Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 74
Interlúdio :: Van Qüine




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 A respiração era ofegante. As luvas douradas estavam manchadas de sangue e deixava um rastro pelo caminho de pedras e poeira enquanto o teto rangia querendo ceder. Estava cansado, era verdade.

A batalha havia sido verdadeiramente intensa como nenhuma outra antes. Embora soasse incrível como o templo poderia ainda estar de pé, ele sabia bem o porquê, e exatamente aquilo o fez acreditar.

Por fim, cedeu ao cansaço e caindo ajoelhado diante da urna dourada que pulsava tanto quanto um coração agoniado. Suas mãos calejadas e feridas, tocavam-na levemente na tentativa de conter aquilo. Era capaz de sentir a angústia que ela emanava juntamente com aquela aura vil, e isso o machucava ainda mais.

As suas mãos tremiam, ao mesmo tempo em que pareciam concentrar grande força para que a caixa fosse empurrada até um buraco na parede onde inúmeros selos foram colocados.

“É só empurrar...!”, ele dizia num murmúrio que denotava dor e sofrimento, com lágrimas grossas lavando seu rosto ferido, sujo e ensanguentado. Contudo, a urna parecia mais pesada que de costume, como se relutasse, implorasse para que não fosse selada ali.

O som do atrito se assemelhava a um lamento cortante. “Perdoe-me...!”, ele disse em prantos até que, por fim, concentrou intensa cosmo-energia de modo a empurrá-la até o selo.

Uma névoa vermelha envolveu a urna, com veias enegrecidas enquanto ela voltava a pulsar intensamente. Era como se fosse possível ouvir seu grito de dor e desespero, fazendo aquele que a empurrou esticar o braço como se quisesse alcançá-la novamente, mas fechou seu punho e criando uma fenda dimensional que fez a urna desaparecer naquela parede.

Enquanto a mesma esmaecia, o contorno de uma face se criou, como que levantando a cabeça e fitando aquele que, ainda ajoelhado em prantos, o observava.

Havia um intenso pesar naquela imagem, seus lábios se abriram em um pedido silencioso de ajuda, mas tudo o que ele fez foi fechar os olhos, enquanto o corpo estremecia com o pranto. O rosto então se distorceu, transformando-se em uma expressão de puro ódio, avançando como uma criatura fantasmagórica e ecoando um grito ensurdecedor.

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Qüine abriu os olhos em um sofrido despertar, mas não conseguiu se mexer. Faltavam-lhe forças e ainda se encontrava mergulhado em uma imensa confusão, tentando colocar sua cabeça em ordem.

Tudo no quarto ainda estava envolto em uma densa penumbra, da qual só conseguia perceber as sombras ao seu redor. Por alguma razão, respirar estava sendo um exercício pesaroso. Era como se estivesse com medo.

Um ruído chegou aos seus ouvidos sensíveis, fazendo com que os pelos da nuca se arrepiassem. Parecia que alguém estava arranhando um quadro negro ou raspando as unhas nas paredes de pedra. De imediato, imaginou uma garra em tom vermelho-vibrante a fazê-lo, e isso apenas fez o calafrio piorar.

“I-Impossível... eu estou sozinho... aqui! Não tem... como... alguém entrar... e chegar ao meu quarto... sem que eu saiba... A menos que...”, pensava, quando resolveu arriscar um olhar na direção de onde parecia vir o som.

Pôde ver uma figura humana sentada sobre uma mesa junto à parede, passando as pontas dos dedos na parede, criando faíscas de atrito. Naquele instante, seu sangue pareceu congelar ao ver aqueles olhos rubros e luminosos olhando em sua direção.

“Um sonho! Isso é apenas um sonho... não! Um pesadelo! Um maldito pesadelo!!!”, pensava Qüine fechando os olhos com força por alguns instantes enquanto se via mergulhar num vazio e sua voz se perder.

Podia sentir aquela criatura se aproximar lentamente da cama, fitando-o intensamente. Naquele momento, o rapaz soltou um grito mudo, mas que logo quebrou barreiras trincando paredes invisíveis — como se estivesse numa grande bolha — e o mundo se revelasse diante dele. Esse mundo, o seu quarto em Gêmeos.

Despertou aos gritos, transpirando e ofegante. Sentia cada músculo se contrair a ponto de sentir câimbra nos membros inferiores, forçando-o a se levantar ainda que muito desnorteado e desconfiado com tudo à sua volta. Somente então podia sentir as batidas aceleradas do coração como se, a qualquer instante, seu peito fosse explodir.

Recostou-se na parede sentindo as pernas bambas, percebendo que nem mesmo havia amanhecido. Deveria ser madrugada e, por mais que estivesse praguejando naquele momento por conta do pesadelo, também agradecia por não estar em Áries e despertar Kiki com seu grito — o que o fez olhar em direção à porta esperando entrar qualquer um após o grito que deu. Ou teria sido apenas naquele pesadelo e somente teria despertado de susto?

Levou a mão ao rosto, o cabelo colado pela transpiração excessiva. Seguiu até uma bacia em mármore com uma pequena fonte de água para lavar o rosto, molhando a nuca e sentindo o quão ensopado estava o cabelo.

“O que diabos foi isso?”, perguntava-se ao massagear a nuca movendo a cabeça de um lado para o outro e olhar a cama. “Os pergaminhos...”, e suspirou.

Havia decidido tomá-los para ler, e em meio aos versos foi tomado de um súbito sono. No sonho, era aquele quem assistia aos acontecimentos, mas compartilhando tamanho sofrimento daquele homem de cabelos acobreados que Qüine até mesmo sentiu as lágrimas ganharem sua face.

“Não, não era meu pai...”, pensava ele quando seus olhos recaíram aos pergaminhos. “Aquele seria... Não. Impossível! Aquele lugar...”, riu ele, nervoso, deixando o quarto de imediato com um destino.

Desde que havia encontrado a urna não havia pisado novamente naquele lugar. Aquela dependência oculta em Gêmeos[1] ainda era estranho por mais óbvio que deveria ser.

“Como ninguém se pergunta isso?”, questionou-se Qüine olhando o lugar e buscando evidências daquele sonho por mais bizarro que aquilo poderia soar. Levou uma mão à cabeça com a leve enxaqueca que chegava respirando fundo.

“Será que estou enlouquecendo... como meu pai?”, temeu, fazendo-o engolir a seco por aquela paranoia. Contudo, ao olhar a parede onde havia encontrado a urna, e mantido a mesma desde então, recolhendo apenas a pequena caixa de madeira adornada onde tinha os pergaminhos guardados.

Tal como naquele sonho, Qüine se aproximou e se ajoelhou diante da fenda, observando a urna dourada silenciosa, tomada de poeira e teias com seu ouro há muito puído pelo tempo. Olhou para sua mão e depois para ela, intencionando tocá-la com muita hesitação. Não sentia qualquer cosmo-energia, nem mesmo quando a tocou, sentindo apenas o frio de um metal. Até mesmo seu dourado estava fosco, envelhecido.

— É melhor tentar dormir de novo, Qüine... — disse ele se dando por vencido e se levantando. Nem bem sabia se conseguiria voltar a dormir. E se aquela coisa voltasse? — Como faz falta um leite quente com mel... — e riu silencioso, voltando para a saída daquele quarto e deixando aquele lugar.

Naquele instante, a urna reluziu, mas tão logo se apagou.

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Uma vez que não conseguiu voltar a dormir, decidiu por treinar um pouco. Kiki sempre dizia que era melhor fazer algo a ficar apenas olhando para o teto, esperando o sono vir. E após aquele sonho, a sua mente não parava de trabalhar, buscando compreender o que tinha sido aquilo. Precisava espairecer, ocupar-se de alguma maneira. Por que não treinar?

 Apanhou seus pertences, após guardar e esconder os pergaminhos em lugar seguro, e saiu. Ainda era noite, embora o horizonte já mostrasse evidência de mais um dia ensolarado.

Eram 9h da manhã quando ele decidiu fazer uma pausa para se refrescar. Pelo diário da mãe seguiu para uma clareira onde seu pai sempre treinava, com uma nascente próxima a um lago fundo o bastante para um mergulho após o árduo treino. E para o dia quente que começava, aquelas águas estavam bem convidativas.

“Sono...”, ele pensava quando emergiu, passando a mão nos cabelos molhados para jogá-los para trás e caminhando para a margem do lago, sentando-se às pedras. Pensou até mesmo em retornar para deitar-se e finalmente dormir, graças ao cansaço do treino. Porém, de certo Kiki estranharia o fato dele estar dormindo até tão tarde e não estava disposto explicar o que aconteceu.

Afinal, o que menos queria era atenção sobre ele e gerar especulações de suas condições associando ao de seu pai.

“Talvez um passeio em Rodório...”, pensou ele enquanto se levantava, recolhendo seus pertences e inserindo na bolsa sem muita preocupação. “Comer qualquer coisa. Fome...!!”, admitiu, levando a mão à altura do estômago e sentindo o mesmo reclamar enquanto se orientava para onde seguir.

Rodório tinha dois planos.

A parte mais baixa do vilarejo era o local mais aberto até mesmo aos poucos turistas que ali chegavam por ser mais próximo às ruínas na antiga Grécia. Era o comércio propriamente dito com armazéns, a praça com sua feira de peixes frescos, hortaliças livres e frutas típicas. As maçãs tinham um gosto peculiar para o jovem Geminiano que já as apreciava desde criança, mas dali havia algo especial que nem mesmo ele sabia explicar.

Sentou-se junto à fonte de modo a descansar da caminhada já que teria um bom caminho a seguir até o Santuário novamente. Haveria de subir as ruas, e no sentido literal da palavra para ganhar a parte mais alta do vilarejo, e esse sim mais fechado. “Talvez por isso o turismo não chega lá em cima”, pensou ele terminando a maçã e ficando com miolo na mão.

A parte alta e acolhida nos limites do Santuário, o que a deixava escondida, sendo um território inexistente senão aos olhos mais atentos. Era onde os guardas mais transitavam, os Cavaleiros patrulhavam — ainda que alguns inspecionavam a região mais baixa de modo garantir os acessos assegurados de intrusos. Era a parte mais residencial.

— É uma boa subida, admito. — disse alguém próximo, depositando uma caixa ao seu lado. — Nessas horas agradeço minha habilidade de me poupar disso.

Qüine se voltou para um homem de pele alva, com barba e cabelos ruivos, este último preso mais acima com um coque de samurai e com as laterais raspadas. Usava uma blusa xadrez vermelha e uma calça jeans surrada. Ele piscou aturdido.

— O que foi, garoto? Tá parecendo um zumbi, sabia? Não dormiu à noite? — riu o homem ao seu lado molhando o rosto.

— Gwintan?! — questionou o rapaz com ceticismo. — Acaso é o Gwintan... esse é o nome, correto? Usando vestes... civis?!

— Sim, qual o problema? — o capricorniano riu. — De vez em quando é bom sair da rotina, não acha?

— Ah, que ótimo... — Qüine o olhava ainda surpreso. — Um cavaleiro hipster? — e revirava os olhos.

— Eu sou hipster, você é um baderneiro, o Merihk é gótico, a Psychē é patricinha... — Gwintan falou, achando engraçada a reação do Geminiano. — Todo mundo aqui é alguma coisa.

— Baderneiro?! — o jovem se eriçou, querendo protestar aquilo, mas se calou de imediato. — Merikh eu concordo. Kiki é o CDF que senta na primeira fila. — pontuou ele. — Só não deixa ele saber disso.

— Nah! Provavelmente ele sabe, só não assume. — Capricórnio falou, sentando-se ao lado do rapaz. — Mas, e aí? Tá fazendo o que por aqui? Tirou o dia de folga?

— Não exatamente. Madruguei para treinar um pouco já que não conseguia dormir. — e deu de ombros. — Então resolvi dar uma volta, mas... — e alongou os braços para cima, massageando os ombros. — ... parece que o corpo começa a pedir por cama e não acho que me deixarão descansar.

— Acaso não tem a ver com nossa briguinha de ontem, certo? — indagou Gwintan apontando para ele.

— Não, não... — Qüine riu, percebendo o tom jocoso dele. — Mente acelerada, talvez. — e o outro assentiu. — Muita coisa na cabeça e... bem.

— Por isso é bom espairecer, desligar-se um pouco. — recomendou, voltando sua atenção para os transeuntes. — Por isso há muitos que vem aqui, querendo fugir do agito das grandes cidades, desligar-se de um mundo de tecnologia, da onda de informações e mergulhar num mundo anacrônico como Rodório. Sem TV, sem rádio, sem Internet... Totalmente alheio do mundo.

Qüine riu com aquilo. De fato, aquele lugar o fazia esquecer do mundo externo. Seu estranhamento às vestes do capricorniano destoando dos cidadãos que se vestiam como se vivessem ainda na Grécia Antiga o fez despertar para o mundo que há muito ele havia abandonado, e lembrou o quanto estranhou aquilo.

— É como em Jamir. — lembrou ele. — Cheguei lá aos 11 anos e foi uma adaptação difícil com o frio, a falta da praticidade dos eletrônicos e acostumar-se com o trabalho manual. A minha rotina foi totalmente transformada! — e riu daquilo. — Kiki cortou um dobrado comigo, principalmente porque queria bateria para meu PSP.

— Você não foi o único, meu caro sonysta. — brincou Gwintan, mexendo no conteúdo da caixa que trouxera. — Quando cheguei aqui, fiz um escândalo porque me privaram do meu DS. Eu estava perto de terminar Castlevania.

Qüine precisou segurar a gargalhada, levando a mão à boca.

— Creio que alguns de nós parecem ter se adaptado bem. — continuou o Geminiano controlando o riso. — Merikh sempre parece bem desfilando por aqui. Aliás, nunca o vi sem aquela armadura dourada.

— Ele é mais na dele. Já o vi sem sua indumentária dourada, mas com suas vestes cerimoniais como típico de um sacerdote egípcio. — explicou Gwintan servindo-se de água da fonte.

— Isso explica aquele lápis de olho que ele usa. — brincou o Geminiano conseguindo riso do outro. — Disse, sacerdote egípcio? Merikh é egípcio?

— Hum... não exatamente. Pelo que eu escutei, ele é filho de italianos, mas tem muito interesse na cultura egípcia. Não me surpreenderia se aproveitasse os estudos dele para melhorar suas técnicas, já que os antigos egípcios praticamente viviam em função da morte. — O capricorniano falou, puxando uma garrafa de cerveja clara de dentro da caixa, e a abriu. — Aceita uma?

— O quê? — o rapaz toma a garrafa em mãos, aturdido. — Espera! Como conseguiu isso?

— Ué! O dono da cervejaria me dá uma caixa de cerveja sempre que eu dou uma ajuda pra carregar as caixas do estoque para a loja. — respondeu Capricórnio, pegando outra garrafa para si. — Normalmente eu não cobro nada, mas ele insistiu em pagar de alguma forma. Dinheiro não me é algo útil atualmente, então... — e apontou para a caixa, com um sorriso travesso no rosto barbado. — Um brinde?

— Não vai me perguntar se tenho idade pra isso? — questionou estranhando aquilo.

— Você tem idade pra aprender a matar pessoas e explodir coisas, mas não tem idade para beber? — comentou Gwintan, erguendo uma sobrancelha. — Tem gente nessa área que bebe desde os dez anos. — e tomou um gole.

Qüine piscou novamente aturdido, alternando da garrafa para o ruivo ao seu lado. Por fim, cedeu e abrindo a sua garrafa para um primeiro gole.

— Diria que essa é a parte mais difícil do treinamento. — disse Qüine ainda sobre as palavras do outro. — Matar e aceitar a morte por mais difícil que ela seja, e não sei se estarei preparado para fazer isso. Cresci aprendendo que quando matamos, não tiramos apenas a vida do próximo, mas também um pouco de nós mesmo. — e se volta para o capricorniano. — Mas aqui, a morte pode ser nossa compaixão para com o próximo.

— É uma forma de ver isso. Mas não vejo ninguém nos criticando pelo treinamento e pela execução de um trabalho ingrato como esse. — Capricórnio ponderou, tomando outro gole. — Eles nos agradecem pelo resultado que temos, pelo “problema resolvido”. Dificilmente sabem que nossas missões frequentemente envolvem tirar uma vida, seja em combate ou...

Qüine compreendeu a deixa, mas nem mesmo ele completou o raciocínio.

— Segundo sei, essas batalhas vêm desde a Era Mitológica. Somos uma geração de muitos Cavaleiros que caíram para garantir nossa soberania, mas... — Qüine respirou fundo, olhando para a garrafa já pela metade após outro gole. — ... quanto mais terão de cair até que isso não seja mais necessário?

— Ótima pergunta. Quando descobrir a resposta, me fala.

Um breve momento de silêncio até ambos se entreolhou. Ambos riram daquilo, fechando com mais um brinde e outra garrafa aberta.

— A sua espada... — dizia Qüine se voltando para ele. — Você falou em... Dyrnwyn? — e o viu assentir. — Achei que os Cavaleiros de Capricórnio empunhassem apenas a Excalibur.

Gwintan riu daquilo.

— Excalibur é apenas mais uma de inúmeros artefatos, uma dentre inúmeras espadas lendárias que se tornaram relíquias para inúmeros contos fantásticos. — dizia o capricorniano fitando-o e bebericando de sua cerveja. — Dyrnwyn está na família há gerações. — e riu em seguida. — Há muito estava ‘guardada’, logo esquecida.

— Ouvi uma história que Athena teria presenteado um de seus Cavaleiros com a espada uma sagrada. — especulou o Geminiano vendo-o sorrir de canto. — Então...

— É verdade que Athena presenteou muito de seus Cavaleiros, e um foi agraciado com uma espada sagrada por uma deusa, de fato. Aquele que a carregasse tinha com ele uma grande responsabilidade de empunhá-la para fazer justiça. — explicava Gwintan que logo deu uma pausa com a garrafa frente ao rosto e hasteando o indicador. — No entanto... — e se colocou de pé. — Ao longo do tempo essa ‘espada sagrada’ ganhou o mundo, com seu conhecimento sendo compartilhado e seu poder infundindo inúmeras outras. Excalibur é apenas uma destas.

Qüine franziu o cenho assimilando aquelas informações.

— Está me dizendo que Dyrnwyn é um fragmento dessa espada sagrada por Athena? — indagou, vendo o mesmo confirmar.

— Claro que muitas destas espadas se perderam... — e Gwintan suspirou em lamento. — ... ou se corromperam a ponto de serem destruídas. Como um apaixonado por elas, apenas me resta lamentar e continuar as buscas por alguma que ainda exista, seja elas físicas ou cósmicas.

— Era por isso que estava em missão? — questionou o rapaz ingerindo o último gole da cerveja.

— Sim, há suspeita que estejam buscando por artefatos antigos, sagrados ou amaldiçoados... — e ele deu de ombros. — Que seja! Alguns templos foram assaltados e algumas de suas relíquias... jóias e outros objetos desapareceram.

— E o que querem com isso? — indagou o rapaz curioso.

— Quando se tornar realmente um Cavaleiro, então poderei te dizer. — e sorriu. — Enquanto for apenas um aspirante, diria que já falei mais que deveria, mas nada que fosse tão revelador.

Qüine bufou contrariado, deixando a garrafa vazia na caixa e se levantando, arrumando suas vestes.

— Claro. Não sei por que ainda pergunto. — comentou em tom jocoso.

— Olha, eu realmente entendo sua razão e aplaudo isso. No entanto... — Gwintan suspira. — Regras são regras. Apenas espero que encontre as respostas que procura.

— Eu vou, mas agora procuro apenas um bom descanso. — sorriu, olhando para a caixa. — Acho que a cerveja acabou ajudando o corpo relaxar mais do que queria realmente. — e acenou uma despedida após um apontamento do capricorniano que apenas cruzou os braços vendo-o se distanciar.

O Cavaleiro tomou novamente a caixa, jogando em seu ombro e descendo o vilarejo até um prédio que lembrava um antigo templo com sua fachada parcialmente perdida pelo tempo. Deixou a caixa numa metade do que foi um banco em mármore e adentrando no espaço onde havia pouco de luz pelas tochas.

— Eu ainda não entendi a sua implicância com o garoto. — comentou Gwintan num tom mais sério enquanto caminhava até uma sala redonda com um altar ao fundo — Ele não me aparentou ameaça alguma.

Merikh se revelou saindo das sombras. Ele usava uma kalasiris, uma túnica longa de linho decotado e modelando o tronco. A saia seguia até altura do tornozelo, preso com um cinto largo feito com um lenço plissado, de modo a formar uma espécie de avental triangular. Usava poucos adornos, com peitoral de cadeias duplas, pulseiras, bracelete e sandália de tira.

Carregava uma ânfora e depositava no altar, junto com os incensos já acesos.

— Fez o que te pedi? — questionou Merikh após fazer sua oferenda e se voltar a Gwintan.

— No meio do vilarejo? — e apontou para fora. — Claro que não. Atrairia muitos olhares curiosos e havia alguns turistas passeando próximo. — e levou a mão ao bolso, olhando o que ele fazia. — O que exatamente te incomoda com relação a ele?

— Eu não sei. — o canceriano o fitou sério, enquanto às suas costas sombras surgiam e desapareciam como névoa. — Apenas há algo nele que me intriga, mas não sei explicar o que seria.

— Será que essa sua implicância com ele não seria pelo fato dele ser filho de quem é? — questionou o outro arqueando o semblante. — Olha, eu fiquei sim intrigado pelo Julgamento de Dyrnwyn sobre ele, mas não vi necessariamente uma ameaça.

— Você mesmo me disse que ficou intrigado pelas chamas de sua espada quando desceu sobre o garoto, e acha que não devemos ficar alertas quanto a ele? — perguntou Merikh de volta, aproximando-se do capricorniano.

— Acho apenas que temos preocupações maiores no momento que as dúvidas de um garoto que quer saber dos crimes do pai e do que está por trás disso. — pontuou ao ruivo descruzando os braços. — Além do mais, seja lá o que esse garoto esconde, não será por muito tempo. Lembre-se do que Klahan disse.

— Dar tempo ao tempo. — suspirou, olhando a caixa que o outro havia trazido e apontou com a cabeça.

— O quê? Um aperitivo. O garoto me acompanhou. — e sorriu com cinismo. — Vai uma cervejinha?

 


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Notas finais do capítulo

Dúvidas sobre o aposento mencionado por Quine?
[1] O corredor secreto está melhor descrito no Interlúdio que fecha o Ciclo II, ao fim do capítulo 37.

A próxima tríade de capítulos promete.
Desculpem o atraso. XD



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