P.O.V. KATH 

      Meus olhos estão cheios de água, mas por algum motivo não há nenhuma lágrima pelo meu rosto. O dia está chuvoso, as nuvens escuras e o vento sopra frio. Estou no enterro do meu namorado, Dean Ross, ou melhor, ex-namorado. Num incêndio dito como acidental,  o corpo do meu namorado foi encontrado junto as cinzas, ou pelo menos o que sobrou dele. Os amigos e familiares de Dean me comprimentam todo momento na tentiva de me consolar, mas na verdade não sei se devo ser consolada.

-Kath, se você precisar conversar, estou sempre aqui, você sabe não é? - me consolou Chloe, que me conhece melhor que ninguém, minha amiga desde o jardim de infância, com que sei que posso contar sempre. Sem palavras, lhe dei um abraço de agradecimento .

-Amiga... - falou a Jo enquanto me abraçava com os olhos cheios d'água.

-Estou sempre aqui para você - falou Rick, lhe dei um abraço agradecida e fui ao encontro de meus irmão, Pete e James.

Dean era amigo de infância do meu irmão, foi através dele que nos conhecemos, ele me traz lembranças do Dean, boas e ruins...

-Mana, se você quiser a gente vai para casa, eu te levo - falou James

-Não precisa Jay, acho que vou ficar um pouco ao lado do Matt nesse momento.

-Nos vemos em casa Kath - disse Peter enquanto me abraçava. - Se cuida

Perto de uma bonita árvora estava Matt, irmão gemêo de Dean. De longe podia se perceber o tamanho de sua dor, mesmo com a grande semelhança que partilhavam, e as lembranças que o rosto do Matt me trazia, resolvi ir até la. Ele viu que eu estava me aproximando, foi ao meu encontro e seus olhos azuis, aqueles que conhcia tão bem, hoje estavam mergulhados em sofrimento. 

-Matt! - disse abraçando-o

FLASHBACK ON

-O que é isso no seu braço? - perguntou Matthew

-Hm... Não é n-nada, eu só me machuquei um pouco no Karatê - respondi enquanto escondia meu braço em vão.

-Kath, não minta para mim , eu te conheço... e também conheço meu irmão - olhou para mim com um olhar de censura e me deu um forte abraço.

Seu abraço era caloroso e reconfortante. Senti mil coisas ao mesmo tempo, me senti segura como se nada pudesse me atingir, me senti culpada, pois sabia que isso era algo que não devia estar fazendo. Me afestei, decidida a fazer com que isso nunca mais acontecesse.

FLASHBACK OFF

Ignorando a promessa que um dia fiz a mim mesma, abracei-o mais forte ainda e dessa vez, pela primeira vezem minha vida não me arrependi por ter aproveitado cada segundo ao seu lado, coisa da qual já me privei por muito tempo e muitas vezes.

-Kath, eu realmente tenho que ir agora, nos vemos por aí - falou Matt enquanto me dava um beijo de despedida na bochecha. Sorri, mas não um sorriso alegre, um sorriso de conformidade.

No caminho para casa lembrei que amanhã tenho aula, não sei como vou aguentar todos me olhando como se eu fosse uma pessoa digna de pena. Dean sempre me dava carona para a escola, acho que vou ter que me acostumar com a ideia de que a partir de agora estarei sozinha.

-Alô?

-Rick, posso passar na sua casa antes da escola para irmos juntos? 

-Claro que sim Kath!Se você também quiser conversar...

-Ah...não, não precisa. Na verdade já estava indo dormir, tchau!

-Hum...ok. Tchau!

Fredrick é meu melhor amigo desde sempre, é um amigo super fofo, sempre que estou pra baixo ele tenta me animar. Acho que no final das contas, não estarei sozinha, como achei que estaria.

Não achei que seria tão difícil adormecer. Não sei se estou nervosa, triste ou com medo, só sei que meus olhos se fecham mas minha mente continua relembrando-me todos os acontecimentos da última semana.

Quando finalmente consegui dormir, tive o sonho mais estranho da minha vida:

Estava tomando banho, quando de repente escuto batidas na porta do banheiro, não eram batidas comuns, eram batidas com som de urgência. Peguei rapidamente minha toalha, me enrolei e fui até a porta, quando abri não havia nada, mas então quando fui voltar para o meu banho, o box estava cheio de palhaços e travestis, todos dando uma de Joelma.

-Calypsoooooo - gritou uma, ou um, sinceramente... não sei como chama-los.

Um dos palhaços tentou me agarrar, a única coisa que pensei em fazer foi gritar, mas quando o palhaço chegou mais perto notei uma coisa familiar, logo olhei os olhos, azuis como o céu, era o Dean. De repente tudo se virou chamas, e eu tornei a gritar.

-Mana!Kath!Acorda!

-James? - disse sonolenta

-Por quê você estava gritanto?Você me acordou!

-Me acordou também! - era o Pete

-Você deve ter acordado até vó faride, a mendiga da esquina! - riu James

Todos riram.

-Eu tive o sonho mais doido da minha vida! - contei a eles sobre o meu sonho, omitindo a parte das chamas, do Dean. - Acho que estou ficando doida!

-Veja pelo lado bom! -disse James

-Que lado bom? 

-Pelo menos você não está como o Mutusalém!

-Quem? - Perguntamos eu e o Pete em uníssono.

-Aquele menino doido que estudou com vocês, que foi nosso vizinho -respondeu James

-Quem? O Saruê? - perguntou Pete

-Que Saruê menino? O nome dele é Nik - respondi

-Ninguém conhece ele pelo nome verdadeiro! Por quê você o chama assim? - falou James

-Porque eu conheci ele... bem... hum... antes dele ficar doido - respondi quase num sussurro

-Quê?! - Disse Pete.

James riu.

-Vou explicar - respondi - ele já foi da minha turma e ele sempre foi um menino muito educado e gentil, lamentável o que aconteceu com ele. Nós éramos meio que amigos - disse envergonhada.

-Então você sabe o que aconteceu com ele?Quero dizer como ele enlouqueceu? - perguntou James

-Porque é praticamente um mistério - completou Pete

-Bem... foi depois que os pais deles se suicidaram. Ele ficou louco de repente, assim, do nada. Os pais dele morreram e ele enlouqueceu.

Ficamos minutos em silêncio, mas depois de um tempo James falou:

-Sabe, eu acredito que as coisas não acontecem sem motivo, para mim tudo tem um motivo. Ainda acho que o incêndio que...hum... m-matou o Dean não foi acidental.

Mais minutos em silêncio se passaram e novamente James disse:

-Bem, então vou voltar a dormir. Boa noite - e imediatamente se retirou.

-Boa noite - falou Pete após me dar um beijo na bochecha.

-Boa noite.

Voltei a dormir com esperanças de que nunca mais tivesse um sonho como esse.