Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 58
Interlúdio :: Van Qüine


Notas iniciais do capítulo

Parece soar um complemento, mas é algo que sempre achei pertinente discutir em Saint Seiya. As fontes dessa conversação são do Hipermito e sobre o que sabemos de Oricalco e Gamânio, além do que já foi dito na série, seja mangá ou mesmo anime. 'Tá bem didático e achei pertinente essa conversação de Kiki com Quine, sobretudo após o capítulo anterior da conversa de Selene com Aiolos que terá grande peso futuro aqui em #Memórias e em #InitiuLegends.

Lembrando que, embora use referenciais originais, há também interpretação minha para ser condizente com a história contada.

Outro lembrete, alguns os chamam de Muvianos, mas mantive a ideia de Lemurianos tal como expliquei o porquê no Gaiden ~Anceo - O Dragão Marinho.



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Uma forte chuva caia no Santuário. Raios cruzavam o céu iluminando a noite que chegara mais cedo devido às nuvens pesadas e cancelando todos os treinamentos daquele fim de tarde.

Até estava interessante o duelo de equipes na arena do coliseu com Qüine testando sua mobilidade de luta, percebendo o quão era bom era com bloqueios e esquivas. No entanto, os ataques diretos na luta corporal exigiam mais, embora não tivesse feito feio.

 Enquanto em Munique, gostava de assistir a chuva da janela, olhando os raios cruzarem o céu sem o medo. Por outro lado, seus pais adotivos se mantinham recolhidos na sala, sempre chamando para sair da janela temendo algum "castigo divino". Já em Jamir as chuvas eram mais escassas, mas a neve caindo tinha uma beleza singular daquela vista na cidade alemã.

 Não sabia por que, mas gostava do som da chuva. Ela sempre trazia um aroma adocicado misturado à terra molhada.

Despertou do devaneio quando ouviu um som e voltou-se para interior do templo, vendo Kiki acabando de restaurar uma armadura. Estava concentrado em desaparecer uma fissura grave na altura do peito que, sem a indumentária, rasgaria o Cavaleiro ao meio. Aquilo prendeu a atenção do jovem por alguns instantes, ficando a divagar sobre algo e perceptível ao lemuriano.

 — Algo o perturba, Qüine? — indagou Kiki repousando as ferramentas e tomando uma garrafa com água, bebericando longos goles. — Mais cedo o encontrei olhando as armaduras com ar curioso, depois foi para o treinamento, voltou... — e agora enxugava o suor, suspirando ao ver todo o trabalho ja feito na indumentária à sua frente. — Agora o vejo com mesmo olhar vago de mais cedo.

— Ahn... N-Não é nada... — comentou ele, piscando, olhando as armaduras previamente restauradas, outras bem danificadas, outras reluzentes. — Quantas memórias uma armadura pode guardar?

 Kiki estranhou aquela pergunta, acabando de beber a água e massageando os ombros despidos de suas vestes, deixando seu tronco nu para melhor trabalhar.

O físico do lemuriano não era dos mais robustos, mas tinha músculos bem definidos. Levantou-se, deixando a veste pendurada pela faixa que cruzava sua cintura e sentando-se sobre uma das urnas, observando o jovem Geminiano.

 — Por que da pergunta? — questionou ele em resposta, percebendo o olhar curioso dele. — Essa curiosidade repentina tem alguma razão em especial?

 Qüine o fitou, sorrindo com aquilo. Caminhava em direção a algumas armaduras, tocando-as de leve. Era incrível que nem todas tinham o mesmo toque. Não sabia explicar como e por que, apenas que sabia que havia algo que as diferenciava.

 — Surgiu essa curiosidade enquanto lia o diário da minha mãe. — sorriu ao falar dela, ainda tocando nas armaduras. — Lembro quando me disse que as armaduras não são meras indumentárias, mas delas terem consciência o bastante para escolher ou mesmo renegar um Cavaleiro. — e recolheu a mão, mantendo os olhos parados num ponto qualquer. —  Diversas vezes tenho a impressão da armadura de Gêmeos querer me dizer algo. — e voltou-se para o irmão. — Acha que pode haver memórias de meu pai ali?

Kiki tinha um semblante sério enquanto ouvia aquilo, esperando saber aonde ele queria chegar. Não era uma pergunta que seria feita ao acaso, e considerando o modo contemplativo que o vira naquela manhã, e agora à noite, algo realmente estava a incomodá-lo. O lemuriano cruzou os braços e cerrou os olhos.

— Qüine, está me preocupando com esse seu questionamento. — confessou o ariano mantendo os olhos firmes sobre ele.

 — Relaxa... — comentou o rapaz de modo displicente. — Não estou pensando em fazer o que está pensando, embora...  — respira fundo.

 — Embora...? — insistiu Kiki ainda a fitá-lo, arqueando o semblante.

 — Como disse, às vezes tenho a impressão de que a armadura quer me dizer algo. — e olhou para o irmão, vendo-o piscar aturdido. — Quando cheguei aqui, ela reluziu de tal forma que emitiu um fraco pulsar junto ao meu Cosmo. Senti que ela estava falando comigo, mas respondi que não estava pronto naquele momento... como ainda não estou agora. Converso com ela como se pudesse me ouvir.

— Bom, a armadura o reconhece, Qüine. — comentou Kiki. — Ela apenas está esperando por você. Não sei o que exatamente espera ou pretende, mas ela o aguarda. Agora, sobre o que peguntou... — descruza os braços relaxando por entre as pernas. — Meu mestre falava sempre das memórias das armaduras. Afinal, ela acompanha o Cavaleiro, tornam-se um só elemento, um só Cosmo. — e fica a fitar as armaduras ali enfileiradas. — Não há como dizer quantas memórias elas guardam, mas cada uma delas guardam inúmeras histórias, isso é fato. Mesmo essas marcas em que corrijo, são como nossas cicatrizes que saram, mas guardamos para nós aquela marca como cada momento daquilo. Não é algo que se apaga.

Qüine tomava uma ombreira danificada em mãos e observava aquelas marcas conforme Kiki explicava. O pó de estrelas ajuda na reconstrução daquele metal, tal como os uguentos nas feridas ajudavam a colar a carne rasgada. Não era uma comparação forçada, mas exatamente aquilo que acontecia. As armaduras ganharam vida, mas quando?

— Minha mãe contou sobre uma lenda contada pelos forjadores de Jamir... contadas de seus antepassados... — comentava o Geminiano, olhando as armaduras. — Lembro quando me disse que um Cavaleiro deve se tornar um com sua Armadura e ambos trabalharem juntos, mas ela também falou sobre tornaram-se outro um. — e olhou para Kiki com olhos verdes brilhantes. — Cavaleiro unir-se à armadura e tornarem-se verdadeiramente um.

— Transmutação. — respondeu Kiki com certo pesar. — Ouvi isso do mestre Mu que ouviu de seu mestre e este do seu mestre... — e era ele quem respirava fundo naquele momento. — Não acha que as memórias das armaduras seriam os próprios Cavaleiros que se fundiram a ela, né?

— Para ser sincero? Pensei sim. — disse sério, deixando aquele breve silêncio e com ambos rindo disso de maneira amena. — Em parte faria sentido, há de concordar.

— Não sei se faria sentido, mas não discordo de você. — olhou para as armaduras novamente. — Há lembranças felizes e dolorosas nas armaduras. Enquanto trabalho na restauração delas, fico suscetível a compartilhar dessas alegrias e tristezas, da dor de cada ferida...

A voz de Kiki fica levemente embargada naquele momento, mas ele se contém. Qüine sabia que enquanto estava a trabalhar nas armaduras, exigia alta concentração de quem restaurava as indumentárias sagradas por conta de suas habilidades psíquicas. Ele apenas ajudava no básico, manuseando o gamânio, mas o trabalho mais pesado era deixado para o Kiki, o que o deixava muitas vezes esgotado conforme o dano sofrido na armadura.

— Conheço a história, inclusive de que alguns que forjaram as armaduras também a usaram na Guerra Santa, com alguns deles unindo-se à armadura objetivando a vitória e guiar novas gerações. — sorriu o lemuriano. — São algumas de muitas histórias de nossos heróis. Por outro lado, essas memórias têm uma explicação mais... sensata, eu diria.

Kiki olha em direção às suas ferramentas e uma pequena bolsa "voou" sutilmente em sua direção por conta de sua telecinese. Era pequena, de couro, e dela tirando um colar com correntes prateadas traçada em fio de couro, mas com uma pedra brilhante e prateada que reluzia conforme a luz.

— Oricalco. — dizia ele exibindo a pedra para o Geminiano. — Um metal incomum e desconhecido aos humanos, existente somente em Atlântida. Lemúria tinha algumas raras reservas, ajudando nossos alquimistas estudá-la e conhecer o poder desse metal que eles tinham em mãos, capaz de canalizar energias. Resistente e tênsil o bastante para criação de indumentárias como as Escamas e as Armaduras.

— Acredita que o oricalco é responsável por dar vida às armaduras? — indagou Qüine olhando a pequena pedra que mais parecia uma gota ramificada com "linhas" cruzadas formando a figura.

— Os próprios forjadores acreditavam nisso. — comentou Kiki fechando a mão com o colar. — No entanto, era preciso ajuda na contenção dessa reserva de energia, e aí que entra o gamânio, um elemento criado pelos alquimistas de Mu, aprimorado por um lemuriano que permitiu a criação dessas armaduras. Ela ajudava não somente a reter essa energia como também a deixava resistente o bastante para canalizá-la enquanto o Cosmo se expandia.

— O Gamânio que diz seria... — e olhou para um recepiente com grânulos brilhantes.

— Sim, o "pó de estrelas", como as crianças lemurianas o chamam quando os grânulos são esfarelados e tornam-se essa fina poeira brilhante. — comentou o ariano rindo, lembrando da reação do jovem quando viu aquilo pela primeira vez. — Apenas em Jamir ainda existem reservas que viabilizam o material, desconhecida aos homens comuns. Ela quem oferece a liga com o oricalco, permitindo resistência e recuperação ao longo da batalha. Ela transforma o cosmo em energia condutora. Quanto mais você eleva o Cosmo, mais resistente torna sua armadura para que possa executar seu poder sem que seu corpo se perca no processo.

— E com isso, parte da essência do Cavaleiro era canalizada e gera essas memórias, é isso? — raciocinava o Geminiano enquanto assimilava tudo aquilo, vendo Kiki apontar com a mão que segurava o colar.

— Acredito que no momento de sua morte, o último resquício de Cosmo seja exatamente as memórias do Cavaleiro. — comentou o outro, lembrando da descrição dos Bronze ao descrever o fim dos Dourados diante do Muro das Lamentações. — Tornaram-se verdadeiros pó de estrelas... absorvidos pelas armaduras. — e voltou-se para Qüine. — Esse é o mais próximo que vejo da chamada "Transmutação". Nada mais que uma licença poética.

— Mas... lembro também que me contou sobre um Cavaleiro de Bronze que chegou em Jamir com duas armaduras mortas, de que seu mestre se negou ajudá-lo em primeiro momento, depois falando de dar seu sangue para reconstrução da mesma. — continuou Qüine olhando as armaduras. — Inclusive, foi o que fiz a Gêmeos.

— A energia canalizada pelo oricalco, auxiliada pelo gamânio, ajudam na restauração da armadura, mas elas podem esgotar se um Cavaleiro... "esgotar essa reserva", digamos assim. — explicava Kiki enfatizando as aspas com os dedos ao termo. — O sangue é um modo de revivê-las, parte da essência capaz de despertar o mínimo de vida da indumentária e ela ajudar-se na recuperação quando colocada o gamânio...

Kiki para suas palavras e reflete por alguns instantes, levando a ponta dos dedos à boca e sorri.

— Diria que isso é o que mais chega perto do Cavaleiro tornar-se verdadeiramente um com a armadura, quando entrega seu sangue para restaurá-lo. — e fita o irmão. — Isso faria sentido para você?

— É mais lógico, nem tão poético como o que os forjadores contam. — e riu daquilo, deixando a ombreira junto à armadura. — Mas, Kiki... Existe outra coisa que me preocupa. A minha mãe contou também sobre Armaduras Negras...

Kiki, que até então sorria, ficou mais sério. Na verdade, mais parecia uma expressão de vergonha com um olhar vago e perdido como de alguém que queria esconder-se, mas sabendo o quão insistente era o irmão, sabia que não poderia evitar aquela conversa.

— Cavaleiros Negros. Uma vergonha do meu povo, Qüine. Motivo esse que fez muitos forjadores não repassarem seus conhecimentos aos mais jovens temendo que cometessem os mesmos erros de alguns do passado. — comentou o ariano, fitando-o. — Alguns ficaram descontentes o bastante pelo que aconteceu e culparam Athena por isso, levando-os a criar essas armaduras visando confrontá-la. No entanto, ficaram esquecidas por longos anos até serem encontradas e seladas. Desde então os forjadores tem sido seletivos sobre repassar a técnica e até mesmo na restauração de armaduras, e meu mestre Mu ficou bastante receoso em aceitar de imediato de restaurar as armaduras de Bronze.

— E o Cavaleiro dar seu sangue foi para saber o quão verdadeiro seria a alma daquele Cavaleiro? — indagou Qüine.

— Sim. Ele poderia morrer no processo. — comentou Kiki lembrando de Shiryu com as armaduras de Pegasus e Dragão. — Ele não hesitou. Estava disposto a morrer por isso e meu mestre compreendeu... — e franziu o cenho. — Embora eu esteja certo de que ele sabia de algo, como se tivesse tido alguma revelação, não sei. Ele jamais me contou. No entanto, aquele Cavaleiro se tornou um dos lendários da qual tantos admiram.

Era Qüine quem agora franzia o cenho buscando adivinhar quem seria. Apenas cinco deles a quem Kiki referia-se como "lendários", e sorriu. O seu irmão havia presenciado muito dos acontecimentos que, para geração como ele, eram fantásticas histórias das quais tantos aspirantes se inspiravam e objetivavam se tornarem tão fantásticos quanto aqueles heróis.

— As armaduras, realmente, têm seu grande papel nesse cenário... — e Qüine olhou em direção das armaduras. — Tão quanto elas nos protegem e nos auxiliam nas batalhas, dar nosso sangue é o mínimo a fazer para que elas perpetuem até a próxima geração.

— Ainda que nem todas aceitem isso. — comentou Kiki sem que nem percebesse, olhando as armaduras. Isso fez com que Qüine o olhasse intrigado e perguntasse o que ele queria dizer com isso. — Ah, não é nada. Eu que estou divagando. Acho que é o cansaço. — e levantou-se rápido. — Já viu a Antares hoje?

— Ah... Sim, quando voltei do treino. Fiquei a ler aqueles contos pra ela... — comentou Qüine notando o comportamento estranho do irmão. — O que quis dizer com...

— Não é nada, Qüine. Apenas que há armaduras tão teimosas quanto você em demorar-se a regenerar e acaba tomando bem mais parte do meu tempo. — forçou um sorriso. — Está tarde. Deveria descansar... ou vai ficar aqui, de novo?

— N-Não... Não vou. — respondeu, ainda desconfiado com o irmão. — Bom, eu vou vê-la antes de ir para Gêmeos, estudar algo mais, ler... — e apontou em direção do quarto onde estava deitada a garota, sempre olhando para Kiki intrigado pelo que disse. — Tudo bem?

Kiki acenou que sim, voltando a tomar as ferramentas e trabalhar. Qüine deu de ombros, mas mostrou-se levemente preocupado. Talvez fosse por conta de comentar sobre as Armaduras Negras que já o fez mudar o semblante. Um tabu falar sobre aquilo, um passado manchado na história dos lemurianos, sendo compreensível a ausência de forjadores em Jamir e da hesitação deles com algo tão negativo da arte acometida no passado.

Duas batidas na porta e Qüine entrou, encontrando a jovem adormecida e com semblante tranquilo, diferente da última vez que estivera ali. Aproximou-se e sentiu o perfume das rosas deixadas por Psychē. Além disso, Antares já não estava tão pálida como antes, e quando a tocou, não tinha a pele fria, mas também não estava quente como alguém febril. Certamente, estava somente num sono profundo.

— Bem diferente de quando a vi pela última vez há alguns dias. — e molhou um pano na mesinha de cabeceira para aproximar bem de seus lábios para umedecê-los. — Ainda não acredito que estava me expulsando daqui. Consegue ser tão mal-criada e rabugenta doente que quando sã.

Molhou o pano por mais duas vezes e umedecendo seus lábios, levemente ressecados. Pensou que um batom de manteiga de cacau seria bom ali. Talvez desse uma fugida e comprasse um no centro, ou haveria algo similar em Rodório. "Preciso me acostumar com esse lugar, encontrar o que quero aqui", pensou ele já planejando descer ao vilarejo para encontrar algo similar... e quem sabe divertir-se um pouco? Aquilo o fez rir de maneira sacana.

— Bom, hoje não vou te fazer companhia. — dizia ele tomando o livro e folheando algumas páginas. — Prometo que amanhã venho aqui. Esses dias relaxei um pouco nos estudos e tenho a minha leitura para colocar em dia. — sorriu ele, deixando o livro de volta à cabeceira. — Tenho que estar ciente o bastante dos acontecimentos para assumir o legado do... meu... pai...

Aquelas palavras fizeram-no relembrar de algo, deixando ecoar aquelas palavras em sua mente. "O-o... legado... de meu pai... o sangue...", palavras ditas num mero sussurro. Ficou a olhá-la por alguns instantes como se a visse como naquele dia dos espasmos que o expulsava dali. "Vai embora... antes que..." .

— O Escorpião...! — murmurou ele, com seus olhos recaindo sobre sua mão, lembrando da noite em que se conheceram e viu aquela garra brilhar como fogo cristalizado pronto para ferroá-lo. — Treinamento... Ela estava em treinamento. — e deixou o quarto, após cobri-la e mexer com seus cabelos.

Kiki estava trabalhando com o pó de estrelas de maneira cuidadosa como o momento pedia, e ele aguardou para que terminasse. Algo estava a intrigá-lo, confundi-lo o bastante naquele instante para esquecer, momentaneamente, a desconversa de seu irmão lemuriano. O ariano guardava o material, separando a armadura quando viu Qüine atravessar a sala cabisbaixo.

— Qüine? Qüine! — chamou Kiki, fazendo-o recuar dois passos e se voltar para quem o chamava. — Está tudo bem com Antares? — indagou estranhando o comportamento do Geminiano.

— Ah, tá... — o mais novo falou, olhando para um lado qualquer. — Então... acho que vou me recolher... Voltar para Gêmeos... e dormir.

— Descanse. — recomendou Kiki, vendo-o seguir adiante. Aquilo deixou o lemuriano incomodado, mas logo piscou, arqueando o semblante e tomando outra armadura para reparo.

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Qüine chegou em Gêmeos aturdido, pensativo sobre aquelas palavras que estavam a se repetir em sua mente. Caminhava pelo templo até passar bem próximo da armadura de Gêmeos em sua forma simbólica, exposta no plano em destaque do templo. Havia parado no terceiro degrau das escadas quando ficou a olhá-la por longos instantes, depois para a saída do terceiro templo que seguiria para Câncer e subindo as Casas Zodiacais. "Será que...", e seguiu em direção à saída de Gêmeos.

Merikh não estava em Câncer. Certamente era noite de patrulha dele, o que permitiria passar pelo templo sem maiores questionamentos. "Esse lugar me causa arrepios...!", pensou Qüine sentindo leve frio. Leão também estava vazio, não ouvira falar de qualquer guardião ali. Em Virgem, esperava encontrar o Cavaleiro, mas também estava ausente. Lembrou-se de que estava sempre a acompanhar Athena em seu templo, fazendo-o seguir em frente.

Libra, apenas encontrou a balança exposta tal como ficava em Gêmeos, o que o fez pensar na ausência da armadura de Leão. "Existe um guardião, mas também ausente? Então, não estou tão louco assim", pensou ele seguindo até seu destino: a Casa de Escorpião.

Não tinha conhecimento de um Cavaleiro naquele templo, mas também desconhecia de Câncer até encontrá-lo no anfiteatro. Com os acontecimentos com Antares, ficara limitado a Áries e ao seu templo, Gêmeos. Psychē conhecera ao acaso e esperava também conhecer o Cavaleiro do Oitavo templo ali, restrito à sua Casa Zodiacal. No entanto, sentiu apenas o vazio.

"Estranho... Sinto-me como se estivesse entrando num covil!”, pensou ele olhando o templo às escuras. Era como se houvesse olhos vigiando-o, esperando por um momento adequado para atacá-lo. Por outro lado, sentiu um leve dejà vu.

No entanto, não havia qualquer vestígio de algum Cavaleiro enquanto caminhava pelo templo de modo cuidadoso, alerta sobre qualquer algo que pudesse surgir. Estava como um intruso, analisando cada canto do templo até notar algo, reconhecendo a armadura de Escorpião exposta em sua forma escorpiana.

No entanto, Qüine se mostrou surpreso em ver o estado da armadura. Estava sem o seu tom dourado, parecendo descascar em algumas partes como se fosse um metal qualquer, com inúmeras fissuras e partes faltantes que estava ao chão como se deteriorasse aos poucos. Não havia presença nem o brilho de outras armaduras como Touro, Gêmeos ou Libra como vira em seus templos.

— M-Mas... porque... — e voltou-se para a entrada de Escorpião, para a saída e interior do templo antes de se voltar novamente para a armadura e circulá-la, vendo seu estado lamentável. — O que diabos aconteceu com você...?

O rapaz colocou-se novamente em frente à armadura, observando-a.

— Bom... Parece que não há um guardião, mas espera pela seu... ou seria “a sua”? — sorriu o Geminiano ainda olhando para armadura, sem qualquer reação da mesma. “Morta”, pensou ele, embora jamais tenha visto uma armadura naquele estado tão deplorável. — Parece que você está esquecida aqui... nesse lugar escuro e bem sinistro, eu diria. Por outro lado... — e se levantou, caminhando pelas dependências.

Chegou a caminhar até os corredores que levaria até às dependências domésticas, no plano inferior da casa em si, diferente de suas dependências que ficava num andar superior. “Um local digno de escorpiões: escuro e seco, além de quente!”, pensou Qüine, apoiando-se na porta quando sentiu algo espetá-lo e ver o fio de sangue em sua mão, praguejando mentalmente. Ao voltar-se para o salão, conferiu uma farpa, removendo-a de sua palma, observando a armadura diante dele. “Por que não?”, pensou ele.

— Não sou seu guardião, mas isso não impediu de outros Cavaleiros darem seu sangue por outras armaduras de modo a revivê-las. — disse ele diante da indumentária silenciosa. — Mas, talvez possa ajudá-la a se recuperar, ainda que gradativamente até que Kiki possa ajudá-lo. — e aproximou a mão ferida para bem próxima da armadura, deixando algumas gotas de sangue caírem sobre ela.

A primeira reação foi um estremecer da armadura que surpreendeu Qüine, observando aquilo que seria a cauda de Escorpião mover-se. As gotas de sangue sobre a armadura pareceram evaporar com a sua luminescência, destacando o visor com brilhos vermelhos em direção do rapaz que recuara alguns passos.

“O que é isso? Que Cosmo agressivo é esse?!”, pensou o Geminiano olhando aquilo com os olhos arregalados, vendo um brilho reluzir em sua direção proveniente da cauda do escorpião, trilhando uma luz vermelha até ele, fazendo-o voar alguns metros até a parede do outro lado.

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Kiki estava guardando as ferramentas para retirar-se para seu descanso. Havia preparado as armaduras e agora era deixar que elas se encarregassem pela “cicatrização” com o gamânio antes de corrigi-las na manhã seguinte.

Olhou para todas restauradas naqueles últimos anos orgulhoso, embora ainda restasse uma que o preocupava. “As armaduras tem seu tempo. Respeite-as e deixe-as escolher quando revivê-las”, explicou Mu enquanto corrigia as armaduras de Pegasus e Dragão na ocasião. No entanto, já se passavam 15 anos desde então.

Quando se dirigia para suas dependências, sentiu aquela explosão de Cosmo, juntamente com outro tão agressivo quanto aquele que o atacou há algum tempo. O primeiro era bem conhecido por ele.

— QÜINE!


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos:
Saga retorna de sua missão e os conflitos internos logo começam se agravar, sobretudo ao reencontrar Kanon na ausência de Selene que segue para Atenas.
Mais dos personagens clássicos interagindo.



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