POV Lisa

Na verdade eu sabia que precisávamos conversar. Mas eu não queria. Estava com raiva. Não do Nicholas, e sim de mim. Eu pensei bastante antes de dormir, e concluí que não deveria me apegar tanto às pessoas. A culpa de todo esse sofrimento é minha. Se eu não tivesse me apegado tanto ao Nicholas eu não estaria sofrendo desse jeito, certo?

- Vamos conversar então! – eu disse e ele suspirou – Mas não aqui.

Me levantei da cadeira e seguimos na direção do mesmo lugar onde ele me deu aquela rosa. Acreditam que eu ainda a guardo? Seguimos em passos largos e fomos o caminho todo em silêncio. O lugar não era longe, só tínhamos que subir algumas escadas e pronto. Estávamos tendo a melhor vista possível do nosso bairro.

Sentamos em um dos bancos. Ventava muito lá em cima e isso fazia com que meu cabelo não parasse no lugar.

- Pode falar. – eu disse o encarando.

- Bem, - houve uma pausa – a Cat me contou que você recebeu aquela foto.

Eu só escutava. Quando ele falou da foto um nó se formou na minha garganta.

- Mas eu queria te dizer que aquilo tudo foi um tipo de farsa, de armação, sei lá.

- Armação? – eu ri sem humor – Eu vi a foto, Nicholas. Eu vi.

- Mas você mesma sabe. A Íris é uma cobra. Ela faria de tudo. Inventaria essa mentira toda só pra nos prejudicar.

- E você é muito lerdo e deixou ela lá te beijando, né? Me poupe. – me virei de costas pra ele.

- Claro que não. – ele pegou no meu ombro e me fez virar de novo. - Ela me pegou de surpresa. Foi tudo muito rápido, mas mesmo assim deu tempo de tirarem a foto. Você tem que acreditar em mim. – ele parecia desesperado.

- Eu não sei – minha voz era um sussurro. – Eu não sei mais no que acreditar. – abaixei a cabeça.

- Acredita em mim, por favor. – ele segurou minhas mãos e eu fiquei olhando pra elas.

- A minha vida está uma bagunça. E pra completar o meu ex-namorado apareceu na minha casa hoje. – olhei pra ele.

- Ex-namorado? Que conversa é essa? Você não me contou que tinha...

- Não achei necessário. Mas isso não importa.

- O que ele queria?

- Não sei, não conversamos direito. Mas ainda somos amigos, é natural que ele venha me visitar. – na verdade eu não achava tão natural assim.

- Okay. – ele parecia desconfiado - Mas eu vou descobrir o que a Íris quer. Só preciso de tempo. Não é possível que tenha sido coincidência ela lhe entregar aquela foto justo no dia que... – ele hesitou em terminar a frase.

- No dia que o que, Nicholas?

- No dia em que eu lhe pedir em namoro. – foi a vez dele sussurrar.

- Namoro? – minha voz se alterou.

- Sim Lisa, eu ia lhe pedir em namoro. Porque eu amo você, será que é difícil entender? – eu congelei. Ele me olhava com um olhar fixo.

- Eu... Eu... – não sabia o que dizer. – Eu não sei o que falar – senti algumas lágrimas teimosas caírem.

- Não precisa falar nada. – ele se aproximou devagar.

De repente seu rosto estava bem próximo do meu. Eu quase viajei dentro daqueles olhos verdes. Aqueles olhos que eu tanto amava. Não demorou muito e demos inicio a um beijo. Um beijo apaixonado que me fez estremecer. Ele segurou na minha cintura de modo firme, e eu entrelacei meus braços no seu pescoço. Já era a segunda vez que nos beijávamos naquele lugar. Fomos parando com calma, mas continuamos com as testas encostadas. Nos encaramos por um tempo e enfim ele se pronunciou.

- E então, quer ser minha namorada? – ele disse sorrindo.

- Sim! Claro que sim. – sussurrei e sorri. Nos beijamos novamente.

POV Catherine

Hoje o trabalho foi cansativo, saí mais tarde do que o normal. O trânsito estava fluindo bem, por isso não demorei de chegar. Guardei o carro na garagem e entrei. Não tinha ninguém em casa. Estranho. O Nicholas já deveria ter chegado.

Subi pro meu quarto, sentei na cama e tirei o celular da bolsa. Tinha varias ligações perdidas da Lisa. Ah Lisa! Coitada dela. Deve estar querendo desabafar mais uma vez. Retornei sua ligação. Ela atendeu no terceiro toque.

- Boa noite Lisa.

- Oi Cat, tudo bom? Nem tivemos tempo de conversar hoje. – ela parecia feliz.

- Pois é. Aconteceu algo com você? Tinha muitas chamadas suas perdidas.

- É que eu queria te contar uma coisa.

- O que foi? O Nicholas fez alguma coisa dessa vez? – eu fiquei preocupada.

- Na verdade sim. – esperei pelo pior.

- O que foi que ele fez?

- Ele me pediu em namoro.

- O QUE? – aquilo me surpreendeu - NAMORO? VOCÊS NÃO ESTAVAM BRIGADOS?

- Nós conversamos direito, daí ele me explicou aquela história toda e eu decidi dar um voto de confiança nele.

- E você disse o que?

- Eu disse que sim!

- Mas que reviravolta. Então quer dizer que agora você é minha cunhadinha, né? – nós rimos.

- Pois é. E a minha cunhadinha não quer vir aqui em casa hoje não?

- Hoje não. Eu vou assistir um documentário sobre moda no canal 62, e depois eu vou terminar de ler um livro.

- Não é sobre a minha vida não, né? Porque a minha vida está parecendo isso: um livro. – nós rimos.

Ficamos conversando por alguns minutos e depois eu desliguei. Que bom que aqueles dois se entenderam. Espero que a Íris se toque e deixe os dois em paz. Eu fiquei com dor na consciência por não ter confiado cem por cento no meu irmão. Devo desculpas a ele.

Desci as escadas e me deparei com a última pessoa que eu queria ver naquele momento. O Flack. Sentado no meu sofá e assistindo a minha televisão. O Nicholas nunca entendeu essa implicância que eu tenho com o seu amiguinho. Mas a verdade é que ele é irritante. Ele tem esse ar de superior e filhinho de papai que me deixa com os nervos a flor da pele.

- O que você está fazendo aqui? E cadê o Nick? – eu disse sem a menor paciência.

- Calma aí. O Nick tá na cozinha. E eu estou assistindo TV. – ele estava com o controle remoto na mão.

- Eu sei que você está assistindo TV.

- Então pra que perguntou? – ele me olhou com desdém. – E dá licença que você está atrapalhando a minha visão. – mas que folgado.

- Olha aqui seu...

- Oi Catherine – o Nicholas apareceu na sala – Não sabia que você tinha chegado.

- Eu estava no quarto. – eu olhei pro Flack. – Mas já estou voltando pra lá de novo.

- Fica aí, nós vamos assistir a um filme muito maneiro. – foi a vez do Flack falar.

- Idiota! – ele riu enquanto eu subia as escadas.

Como esse garoto é insuportável.