A 1ª resistência pós apocalíptica do Brasil escrita por Guilherme Melo


Capítulo 4
Capítulo 4 - Loucura


Notas iniciais do capítulo

"É fácil julgar o próximo quando não conhece a ti mesmo"



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- Tudo bem com vocês? – perguntei

- Muito obrigado, por salvar a mim e minha filha! Não acredito que isso possa ter acontecido, depois de todo esse caos que está acontecendo agora me aparecem esses marmanjos querendo fazer mais mal ainda. – Respondeu And levantando do chão, tirando a poeirinha da camisa e me cumprimentando.

- Oi, prazer meu nome é Ana.

- Eu sei... Já vinha... – Eu iria responder... Mas fui interrompido

O chefe do bando estava deitado ao chão gemendo, quando sorrateiramente puxou uma faquinha do bolso, dessas Tramontina mesmo, que usamos para cortar o nosso bife suculento e acertou o pé do And, que começou a sangrar. Gritou de dor, antes de xingá-lo de várias formas e nomes horríveis, apesar de estar no direito. A Ana se levantou e chutou seu rosto, fazendo seu nariz se deslocar e estalar.

Então alguém atirou de uma das janelas da casa atrás de nós e fez aquele barulho de uma bala quando ricocheteia e passa muito, mas muito perto mesmo. Ana e And correram pra dentro da casa enquanto eu subia no telhado pela lateral da casa que tinha um muro, dali dei um pulo para o lado direito e com um impulso, da parede segurei o telhado do meu lado esquerdo rapidamente subindo no telhado e me esquivando dos tiros que voavam sedentos por carne.

And tratou de buscar as armas que eles tinham achado nos carros da polícia para dar para a Ana. Colocaram as munições, ele ficou com a escopeta, vulgarmente conhecida como 12 e a Ana ficou com a pistola. Ambos começaram a disparar em direção a casa onde estava o meliante, quando ou vi novamente outro grito de dor:

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHRGH

E a Ana gritou desesperada pelo nome do seu pai “Anderson! Anderson! Levanta! Acorda!”, mas ele não respondia nada, somente o silêncio reinava ali. O tiroteio havia dado uma pausa, eu resolvi procurar pelo ladrão que estava agachado atrás da janela. Com meu arco, me levantei posicionei, armei a flecha e gritei:

- Babaca! Estou aqui olha! – Era tão burro que demorou a me achar – No telhado idiota! – Então ele olhou e bastou esta troca de olhares, de visões para eu acertar um tiro tão belo, no centro do alvo, um daqueles tiros que dariam o título de campeão a um atleta.

Mas então novamente ouvi aqueles gritos de desespero, de uma pessoa que chora incontrolavelmente e desci para verificar o que tinha acontecido. A cena não se verificava muito bem, isto é, havia sangue espalhado pelo chão daquela modesta e aconchegante casa, sangue de um homem que demonstrava boa índole e bons princípios. Tá, eu nem o conhecia direito, mas acho que todos no momento de sua morte, por piores que tenham sido, merecem sim, uma homenagem ou bons pensamentos.

Ana estava inconsolável e seu pai pronunciou aquelas que seriam suas últimas palavras:

- Lucas, console e cuide bem da minha filha – Pausou para tossir – E também, ajude-a a chegar ao acampamento, ela te dará mais detalhes da resistência. – Dessa vez colocando a mão no peito, devido à dor e ao esforço que fazia ao respirar – Ana, seja paciente, não fique muito nervosa nas horas em que você estiver prestes a morrer. A morte não é nada mais que apenas um estágio da vida do qual é inevitável recusar-se a passar. A humanidade é frágil e tenta sempre seguir a “lei do mais forte”. Mal sabe esta, que a lei natural, não é a do mais forte, mais a do mais caridoso, então procure ajudar aqueles que estão...

Silêncio. Não um simples silêncio, mas daqueles estridentes, que doem o ouvido e te fazem sentir a respiração pesar. Em seguida podia-se ouvir a quarteirões um grito, mais estridente que esse tal de “silêncio”.

A Ana chorou após gritar e então pegou a escopeta, carregou um tiro e tomada pela raiva se levantou. Eu tentei impedir, mas já não era tempo, ela havia gastado um tiro, para uma pessoa, para um final de resto de vida. Cruel? Não sei, não senti o mesmo que ela para entender. Vingança? Sim, com certeza, mas é uma pena que o vazio preenchia aquele coração logo após a morte de um ser humano que não merece carregar esse título.

Você provavelmente acha que eu e ela iríamos ficar juntos. Infeliz você que pensa que toda história apocalíptica com leves pinceladas de romance e paixão jovem é simples como aparenta. Ana era sim uma menina interessante. Mas a loucura se apossara de sua mente, esvaindo-se qualquer senso de sanidade:

- Lucas, vá embora! Vai e segue teu rumo! Não quero mais estar acompanhada de ninguém, vou caçar esses monstros e gastar toda a munição até morrer. Não pense em me impedir, se não, pode-se considerar inimigo. Não vou te falar sobre a resistência, muito menos sobre o acampamento, nesse mundo corações bons não estão a salvo.

- Mas...

“Nem mais uma palavra” disse ela me olhando de uma forma horrenda. Não era mais uma pessoa comum à minha frente. Com um olhar bem profundo de completa escuridão, ódio e raiva. Vingança pelo nada é isso que a loucura te torna, um vingador fútil.

É muito estranho, um grupo querer estuprar uma garota, matar um homem e terminar tudo assim, tão rápido e sem sentido. Eu estava julgando a ela de louca, mas se eu parasse pra pensar, quem sabe o louco ali não era eu?

Acho que raciocínio lógico não é uma característica de uma pessoa psicologicamente bem e preparada. Era uma guerra entre pessoas, raças... E a guerra te faz ficar insano e muitas vezes impiedoso. Não me venha com uma justificativa de que “Quem tem um bom controle mental não fica assim”. Será? E os grandes guerreiros após uma batalha de sangue de horrores, seria o mesmo sempre? Não nos influencia?

Era hora de seguir em frente. Fiquei ali observando aquela menina indo e vindo, cortando os corpos daquele bando com um facão de cozinha, parecendo uma máquina preparando os bois para o supermercado brasileiro. A Ana pegou uns sacos e jogou ali braços, pernas, mãos, dedos e até olhos. Foi até o portão cheio de encerebrados tentando entrar, e por cima do muro jogou os pedaços de carne humana pra que eles se alimentassem. Estranho, não? Eu tratei de recolher minhas coisas que estavam no telhado de uma casa da vila e aproveitando a distração daqueles monstros fui-me embora pra um lugar qualquer longe dali.

Melhor eu voltar para minha caminhada à floresta da Tijuca, pensei. Caminhei durante um tempo. E falando em tempo, havia coisas que no nosso cotidiano eram presentes que agora não são mais. O tempo. Segundos, minutos, horas, nada mais disso existia, porque o que parecem minutos podem ser horas, e às vezes horas podiam ser segundos. Só os dias tinham forma, mas eram muitos básicos, de noite o cansaço vinha e o sono batia. De manhã era o som dos encerebrados e dos passarinhos contrastando a natureza com o terror.

Após tanto andar e pensa, encontrei um posto de gasolina com tanques vazios, mas cheios de encerebrados por perto. O estranho era... Um deles acabara de acordar de súbito como se ele tivesse tomando vida agora. Já era de se saber que eles não dormiam, apenas queriam te comer e estraçalhar suas vísceras. Acertei este na testa e os outros nas outras áreas do rosto. Teve uma hora em que eu corri e enquanto isso eu mirei acertando bem na nunca de uma velinha que tinha apenas um dos braços. Limpei o lugar, coloquei os corpos num canto e recolhias flechas, pois estavam acabando.

O Posto tinha uma lojinha onde tudo estava remexido e jogado ao chão. Vidros de uísque e cachaça quebrados em suas prateleiras, chocolates comidos pela metade. Uma portinha estava aperta e lá tinha um encerebrado com um tiro na cabeça. O tirei dali, fechei a lojinha e arrumei o lugar pra eu passar a noite. Era bom confortável e seguro. Coloquei umas cadeiras na porta e comecei a limpar o local com umas vassouras que tinha atrás do balcão.

Eu já estava próximo da floresta e já até dava pra ver algumas de suas montanhas com nuvens e grandes árvores. Comecei a imaginar, como seria viver na floresta disputando espaço com esses monstros e com os animais. Primeiro procuraria construir uma casa na árvore para poder subir e ficar ali durante a noite. Depois eu iria camufla-la corretamente para que visitantes indesejados pudessem passar por ali sem perceber minha casa e em seguida procuraria tirar dali uns gravetos pra fazer minhas flechas de madeira, para eu caçar e me defender de algumas ameaças.

O incidente com a Ana não foi lá muito agradável e era hora de seguir em frente, virar a página para eu poder novamente me concentrar nos meus irmãozinhos, Gabriel e Beatriz. Não perderia a esperança de encontra-los, para cuidar deles e deixa-los seguros nesse mundo louco que necessitava atenção e vontade de sobreviver. Era minha missão concedida por não sei quem mais que minha própria consciência, aquela coisa que quando não se é comprida nos acarreta certo peso na consciência.

“-Vamos, hoje é dia das crianças, é hora de irmos ao parquinho com seus irmãos Maria! – Falou mamãe

- Bah... Mas eu quero ficar aqui jogando Slender mamãe, é tão legal.

- Filha! Larga desse troço do capeta e vem logo senão... - Começou papai “

Dormira. Sonhara com um dia das crianças que foi muito legal estar reunido com todos os que eu amava. Os encerebrados não haviam perdido tempo e já estavam na porta, um monte deles forçando a entrada...

Do lado de fora vinha um barulho... Parecia um... Helicóptero! Mas... Ele estava caindo e vinha em direção ao... 


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Notas finais do capítulo

Essa semana ainda tem mais dois capítulos!!! #PsychoANA