Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 51
Livro 2 :: Dualidade - Ato 10


Notas iniciais do capítulo

Selene leva seu jovem aprendiz ao vale proibido para o maior de todos os seus testes, mas também onde será colocado à prova sobre seu potencial.



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A escolha do lugar possuía inúmeros propósitos. Antes, porém, era preciso toda uma avaliação física daquele jovem e sobre o quão intenso era seu Cosmo. O que Selene sentiu e assistiu naquele templo não foi algo momentâneo, ainda que houvesse uma força misteriosa por trás de suas ações e que o amedrontaram posteriormente. No entanto, não impediu o jovem de salvá-la nem de ajudar Aiolos.

Os primeiros dias foram tímidos e hesitantes, mas o menino mostrou-se bastante ágil e perspicaz nas ações mais evasivas. A Amazona não o forçou a nada, mas instigava que ele reagisse aos seus ataques moderados além de apenas esquivar-se e bloquear, conseguindo algum sucesso no quinto dia somente.

"Ele está hesitante, temendo me machucar, embora sinta que ele queira reagir", avaliou a Prata através de uma leitura corporal do jovem, mas era seu olhar que mais a intrigava. Não havia medo, somente um leve receio para com ela. Quando sozinho, flagrou-o numa performance realmente admirável manipulando o ambiente à sua volta utilizando-o como defesa e até mesmo ataque tal como vira em Halfeti.

No entanto, não havia a agressividade, mas uma serenidade que podia induzir o inimigo a subestimá-lo naquele campo que, e conforme sua vontade, poderia tornar-se mortal. Uma cilada simplória que encantara até mesmo a Amazona ao ser surpreendida por uma coroa de rosas com suas pétalas lilases únicas e perfume singular.

Pela primeira vez, naquela noite, ele tentou expressar-se além de seus gestos, mas algo ainda o inibia. Medo.

Que terrores aquele menino teria passado quando ainda estava nas mãos de Halfeti? A julgar pelas marcas em seu corpo, muitos. E mesmo assim, aquela criança conseguiu sobreviver. Um pequeno milagre.

— Chegamos! — disse a Prata, virando-se para trás e vendo o garoto a segui-la.

Ambos carregavam, cada um, uma pequena mochila com alguns pertences básicos, uma recomendação da Amazona. Chegaram ofegantes àquele vale com terra batida e pedras meio às ruínas o que, um dia, fora um templo ou um grande pátio deste.

Era um local aparentemente abandonado, bem atrás do Monte Zodiacal onde precisaram contornar para chegar até ali. O bom era que um pequeno rio cristalino corria próximo dali e puderam servir-se de uma água bem fria apesar da alta temperatura já naquelas primeiras horas da manhã.

Sem qualquer hesitação, Selene removeu a máscara e a prendeu em sua cintura para que, então, pudesse lavar seu rosto e amenizar o calor. O garoto a acompanhou, servindo-se de água e molhando os cabelos ondulados e cheios. Haviam crescido bem naquelas últimas semanas. Até mesmo sua pele, antes levemente pálida, estava mais corada e sem mais tantas manchas em seu corpo. A recuperação estava sendo rápida.

— Hoje vamos concentrar nossos treinos aqui. — comentou a mais velha olhando ao redor. — Há um bom espaço e sem chances de sermos surpreendidos por qualquer um, muito menos por alguma das meninas. — e sorriu para ele, vendo-o fitá-la e acompanhar seus olhos pela área.

A Prata encheu uma garrafa com água que esvaziara durante o caminho e se levantou. Caminhou alguns metros à frente, até a sombra de uma árvore onde deixou a mochila. Embora tivesse trazido algo para comer nos intervalos, percebeu frutas em algumas árvores próximas, o que também muito ajudaria a passar aquele todo o dia ali. Percebeu a aproximação do pequeno, deixando sua mochila bem próxima ao dela.

— Com apenas nós dois aqui, quero ver o quanto pode agir e reagir. Creio eu que sua hesitação seria temendo que seu golpe pudesse machucar alguém. — comentou a Amazona, vendo a confirmação do menino com leve menear da cabeça. — Imaginei, e por isso pedi permissão para virmos para cá. No entanto...

A Amazona se afastou um pouco, parecendo buscar algo à sua volta e criar pequenas marcações movendo pedras e amontoando três, uma sobre a outra, em diferentes pontos. O garoto apenas observava.

— Isso é algo que teremos de trabalhar. Infelizmente não temos muitas escolhas senão lutar meio a inocentes e precisaremos saber conter nossas ações, concentrá-las em pontos específicos de modo a focar em nosso alvo. — explicava ela sob o olhar atento do garoto. — Entende o que digo?

Um suspiro. Nenhuma palavra. Com apenas sua expressão corporal Selene percebeu que havia certa apreensão no garoto quanto a isso. Era algo do qual ela também estremecia, mas sendo necessário não somente para não haver vítimas como resguardar aliados num campo de batalha.

A regra básica dos Cavaleiros era salvar, não sacrificar, independente de qual fosse a situação. Não era algo tão simples e fácil, muito pelo contrário.

— Descanse por alguns instantes enquanto preparo nosso cenário. — sorriu ela. — E então começamos.

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Os passos sobre o assoalho não eram ritmados. Denotavam ansiedade ou mesmo nervosismo de alguém que se demorava num ponto, indeciso sobre para onde ir antes de seguir uma nova reta. Batia levemente com o pé e retornava ao ponto inicial.

Quem o assistia apenas observava contando mentalmente quantas voltas aquele havia dado naquela sala de um ponto a outro. Num certo momento, deixou a pena, com a qual tentava escrever, sobre o tinteiro, seguido de um longo suspiro e cruzou os braços frente ao peito.

— Com esta, você acaba de dar 272 voltas num mesmo ponto. — Gesticulou Saga, apontando para o local sem descruzar os braços. — No entanto, diria para demorar mais no ponto esquerdo porque o direito tá quase criando um buraco de tanto que você fica sapateando. — e olhou para Aiolos, com um certo ar de cinismo.

O Sagitariano parou seus passos sem entender o que o amigo queria dizer, se dando conta que estava a andar de um lado para o outro e forçou um sorriso sem graça. Levou a mão à cabeça, parando na nuca encabulado.

— Er... desculpe. Eu te desconcentrei de algo, Saga? Eu...— dizia, ainda perdido.

— Não, imagina. Impressão sua. — O Geminiano respondeu olhando-o, ainda com cinismo. Suspirou em seguida, voltando-se para sua mesa, muito rapidamente. — Estava apenas redigindo alguns documentos para arquivamento, mas vê-lo andando de um lado para o outro, desde que chegou aqui, faz-me perguntar o que o deixa tão inquieto. Tem a ver com Aiolia?

— Er... Não. Não tem nada a ver com ele. — comentou Sagitário, enquanto buscava uma cadeira para se sentar. — Deixei instruções para seu treinamento hoje. Estou mais preocupado com a Selene.

Gêmeos olhou-o de soslaio, ligando um discreto alerta enquanto arqueava o semblante.

— Com Selene...? — Saga curvou o corpo pra frente, apoiando-se sobre a mesa. — O que eu perdi?

— Não perdeu nada. — respondeu Aiolos se voltando para ele sem desconfiar de qualquer coisa. — O Grande Mestre permitiu o acesso a área que ela pediu. Eu a chamei aqui ontem para avisar e ela disse que o levaria lá hoje.

— Então o Grande Mestre permitiu...? — o outro comentou, assentindo ainda a contragosto. — Achei que o lugar fosse proibido por razões óbvias.

— Eu também não acreditei que ele permitiria. — replicou o Sagitariano, olhando um ponto qualquer da sala. — Por outro lado, creio ser o melhor. Se o garoto pode fazer o que ela afirmou, não existe outro lugar para a prova final para saber do que ele seja capaz.

— É verdade... — admitiu o Geminiano, ficando levemente preocupado. — Selene não pediria isso se não tivesse evidências.

— Além do mais, ela queria um lugar mais isolado onde saberia que ninguém interferiria. — Continuou Aiolos. — No Campo das Amazonas podiam ser surpreendidos por qualquer uma das aprendizes. Aqui, no anfiteatro, ela disse que estava cedo demais para ele interagir com outros, embora ele já demonstre estar mais à vontade, mas....

— Mas ainda não fala. — interrompeu Gêmeos olhando para o amigo que o fitou, concordando. — Ou seja, nada sabemos de fato sobre ele, sobre até onde Halfeti o teria influenciado, AINDA QUE... — adiantou-se antes de ser interrompido pelo companheiro. — Ele tenha se arrependido ou estava influenciado por algo ou alguém, quem sabe.

Sagitário se aproximou e começou a bater com a ponta dos dedos sobre a mesa de Saga, onde apoiava o braço esquerdo esticado. Também pensava sobre aquilo, embora não comentasse sobre com o amigo. O pedido da Amazona de treinar o menino naquele vale tinha um objetivo simples, mas também preocupante, como ela se mostrou na tarde anterior.

— E você queria saber o que acontece, não é mesmo? — questionou Saga voltando a se recostar na cadeira, vendo o outro assentir.

— Sim. Confesso que sim, mas prometi que não me aproximaria para não inibir o garoto. Selene busca conquistar bastante sua confiança de modo a quebrar esse silêncio dele, buscando uma brecha... — respondeu Aiolos soltando um suspiro. — Incrível como ela tem esse brio. — falou com admiração. — Ela tem uma paz que...

O Geminiano apenas ouvia, baixando levemente o olhar.

Era verdade que Selene emanava uma serenidade que muitas vezes ajudou em seus conflitos com Kanon, ou mesmo nos atritos com jovens aprendizes que tantas vezes viu no anfiteatro — ainda que despertasse inveja de alguns poucos, como Jisty. De modo geral, todos simpatizavam com ela. Por outro lado, essa sua 'bondade' também era um defeito, pois a fazia hesitar em muitos momentos e, numa batalha, poderia ser fatal.

— Vamos esperar e confiar em suas suspeitas. — comentou Gêmeos se levantando, caminhando até uma estante próxima. — Caso se confirme, teremos essa geração completa, digamos assim... — e olhou para o amigo por cima dos ombros. — Se é que me entende.

— Sim, eu entendi. — respondeu o Sagitariano, sorrindo com mais espontaneidade. — Bom... — e se levantou, removendo o manto que vestia. — Eu vou ver Aiolia e vê se ajuda a dissipar essa ansiedade!

— Aproveita e traz um vinho. — comentou o Geminiano abrindo alguns cones e verificando seu conteúdo, guardando ao ver que não era o que buscava e tomando outro em mãos. — Também ajuda contra ansiedade.

— Boa pedida. — sorriu Sagitário. — Segura as pontas até eu voltar...?

Após um aceno, Aiolos deixou o Geminiano sozinho na sala. Saga soltou um suspiro, levando a mão aos cabelos, jogando-os para trás e olhando à sua volta, deixando dois cones sobre a mesa.

— Espero mesmo que esteja certa disso, Selene... — murmurou levemente preocupado.

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Os orbes azulados e brilhantes estavam atentas mais adiante. O jovem observava Selene montar um espaço de treino com sua habilidade cinética, usando troncos de árvores segurados por um amontoado de pedras, com cada um deles com um manto simulando alguém. Eram três ao todo espalhados fechando uma área triangular. Até ali, tinha prévia compreensão do que ela intencionava fazer.

Naquelas semanas estavam a treinar mais que habilidades de luta corporal, mas também assistir o quanto era certeira a sua mira para o ataque com suas rosas. Menos de 0,1% de erro. Uma boa estimativa, contudo, precisava melhorar. Para salvar vidas, ter uma atuação impecável e milimetricamente precisa era um requisito mínimo. Nada menos que perfeito.

Talvez o garoto já tivesse alguma ciência disso, ou talvez não. A única certeza era a de que continuava a treinar sua pontaria mesmo quando não estava nos campos de treinamento. Fazia aquilo por que a Amazona o havia instruído ou por que realmente havia gostado daquilo? Eram perguntas que ela se fazia. Quando percebeu algo nos treinos, tivera a ideia de levá-lo aquele vale por uma razão única, esperando atender suas expectativas quanto aquilo.

Após tudo organizado, ela pareceu conferir o resultado. Demorou pouco mais de uma hora para demarcar todo o local. Por fim, aproximou-se dele, vendo-o se levantar e limpar a terra de suas vestes. Ele parecia levemente ansioso, e realmente estava. Observando todo o cenário preparado, já imaginava parte do objetivo, e quando questionado sobre, apenas assentiu confirmando.

— Muito bem... — dizia Selene olhando-o. — Esses dias você se mostrou bem habilidoso, e pelo que pude perceber, é capaz de direcionar as rosas ao seu alvo. No entanto... — ela caminhou, passando por trás dele enquanto o próprio se mantinha estático, com o olhar ao espaço preparado. — Quero saber se é capaz de direcioná-las meio às distrações, enquanto tenta alvejar seu oponente e proteger aqueles próximos a ele. Um ataque centrado que pode definir a vida e a morte.

O garoto piscou aturdido com aquilo, voltando seus olhos para trás, acompanhado posteriormente com a cabeça e corpo. Ela o fitava buscando saber se ele havia entendido a proposta até ali, ficando a estudar sua reação. Porém, a sua única ação foi voltar-se para frente, como que pensativo. Não havia medo em seu olhar, ou mesmo algum receio sobre aquilo. Ele estava apenas analítico quanto a tudo, como se arquitetasse algo.

— Os bonecos improvisados serão as vítimas. Eu serei sua oponente aqui, entre eles. — disse a jovem se posicionando ao seu lado.

Desta vez, ele arregalou os olhos. Esperava ter de atacar os bonecos, não ela, fazendo-o se voltar surpreso desta vez.

— Eu vou distraí-lo com ataques, o que exigirá que se esquive de mim, mas quero que contra-ataque tomando o cuidado para não atingir os bonecos. — explicou ela ganhando alguns passos à frente. — Acha que pode fazer isso...? — e o olhou de lado.

O garoto ousou querer dizer algo, mas apenas movia seus lábios rosados sem emitir uma única palavra. Por fim, suspirou, concordando com aquilo. Viu a Amazona caminhar passos à frente, ele acompanhando-a em silêncio. Num dado momento cessou seus passos enquanto a viu ganhar posição exatamente próxima aos bonecos improvisados.

— Quero que use seu Cosmo. Sem medo. Sem qualquer hesitação. Não quero que o reprima independente os caminhos que a batalha seguir. Está me entendendo? — dizia a Prata, vendo-o piscar, compreendendo que aquilo que ela pedia poderia ser um risco. — Se não houver riscos, não há como medirmos sua capacidade e habilidades. Estamos sozinhos aqui. — disse abrindo os braços, meio ao vale. — Ninguém virá aqui. Será apenas nós dois. Você... — ela apontou para ele. — ... e eu! — e levando a mão ao peito.

Selene foi quem primeiro ascendeu seu Cosmo, em cores rubras e violetas que circulavam seu corpo começando dos pés e se distribuindo até suas mãos. Pequenas pedras, dos mais variados tamanhos, se ergueram diante dela sob o olhar atento do garoto, com seu Cosmo ainda silencioso. Por outro lado, seus olhos eram incisivos. Não piscava um instante sequer.

"Ele está esperando a minha ação...? Não há como não ser previsível, mas...", pensou a jovem que tinha o braço esticado e a mão com a palma voltada para baixo. Ela levitava gradativamente, trazendo as pedras consigo. Num instante, o que fez foi apenas apontar na direção do garoto atacando-o sem hesitação e medição de sua força de ataque.

O garoto esquivou-se saltando para o lado e para o outro, conseguindo desviar delas. No entanto, percebeu que elas faziam curvas buscando atingi-lo. Algumas acertaram troncos de árvores e outras pedras maiores que usou de abrigo momentâneo, mas seria preciso bem mais que isso.

— ESQUIVE-SE, MAS TAMBÉM ATAQUE!  — gritou a Prata caminhando apenas alguns passos para o lado. — Será preciso mais que correr. — e abriu os braços, fazendo com que mais pedras ganhassem o ar o atacasse de ambos os lados.

Os olhos do garoto se arregalaram naquele momento, deixando seu Cosmo fluir. Num movimento com as mãos, rosas surgiram entre seus dedos e sendo arremessados contra as pedras, destruindo-a no ar. Enquanto saltava, arremessava outras rosas, cerca de três num só ataque, depois mais duas na seguinte e outras quatro na terceira ofensiva.

Todos os ataques eram meio a saltos de tantas outras pedras dos quais não conseguiria destruir, mas abrindo caminho entre elas para ganhar vantagem e, então, realizar um contra-ataque mais ofensivo com uma dúzia de rosas contra as pedras que se voltavam contra ele.

Quando caiu, ofegante, observava a Amazona de pé, de braços cruzados, olhando não para ele, mas mais adiante. Ele acompanhou seus olhos e sentiu um aperto na garganta. Uma de suas rosas havia atingido um dos bonecos.

— Não foi mal, mas hesitou no primeiro instante e no seguinte pareceu se desesperar deferindo ataque às cegas. — disse ela, vendo-o ainda sentado sobre as pernas no chão. — Você matou um quem deveria proteger.

O garoto continuou a olhar para o boneco, com a rosa em seu peito. Abaixou a cabeça, mordiscando os lábios, fechando as mãos e puxando pouco de terra entre seus dedos.

— Deve não somente esquivar-se como atacar seu alvo, mas ficar atento a quem estiver ao seu redor. — Orientou a Amazona, fazendo com que ele levantasse a cabeça.  — Deve manter-se atento bem mais que o que vai contra você, pois pode ser uma mera distração para um ataque maior.

O menino permaneceu ali, parado, absorvendo cada palavra dita. Diferente do que estava acostumado, não eram ríspidas ou maliciosas. Eram calmas e visavam claramente passar alguma coisa. Olhou para as próprias mãos, ainda no chão, e depois para os bonecos, em especial para aquele que atingiu por acidente. Precisava tentar de novo.

Assentiu em resposta para ela e se colocou de pé, respirando fundo e afastando uma mecha de seu ondulado cabelo, que lhe caia sobre os olhos claros.

A mesma ação de anteriormente. Selene ergueu novamente as pedras, de diferentes tamanhos, mantendo-as no ar. No entanto, diferente da primeira vez, conseguiu reunir pequenos grupos que variavam de quatro a sete pedras, conforme o volume dos objetos. Ela os espalhava, mantendo seus olhos sobre o garoto que também a fitava. Ambos trocavam olhares, sem piscar. Quando ela baixou o olhar, as pedras avançaram em sua direção. Não houve movimento com as mãos como antes.

Ele se esquivou das primeiras pedras, e atirou suas rosas em outras que estavam para atingi-lo. Desviava e explorava frestas entre as pedras, por onde pudesse passar. Aproveitava esse meio-tempo para criar plantas, com as quais se defendeu, usando seus ramos como tentáculos para chicotear muito daquelas que não poderia destruir diretamente e ou atingi-lo.

Após aquela segunda onda de ataques, uma pausa. Os olhos do jovem ganharam os dois bonecos restantes e nenhum deles havia sido 'ferido'. Por outro lado, recebeu alguns golpes, ainda que de raspão no braço enquanto outro passou bem rente ao seu rosto, conseguindo desviar no último instante.

— Ninguém se feriu, um ponto a favor. — comentou a Amazona também olhando os bonecos inteiros. — Por outro lado, abriu sua defesa. Ainda que tenha usado os ramos para ajudá-lo contra os ataques, mas abriu brechas que o atingiram no braço e por, muito pouco, não atingiu seu rosto.

O garoto se levantava, assentindo. Ela não estava errada. Na primeira vez não se deixou ser atingido, mas seus ataques, apesar de focarem o alvo, apenas mirou nas ameaças e não nas vítimas, ‘matando’ uma delas. Na segunda, usou outras armas, preocupando-se com um grupo e dando abertura aos ataques por mais que se esquivou deles.

"Preciso balancear meus ataques com defesa, mas dividir minha atenção sem perder o foco no inimigo exige demais...!”, pensava ele, mas seus pensamentos sendo interrompidos pela Prata.

— Controle o fluxo das rosas. — disse ela fitando-o, séria, vendo-o piscar aturdido. — Os seus ataques estão lineares, retos demais. Isso faz com que estas rosas... — e apanha uma rosa negra, tocando com a ponta dos dedos uma de suas pétalas serrilhada. — Percam muito de seus atributos. Acha que pode guiá-las uma vez que esteja fora de suas mãos?

O garoto tomou a rosa entregue pela Amazona, ficando a fitá-lo. Aquelas rosas eram as preferidas de Halfeti por serem típicas de seu vilarejo como havia dito uma vez. Ele sempre a tinha em mãos, quando não usava a mista branca com pontas enegrecidas. E foi com aquela mesma rosa que também fez o que precisava ser feito.

— Não use todo seu Cosmo para invocar todas as suas defesas. Talvez deva concentrá-la num único de modo que o torne mais prático. — Continuou a Prata olhando o garoto. — Não precisa necessariamente de telecinese para isso, mas... — mordiscou os lábios. — Quem sabe orientá-las no ataque. — e arqueou o semblante deixando uma dica.

O menino assentiu com a cabeça, enxugando o suor que escorria de seu rosto e engolindo a seco. Nunca pensou em fazer algo como o que a Amazona estava pedindo, mas não seria algo tão incrível já que vira isso ao menos uma vez.

"Será que poderei fazer como o mestre...?", pensou ele olhando a rosa negra em mãos. Impregnando-a com um resquício de Cosmo, deixando-a mais afiadas, com um brilho de seu sutil fio. Observou a sombra da Prata se afastando, percebendo que ela tão logo iniciaria uma terceira onda.

Aquele intervalo foi um pouco maior, talvez para permitir um descanso ou mesmo dele reavaliar sua estratégia de ataque.

“Não posso ir muito além. Preciso ser cautelosa ou jogarei tudo a perder”, pensava Selene olhando para ele, vendo-o tomar a posição com a rosa negra em mãos.

E tal como antes, levitou outras pedras e criou, novamente, grupos concentrados, desta vez ainda mais sólidos. Aguardou apenas mais um momento antes de iniciar novos ataques em sua direção.

Tão logo viu a Prata deferir os ataques, o menino contra-atacou com sua rosa que se multiplicou no ar e acertando os grupos. No entanto, diferente de antes, as rosas não se destruíram e continuaram a atacar, inicialmente de maneira linear, outras que seguiam a mesma reta contra ele. A cada destruição, as rosas perdiam suas pétalas e se desfaziam no ar, como se perdessem seu fio.

“As rosas ficaram mais resistentes, conseguindo destruir e avançar contra as outras ameaças, quebrar os bloqueios...?”, questionou-se Selene atacando-o com pedras maiores de modo a provar sua teoria e, de fato, comprovando-o. Ela ensaiou um sorriso com aquilo, dando início sua segunda tática.

O jovem esquivava-se de alguns ataques e atacando outros, fosse no ar ou mesmo em terra com uma agilidade maior que anteriormente sem perder o foco dos bonecos. Entre as aberturas dadas pelas rosas, oferecia maior performance para um novo contra-ataque. No entanto, quando viu uma pedra maior seguir em sua direção, conjurou uma rosa entre seus dedos e lançando-o ao centro desta, fazendo-a em pedaços. As pétalas que se soltaram terminaram o serviço de destruir as partes menores.

— Muito bem, mas pode fazer melhor. — comentou a Prata enviando uma quarta onda sem descanso.

Diferente das anteriores, os ataques iniciarem lineares, e o garoto estava pronto para atacar quando arregalou os olhos e vendo as pedras darem uma curva brusca, saindo de sua linha de frente. “Mas, como foi que...”, pensou surpreendido, buscando os dois lados dos quais poderia vir o ataque.

“Torne mais prático... Quem sabe orientá-las no ataque?”, foi o que ela disse, Não havia tempo demais para pensar naquilo. Com seu Cosmo, fez surgir uma rosa negra em cada uma de suas mãos com os braços abertos.

Cruzou os braços sobre o peito e lançou-as para frente, multiplicando-as como antes. No entanto, embora estivessem atingindo outras que estavam a desviar, elas pareciam seguir um rastro invisível atrás das pedras lançadas, buscando-as para destruir enquanto ele mantinha os olhos sobre a mulher de olhos lilases que assistia aquilo.

As rosas destruíam tudo que poderiam alcançar, enquanto o garoto atacava as remanescentes, inclusive um dos ataques contra um dos bonecos meio ao caos. Contudo, essa rosa negra não se destruiu completamente no processo, e conseguiu ser desviada para o autor dos ataques que se defendeu, fazendo surgir um escudo e fazendo a rosa se esfacelar, restando apenas pétalas ao vento.

O menino se mantinha de pé, altivo, apesar de arfar cansado pelo seu esforço empregado naquele momento. Selene o fitou, vendo do que ele foi capaz e desferiu um ataque, não com pedras ou galhos que poderia usar ali, mas como uma rajada de seu próprio Cosmo.

— Já vi que pode destruir pedras, mas o quão resistente seria suas rosas? — e arqueou o semblante em desafio. — Será que podem destruir qualquer barreira? Mas, lembre-se a quem atacar e a quem defender.

O recado foi entendido, e sem hesitação, foi ele a fazer uma quinta onda de ataque, deferindo suas rosas negras contra a Prata, que conseguiu aniquilar suas rosas antes mesmo que se aproximassem dela ou mesmo desviando-as para os bonecos. Caberia o garoto retomar o ataque destas, destruindo-as ou desviando-as dos bonecos perdendo o golpe... ou não.

Naquele momento havia a preocupação de não somente esquivar-se dos ataques de Cosmo, mas de conseguir acertar o seu inimigo que usava seus ataques como arma, o que parecia difícil em vista que teria de controlar duas vezes mais a dinâmica de suas rosas. Agora, de fato, aquela ação estava a exigir duas vezes ou mais dele.

Algumas das rosas se perderam, acertando troncos de árvores mais distantes ou de desfazendo no ar quando pareciam encontrar alguma barreira invisível. Isso quando não era preciso desviar de alguns de seus ataques, onde nem sempre era possível somente saltar. Num dado momento, usou um conjunto de rosas para fazer um escudo enquanto se camuflava meios às pétalas que se espalharam após conter o ataque.

— Não pode se esconder de mim. Posso sentir seu Cosmo. — disse ela deferindo uma rajada em sua direção,

Contudo, nesse ínterim, Selene apenas viu uma rosa seguir em sua direção, uma da qual não havia visto anteriormente. "O quê? Quando foi que ele...", pensou ela, surpreendida. Foi preciso conter o seu ataque para que pudesse levantar um escudo de proteção no instante que a rosa chegou em seu perímetro.

Ao contrário das outras, ela não se desfez, mas fundir-se ao escudo de modo que a rechaçasse e explodisse, fazendo com que muitas de suas pétalas se espalhassem e a rosa atingisse seu ombro, derrubando-a processo. Das pétalas e rosas restantes, todas desapareceram como se fossem cinzas antes de aproximar-se dos bonecos.

Quando tocou o chão e viu a Prata caída, o garoto sentiu o ar faltar-lhe, mas, ainda assim, correu em sua direção. Selene se levantava, vendo o ombro sangrar pela ferida, e arrancar a rosa presa junto a mesma.

Ainda que estivesse com a ombreira, a rosa foi capaz de rasgá-la e feri-la, não tão profundamente uma vez que grande parte do ataque havia sido contido. Sentiu mãos quentes do jovem tocar em seu ombro e o sangramento parar.

— S-Sinto muito. — disse ele quebrando seu silêncio. — Não tinha a intenção de machucá-la.

Selene piscou aturdida ao ouvi-lo falar. Havia preocupação e pesar em sua voz, acompanhado do mesmo olhar aflito de quando a salvou daquele casulo no templo onde aconteceu a luta contra Halfeti.

Ela sorriu, tocando de leve o rosto dele, acariciando-o de modo a tranquilizá-lo. Viu-o se levantar e ajudá-la para fazer o mesmo. Ela apenas mexeu os ombros de modo a massageá-lo e voltou-se para os bonecos. Nenhum havia sofrido qualquer dano, todos ‘salvos’ do ataque.

— Não tem por que me pedir desculpas. Esperava exatamente que compreendesse o que tinha de ser feito. — Sorriu ela.

— E-esperava... que eu a atacasse...?!  — Indagou surpreso.

— A proposta era conter não somente os ataques e preservar as vítimas... — disse olhando para os bonecos. — Mas impedir o seu oponente. Em outras palavras: ou você contém o inimigo ou seria contido por ele. Ao menos, consegui atingir meu objetivo aqui. — e olhou para frente, às costas dele.

Não houve entendimento no primeiro instante, mas quando foi instigado a olhar com mais atenção, virou-se para acompanhar os olhos da Prata e arregalou seus grandes olhos azulados para observar tudo aquilo.

— Mas... Como isso aconteceu...?!! — sussurrou ele, sentindo-se sufocar.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente quero pedir desculpas a todos os leitores que aguardavam e ansiavam pela próxima tríade de capítulos. Realmente atrasei e buscarei compensar o tempo perdido. Dia 15/06 foi aniversário de Van Quine e pretendia até postar um capítulo especial, mas vai atrasado. XD

Agradecendo também às novas leitoras que favoritaram a fic e espero que gostem e comentem. :)

E nos próximos capítulos:
Segredos revelados e o surgimento de uma lenda dourada. E as sombras que perseguem Saga ganham força.



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