Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 56
Livro 2 :: Dualidade - Ato 14


Notas iniciais do capítulo

Selene e Afrodite seguem para o Santuário para uma audiência com Grande Mestre, mas uma colisão de Cosmos retardará esse encontro.
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Peço desculpas a todos, mas bloqueios acontecem. No entanto, fazer uma promessa desse ano concluir essa fic e começar Gaiden dos personagens apresentados aqui. Portanto, aguardem! :)



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— Caso esteja inseguro, podemos tentar outro dia. — disse Selene quebrando aquele silêncio entre os dois, vendo o garoto ao seu lado que não escondia sua ansiedade.

— Não! Eu estou bem, não se preocupe. — forçou um sorriso, embora realmente não se sentia tão seguro de si como gostaria. "É só uma reunião. Que mal há?", pensou ele novamente.

A decisão de seguir para o Santuário partira dele próprio, entusiasmado em participar dos jogos que aconteceriam durante a Panatenaia, os festejos de júbilo à Athena que ocorriam anualmente. Entretanto, como Selene havia explicado, estas eram fechadas apenas aos aspirantes presentes no Santuário, com raras exceções para aqueles em territórios externos administrados por Cavaleiros nomeados pelo Grande Mestre e Patriarca.

Após aquela noite quando conversaram sobre sua viagem para o Templo Sagrado da deusa em Atenas, Afrodite sentiu-se impelido a não mais adiar sua apresentação, o que foi decidido na tarde seguinte enquanto ele treinava no vale que adotou como seu refúgio e campo de treino. Naquela noite mesmo a Prata havia assegurado que sua apresentação junto ao Grande Mestre aconteceria nos próximos dois dias.

Foram os dias mais longos do qual o jovem poderia se lembrar.

— O Grande Mestre é uma boa pessoa. Ele vai compreender se pedir mais alguns dias... — dizia Selene após aquele longo silêncio.

— Não! Não seria a postura de um cavaleiro voltar com sua palavra. Creio que já adiei isso por tempo demais! — disse ele com convicção, embora estivesse a abrir e fechar os punhos insistentemente. — Vai estar ao meu lado, não é mesmo?

A Amazona interrompeu seus passos, tocando em seu ombro e ficando de frente para o menino, curvando-se apenas um pouco. Embora estivesse naquele momento com sua máscara, o pequeno tinha certeza de que ela estava a sorrir por trás daquilo por conta de seu movimento da cabeça um pouco para o lado.

— Sim, eu estarei ao seu lado, mas não poderei interferir em nada em sua conversação. Siga as orientações que lhe passei e tudo vai dar certo.

Afrodite assentiu, sorrindo de maneira contida. O toque dela lhe passava confiança, o que o ajudou por hora. Continuaram seguindo o caminho, deixando o limite do Campo das Amazonas para trás. Já era possível ver Rodório ao longe, tal como o anfiteatro e outras ruínas próximas. Enquanto contemplava a paisagem, ouviu Selene dizer que Aiolos, o cavaleiro que a acompanhou na missão de quando ela o encontrou, ajudaria no que precisasse em sua ausência.

— Talvez você e Aiolia acabem treinando juntos. — dizia ela voltando-se para Afrodite, buscando distraí-lo. — Ele é o irmão mais novo do Aiolos. Acredito que tenham a mesma idade e que possam...

Suas palavras silenciaram quando sentiu um Cosmo irradiar nas proximidades. Não somente a Prata como aquele que a acompanhava também pareceu se assustar. Ambos buscavam a origem daquilo quando viram um brilho vir de uma clareira mais adiante de onde estavam.

— Isso foi... um Cosmo... Não! Foram dois Cosmos! — comentou Selene olhando a energia se dissipar.

— Sim! E-Eu também senti isso. Foram... dois Cosmos colidindo...! — comentou Afrodite olhando na mesma direção que a Prata, fazendo os dois se entreolharem por alguns instantes.

— Venha comigo. Não se afaste de mim! — alertou a Prata ganhando a dianteira, com Afrodite a acompanhá-la.

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Ele estava a alongar as pernas, mantendo-as paralelas na abertura do quadril enquanto deslocava a esquerda para lateral, flexionando o joelho e a direita estendida. Contava mentalmente até dez e mudando a posição antes de se colocar de pé e fingir uma corrida. Por fim, parava, levando a mão à cintura, aspirando e soltando o ar num exercício aeróbico.

Mon Dieu, Milo... — reclamou Camus que estava apenas a observá-lo. — Pra que tudo isso? Isso é apenas um treino, não uma maratona!

— Estou fazendo um alongamento, ok? — disse ele alongando agora os braços, sendo um esticado para o lado oposto com o outro servindo de apoio mantendo-se sobre este. — Preciso ser mais rápido! — e mudou a posição.

Camus revirou os olhos, abaixando-se para servir-se de água. Um simples pulsar de Cosmo e a mesma pareceu congelar, permitindo que o francês esboçasse um discreto sorriso antes de bebericar a água gelada.

— A quanto estamos? Dois a um pra você, não é mesmo? — lembrou Milo servindo-se também de água, percebendo que a sua estava quente.

Oui! — confirmou Camus, jogando outra garrafa para ele que a pega no ar. — Venci dois turnos e você um. Vencendo a terceira, encerramos por hoje.

— Não vai... — limpa a boca após deixar um pouco da água molhar sua blusa já suada. — ... ganhar esse turno. Não acha que está muito confiante?

— Você está focado demais em me atingir e não está atento à sua volta. Está dando abertura demais! — criticou Camus apontando à sua volta. — Você tem uma reta permitindo sua velocidade e está se garantindo demais nisso.

— De acordo... — comentou Milo a contragosto. Ainda sentia o joelho levemente dormente por conta do golpe do amigo de treino, levando-o alongar mais demoradamente a perna direita.

Desde quando treinaram no Santuário com o anfiteatro transformado numa pista de gelo após uma noite chuvosa, Milo tomou aquilo como um desafio de treinar sua velocidade de ataque em terrenos escorregadios.

Em terra plana era favorável a ele, mas percebeu que sobre gelo perdia o atrito, fazendo-o escorregar muito e se desequilibrar facilmente e, com isso, perder sua velocidade, acabando por favorecer seu oponente.

Camus era rápido e conhecia bem onde e quando atacar, o que o fez ganhar dois turnos. Primeiro por congelar o chão num dado momento, fazendo-o perder foco ao buscar equilibrar-se, além do próprio frio repentino. Aquele milionésimo de segundo foi o suficiente para ser atacado e perder seu ataque. Na segunda tentativa, ainda que tenha gastado um instante para desviar do golpe, Camus usou aquilo para atingi-lo no joelho e fazê-lo cair, escorregando até seus pés.

A sua investida contra o francês foi bem-sucedida somente na primeira ação, o que Milo acreditou ter sido proposital de Camus para estudar seu ataque e abertura do qual pudesse usar contra nos turnos seguintes, e deu certo. Agora, era Milo quem deveria reverter aquilo.

"Preciso quebrar sua concentração, enganá-lo, mas para isso, terei que empregar mais força em minha corrida", pensava ele, calculando a distância entre eles que era de, aproximadamente, 50 m. "Talvez fazer o mesmo que com Selene, quando ela aumentava a minha massa, tornando mais difícil meu movimento juntamente com a gravidade".

Os dois, Milo e Selene, chegaram a treinar duas vezes na semana até pouco antes de sua viagem, o que o ajudou a calcular sua dinâmica, e agora com Camus, talvez pudesse aplicar aquilo com o terreno que o mesmo estava a proporcionar. Verdadeiramente, Milo buscava prever qual seria a nova investida do amigo.

— Muito bem. Estou pronto. — e colocou-se em posição de ataque enquanto assistia Camus se levantar, deixando a garrafa de lado, mas mantendo uma postura neutra.

— Se eu vencer esse turno, encerramos o treinamento por hoje. — disse incisivo em suas palavras, voltando à seriedade.

— O que não vai acontecer e vamos decidir no próximo turno como foi combinado, sem revanche. — pontuou Milo confiante, observando a reta até o amigo e prováveis obstáculos que seriam postos ou mesmo que o ajudariam naquela investida.

O jovem grego assentiu e disparou na direção do outro, no que parecia ser mais uma repetição das rodadas anteriores, exceto por um detalhe. Em certo momento, ergueu o braço direito, com o dedo em riste, pronto para atacar.

Camus apenas afastou um pouco mais as pernas de modo a manter-se firme para executar seu ataque. Tal como nas outras vezes, não faria uso dos dois braços. Apenas aguardaria o momento certo e isso foi quando viu a garra vermelha da mão de Milo brilhar com seu fio.

“Ele não aprende...?!”, pensou o francês já concentrando seu Cosmo em seu punho, com pequenos cristais de gelo surgirem à sua volta. Assim como Milo, deixara o dedo em riste para um único pulsar próximo aos seus pés, emitindo um leve disparo como se criasse poças de gelo.

O outro se aproximou até certo ponto, buscando evitar o piso escorregadio, e subitamente pulou o mais alto que conseguiu, fazendo com que perdesse velocidade por uma ínfima fração de tempo.

Camus surpreendeu-se ao ver o amigo saltar, fazendo-o ganhar mais velocidade usando as árvores como impulso para avançar contra ele.

“Droga!”, praguejou mentalmente fazendo uma careta que mesclava medo e raiva por tê-lo subestimado naquele momento. Na busca de tentar atingi-lo mais uma vez, viu o ferrão pulsando para o ataque em sua direção. Apenas um brilho foi visto antes que pudesse, também, deferir uma rajada maior que aquelas que fizera as poças de gelo.

Entretanto, o impulso dado pelo grego permitiu que ele pudesse dar um mortal para frente e esquivar-se do golpe. Logo em seguida, Camus fizera um segundo disparo, fazendo com que os dois golpes se colidissem.

Selene e Afrodite alcançaram o ponto de colisão, encontrando os dois no exato momento que o grego ganhara o chão, ainda de pé e braço esticado incrédulo com o que havia feito. Seu ferrão parecia emanar o resquício do Cosmo do qual empregara seu golpe. Respirava ofegante, tanto quanto ao francês.

Camus estava às suas costas, voltado contra seu companheiro de treino, com o ombro direito levemente caído para o lado, fazendo-o cair ajoelhado, apoiando-se com as duas mãos no chão antes de levar a mão esquerda sobre o ombro direito onde havia o furo de uma agulha.

Milo caiu ajoelhado em seguida, ainda de costas para o amigo, percebendo uma fina camada de gelo em seu braço que seguiu até o ombro e cabelo com cristais como neve.

— Milo! Camus! O que estão fazendo? — indagou Selene olhando os dois.

Ambos se voltaram simultaneamente para a Prata e ao jovem ao seu lado. Somente então se voltaram um para o outro e riram, embora Camus tenha coberto seu rosto pelas madeixas ruivas enquanto tentava se levantar com alguma dificuldade.

— Bom, pela reação de vocês... menos mal. — disse a Prata respirando aliviada. — Senti dois Cosmos em choque e temi o pior. O que aconteceu aqui?

— Estávamos treinando, Selene. — Milo se prontificou a responder, enquanto andava na direção do amigo e lhe estendia a mão, ajudando-o a ficar de pé. — Falta apenas mais um turno e aí encerramos. — e olhou de esguelha para o francês, com ar de provocação. — Não é, Camus?

— U-Um... último turno...! — murmurou, com a mão sobre o local alvejado, exato braço do qual fizera seu ataque. — Belo golpe!

— Não acho que estejam em condições de continuar. — comentou a Amazona olhando para os dois. Afrodite se mantinha ao seu lado, apenas observador. — Não acham que estão exagerando? Sem uso de armaduras e usando Cosmo como senti há pouco, poderiam ter se matado!

— Não é pra tanto... — comentou Milo puxando ainda da perna, sentindo-a tão dormente quanto antes, e por ter exagerado, sentiu uma leve torção no tornozelo. — Nem exageramos tanto assim. Apenas nos empolgamos um pouco, nada mais que isso.

— Aquilo é gelo? — apontou Afrodite para alguns galhos cobertos como se tivesse recebido uma nevasca, deixando um palmo cair na cabeça do grego que praguejou.

— Estou vendo... — comentou Selene em resposta às palavras de Milo.

— Queríamos testar nosso limite, bloquear os golpes... — comentou Camus já de pé, com a mão na ferida do ombro da qual buscava amenizar aquela dor. — Porém, concordo. — e olhou em direção do amigo que bagunçava os cabelos removendo os cristais de gelo. — Acabamos por nos empolgar... Ugh!

Camus sentia uma leve dor que o fez se encolher, chamando a atenção de Milo que foi ao seu encontro, forçando-o a ficar de pé e puxando a gola da blusa para ver melhor o ferimento. Fina como uma agulha. Pressionou o local, deixando sair um filete de sangue 'espumoso'.

Ao contrário do francês, seu amigo tomou-lhe a ferida com a ponta do dedo, sem mais a presença do ferrão, cauterizando o lugar. Aquilo provocou uma forte queimação que fez Camus fazer uma careta de dor, mas amenizando instantaneamente o que sentia e contendo o sangramento.

— Desculpa, Camus. — comentou Milo se afastando, vendo-o olhar o lugar da ferida. — Neutralizei o veneno e, com isso, cortar o sangramento. Foi mal!

— Veneno...? — indagou Afrodite ao ouvir aquilo. — Essa garra em sua mão... é um ferrão? Parece muito com um escorpião. Você o envenenou... com isso?!

— É... Foi! — respondeu o grego, em primeiro instante, piscando aturdido. — Não foi proposital! — se defendeu levantando as mãos e depois apontando para Afrodite. — Tipo, nunca o vi por aqui.

— Ah, sim... — dizia Selene olhando os três e sorrindo por baixo da máscara. — Estou levando-o para apresentá-lo ao Grande Mestre.  Milo, Camus... esse é Afrodite.

O nome, certamente, soara estranho ao ouvido de ambos que se entreolharam curioso. O jovem deveria ser pouco mais novo que eles, mas de uma aparência afeminada com traços delicados e cabelos ondulados que caia até pouco acima dos ombros. Como não usava uma máscara como a amazona ali presente, a conclusão soava óbvio.

— Sou um garoto, tanto quanto vocês, apesar do nome. — disse ele sem rodeios e esboçando um sorriso.

— Afrodite...? — indagou o grego, percebendo o olhar de censura de Camus e uma leve cotovelada. — Quê?

— Sim, é meu nome. — disse com orgulho. — Inspirei-me no templo do vale mais abaixo, onde guarda as antigas ruínas do templo onde tenho treinado... Onde estabeleci como meu renascimento, digamos assim.

Milo fez uma expressão de quem não havia entendido tão bem, ao contrário de Camus que o observava sério. Franziu o cenho e baixou o olhar pensativo.

— Fala do templo no vale próximo a garganta rochosa...? — apontou Camus, vendo o garoto confirmar. — Entendo... Então foi seu Cosmo que senti há alguns dias.

— De certo que sim. — afirmou Selene. — Tenho acompanhado os treinos dele desde então, motivo esse que estive ausente no anfiteatro nas últimas semanas.

— Ah, seja bem-vindo! — disse Milo. — Vai participar dos jogos? Todos estão se preparando para isso, razão esta que Camus e eu viemos treinar aqui para que não nos vissem...

— Os jogos que diz é o torneio da Pan... Pana... Panatenaia...? — e se volta para Selene que assentiu sobre ele ter falado corretamente. — É o que quero, mas ainda não sei bem se poderei participar.

— Estava a levar Afrodite até o Grande Mestre quando sentimos essa brincadeira de vocês. — comentou a Amazona de braços cruzados. — Recomendo que procurem o curandeiro se ainda quiserem participar dos jogos em plenas condições.

Os dois riram, o francês sempre de modo contido buscando um lugar para se sentar. Recolhia um rolo de ataduras de sua mochila enquanto Afrodite se aproximava do grego para perguntar sobre o ferrão que vira ainda em riste quando ali chegaram. Este, orgulhoso de sua habilidade, explicava que, de fato, aquilo era o ferrão do escorpião. "Agulha Escarlate", como ele tanto gostava de dizer.

— Milo não se cansa de explicar sobre isso... — implicou Camus massageando o local da ferida com uma mão e buscando abrir a atadura com a outra, tomada por Selene que fazia isso por ele. — Ele não é daqui.

— Não. Afrodite é sueco, segundo me disse. —  disse Selene fazendo sinal para ele remover a blusa o suficiente para ajudá-lo a limpar o sangue seco já que o movimento de seu braço ainda era dolorido. — Aiolos e eu o encontramos num vilarejo ao norte da Suécia, próximo da fronteira com a Dinamarca...

— Então é mais um estrangeiro para provar o seu valor? — olhou de soslaio para a jovem que conferia o ferimento. Sentia dolorido, mas não reclamou como antes. — Ele terá que ser forte para o que virá.

— Ele é, acredite. Ah, pressione com seu ar frio. Vai ajudar na queimação e amenizar mais. — recomendou, sentando-se ao seu lado e enrolando o restante da atadura. — Isso é algo que não consigo entender. Estamos todos aqui com um propósito único e ficam com essa marginalização...

— Concordo com você. — e voltou-se para Afrodite que tinha uma rosa vermelha em mãos, conjurada com seu Cosmo. — Uma minoria barulhenta que não entende que o objetivo de todos aqui é unicamente fazer valer o desejo de Athena. Delimitam o espaço numa arrogância acreditando que apenas os gregos devem carregar tal dever. — cuspiu aquelas palavras em desprezo. — Acha que ele está preparado para os jogos?

— Sim, acredito que Afrodite tenha grande potencial. No entanto... — ela respondeu guardando a atadura na mochila do francês. — Creio que ele terá outras preocupações ao chegar no Santuário.

— Ele vai saber lidar. Também tive dificuldades em me adaptar de início... — ele tocou na longa mecha de cabelo ruivo, percebido por Selene. — Mas consegui esfriar os ânimos o suficiente para saberem com quem estava lidando.

Selene franziu o cenho e voltou-se para Camus ao ouvir aquelas palavras. Ele estava realmente a fazer aquele trocadilho? Ela quis rir, mas se conteve, embora levou a mão à altura dos lábios, sob a máscara. O ruivo sorri de canto com aquilo, o que era uma cena rara.

— Desculpe por isso, não consegui evitar. — lamentou-se ela por aquilo, ainda rindo.

— Eu sei. O Milo mesmo já me repreendeu com isso, de que sou sério demais. — comentou ele buscando sua água e bebericando.

— Bom... Seja lá o que aconteceu, nem sempre é possível aceitar. — comentou a Prata sem que percebesse.

Camus desceu a garrafa dos lábios lentamente, mas não se voltou de imediato para a Prata. Ficou a olhar um ponto qualquer no chão como se sentisse um baque. No entanto, nem bem teve tempo de perguntar ou mesmo dirigir-se à Amazona ao seu lado sobre o que ela disse porque ouviu Milo chamá-lo, se aproximando.

— Camus, vamos ao nosso último turno?

— Que tal deixarem isso para outro dia? — recomendou Selene se levantando, sem perceber a reação de Camus que buscou disfarçar pegando sua mochila. — Os dois devem procurar o curandeiro na vila imediatamente! Camus está transpirando muito e seria bom ver aquela ferida, enquanto que você, Milo, seria bom ver essa sua perna. Deve ter recebido um golpe frio, não é mesmo?

— Verdade... — e o grego olhou para a perna. — Ainda a sinto levemente dormente, mas ainda consigo...

— Ainda querem participar dos jogos? — interrompeu ela o fitando, vendo-o ficar pensativo. — Usem o resto da tarde para estudos teóricos. Quem sabe... Física?

— Ela está certa. Deixemos essa decisão quando estivermos plenos de nossas condições. Damos por fim hoje. — decidiu Camus se levantando, fazendo leves movimentos com o ombro.

— Tudo bem! Ficamos no empate. — disse o grego levantando os braços em redenção. — Mas eu disse que venceria esse turno. — apontou orgulhoso.

— Foi sorte! Eu te dei a dica antes. Na próxima, fico calado! — resmungou o francês.

— Sei... — desdenhou Milo, se voltando para Afrodite. — Hey, marcamos qualquer dia. Estou pelo anfiteatro. Veremos quem tem o golpe mais venenoso! — disse em tom desafiador.

Camus apenas revirou os olhos, conferindo seus pertences. Entretanto, por mais uma vez ficou a observar ao novato enquanto acertavam aquele detalhe e se despedia junto com a Amazona que insistiu de ambos buscassem pelo curandeiro no vilarejo. Um aceno do francês que cerrou os olhos para Afrodite. Nem bem ouvia o amigo que se vangloriava de sua investida naquele último turno. Quando sozinhos, Camus apenas deixou seu pensamento ganhar voz.

— Esse garoto... Guarda um Cosmo poderoso.

Milo acabava de fechar sua mochila, vendo Selene e Afrodite desaparecerem adiante, se voltou para o outro sem entender.

— Como assim? — e levantou-se, jogando a bolsa nas costas. — Como pode saber disso se ele não fez nada aqui?

— Não precisa. — comentou o francês voltando à sua seriedade. — O seu olhar inspira medo, por trás daquela carinha... e isso pode lhe dar uma grande vantagem.


───────.∰.───────

Os passos ecoavam firmes e metálicos. Selene não mais estava com suas vestes de treino básica, mas com sua indumentária de Prata que permitia uma imponência maior. Quando a viu trajar aquilo, Afrodite admirou-se. A última vez que a tinha visto havia acontecido uma batalha e estava com manchas de sumos das raízes que a aprisionara, seu sangue e algumas marcas de batalha. Agora, estava perfeita e reluzente, tal como sua máscara em tom fosco de prata, branco e desenhos lilases tal como eram seus olhos.

— Não sei se vou me acostumar de vê-la com essa máscara. — comentou ele enquanto seguiam pelo corredor que os levariam à sala onde o Grande Mestre os aguardava. — Não sei por que as mulheres aqui precisam usar isso. A Mosca Negro não usava.

— Bom, ela menosprezou tudo para conseguir saciar seus desejos. Não me espanta que ela ou qualquer outra que exista abdicassem a Máscara. — comentou a Amazona voltando-se para ele. — A máscara foi um juramento das primeiras mulheres que abdicaram tudo que elas eram para se tornarem guerreiras e lutarem ao lado de Athena. Como apenas homens lutavam nos exércitos em Atenas, a máscara foi um meio de se igualar a eles e foi mantido desde então. É proibido, após o juramento, revelarmos nossos rostos.

— Então, eu não podia ter visto você sem a máscara? — indagou surpreso.

— Há circunstâncias, mas peço que jamais conte isso a qualquer um. — disse ela colocando a palma sobre a altura de um dos olhos e afastando com apenas dois dedos em riste. Um sinal para uma piscadela denotando confiança.

Afrodite assentiu, voltando a contemplar todo aquele templo e sua riqueza nos detalhes, das pilastras ao teto rebaixado em gesso com figuras em relevo que parecia expressar antigas batalhas, tais como nas paredes mais distantes. Era como nos templos zodiacais da qual atravessou até chegar ali. Deveria soar cansativo ao longo da subida, mas, incrivelmente, não o era.

Cada templo tinha sua beleza singular. Mesmo as vazias, a grande maioria, tinha sua imponência, talvez por conta das armaduras em sua forma que parecia vigiá-los enquanto passava. A Prata havia explicado que, mesmo sem o seu guardião a vesti-las, estavam vivas e vigilantes contra qualquer ameaça.

Para tanto, cada templo tinha o seu Cavaleiro, a quem deveria dar concessão de passagem. Contudo, apenas dois templos de fato tinham seu guardião naquele momento: Gêmeos, da qual seu cavaleiro ainda estava fora em missão — o que deixava Selene ansiosa e ainda preocupada — e Sagitário, da qual o jovem conhecera como Aiolos.

O Cavaleiro do Nono Templo parecia esperá-los, vestido com sua indumentária Dourada, as asas se recolhendo como de alguém que acabara de pousar. O elmo foi removido com um movimento de mãos.

— Olá... Afrodite! — e olhou para Selene para confirmar se o chamara corretamente. — Nos encontramos novamente. Nervoso? — indagou com empatia, tentando uma aproximação após rápido cumprimento. Da última vez, o jovem ainda estava demasiadamente arisco pelos acontecimentos na ocasião. Agora, no entanto, mostrava-se bem seguro de si. — Tenho conhecimento de sua evolução por Pyxis. Espero que o Grande Mestre conceda a chance de participar dos jogos que virão.

— Acha que o Grande Mestre permitirá? — questionou um tanto duvidoso.

— Os jogos são arriscados, e recomendo somente se estiver muito bem preparado. — disse Aiolos com cautela. — Afinal, o risco de morrer é grande. Uma vez que tenha iniciado seu embate, ninguém pode interferir.

Aquelas palavras fizeram Selene respirar fundo. Ela havia quebrado aquela regra quando interferiu no embate de Saga e Kanon, fazendo o mais novo odiá-la por aquilo, acreditando que ela favorecera o mais velho. Mesmo o Geminiano havia recriminado sua ação e acreditou que ele jamais a perdoaria. Saga sim, mas Kanon parecia longe disso.

— O Grande Mestre os aguarda. Acabo de vir do templo dele exatamente para os preparativos do júbilo, embora eu preciso aguardar por Saga. — comentou ele num suspiro. — Não mais vou atrasá-los. — e abriu a passagem para os dois. — Seja bem-vindo, Afrodite.

O garoto agradeceu, acompanhando Selene pela caminhada das Casas Zodiacais restantes. Em Capricórnio, embora também estivesse sem o seu guardião oficialmente, ambos puderam sentir um leve estremecer ao passarem pelo pátio que dava acesso à Aquário. Pela poeira que subiu no abismo que ali havia, Afrodite aproximou-se do parapeito e vendo um homem de cabelos escuros e curtos com seu braço esticado. Era como um fio afiado reluzisse com a luz do sol.

— Seu nome é Shura. Ele chegou aqui há um ano, aproximadamente. — dizia Selene. — Ele teve a permissão do Grande Mestre de treinar aqui sem que ofereça riscos a qualquer um por conta de sua habilidade que lembra de uma espada afiada.

— Como aquele que conhecemos no primeiro templo? — perguntou o garoto se afastando do parapeito.

— Sim! Mu é aprendiz do Grande Mestre e também treina em Áries as suas técnicas criando barreiras de contenção. O mesmo vale para Mephisto em Cancer... — e sentiu um leve arrepio, tal como o jovem também se arrepiou ao passarem pelo quarto templo.

— Enquanto na Casa de Câncer senti algo perturbador, no sexto templo senti uma grande paz... — lembrou ele olhando para trás, vendo a Casa de Virgem mais abaixo.

— Shaka mantém-se muito ali. Certamente o Grande Mestre vai orientá-lo a procurá-lo. Ele tem ajudado muitos Cavaleiros a se adaptarem, desligando-se do mundo de fora.

Afrodite nada disse, senão seguir o caminho, passando rápido por Aquário, mas demorando-se ao ver a Casa de Peixes. "A Casa do Mestre Halfeti...!", pensou ele engolindo a seco. Talvez aquilo estava a deixá-lo mais ansioso que a própria audiência com o Grande Mestre em si.

Embora estivesse em ruínas, era notável que os pilares que sustentavam aquele templo muito se pareciam com aquelas do vale, mas sem o ramo de rosas que adornavam sua estrutura.

Ali, no último templo, somente havia as sombras das que existiram algum dia, sendo um lugar morto sem a presença de seu guardião, tomado pelas sombras. Por outro lado, ao ver a indumentária de Peixes, encantou-se por sua beleza e imponência. Era como a armadura negra, mas o Dourado era ainda mais bela.

— O último templo é dito como o mais importante. O Cavaleiro de Peixes é a última muralha para evitar que qualquer inimigo chegue ao Templo do Patriarca e, consequentemente, de Athena. — apontou Selene para o alto da escada, onde era visto a grande estátua da deusa como vigiando todo o Santuário.

Afrodite lançou o olhar para a estátua por trás do Templo acima. Era maior do que havia imaginado quando a avistou ainda do anfiteatro. "Ela... é linda!", pensou em contemplação. Ouviu ser chamado duas vezes até seguirem o caminho, com o Templo do Patriarca bem diante deles. Nas escadarias, no entanto, pensava o quão belo seria um jardim ali.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos...
Afrodite se apresenta ao Grande Mestre. Saga finalmente retorna ao Santuário e Kanon surge das sombras.



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