Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 9
Livro 1 :: Destino - Ato 1


Notas iniciais do capítulo

Uma ano se passa desde que se reencontraram em Gêmeos.'Dualidade' é quando as transformações acontecem, são quando segredos do passado pouco a pouco ganham forma e alimentam desejos antes tão reclusos. Porém, 'Dualidade' também são os caminhos a serem seguidos, as escolhas a serem feitas, mas uma única chance. Ainda que tenhamos conhecimento da história, sempre existe a esperança dela não acontecer.



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Um fim de manhã já bem quente. O sol castigava a região arenosa em que as montanhas impediam a maior transição dos ventos que pudesse arejar aquela área tomada de ruínas com tantas histórias. Os turistas visitavam o lugar, tiravam fotografias, transitavam por toda a área sem imaginar o que acontecia alguns quilômetros adiante: jovens em árduos treinamentos visando um dia conquistar sua sagrada armadura e sagrar-se um cavaleiro da deusa Athena — que ainda não havia nascido.

Pela matemática do tempo, isso poderia acontecer a qualquer instante. Até seu nascimento no mundo dos homens, todos se preparavam para recebê-la e buscando ser o melhor... e não era diferente com aqueles dois.

Mesmo cercado de ruínas e tantas regiões arenosas e montanhosas, existiam ainda alguns vales envolta do Santuário — no Jardim dos Mortos e a caminho de Rodório que permitia acesso à Star Hill e à Fonte de Athena, estes dois bem mais distantes do centro do Santuário.

O Campo das Amazonas também era uma área arborizada, mas também com um grande campo aberto para os treinos e sempre muito bem utilizado. Havia jovens das mais diferentes idades e origens, mas todas se tornavam iguais pelas máscaras que cobriam seus rostos. Mesmo somente entre mulheres, a máscara era uma obrigação, jamais devendo ser removida. Selene vestira sua no momento que chegou ali no Santuário acompanhado de Arles e Mu, jurado na lei das Amazonas.

Eu, Selene, abandono aqui meu papel de mulher,
tornando-se agora uma serva leal à Athena,
a deusa da Guerra Estratégica e da Sabedoria.
Juro seguir a Lei da Máscara, aceitando toda
e qualquer punição da violação do código
firmado pelas Amazonas de Athena.

Cada Amazona e aspirante tinha sua máscara, uma singular para cada que tornaram suas identidades. A remoção da máscara era motivo de 'vergonha', quase como se tivesse sido exposta nua, e algo condenável ao código das Amazonas instituída na antiguidade, nas primeiras Guerras Santas.

A máscara era um meio das                                     se igualarem aos homens no campo de batalha, uma vez que homens tinham a regra de jamais ferir uma mulher. A máscara era, acima de tudo, um símbolo de renúncia à sua feminilidade e representava uma nova vida como uma guerreira de Athena.  Dentre as Amazonas, a remoção representaria amor ou ódio aquele que viu seu rosto, e em ambos os casos a destruição da Amazona.

No primeiro momento havia o estranhamento. Afinal, como reconhecer as expressões de alguém mascarado? Selene descobriria isso de maneira rotineira, reconhecendo por ações e gestos os sentimentos de alegria ao descontentamento, e isso também era reconhecido pelos jovens aspirantes do sexo masculino que, algumas vezes, compartilhavam de um mesmo campo de treinamento no anfiteatro. Se a vergonha antes era por vagar mascarada pelos corredores e pátios, logo se tornaria um hábito comum de um estranhamento que pareceu jamais existir.

Não havia exceções para a remoção da máscara, mas para Selene houve uma única vez, mas jamais a removeu por completo. Havia sim o desejo, mas ela não poderia passar por cima do código. Olhando a máscara sobre a mesa rústica de madeira, tivera uma pequena vontade de 'esquecê-la' ali, mas havia se tornado algo tão habitual que era impossível esquecer! Vestiu a máscara, apanhou a cesta que arrumara com duas pequenas trouxas, apanhou os cantis de água e saiu, desaparecendo antes mesmo de atravessar a porta.

───────.∰.───────

O impulso do salto foi alto, mas por pouco não foi atingido por um chute de seu adversário no rosto se não tivesse bloqueado com os braços. A sua sorte foi poder apoiar-se no tronco de uma árvore e 'empurrá-la' para alcançar as suas costas e tentar um golpe, mas errou por pouco. O seu adversário abaixou-se afastando as pernas, flexionando uma e esticando a outra enquanto apoiava as duas mãos no chão. Este, aproveitando-se daquela abertura pelo golpe, levantou o corpo e girou para golpear seu oponente mantendo as mãos no chão.

O intento de atingi-lo foi conquistado fazendo-o rodar e cuspir sangue. Colocou-se de pé com um impulso das mãos e ambos ficaram a se encarar — um deles com a boca suja de sangue. Um vento soprou esvoaçando os longos cabelos daqueles dois, deixando à mostra os rostos de expressões duras e belas que traziam leves marcas daquele treinamento de toda a manhã.

— Está dando abertura demais para o inimigo e isso pode ser um grande erro, Kanon. — comentou Saga um tanto ofegante. Transpirava, com o cabelo colando no rosto. Mantinha a posição de ataque e esperando uma ação qualquer de seu irmão que ria com aquela situação. — Tem relaxado demais com os treinamentos.

— Não começa, Saga! — respondeu Kanon com um sorriso de canto, olhar malicioso para o irmão enquanto limpava o canto da boca por conta do golpe que recebeu. Também estava arfando, suado em demasia, e a blusa que vestia denotava isso com mancha abaixo das axilas e pouco cima do peito. Tentou prender os cabelos, mas estes se soltavam e voavam com o vento. — Apenas já estou cansado! Treinamento a manhã inteira. Estou com sede e fome. Eu não sou uma máquina! Até você está cansado, mas nunca quer admitir porque é o 'Senhor Perfeição'! — comentou com sarcasmo, desfazendo a posição de luta e deixando notório a irritação em sua voz.

— Pff! Não tente justificar seus erros, Kanon. Tem faltado os treinamentos a semana toda ou enrolado sempre que pode, e quando aparece está sempre com pressa. Está sempre fugindo das responsabilidades! — Saga desfez a posição de luta e deu uns passos à frente e olhando incisivo para o irmão que cruzava os braços, desviando o olhar para os lados. — Será que nunca vai entender e objetivo de tudo isso? — Saga bufava enquanto abria os braços, curvando o corpo para frente e apoiando nas pernas.

— Acabou com esse seu discurso? Mas, tudo bem... — Kanon relaxou os braços e se posicionou novamente, deixando seu cosmo emanar naquele momento, chamando a atenção de Saga que se colocou novamente ereto e olhando-o sério para saber seu intento. — Vamos ousar pouco mais, o que acha? Não diz que estou relaxando? Pois vamos treinar de verdade, Saga... Como dois futuros cavaleiros.

Saga nada disse, apenas o observava de maneira incisiva e se colocando em posição de luta. Arregalou os olhos quando Kanon avançou sobre ele numa velocidade surpreendentemente rápida para golpeá-lo, sendo preciso usar os dois braços para fazer o bloqueio e esquivar-se.

Saga também ascendeu seu cosmo e aumentara seu movimento para golpear o irmão que se esquivou, girando o corpo para bloqueá-lo com o joelho e mais uma vez bloqueado com os punhos de Saga que subiram para acertar seu rosto, mas também bloqueado por Kanon com seu braço direito. O choque entre os dois era surpreendentemente forte, sentido a metros de distância.

Quando surgiu no campo, os pés de Selene tocaram suavemente o chão, sentindo aquele choque de cosmo. Porém, aquilo não a assustou, apenas a fez suspirar e levar a mão à fronte enquanto maneava negativamente. "Será que nunca aprendem!? Já estão brigando de novo?", pensou enquanto caminhava rápido até à clareira e assistindo ao movimento de ambos. Qualquer um que chegasse ali se surpreenderia, pois eram movimento além do que um humano normal seria capaz de executar.

Num dado momento, Selene precisou criar uma espécie de escudo por conta dos golpes que se chocaram. Por ter sido algo surpresa, não conteve o grito e soltando a sexta no chão. Somente aquilo fez os dois pararem e olhá-la, encarando-se e desvencilhando-se por estarem segurando o punho do outro. Por um instante, uma trégua.

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— Já não era sem tempo... Estava faminto! — comentou Kanon recebendo seu prato enrolado de Selene.

— Não seja inconveniente, Kanon. Ela não tem obrigação nenhuma de trazer comida. — disse Saga, ainda irritado com a atitude do irmão quando recebeu o prato de Selene e se calando. A mão dos dois se tocaram suavemente, receosos, ambos trocando olhares, mas desviando segundos depois.

— Ah, não é nada! — respondeu ela com tom de riso contido. Eu sei que treinam aqui. Atrasei hoje porque meu treinamento exigiu demais e fui a Rodório. Também trouxe água pra vocês. — disse entregando os cantis e sentando-se num tronco mais afastado enquanto assistia aos dois comerem. Kanon se surpreendeu pelo cozido. — Espero que goste! Mais uma razão para demorar.

— Essa carne, Selene... — dizia Saga quando já foi interrompido por Kanon que comentava o quão bom estava. — Selene, você não roubou isso, não é?

— Não ligue, Selene. O Saga hoje está mais chato que o de costume. Está irritante! — Kanon meteu a colher na boca, apreciando o cozido.

Selene apenas quebrou a cabeça para o lado, rindo de modo contido e garantido que não havia roubado nada, mas caçado em seu treinamento naquela manhã. Sabia o que Saga pensava disso, lembrando de quando roubou aquele pão na vila enquanto ele e o irmão brigavam naquele beco.

Desde que se reencontraram em Gêmeos há dois anos, passaram muitas tardes juntos relembrando aqueles tempos. Foram poucas semanas, mas o suficiente para reunir histórias até que foram separados naquela fatídica noite na ponte da qual já visitaram numa das festas no vilarejo.

Ninguém tinha conhecimento da relação daqueles três, mas não porque queriam manter aquilo às escondidas, apenas não queriam gerar comentários maldosos que muito acontecia — afinal, relacionamento entre amazonas e cavaleiros era expressamente proibido.

Aquele campo onde treinavam era dentro dos limites do Santuários, mas bem afastado dos centros de treinamentos existentes e num ponto mais elevado, oferecendo uma vista fantástica para os templos zodiacais e da deusa Athena. Era o local preferido para treinarem, algumas vezes com ela própria.

— Poderia... qualquer dia... comer com a gente, Selene. Eu não ligaria. — comentou Kanon acabando de engolir uma colherada e abrindo o cantil para um longo gole. Selene o fitara, mostrando-se desconcertada, contraindo os dedos sobre os joelhos. — Ah vai, uma vez, não dará em nada!

— Você conhece o código das Amazonas, Kanon. Ela não pode remover a máscara! — respondeu Saga imediatamente baixando a colher  e fitando o irmão de maneira incisiva e tom repreensão. — Por que ainda insiste com isso?

Selene suspirou. Mais uma vez iam iniciar uma discussão, alternando seu olhar entre os dois irmãos, chamando por eles em vão.

— Regra mais idiota! Somos nós dois, Saga, ela nos conhece bem antes daqui. Não vejo onde há problema nisso. — replicou Kanon em imediato às palavras do irmão, e antes que Saga pudesse responder novamente, Kanon se levantou de maneira abrupta, quase que jogando a vasilha sobre Selene que estacionou o objeto no ar e deixando pousar calmamente em seu colo.

Saga até mesmo se levantou reafirmando da regra que Kanon insistia quebrar desde o tempo de Sólon, seu antigo mestre e Cavaleiro de Gêmeos. Os dois irmãos passaram a se encarar por aqueles breves segundos. Selene viu quando Kanon fechou os punhos e virou as costas bufando. A garota nem percebeu que já estava de pé olhando os dois naquele estado tão tenso.

— Já chega desses discursos por hoje, Saga. Não estou com paciência! — dizia caminhando em direção de Selene, ficando às suas costas, segurando em sua cintura. A garota se assustou com aquilo, sentindo seu rosto queimar naquele instante por baixo da máscara. — Obrigado pelo almoço, Selene. Estava... delicioso! — e a beijava no rosto, sobre a máscara e sorri em direção do irmão e se afasta, dando risinhos abafados.

Saga assistia aquilo, fechando fortemente seus punhos, deixando um cosmo emanar sorrateiramente, mas te conteve, quebrando apenas a colher que usava e virando o olhar para o lado. Aquela reação do mais velho não foi percebido pela garota porque havia se virado em direção de Kanon e vendo-o partir, sumindo conforme descia o monte.

Voltou sua atenção ao Saga somente quando ouviu passos dele na grama e sobre as folhas secas das árvores, olhando em direção do Santuário. O seu prato estava pela metade, deixado sobre o tronco da qual estava sentado antes enquanto comia.

— Saga? Ahn, e-eu... Desculpe! — disse Selene tentando se desculpar, mas pelo que? Ela não havia entendido nada do que aconteceu naquele momento.

— Não tem o porquê de se desculpar. Não tem nada a ver com isso. — respondeu ele ainda de costas, de modo bem ríspido, de braços cruzados, olhar fechado e expressão séria enquanto seus longos cabelos esvoaçavam com a brisa. — Kanon sempre foi um irresponsável e acha que todos são como ele.

— Ele não falou aquilo por mal e eu... bem, ele sempre fica jogando comigo sobre a máscara. Eu não ligo, Saga... — mentiu ela. — Ele apenas brinca com isso, querendo te irritar. Não leve ele à sério...

— Por que está sempre tentando justificar as atitudes dele, Selene? — indagou Saga cortando-a abruptamente, olhando-a de modo incisivo por cima dos ombros. Aquele olhar fez Selene recuar um passo surpresa, engolindo a seco. — Não é a primeira vez que faz isso. Está sempre acobertando as ações dele!

— Sa-Saga... Eu... e-eu...

— Eu sei o que ocupa tanto o tempo do Kanon. O que ele vai fazer no Campo das Amazonas, Selene? Diga-me, o quê!? —  Saga estava quase em frente a Selene, percebendo a garota encolhida, um tanto surpresa por aquela atitude do irmão mais velho que percebeu o que fazia. Não era preciso ver o rosto de Selene para perceber que ela estava assustada com aquele seu comportamento. Nem mesmo Saga percebeu sua atitude. "Droga!", pensou ele naquele momento. — Selene, desculpe. E-eu... Eu fiquei nervoso...

Ele recuou alguns passos, levando a mão à fronte e a outra na altura do quadril. De fato, o clima havia ficado bem tenso e Saga sentiu o sangue ferver há poucos minutos. Sentiu um toque das mãos quentes de Selene em seu braço e ela estendendo o cantil de água, pedindo para que bebesse. Ele tomou o cantil, olhando para ela.

— Tudo bem, não fique assim, tá bom? — dizia ela com a voz tranquila e serena de sempre, fazendo aquele semblante sério de Saga dar lugar a um ar mais relaxado enquanto se desculpa por descontar nela sua frustração com Kanon naquele momento. — Tudo bem, esquece isso. Só acho que vocês dois tem discutido demais ultimamente. Toda vez que eu encontro vocês, estão discutindo! O que está acontecendo?

Saga não respondeu. Ficou a olhá-la por mais alguns instantes e desviou o olhar para baixo, fechando os olhos e se voltando de costas, afastando-se. Apanhou sua vasilha em silêncio, amarrando com o pano com qual o encobria, mudo. Ouviu passos próximos e Selene chamar-lhe mais uma vez, perguntando mais uma vez...

— Nada! — respondeu de modo seco.  — Não está acontecendo nada. Kanon e eu sempre tivemos nossas diferenças, pensamos diferentes. Já deveria saber disso... — findou suas palavras e se virando, percebendo que as mãos delas estavam a tocá-lo quando respondeu, vendo-a recolher os braços 'surpresa' enquanto o encarava e, depois, baixar a cabeça, assentindo. "Como posso ser tão idiota? Droga! Droga!".

— Ahn... Tudo bem. Tudo bem... — disse num tom levemente triste e recolhendo a vasilha de suas mãos e recuando, apanhando aquele deixado por Kanon que ela deixou cair quando se levantou vendo os dois irmãos se encarando.

Saga teve certeza de que ela estava quase a chorar naquele momento. Por duas vezes fora ríspido e grosseiro com ela por uma atitude imatura e provocadora do irmão, e descontara aquela sua raiva na pessoa errada, em Selene. Ela era a última pessoa da qual esperava magoar. Respirou fundo e se aproximando, tocando-a no braço, segurando-a e puxando-a, não com força. Os dois ficaram frente a frente, encarando-se num breve silêncio.

— Perdoe-me! — os olhos de Saga brilhavam para Selene — Eu tenho andado muito estressado e Kanon... Hum... Ele tem ajudado muito e... — engole a seco, respirando fundo. Por um instante sentiu sua boca secar. Soltou vagarosamente os dedos até que largasse seu braço. Não houve reação de Selene que continuava a observá-lo. — E acabei por descontar minhas frustrações em você, me desculpe.

— Tudo bem, Saga. Foi também... uma impertinência minha. — o tom de sua voz foi calmo e sereno, diferente daquele de poucos instantes. Ela buscou por sua mão, segurando com as suas, fazendo Saga olhá-la ainda mais intensamente. — Apenas tenho me preocupado bastante com vocês dois... Têm brigado demais! Mas... — respira fundo, baixando levemente a cabeça e assentindo em concordância — Eu não vou insistir mais. Apenas quero que saiba que pode confiar em mim, tudo bem?

Sim, ele sabia que podia confiar, e aquilo era o que o deixava mais tenso. Fechou os olhos por um sentimento de culpa de não lhe poder falar o que tanto sentia e o que tanto queria. Odiava admitir, mas Kanon estava certo quanto aquilo da máscara.

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— É melhor não! — disse Saga mergulhando a cabeça numa pira de pedra com água da nascente de uma rochosa.

A pira de pedra havia se formado com a queda de água que um dia foi mais intenso, criando uma larga bacia de ao menos 1m de profundidade com diâmetro de quase 2m. Hoje, no entanto, era apenas um fio de água constante que caía.

Estava uma tarde quente, com sol castigando a todos, a ponto de o suor servir de catalisador e queimar a pele levemente avermelhada e deixando marcas da blusa pouco abaixo do pescoço e nos braços. Ele tomou uma pequena cumbuca feita de latão e encheu de água para jogar na cabeça visando se refrescar.

— Não há por que de preocupá-la com isso. — continou Saga enxugando o rosto com a mão e largou a cumbuca boiando nas águas cristalinas. Retirou a blusa que vestia, esta molhada pelo banho que tomara, e exibindo um dorso com peitoral malhado devido aos exercícios e treinamentos Tinha alguns arranhões recentes, outras cicatrizes bem invisíveis, mas que não excluía a beleza daquele físico e barriga definida. — Ela não precisa saber disso.

— Quanto a isso, estou de acordo. — respondeu Kanon que já estava sem sua blusa e enxugava o suor, esperando Saga se afastar para ele tomar um banho, com um mesmo porte físico e definições. — Ao menos, uma vez, concordamos em alguma coisa, hum? — sorri de maneira provocativa para o irmão que fica a observá-lo sério. — Apenas precisamos ser precavidos e não criar suspeitas quanto a isso.

— Sim, não podemos deixar uma margem para suspeitas. Não será fácil esconder isso dela sabendo de suas habilidades telepáticas. Precisamos ser cautelosos ao extremo. — recomendou o mais velho fitando o irmão. — De minha parte não haverá problemas, e espero que de sua parte também não.

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Aquela conversa aconteceu há algumas semanas, e ao longo destas a convivência dos três tornava-se cada vez mais tensa, sobretudo com as investidas de Kanon que parecia buscar sempre provocá-lo de alguma forma, sobretudo na presença de Selene com aquelas investidas como daquela tarde.

Naquele momento sentiu o ímpeto de contar aquilo e algo mais, mas não o fez. Ao contrário disso, ele jogou suas frustrações sobre ela, algo da qual não queria. Embora apenas omitissem, sentia enganá-la escondendo aquilo, principalmente ao dizer que poderia confiar nela. Aquilo deixava uma sensação horrível!

"Saga!?", ouviu ela chamar-lhe. Por um instante se perdeu em pensamentos, piscando e se voltando para ela que o chamava, já com o cesto em mãos. Ouviu ela rir baixinho e sorriu.

— Tem treinamento para agora à tarde? Pensei que podíamos treinar juntos já que meu parceiro simplesmente foi embora. — disse cruzando os braços e esperando pela resposta dela. Houve certa hesitação, mas quando a viu colocar o cesto no chão, sabia da resposta.

— Não, estou liberada para o resto da tarde. Buscaria um treino com as Amazonas, mas ainda temos uma revanche, não é mesmo? — disse ela se aproximando e estalando os dedos.

— Sim, é verdade. Não pense que facilitarei como na última vez. — e cria a posição de luta perante Selene que avançou contra ele.

Entre um descanso e outro nos intervalos, ficaram a treinar golpes ao longo de toda aquela tarde. Eram apenas golpes físicos, sem hesitação, como verdadeiros guerreiros. Cada um buscava usar suas habilidades, e estas de maneira cuidadosa que ajudava no controle do cosmo e da força empregada no ataque.

Sendo Selene capaz de criar uma barreira, Saga utilizava disso para concentrar seu poder de ataque, assim como ela de empregar em seu escudo de defesa. Algumas vezes ambos eram golpeados, mas não impediam de continuar. Nos ataques físicos ajudava ambos em prever os golpes e no ritmo dos movimentos. Os teleportes da aprendiz era sempre um excelente recurso estratégico, garantindo defesa e ataque, e à Saga prever as investidas do inimigo.

O treinamento de ambos somente parou no fim da tarde, quando o céu perdia seu tom azul e ganhavam tons púrpuras e laranja com o pôr do sol. Ambos estavam sentados, lado a lado, observando o Santuário à distância. Os dois bebericavam de seus cantis de água, com Saga virando o rosto quando ela removeu a máscara e voltando a olhá-la após avisar da reposição.

— Adoro este lugar. Assistir o sol se pôr por trás do Templo de Athena é uma visão única! — comentou ela olhando para frente. Saga lançou um olhar demorado, depois baixou a cabeça observando o mesmo ponto que ela. — Lembro quando subia no topo daquele prédio para assistir o nascer e pôr do sol, mas a imagem daqui é linda!

— Nunca perguntei isso. O que foi aquele prédio onde a encontramos? — indagou ele fitando-a, encolhendo as pernas para se sentar em posição de lótus.

— Era o orfanato onde vivia até que um incêndio a destruiu. — contou ela sem desviar os olhos do templo, vendo o sol desaparecer pouco a pouco. Encolheu as pernas, abraçando-o. — Ninguém sabe como começou o fogo. Lembro de corrermos pelo corredor tomado pela fumaça até chegar à frente do prédio e ver as chamas nas janelas. Condenaram o prédio e fomos removidos para um abrigo até que sermos mandados para outra instituição, mas como éramos muitos, seríamos separados sendo enviados para vários... e então fugimos.

Selene se calou por breves instantes lembrando daquele episódio, de quando ela e outras quatro crianças fugiram na calada da noite e se refugiando no prédio onde se conheceram e jurado jamais se separarem. Permaneceram escondidos ali por dias até que as buscas cessaram e vivendo na cidade com pequenos roubos. Foram dois longos e saudosos anos até àquela noite chuvosa quando abordados por aqueles garotos.

Ela estaria morta se não fossem Saga e Kanon.

— Você ou Kanon nunca falam muito de vocês... — continuou ela voltando-se para ele,  percebendo ele olhá-la de canto sem dizer nada — Seja o que for que os levaram ali, devo minha vida aos dois. Jamais vou esquecer do Kanon surgindo numa voadora sobre aquele garoto e você surgir bem na minha frente.

— Agora que disse isso... É verdade. — comentou Saga franzindo o cenho. — Parece que nossos destinos se cruzaram naquele momento, e nem mesmo a ponte foi capaz de nos separar.

Disse voltando seu olhar para ela de maneira contemplativa. Selene baixou a cabeça e se voltou para ele, com ambos trocando olhares por alguns minutos até que começasse a escurecer e os dois deveriam seguir para seus descansos. Saga a acompanhou até uma proximidade segura no campo das Amazonas, deixando Selene e voltando para o Santuário.

Durante o caminho de volta, seus pensamentos se perdiam, deixando-o caminhar por si só até perceber estar no anfiteatro e sentando-se num dos degraus e ficando a observar o pátio agora vazio. Respirou fundo e engoliu a seco até que baixou a cabeça e observando a mão da qual Selene segurou e sorriu de canto, fechando o punho suavemente e levando à altura dos lábios. O dia estava cada vez mais próximo.

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Os corredores estavam entregues à penumbra, com a pouca luz proveniente do céu estrelado e da lua cheia que invadia as janelas. Os passos surdos ecoavam pelo corredor de modo cauteloso, livre de despertar suspeitas. A cada passo aquele homem de vestimentas nobres escuras denotava sua silhueta imponente numa túnica em que ela reconhecia muito bem.

Ele trazia algo em sua mão, escondida na longa manga de sua vestimenta. Ao de encontro com a luz, reluziu um fio dourado que logo se perdeu no escuro, e naquele momento, seus passos foram interrompidos, momento da qual seu rosto era parcialmente cortado pela luz.

Ele usava uma máscara escura como de sua túnica, mas o elmo criava uma sombra na altura dos olhos. A mão, livre do objeto, foi ao rosto e removeu a máscara. Os olhos  fechados, quando abertos, eram malignos, tomado por ódio, num vermelho sangue que refletiu a luz da noite até que tudo se perdesse novamente na escuridão.

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Um pequeno caderno foi ao chão juntamente com o lápis que rolou até próximo de uma cadeira. Selene despertara assustada e transpirava. Levara a mão no peito, arfando. Levantou-se com dificuldade e foi até à mesa no outro canto, tateando a mesa até conseguir encontrar um recipiente de barro onde guardava a água que sempre estocava em casa.

Procurou por um copo, derrubando-o e enchendo este, molhando a mesa e o chão devido as mãos trêmulas pelo pesadelo. Bebeu a metade do copo num só gole, conseguindo fazer a respiração voltar aos poucos. Ficou apoiada na mesa por cerca de 5-10 minutos, até que sentisse as pernas suficientemente fortes para voltar à cama.

Preparando-se para deitar, observou o céu estrelado pela janela no momento que uma estrela cortava um quadrante.

— Pegasus...?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, a tensão entre os irmãos pé crescente. É também o começo de ingresso de novos personagens. Será que reconhece quem eles são?PS: Sinto pela demora, mas como dividi esse capítulo em dois, esta semana já entra mais um capítulo. Não deixem de comentar, favoritar e indicar. Obrigado a todos!!!



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