deu o que tinha que dar por hoje, eu deveria ir para casa.

Quando me dei por mim ele já estava na porta da frente prestes á abri-la quando eu lembrei o motivo de eu ter ido atrás dele.

Eu precisava falar com ele sobre o Lucas.

–Peter, er... – Eu comecei sem saber ao certo o que dizer. – Eu preciso falar com você, sobre, hum, o Lucas.

Ele se virou lentamente para mim e eu percebi que os seus punhos estavam cerrados.

– Diga.

Foi tudo que ele disse. Ele tinha um olhar de cachorro quando percebe que o dono não pretende dividir o seu jantar com ele. Um olhar de traição magoa e uma pontinha de raiva.

– Peter eu gosto dele e, bem, ele gosta de mim também. – Eu disse encarando o piso de madeira da minha casa. – Mas nós não faríamos nada que te magoasse você é muito importante para ambos de nós.

Eu realmente esperava que essas palavras fizessem com que ele percebesse o quanto era importante para nós. Principalmente para mim.

– Ok, tanto faz. – Ele disse dando de ombros. – Vocês já são bem grandinhos, não me devem satisfação.

Ele soltou aquele riso nervoso deixando na cara que não estava sendo totalmente honesto.

– Você jura? Porque Peter eu não posso perder você de novo. Me promete que venha o que vier, nós enfrentaremos juntos? – Eu pedi, praticamente implorando, desesperada com a ideia de perdê-lo novamente.

Ele não disse nada. Só se aproximou e me deu um beijo na testa. Por ser mais alto do que mim eu já estava acostumada com ele fazer isso o tempo todo. Mas dessa vez o beijo parecia mais preciso. Os seus lábios quentes tocando a minha testa fria fez com que meu corpo inteiro se arrepiasse.

– Prometo. – Ele disse, já fechando a porta de entrada atrás de si e partindo.