A Mensagem Do Mestre escrita por Roberto Machado


Capítulo 5
Capítulo 4 - O cemitério-sem-túmulos




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C

Capítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

D

uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo:

            –Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

            –Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

            –Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

            –Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

            Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

            Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.          

            –Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

            –Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

            –Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

            –Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

            –Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

            –Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

            –Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

            Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

            –Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

            Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas.

            Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

            –Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

            –Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

            –Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

            Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

            –Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

            Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

            –O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

            Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

            Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

            Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

            Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

            –Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

            –Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

            Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

            Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

            –Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

            –Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

            –Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

            –Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

            Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

            –Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

            Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

            Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

            –Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

            Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

            –Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

            Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

            –O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

            Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

            Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

            –Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

            Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

            –O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

            –Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

            –Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

            Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

            Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

            –N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

            –O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

            Duncan não esbanjou nenhuma reação.

            –Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

            –E qual é?! Perguntou Dhastan.

            Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

            –O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

            Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

            –Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia.

            –Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

            Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

            –Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

            Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

            –Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

            Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

            –Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

            Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

            –Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

            Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

            –Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

            Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

            –Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

            –Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava.

            –Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Duncan. – Eu lamento queCapítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

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uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo:

            –Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

            –Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

            –Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

            –Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

            Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

            Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.          

            –Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

            –Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

            –Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

            –Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

            –Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

            –Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

            –Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

            Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

            –Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

            Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas.

            Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

            –Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

            –Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

            –Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

            Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

            –Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

            Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

            –O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

            Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

            Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

            Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

            Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

            –Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

            –Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

            Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

            Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

            –Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

            –Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

            –Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

            –Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

            Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

            –Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

            Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

            Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

            –Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

            Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

            –Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

            Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

            –O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

            Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

            Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

            –Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

            Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

            –O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

            –Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

            –Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

            Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

            Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

            –N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

            –O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

            Duncan não esbanjou nenhuma reação.

            –Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

            –E qual é?! Perguntou Dhastan.

            Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

            –O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

            Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

            –Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia.

            –Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

            Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

            –Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

            Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

            –Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

            Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

            –Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

            Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

            –Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

            Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

            –Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

            Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

            –Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

            –Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava.

            –Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Du

Capítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

D

uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo:

            –Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

            –Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

            –Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

            –Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

            Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

            Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.          

            –Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

            –Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

            –Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

            –Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

            –Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

            –Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

            –Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

            Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

            –Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

            Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas.

            Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

            –Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

            –Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

            –Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

            Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

            –Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

            Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

            –O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

            Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

            Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

            Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

            Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

            –Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

            –Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

            Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

            Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

            –Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

            –Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

            –Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

            –Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

            Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

            –Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

            Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

            Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

            –Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

            Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

            –Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

            Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

            –O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

            Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

            Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

            –Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

            Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

            –O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

            –Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

            –Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

            Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

            Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

            –N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

            –O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

            Duncan não esbanjou nenhuma reação.

            –Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

            –E qual é?! Perguntou Dhastan.

            Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

            –O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

            Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

            –Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia.

            –Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

            Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

            –Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

            Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

            –Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

            Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

            –Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

            Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

            –Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

            Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

            –Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

            Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

            –Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

            –Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava.

            –Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Duncan. – Eu lamento queCapítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

D

uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo:

            –Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

            –Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

            –Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

            –Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

            Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

            Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.          

            –Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

            –Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

            –Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

            –Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

            –Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

            –Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

            –Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

            Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

            –Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

            Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas.

            Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

            –Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

            –Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

            –Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

            Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

            –Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

            Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

            –O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

            Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

            Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

            Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

            Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

            –Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

            –Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

            Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

            Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

            –Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

            –Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

            –Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

            –Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

            Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

            –Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

            Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

            Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

            –Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

            Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

            –Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

            Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

            –O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

            Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

            Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

            –Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

            Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

            –O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

            –Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

            –Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

            Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

            Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

            –N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

            –O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

            Duncan não esbanjou nenhuma reação.

            –Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

            –E qual é?! Perguntou Dhastan.

            Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

            –O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

            Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

            –Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia.

            –Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

            Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

            –Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

            Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

            –Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

            Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

            –Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

            Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

            –Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

            Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

            –Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

            Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

            –Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

            –Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava.

            –Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Duncan. – Eu lamento que seja de mim que você vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.

 seja de mim que você vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.

                

ncan. – Eu lamento que seja de mim que vocasevfklahegvfaevc,ajê vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.

  seja de mim que você vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.

                

apítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

D

uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo: 

    –Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

    –Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

    –Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

    –Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

    Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

    Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.    

    –Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

    –Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

    –Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

    –Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

    –Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

    –Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

    –Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

    Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

    –Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

    Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas. 

    Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

    –Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

    –Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

    –Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

    Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

    –Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

    Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

    –O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

    Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

    Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

    Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

    Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

    –Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

    –Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

    Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

    Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

    –Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

    –Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

    –Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

    –Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

    Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

    –Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

    Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

    Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

    –Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

    Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

    –Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

    Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

    –O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

    Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

    Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

    –Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

    Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

    –O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

    –Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

    –Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

    Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

    Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

    –N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

    –O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

    Duncan não esbanjou nenhuma reação.

    –Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

    –E qual é?! Perguntou Dhastan.

    Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

    –O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

    Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

    –Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia. 

    –Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

    Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

    –Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

    Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

    –Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

    Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

    –Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

    Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

    –Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

    Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

    –Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

    Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

    –Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

    –Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava. 

    –Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Duncan. – Eu lamento que seja de mim que você vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.

Capítulo Quatro

O Cemitério-sem-túmulos.

D

uncan explicou que não era preciso se preocupar, ele disse que a cidade de Eldora tinha guardas enviados pelo magistério dispostos a proteger seus habitantes, mas os mesmos, diferente da cidade de Modnar, não cobravam impostos nem nada do tipo: 

–Não cobram? Que idiotice! – Dhastan exclamou enquanto olhava as casas ao redor. – Então que tipo de lucro eles teriam nisso?

–Não é uma questão de lucro nanico! –Duncan argumentou. – Bem, simplificando, há séculos atrás, esse espaço era um campo de batalha entre bandidos e bestas vermelhas que se deparavam umas com as outras. Muitos corpos estavam espalhados pelo chão, por isso este lugar ficou conhecido como o “cemitério sem túmulos”, pois os corpos ficavam amontoados um em cima dos outros.

–Cemitério sem túmulos? – Dhastan repetiu. – Isso não é meio exagerado?

–Na verdade não. Pelo que dizem os rumores, os corpos dos mortos fediam tanto que alguém que passasse em uma rota paralela a quilômetros de distância poderia sentir seu odor.

Dhastan tentava imaginar como era a antiga Eldora antes, mas como nunca havia visto uma pessoa morta, nada vinha a sua mente.

Já Duncan poderia ter certa noção de como seria o lugar, “Naquela casa, teriam... corpos... naquele restaurante, mais corpos... Naquela praça adiante, onde as crianças brincam e correm contentes... mais corpos... ” Duncan imaginava apontando para os respectivos lugares.

–Para por um fim nisso, um dos soldados de maior patente do magistério iniciou um ataque para dominar este pedaço de terra, seu nome era Legos Eldora! – Explicou Duncan viajando ao passado. – O ataque foi composto por várias das melhores tropas que o magistério pode pagar, e a batalha de dominação durou pouco mais de um mês, expulsando todos os bandidos e bestas vermelhas que usavam este lugar como campo de batalha, sem falar de todos os corpos que os homens do magistério teriam de remover dali.

–Um mês? – Dhastan estranhou, pois achava que aquele período de tempo era muito pouco para dominar uma grande cidade como Eldora era.

–Eu também, estranhei muito quanto meu mestre Ichiibar me disse. – Duncan revelou. – Mas você também só estranhou por que não conhece o verdadeiro poder do magistério, assim como eu também não conhecia.

–Mas então, esse cara que você citou... Legos, certo? Ele conseguiu conquistar a atual Eldora?  – Cortou Dhastan enquanto caminhava.

–Ah? Sim, ele conseguiu. Contudo, depois de algum tempo, um grupo de soldados dentro do magistério armou um golpe de estado com o intuito de matar Legos, visando o controle da operação.

–Ué? Eles... queriam, matar... o chefe deles? – Dhastan retrucou por que ainda não entendia o motivo daquilo.

–Exatamente! Esse pequeno grupo queria matar o chefe da operação para poder ter essas terras registradas em seus nomes! – Duncan explicou, até Dhastan perguntar se eles haviam obtido sucesso, o mesmo teve de concordar. – Sim, Legos foi morto, mas o grupo rebelde não pode ir muito mais longe e acabou derrotado pelos outros guardas do magistério que ainda eram leais ao representante original da operação.

Dhastan mostrou felicidade com uma expressão do tipo, “bem feito para eles!”, e finalmente seu mestre Duncan explicou que o lote de terras teve esse nome em homenagem ao falecido Legos:

–Como o administrador original das terras foi assassinado naquele dia, os homens do magistério não podem cobrar impostos ou pedágios de uma terra que não é deles. – Duncan explicou. – Mesmo assim, o magistério manda homens para proteger as suas terras originais.

Dhastan gesticulava com a cabeça durante toda a explicação de seu mestre, para mostrar que entendia tudo aquilo que era dito. No geral ele prestava atenção quando o assunto era relativo a lutas e batalhas. 

Em determinado momento ambos viraram em uma rua paralela cujo qual dava de fundos para um restaurante de comidas exóticas, onde a qual um dos cozinheiros dava um saco cheio de restos de comida dos clientes par um mendigo que esperava ansiosamente pelo homem. Dhastan era meio novo, mas não demonstrou nenhum sentimentalismo ao ver a cena.

–Mestre... Esta cidade tem muitos mendigos não é? Como Eldora tem guardas em seus portões os protegendo, e ao mesmo tempo não pede taxa aos cidadãos. Muitos mendigos vêm tentar sobreviver aqui.

–Você entendeu bem! – Duncan o admirou, pressupondo que Dhastan, mesmo para a idade dele tinha um intelecto um quanto tanto inabalável. – Até que você não é tão pateta como eu pensava...

–Eu não sou... – Dhastan tentou revidar ao que Duncan havia dito, mas antes que pudesse terminar a frase ele havia percebido que haviam chegado a um lugar especial.

Dhastan e Duncan estavam numa área aberta onde havia várias lojas de venda de equipamento para batalha, poções, e até bancas com homens gritando as noticias do jornal. Dhastan anunciou que ambos haviam chegado a praça central de Eldora, onde vários comerciantes independentes vão com o objetivo de tentar ganhar a vida, vendendo das mais preciosas raridades, até o maior lixo que pode ser encontrado. Depois de muito tempo sem ser ir naquele recinto, Dhastan havia percebido que Eldora é uma espécie de cidade do comércio:

–Faz muito tempo que não venho aqui! – Dhastan afirmou boquiaberto, ao ver a quantidade de pessoas que perambulavam para cá e para lá.

Olhando ao longe, Duncan perguntou onde morava madame Neustâcia. Depois de alguns segundos procurando, Dhastan apontou para uma direção oposta a qual Duncan procurava, quando ele se virou e observou a direção que ele apontava não viu uma casa de verdade, nem uma loja como as outras da praça, e sim uma tenda coberta de panos roxos e brancos.

–O quê? É ali? – Duncan perguntou sobre a cabana com uma expressão pior do que havia feito na estalagem. – Não vai me dizer que essa Neustâcia que o meu mestre teve um “caso” é uma mendiga?

Dhastan passou a frente em direção a cabana, dizendo que na verdade Neustâcia é apenas uma velha vidente, que atendia os homens e mulheres que passavam por ali fazendo previsões deles para o futuro.

Eles estavam na frente da tenda, Dhastan entrou logo sem pensar duas vezes, mas Duncan olhou um pouco para a cabana antes de entrar. No topo do local de trabalho de Madame Neustâcia, havia uma pedra redonda, e nela esculpida, o desenho de um grande globo ocular, “Um tanto quanto macabro...” Pensou Duncan.  E embaixo uma plaquinha de madeira, anunciando Neustâcia como a maior vidente da região - Não que houvesse muitas-.

Quando Duncan entrou, viu Dhastan abraçando uma mulher, já idosa com seus cabelos brancos e grisalhos amarrados em cachinhos por um pedaço de madeira. Vestia de uma longa túnica roxa e florida, ela tinha vários anéis em cada um dos dedos. A senhora estava atrás de uma pequena mesa redonda que segurava um prato com vários incensos acesos de cheiros diferentes, o que desagradava Duncan que entrara na cabana pela primeira vez. A mulher era a vidente Madame Neustâcia.

Dhastan voltou ao lado de Duncan que permanecera parado em dentro da cabana sem falar nada.

–Oh, querido... como você cresceu! –Exclamou Neustâcia se referindo a Dhastan. – Achei que nunca mais iria te ver de novo.

–Bem, sabe como é... Eu tenho tido muito trabalho na estalagem... – Dhastan se desculpou.

Neustâcia resmungou algo sobre a mãe de Dhastan, que ela o forçava demais ao trabalho, e isso não era coisa de gente normal, logo Dhastan a interrompeu dizendo que não era culpa dela, e que ele a ajudava nas tarefas domésticas por vontade própria.

Até que em algum momento, Neustâcia finalmente percebeu a presença de Duncan:

–Ora, o quê temos aqui? Esse rapaz forte esta te acompanhando, Dhastan? – Neustâcia jogou a pergunta no ar.

–Sim, esse é o meu mestre: Duncan! – Dhastan disse distraído enquanto apresentava Neustâcia para ele.

–Muito pr...  – Duncan tentou se apresentar quando madame Neustâcia o cortou rudemente.

–Hum... Eu já conheci alguém com sua presença... Você tem uma aura muito familiar garoto... – Disse Madame Neustâcia com tom de dúvida, enquanto rodeava Duncan olhando-o de cima a baixo.

Duncan estava calmo, por alguns instantes continuou encarando Neustâcia analisando todas as suas rugas e pelancas, “Ichiibar teve um caso com ela?” pensou ele com cara de nojo só de pensar, até que ele finalmente foi convidado para se aproximar mais...

–Eu sou uma grande vidente! –Ela afirmou voltando para de trás de sua mesa. – Venha cá rapaz, e deixe me ver seu futuro.

Duncan prosseguiu até a mesa de madame Neustâcia, observando alguns quadros de corujas e outros animais representados de maneira bizarra em molduras e desenhos presos nos cantos das tendas. Dhastan continuou atrás, observando seu mestre se sentar.

Enquanto Duncan se sentava, Neustâcia pegou um baralho de cartas místicas que escondia em uma pequena estante ao lado de sua mesa. Ela espalhou as cartas em sua mesa, fazendo oito fileiras de cinco cartas - logo, eram quarenta cartas no baralho-.

–Você pode pegar três cartas, uma de cada vez... – Disse Neustâcia calmamente. – Eu vou descobrir quem você é, e quem vai ser de acordo com o resultado das cartas de sua escolha.

Dhastan dava pulinhos para tentar olhar quais cartas Duncan pegaria, Neustâcia esperou por alguns segundos, até que Duncan escolheu sua primeira carta, ela estava no fundo da última fileira, era uma carta que quase não chamava a atenção de nenhum dos outros dois na sala.

–Esta aqui! – Duncan entregou a carta para Neustâcia sem ver o desenho dela.

Neustâcia a virou, e identificou a carta que Duncan havia escolhido.

–O rei! – Neustâcia revelou, mostrando o desenho para Duncan. – Um homem de personalidade forte, decidida. Assim como você quer proteger as pessoas que ama, o rei quer proteger todos os seus súditos das ameaças deste mundo.

Ao ouvir isso, Dhastan virou a cabeça para os lados tentando ver o desenho da carta, era de uma coroa encrustada de brilhantes.

Duncan ficou feliz pelo resultado, é bom ser comparado a um rei.

–Vamos pegue mais uma! – Insistiu Neustâcia. – Você tem que pegar três cartas para que eu possa ter certeza de quem você é. – Ela repetiu.

Duncan seguiu conforme as ordens de Neustâcia e pegou uma das cartas da segunda fileira, e entregou para Neustâcia ainda sem ver o desenho que ela guardava,

–O líder! – Mostrou Neustâcia, a foto de um cavaleiro de armadura reluzente. – O líder está por sei em uma grande aventura, tomando suas próprias decisões a respeito de sua jornada.

–Nossa... “Um rei”, e “Um líder”... Acho que estou melhor do que eu pensava. – Duncan riu.

–Não seja por isso! não venha se gabar até pegar a última carta. – Resmungou Neustâcia, o mandando pegar a última carta.

Duncan esperou um pouco, e decidiu pegar a carta que estava no meio, da fileira do meio. Entregou para Neustâcia e aguardou um resultado final de sua vidência.

Contudo, Neustâcia não havia dado uma resposta direto assim como havia feito nas vezes anteriores, e a guardou consigo uma face de dúvida, mantendo uma expressão de suspense:

–N-Não... N-Não pode ser... – Ela gaguejou olhando para a carta como se fosse as entranhas de um pinguim Ardiano.

–O que foi Dona Neustâcia? – Perguntou Dhastan que estava um pouco atrás da mesa.

Duncan não esbanjou nenhuma reação.

–Essa carta.... a muito tempo ninguém vê esta carta. – Ela disse.

–E qual é?! Perguntou Dhastan.

Neustâcia revelou o desenho da carta que ela segurava, era de uma criança nua, com um par de asas de anjo abertas sobre suas costas.

–O criado negro! – Madame Neustâcia revelou. – Somente aquele que conhece a dor de verdade pode escolher esta carta, aquele que escolhe teve um passado mais sombrio do que qualquer um possa imaginar.

Dhastan afastou-se um pouco mais de Duncan, e por pouco não saiu da cabana.

–Contudo, os astros dizem que aquele que escolhe esta carta está predestinado a enfrentar um futuro muito pior que seu passado! – Completou Madame Neustâcia. 

–Bem... já se escolhi três cartas conforme suas ordens... – Disse Duncan calmamente. – Você já descobriu quem eu sou?

Neustâcia arrumou rapidamente todas as cartas de volta em seu baralho, deixando apenas as que Duncan havia escolhido:

–Há muitos anos ninguém escolhe o criado negro, o último homem que o escolheu foi meu amado por muito, muito tempo. – Indagou a velha Madame Neustâcia voltando seus olhos para Duncan – Então... meu palpite estava certo... Eu esperei por alguém como você por muito tempo... Aprendiz de Ichiibar!

Finalmente Neustâcia havia descoberto a identidade de Duncan, Dhastan -que nunca havia visto Neustâcia trabalhar com sua vidência- ficou boquiaberto ao ver aquilo, enquanto Duncan exibia um sorriso humilde por ter participado da experiência.

–Foi muita sorte eu ter encontrado com Dhastan, foi a família dele que me mandou aqui... – Explicou Duncan. – Eu só não sei o porquê ainda.

Dhastan desviou o olhar do Neustâcia, e explicou sobre o que havia acontecido no vale dos pinheiros, há quatro dias atrás.

–Vocês foram pegos pelos porros do sono? – Neustâcia não se aguentou e deu uma gargalhada assustadora. – O quê é isso? Alguém que se diga aluno de Ichiibar deveria estar ciente dos perigos deste mundo!

Duncan e Dhastan observaram Neustâcia dar berros e gargalhadas a ponto de quase cair para trás...

–Ai... Ai... Falando nisso... Onde ele está? –Ela perguntou enxugando os olhos de tanto que ria. – Onde está meu amado Ichiibar?

Dhastan havia se tocado que desde que se conheceram, Dhastan e Duncan haviam conversado bastante sobre Ichiibar, mas Duncan nunca havia revelado a localização do seu mestre.

–Olha só... foi só agora que eu reparei mas... mesmo quando os clientes da minha mãe te cercaram lá na estalagem perguntando sobre Ichiibar, você não falou uma palavra sobre ele... – Dhastan indagou.

Duncan ficou calado por alguns segundos, e Neustâcia o encarava esperando uma resposta.

–Eu acho que não tem jeito... – Duncan disse com temor. – Uma hora você vai acabar sabendo não é mesmo? Você o ama não é, como vou esconder isso de você?

–Para de drama, só me fala onde ele está!  – Neustâcia estava sem paciência. – Considere-se sortudo por ter tido uma consulta gratuita com a grande madame Neustâcia! – Ela se vangloriava. 

–Eu não gosto de ser aluno de Ichiibar, pois muitas vezes ele me mandava fazer as tarefas mais difíceis, para que pudesse tirar a maior parte do tempo comendo ou dormindo, parece que nada mudou depois de... – Disse Duncan. – Eu lamento que seja de mim que você vai ouvir isso Neustâcia... mas... Ichiibar está morto.


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