Forças de Alguém escrita por silensce


Capítulo 2
Capítulo 2 - O monge e o pecado.


Notas iniciais do capítulo

No Capítulo Anterior Vector é mandado para um internato, para cuidar de Clarice, uma garota que, de cara, mostra ser desprezível e horrível. Agora, Vector deve cumprir sua missão do mesmo jeito, e apresentar-se para a garota maligna.



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Vector pensou em seguir aquelas garotas comandadas por Clarice, logo após ela ter espancado o pobre menino jogado no chão. Mas não fez isso. Acabaria encontrando-a de uma maneira ou de outra, portanto ficou ao lado do garotinho, esperando para que alguém chegasse e o acudisse.

 O menininho não fazia nada além de continuar a chorar e a soluçar no chão constantemente. Era particularmente pequeno, com cabelos ruivos, um rosto cheio de sardas, olhos azuis, e bem baixo, sem deixar de transparecer uma aparência de um menino normal de 11 anos de idade. 

 -Vai ficar tudo bem - dizia Vector, esquecendo-se de que o menininho não podia vê-lo. Foi quando mais uma mera lembrança de Ludovy, que ecoou em sua mente.

-[...] Você deve fazer dela uma pessoa gentil e feliz. Na verdade ele queria que todos fossem felizes [...]


 Vector não teve outra escolha, o garoto parecia estar portando de uma enorme dor. Sentou-se ao lado do garoto, pensou muito, escolhendo sabiamente as palavras e disse:

-Boa Noite, eu sou Vector Maximillium e vim aqui para cuidar de você!

 Pronto. Ele havia se apresentado para a pessoa errada. Mas ele DEVIA fazer isso, ou o menino poderia morrer. O jovem pareceu poder enxergá-lo, olhou-o dos pés a cabeça e finalmente parou de chorar.

 -Você está bem? - perguntou Vector, passando sua mão na testa do jovem, que agora era sólida para ele - Você está quente de febre! - disse, levantando-se rapidamente e ajudando o menino a se levantar - Vamos, eu vou te levar para a enfermaria, onde fica? 

 O pequeno menino de apenas 11 anos não conseguia abrir a boca, talvez por ter passado numa situação de grave perigo, foi apontando para Vector os corredores nos quais ele deveria passar, os dois caminharam juntos, até encontrar um portão com uma placa em sua frente, intitulada Ala Hospitalar. Vector posicionou o menino cuidadosamente de pé na frente do portão.

 -Bata na porta, e diga para a enfermeira que Clarice se atreveu a bater em você! - ordenou.

 -Eu não posso - disse, pela primeira vez, aquele que Vector havia ajudado. Sua voz era fina como de criança, e ele parecia muito cansado. Vector fez uma terrível expressão no rosto, se perguntando "Por que, não?" - Se eu contar pra alguém, Clarice vai me bater de novo. Eu sei disso porque não fui o único!

 Vector abriu a boca de raiva, estava espumando de ódio por dentro.

 -Apenas bata na porta.

 O jovem bateu na porta três vezes, e depois mais três. Finalmente os portões da ala hospitalar abriram-se, e uma senhora já idosa, bem larga, com cabelos cacheados e brancos, olhou para o garoto e foi logo abraçando-o.

-Cristopher - disse a senhora - Meu bem, o que aconteceu com você?

 Ele havia mentido para a enfermeira, dizendo que tinha caído misteriosamente da escada, e que tinha um enorme ferimento na cabeça. Quando a bondosa senhora levou-o para dentro da Ala Hospitalar, Vector voltou a caminhar pelos medonhos corredores do internato, procurando pelo Ala dos Dormitórios, e apresentar-se para Clarice, quem sabe tirar satisfações, também?

 No entanto, depois de ter passado por uns três ou quatro corredores, uma voz entrou nos ouvidos de Vector tão subitamente que o menino virou-se para trás rapidamente, arrepiado.

 -Você apresentou-se para a pessoa errada!

 -LUDOVY? - gritou Vector. De fato, Ludovy estava bem atrás dele, com aquela blusa comprida moleton branca, calça branca, descalço e cabelos loiros e cacheados, empermeados por uma auréola que flutuava em cima de sua cabeça.

-O que você fez foi algo realmente bom.. - retorquia contra vontade - De qualquer forma, o dormitório de Clarice fica no quinto andar, e não aqui, no terceiro.

 Na realidade, Vector não sabia em que corredor estava e nem onde deveria estar, tudo que compreendia era que Clarice não merecia sua proteção.

 -Aquela Clarice não presta - gritou - Você viu o que ela fez com aquele menininho, o Cristopher. Ela espancou-o.

 -Isso não é problema meu - completou o anjo - Comece sua missão!

 -E seu eu não quiser mais - disse Vector, num tom terrívelmente sombrio, que fez com que o anjo mostrasse uma terrível expressão de desgosto - o Que vai acontecer comigo?

 Ludovy deu alguns passos em direção a Vector, mas desta vez, diferente daquela no qual havia acontecido no primeiro encontro, ele não quis se afastar.

 -Você vai virar um semi-morto para sempre. Você não vai aguentar ficar assim nem por uma semana, na minha opinião. Você vai ver, você não pode comer, não pode abrir a página de um livro sozinho, tudo que você tocar acabará atravessando sem perceber - e com mais um estalo, o anjo impermeou-se numa enorme sombra repentina, e desapareceu.

 Vector ficou imóvel por um estante. Tudo havia acontecido tão rápido que ele nem teve tempo para pensar em sua própria vida. Há essas horas seus pais já o teriam levado no hospital de Flauran, e recebendo a terrível notícia de que ele estava morto. Um outro arrepio alavancou suas espinhas, mas ele não conseguiu chorar.

 -Ludovy! - gritou novamente, e com uma pequena rajado de outros estalos, o anjo reapareceu ao seu lado. O adolescente fitou-o por uns estantes, e falou - Ludovy, posso te pedir uma coisa?

 O outro, com aquelas asas apontadas para baixo, observou Vector perplexo, fazendo um pequeno movimento com a cabeça, permitindo que ele pedisse algo.

 -Quando eu terminar a missão, você pode me dar uma vida?

 O anjo sorriu, mas não foi aquele sorriso maligno que ele tinha feito quando eles se encontraram pela primeira vez, era um sorriso inocente e pacífico.

 -Primeira parte da missão completada! - disse, e o garoto arregalou os olhos, incrédulo - Você deveria dar mais valor para a sua vida quando a tinha, deveria ser uma pessoa diferente. Estudar é bom, mas viver sem ninguém é um castigo.

 Um minuto de silêncio se passou, e a resposta que o jovem esperava não chegou. Felizmente, Ludovy continuou sua fala.

 -Vou conversar com o meu superior, mas acho que você não vai conseguir - lamentou, dando um novo estalo e desaparecendo. Talvez tenha sido isso o maior medo de Vector, tudo parecia ser uma mentira, mas agora a ficha tinha finalmente caído, e ele estava sozinho, sem os seus pais, e sem ninguém.

 Suspirou, agora já eram quase cinco horas da madrugada, e pequenos raios de sol iniciaram sua aparição no céu. Pensou em ir procurar Clarice, mas ela não poderia atendê-lo dormindo, e mesmo assim, acabaria encontrando-a pelos corredores. Precipitou-se para a janela e ficou observando o céu e as florestas além da propriedade do internato. Nunca tinha percebido como o céu era tão bonito, e as árvores tão lindas.

 

~~[x]~~

 Os corredores do terceiro andar estavam lotados de alunos que agora procuravam por suas classes, a fim de iniciar seus estudos matinais. Vector havia se entretido tanto em seus pensamentos que só percebeu que alunos caminhavam ao seu lado quando o ultimo sinal havia tocado. Lamentava, pois aquele seria o grande dia das Olimpíadas de Tecnologia, e ele estava naquela condição. Mas, aquele era o seu destino, por mais ruim que seja.

 Olhou para todos os lados, havia gravado muito bem a imagem de Clarice em sua mente (magra, quase desnutrida, cabelos loiros oxigenados e compridos, pele pálida e roupas peculiarmente rosas), mas não a encontrou. Deli há uns cinco minutos, o corredor ja tinha voltado ao seu estado desértico, e todos os alunos estavam dentro das classes. Vector tinha apenas uma opção - procurar de classe em classe.

 Mas teve sorte, pensou em procurar primeiramente nas sétimas séries (a sua série) e bem na primeira sala, focalizou Clarice ali no cantinho, bem no fundão, praticamente do mesmo jeito com a mesma roupa, fofocando coisas com uma colega que sentava a sua frente, e com outra ao seu lado. No entanto, a professora que comandava a turma pareceu perceber a garota, e ficou fristrada.

-Clarice - esbravejou - Pare de falar, sente-se direito e comporte-se.

 Clarice olhou para a professora por alguns estantes, mas não a obedeceu.

-CLARICE! - gritou a profesora.

-Ah, que droga! Eu não posso fazer nada! - proclamou, com aquela voz de patricinha mimada, insuportavelmente.

-Já que não quer aprender, pegue essas atividades - falou a mestra, tirando alguns papéis da gaveta de sua mesa, e entregando a menina no fundo da classe - E faça-as lá na diretoria!

 A menina pegou os papéis sem vontade, levantou e saiu da classe, passando na frente de Vector. O jovem pensou em seguir a menina, e ia treinando mentalmente as frases no qual usaria para se apresentar. Mas Clarice não foi para a diretoria, pelo que Vector percebeu. A menina adentrou no primeiro banheiro feminino que encontrou, rasgou as atividades - jogou-as no lixo - tirou no bolso um batom e começou a retocar a maquiagem e os lábios. Seria possível uma menina ser assim tão encrenqueira?

 -Boa Dia - disse Vector, e Clarice levou um susto tão grande que deu um pulo para trás - Eu sou Vector, vim do além (mentiu) para te proteger e te fornecer segurança.

 -AAAH - gritou a menina - TEM UM MENINO NO BANHEIRO DAS MENINAS!

 -CLARICE! - gritou Vector - Você não entende? Eu sou o seu anjo da guarda, que droga! - mentiu novamente. Mas essa mentira pareceu dar certo, Clarice pareceu calar-se e acreditar - Fui mandado para cuidar de você, e fazer de você uma pessoa gentil e feliz. Espero que sejamos bons amigos? Posso ser seu amigo? - disse num tom infinitamente infantil - Eu sei que isso está subitamente rápido para você, mas entenda, sou do bem.

 -Eu não preciso de anjo da guarda - disse, rispidamente.

 -Precisa sim!

 -Não preciso! - exclamou, agora guardando o batom e saindo do banheiro, rumo ao pátio

 -A professora te mandou ir na diretoria - odernou o adolescente - Então vá para lá!

 -Cale sua boca, e cuide de sua vida - retorquiu - Saia da minha cola, seu palerma!

 Vector não suportou, a raiva ja ultrapasava seus nervos tão intensamente que pos-se a berrar involuntariamente.

 - Palerma é você, sua garotinha idiota. Eu sei o que você fez com o Cristopher e eu vou contar para a diretora.

 Vector não havia contado para Clarice que só ela poderia vê-lo (apenas a menção de anjo da guarda parecia ser o bastante), mas a menina ficou parada, olhando para o garoto com os olhos arregalados, incrédula.

 -Eu vi! - disse Vector.

 Clarice abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompida por uma voz que saiu lá de trás, nos corredores anteriores, e foi vindo em direção da menina.

 -Clarice...Oh, Clarice... Finalmente te encontrei - comentou uma mulher alta, de cabelos cortados como se fosse um capacete, cheirosa (tinha um perfume de rosas) e vestida com um blazer beje e uma calça marrom, e sapatos All Star - era Vice-Diretora (sim, a vice-diretora com All Star dava uma impressão bem esquisita).

 -A professora de Geografia disse que tinha te mandando para a diretoria, mas como sempre você não foi - disse, quase chorando - Aconteceu uma coisa terrível.

 Clarice ficou completamente atordoada.

 -Como assim terrível?

-Foi com o seu pai, noite passada, perto da meia-noite.

 Clarice não falou nada, ficou com a boca aberta, nervosa.

-O q...Q que aconteceu com o meu pai? - perguntou trêmula, e Vector percebeu que ela havia se tornado frágil e indefesa.

 -O seu pai tinha ido para Londres, onde iria abrir um evento numa escola em Flauran, sua cidade vizinha, era um evento chamado Olimpíadas de Tecnologia, ocorreu que...

 -Que o que?

 -Que na noite de ontem, quando seu pai estava quase chegando em Londres, o carro no qual ele dirigia colidiu com um caminhão, e ele faleceu.


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Notas finais do capítulo

~~~~~~[x]~~~~~~


O que Vector e Clarice irão fazer? Será que Vector só tinha sido mandado para Clarice pois seu pai havia falecido? Será que realmente ela precisava dele? As duas histórias poderiam estar interligadas?

Espero que tenham gostado do segundo capítulo
E POR FAVOR, MANDEM REVIEW, SENÃO EU PENSO QUE NÃO DEVO MAIS ESCREVER :/
Obrigado, Silensce!