Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 40
Livro 2 :: Dualidade - Ato 2


Notas iniciais do capítulo

Aiolos de Sagitário e Selene de Pyxis seguem no encalço dos Cavaleiros Negros, e próximos de seu objetivo, precisam confrontar Chade de Mosca Negra. Enquanto isso, no Santuário, um mal desperta silenciosamente.



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Os passos ecoavam sobre o piso de mármore do terceiro templo zodiacal, acompanhado pelo som pesado metálico da indumentária dourada. Eram passos cronometrados, quase como uma marcha seguindo o que parecia um infinito corredor entregue às sombras da noite. Apenas alguns archotes iluminavam o ambiente. Porém, a sua respiração não era silenciosa, mas mostrando a tensão, um tanto arfante.

Caminhava sem preocupação, mas a cada passo parecia se tornar pesado e o templo tornar-se maior do que exatamente conhecia. Era um artífice do qual Sólon dizia ser presente em Gêmeos: o labirinto.

 "Quem quer que seja a assumir meu legado, também se tornará o guardião desse labirinto, sendo reflexo de seu interior para seus inimigos", disse ele aos dois jovens pupilos, e Saga se tornara o guardião daquele lugar sombrio.

De suas costas, uma grande sombra crescia, acompanhada de névoa fantasmagórica que se alastrava e tomava conta de todo o corredor, tornando sua respiração pesada e seu corpo ligeiramente mais cansado.

Era densa e escura, e tocá-la era como se ela fosse algo vivo em suas mãos, circulando-a até envolver em seu braço e um sussurro chamá-lo. Saga hesitava, buscando continuar seu caminho por mais difícil a cada instante. Transpirava, a sua respiração ainda mais pesada.

"Por que recusas a mim?"

A voz o chamava, e quando a sombra ganhava forma diante dele, Saga se voltava para a figura alguns metros atrás de onde nascia às névoas e das quais se espelhavam por trás de seu corpo. Nada via senão uma silhueta meio à penumbra e aos vívidos olhos vermelhos que brilhavam intensamente, não como chamas, mas como duas grandes joias que reluziam.

Naquele momento, sentiu seus olhos queimarem ao cruzar o seu com aquela criatura.

Sentiu seu corpo paralisado, e por mais que tentasse se mover era como sentir mãos o agarrarem pelos braços, troncos e pernas, mas somente via aquela névoa circundando-o, enegrecendo sua armadura como se a mesma estivesse morrendo.

Ao voltar-se para frente, aquela figura se aproximava com os olhos incandescentes com chamas púrpuras e violetas na altura dos olhos. Redemoinhos negros seguiam em sua direção quando conseguiu se libertar e desvencilhar-se daquelas névoas e gritar.

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O jarro de prata foi ao chão com a bacia, derramando toda a água deixada ali pelas servas para que o cavaleiro se servisse à noite.

Saga havia se levantado bruscamente como se estivesse sufocado, buscando por ar. A camisa que vestia estava molhada pelo suor e seu cabelo colava em seu rosto, ombros, braços e costas. As mãos estavam levemente trêmulas. Coçou os olhos, sentindo uma leve ardência. Água não mais havia senão uma fonte fora do templo.

Não que hesitasse, mas seu corpo parecia não querer obedecê-lo de imediato. Colocou os pés sob o chão frio, arrepiando-se, fazendo grande esforço para se colocar de pé e pôs-se a caminhar pelo templo, arfando como em seu pesadelo.

O dia era bem quente, mas à noite o Santuário conseguia esfriar consideravelmente. Sentir a brisa gelada ganhar seu corpo febril o fez se arrepiar e praguejar mentalmente enquanto caminhava até a fonte da qual molhou as mãos e molhando o rosto por duas vezes, depois os cabelos. Tomara um balde ali e pensou por um instante o que faria... e fez. Banhou-se ali mesmo, removendo a blusa, antes molhada pelo suor e agora por aquela água e deixando ali.

— Noite ruim, Saga? — dizia Mephisto se aproximando com o que parecia um cigarro preso entre os lábios. — Não achei que o veria aqui à essa hora. Estava treinando até agora enquanto todos dormem?

— Não exatamente... — disse ele já mais desperto, voltando-se para o italiano. — E você? O que faz tão tarde por aqui?

— Estava em Rodório. Perdi a noção do tempo jogando e bebendo... Um velho costume. — respondia ao Geminiano, apagando o cigarro e pensando jogar a bituca  no chão, mas optando por guardar. — Aconteceu alguma coisa? Tenho notado que está abatido. Acho que a viagem do Aiolos o deixou sobrecarregado.

— Um pouco. — disse Saga se sentando próximo à fonte, torcendo sua blusa. — Mas, nada que não possa resolver, os Prata e Bronze tem ajudado. São... outras preocupações. — disse desviando o olhar.

— Entendo... — comentou Mephisto olhando-o e arqueando o semblante. — Bom, se precisar de qualquer ajuda...

O siciliano intencionou seguir rumando para Cancer, onde foi permitido ficar até então ainda que sem os servos da Casa Zodiacal, mas nem mesmo deu dois passos e percebendo um semblante pesado em Saga que nem mesmo o respondeu. Mostrava-se preocupado, tenso com algo.

— Aquela garota... — dizia Mephisto, percebendo Saga mover os olhos para ele. — O que ela fez em seu teste foi simplesmente incrível... sensazionale! — comentou em seu sotaque italiano. — Ela vai voltar em segurança, não tem que se preocupar.

— Por que diz isso? — questionou Saga fitando-o sem entender aonde ele queria chegar.

— Ora! Ela passou por maus momentos muito recentemente, é normal que se sinta preocupado quando parte em sua primeira missão. — dizia ele buscando se explicar sob o olhar atento e desconfiado de Saga. — Mesmo porque, ela não está sozinha. Aiolos certamente a protegerá se for preciso. Ele é sempre tão protetor e zeloso, segundo dizem...

Saga apenas ficou a observá-lo por mais alguns instantes, piscando e desviando o olhar do italiano, assentindo.

— Tem razão. — disse o Geminiano engolindo a seco, forçando-se a sorrir. — Aiolos... sempre protegendo a todos sob suas asas... — e aquelas palavras parecem ter incomodado, soando ligeiramente secas. — Boa noite, Mephisto.

                     Mephisto sorriu de volta e acenou uma despedida, deixando, por fim, o Dourado sozinho. Já nas escadarias, ainda o viu sentado enquanto sorriu de canto e jogando o cigarro de palha no monte abaixo.

Saga se levantou e caminhou em direção ao templo de Gêmeos após sacudir a blusa molhada. Rumou em silêncio enquanto aquelas palavras ecoavam em sua mente:

"Ela não está sozinha (...) Aiolos a protegerá se for preciso", e levou a mão à cabeça. Havia quase duas semanas que os dois havia partido. Sentia falta de seu perfume, seu sorriso, o brilho de seus olhos, do seu calor...

"Ela... não está... sozinha...!"

Ecoou uma voz acompanhada de uma brisa meio às pilastras, e Saga, cerrando os dentes, com a mão direita que segurava sua blusa molhada, fechava o punho com grande força a ponto de estalar os ossos, enquanto a outra mão mantinha-se em seu rosto cobrindo um lado e respirando pesado. Balbuciou algo e, por fim, deu as costas, seguindo em direção aos seus aposentos.

Uma singela borboleta sobrevoava o ambiente, posando sobre o objeto da armadura de Gêmeos.

───────.∰.───────

Um estalo e seus passos cessaram naquele momento. Foi como um suave pulsar junto ao seu cosmo e não era como aquele da qual estava sendo guiada. Foi como se este gritasse chamando por seu nome e fazendo Selene olhar para trás como se pudesse encontrá-lo ali, junto dela. "Saga...?", pensou ela por alguns instantes, deixando um murmúrio escapar sob a máscara.

A Prata sentiu um leve aperto no peito, fazendo-a engolir a seco enquanto mantinha seus olhos focado num horizonte, como se seus olhos pudessem ir além daquele vale, atravessando montanhas e percorrendo grandes estradas, vendo o Santuário e chegando ao Monte Zodiacal vendo o terceiro templo Zodiacal.

A lua estava sobre ele naquele momento. Estava distante, mas vendo tão bela no céu era como se estivesse perto suficiente para sentir a angústia do Guardião Dourado.

"Acho que encontrei uma pista!", ecoou uma voz, com a Prata percebendo uma sombra de asas sobre sua cabeça. Ao virar-se contrário à paisagem que contemplava, viu Aiolos subir com suas grandes asas abertas de um vale mais à frente e posar com leveza e apontando para baixo.

— Um vilarejo, não muito longe daqui, mas o caminho para descer não é muito fácil. — dizia ele se voltando para a Prata observando um caminho tortuoso. — Se não se importar...

Nem bem terminou aquelas palavras e sentiu as mãos da Prata segurar a sua e tudo sumir diante dele num piscar de olhos.

O campo aberto deu lugar a um vazio e ver uma parede rochosa a alguns metros à frente. A sensação era de um rasante súbito pela mudança drástica de atitude não-calculada, causando leve enjoo. Selene o havia teleportado sem que ao menos percebesse e deixando-o levemente desnorteado.

— Ah, desculpe. — disse Selene percebendo o que fez. — Tudo bem?

— Acho que sim. Apenas acho que minha mente e corpo ainda estão sincronizando... — disse ele balançando a cabeça. — 'Tá tudo bem, eu acho!

— Desculpa! — disse ela contendo um riso e se voltando para frente, olhando um pequeno vilarejo há alguns metros à frente enquanto esperava o mesmo se recuperar. — Camponeses... num lugar tão isolado como esse? — comentou ela percebendo algumas casas adiante.

— Sim... Talvez encontremos alguma coisa. — disse já recuperado e fazendo menção de seguirem.

Um movimento com a mão direita frente ao peito, o topázio imperial brilhou naquele momento, fazendo as asas da armadura se recolherem às suas costas. Foi uma ação natural que nem mesmo Aiolos percebeu de imediato o vacilo no andar da Prata ao seu lado.

— Não sabia que sua armadura podia recolher as asas. — comentou Selene olhando-o de maneira curiosa.

— Ahn... — disse ele olhando por cima dos ombros para as costas e rindo. — Não chama tanta atenção, se é que me entende. Além do mais, permite eu andar melhor. Não imagina o quão chato é ficar preso junto às portas do templo.

Ela o olhou surpresa ao ouvir aquilo, para a expressão indiferente dele até que ele a fitou de canto e ambos não conseguirem prender o riso, ainda que por alguns instantes. Imaginar aquela cena foi algo, até então, inconcebível para a Prata do que seria um tanto vergonhoso a um Dourado: preso a uma porta por conta das asas de sua armadura sagrada.

— O cosmo ficou mais intenso...! — disse ela parando de rir e olhando em direção ao vilarejo, mas como se olhasse além dele. — Acho que estamos bem próximos, pois não só mais está me guiando, como o sinto... quente!

Aiolos assentiu e seguiram o caminho de terra batida com arbustos nas laterais, possivelmente uma estrada que descia pelo vale até uma cidade que não deveria ficar muito próximo dali. Não havia sinal de presença de veículos automotores e tudo parecia tão anacrônico como em Rodório. Não havia evidência de luz elétrica, indicando um modo de vida bem rural.

Ao atravessarem um portão de madeira onde um sino no alto ecoou baixo, adentraram em um vilarejo simples, com casas pequenas de choupanas e cercados que deveria servir para animais, mas que se encontravam vazios. Não havia uma iluminação senão de algumas lamparinas nos postes pelo que seria a rua principal. Não qualquer presença nas redondezas.

— Que estranho. — comentou Selene olhando à sua volta. — Parece um vilarejo fantasma, mas... — e olhava mais à sua volta, assim como também Aiolos. — Não parece estar abandonado, apesar de todo esse silêncio mórbido.

Aiolos adentrou por uma das propriedades, onde havia muitas toras cortadas, muitas até recentemente, além de outras empilhadas e que seriam cortadas. O machado está até mesmo fincado no tronco usado para o trabalho e mostrando-se bem afiado.

— As ferramentas parecem terem sido usadas há pouco. — dizia Aiolos vendo machado recém usado e observando seu fio quando seus olhos buscavam algo nas proximidades. — Que barulho é esse? Parecem... — questionava-se ao ver Selene ganhar à frente e chamá-lo.

Dentro de um dos cercados, Selene havia encontrado um homem, não mais que 20 anos, usando luvas, cabelo curto claro. Estava caído meio a cubos de feno. Estava inconsciente, embora não apresentasse ferimentos ou qualquer chaga de uma possível epidemia.

— Não está morto, apenas desmaiado. — Constatou ela virando seu corpo, repelindo moscas que havia ali. Conferiu a pulsação e aproximou seu rosto mesmo sob pedido de Aiolos. — Está tudo bem, não parece doente. Não há nada com ele. Está somente... dormindo...? — e se voltou para o Dourado que franziu o cenho em estranhamento tanto quanto ela. — Há outro ali... — ela apontou para mais próximo da casa.

Aiolos olhou na direção apontada, seguindo até próximo à entrada da casa e encontrando realmente outro alguém, desta vez uma jovem em seus 13-15 anos, cabelos longos preso em trança e com um lenço que pareceu desmaiar quando carregava um cesto com frutas que concentrava mais moscas.

Ela devia seguir para a cozinha para entregar a uma mulher mais velha, possível mãe dos jovens, também desmaiada próximo ao fogão à lenha, meio ao trigo e outros grãos que derrubara. Ali o zumbido no ambiente era mais concentrado.

— Acho que está assim em todas as casas. — afirmou Aiolos. — Aconteceu algo aos moradores que... os fizeram cair... adormecidos onde estivessem... — disse ele se voltando para perto de Selene, balançando a cabeça e com uma mão à altura do ouvido. — O que está fazendo? — questionou ao vê-la ascender o cosmo.

Selene ainda se mantinha próximo ao jovem, mas emanava seu cosmo, e mais uma vez seus olhos denotavam brilhar mesmo sob a máscara, ganhando um leve brilho como o Sagitariano havia visto anteriormente no trem.

— Apenas verificando uma coisa. — disse ela olhando para o corpo do jovem, depois para àquela mais nova. — A aura deles... estão pálidas...!

Comentou, olhando mais à frente e vendo o mesmo na jovem caída mais atrás do Dourado. Enquanto se levantava, virando-se para observar os arredores, Aiolos a olhava impressionado sobre aquela sua habilidade.

"Até onde ela pode ver?", pensou Aiolos vendo o que a Prata fazia, depois vendo-a se levantar e observar o lugar como se avaliasse todo o ambiente. "Será que o mestre Arles tinha razão sobre ela?", e engoliu a seco ao pensar naquilo.

De repente, pressentiu algo próximo a eles.

Por outro lado, Selene observava ao redor, absorvendo a energia emanada por ali. Precisou enviar um pulsar de seu cosmo para perceber o quão fraco estavam todos ali, todos mergulhado em profundo estado de inconsciência.

“As suas auras estão esbranquiçadas... Translúcidas...”, conferia a Prata intrigada. “Por que isso? Elas estão... morrendo!", concluiu Selene sentindo um leve arrepio ao pensar naquilo. Por baixo de sua máscara, estava uma expressão de horror.

— Aiolos... — ela o chamou, acalmando seu cosmo. — Precisamos ver quem está sendo responsável por isso, senão... — dizia se voltando para o companheiro de missão, surpreendendo-se com o que viu.

O que viu foi o Sagitariano com sua face nublada, com as asas de sua armadura, anteriormente recolhida, abertas, quando ele se voltou para ela, andando cambaleando e esticando o braço quando sentiu suas pernas falharem e ele cair ajoelhado no chão apoiado pelas asas com o corpo pendido para frente.

Selene avançava em sua direção quando se engasgou ao notar o seu cosmo declinar, perdendo o brilho dourado tal como via com aqueles aldeões.

"Mas o que está acontecendo aqui...?", pensou ela, ganhando voz sem que percebesse e calando-se ao ouvir aquele riso.

"Bwuhuhuhuhahahahaha!!! Veja só que interessante... Consegui pegar um cavaleiro de Ouro? E dizem que são a tropa de elite de Athena... Hahahaha!!!"

Nem mesmo foi preciso usar sua habilidade nata de busca e localização de sua estrela guardiã, pois era capaz de ver uma silhueta rubra com intensas veias negras acima do telhado. Apenas precisou gerar um mínimo de pulsação de sua energia cinética para repelir as moscas que a acobertava, revelando o brilho negro daquela indumentária negra que tinha o corpo jogado para frente apoiando-se nas pernas cruzadas. Sobre sua cabeça, um elmo com duas orbes douradas que lembravam os olhos de uma mosca. Era uma mulher de beleza mediterrânea, olhos amendoados e de contornos escuros e lábios negros.

— Conseguiu me achar? Interessante... — disse ela com um largo sorriso de escárnio. — Não tanto quanto em saber como consegui derrubar tão facilmente um Cavaleiro de Ouro e não uma Amazona de Prata. Adoraria ver seu rostinho de surpresa por trás dessa máscara... Own! — e riu mostrando os dentes. — Isso é algo da qual não sinto falta alguma... huhuhu!

— O quê? Você foi... uma amazona... do Santuário? — questionou Selene surpresa por aquilo.

— Sim, eu fui uma amazona... — e colocou mais ereta. — Banida e extraditada pelo Grande Mestre acusada de trair 'as leis de Athena'. Pfff! — disse em escárnio, jogando as mãos para o lado e chamando um enxame de moscas que a circulava, parecendo aguardar suas ordens. —  Não que eu me importe com isso, pelo contrário. Não suportava mais um ambiente tão repressor como o como o Santuário limitando nossas habilidades e uma boa diversão.

— Diversão? — questionou Selene fechando os punhos. — Foi você a responsável ao que fez às pessoas desse vilarejo?

— Caso tenha sido... — disse arqueando o semblante em descrença. — O que acha que poderia fazer contra isso? As minhas crianças andam famintas, e aqui tem um gado suficiente para alimentá-las... — e arregalou os olhos tamanha excitação por aquilo. — Isso aqui nada mais é que um grande curral.

Mal disse àquelas palavras e a Amazona Negra saltou para esquivar-se do Golpe Cinético da Prata, caindo em pé às suas costas e rindo por ver que conseguira seu intento de irritá-la.

Aquela ação provocou uma reação das moscas que avançou contra Selene, mas foram desviados como se fossem bloqueados por uma barreira invisível, e que pouco pareceu chamar a atenção da Prata que se voltava para sua oponente.

— Como foi que... — dizia a Amazona Negra aturdida com o que viu, mas logo sorrindo de canto. — Agora faz todo o sentido. Elas não conseguiram tocá-la e não foi acometida como o Dourado de Sagitário com meu Plegma Somnus. — e ela respira fundo, abrindo os braços. — Até mesmo já posso sentir um efeito mais gratificante que até há pouco...

Conforme dizia, Selene percebeu os orbes presentes no elmo se tornarem mais brilhantes, assim como o cosmo da amazona diante dela se tornar mais forte e agressiva.

Quando menos esperava, viu a Amazona Negro avançar em sua direção em forma de espiral da qual Selene conseguiu esquivar-se saltando, mas logo não mais a via em terra. "O quê? Como foi que ela...", pensava Selene quando a viu surgir diante dela.

— LENTA DEMAIS! — disse a Amazona Negra com longas asas abertas às suas costas, lembrando aos de uma mosca, e golpeá-la com incrível força e jogando-a de volta à terra e criando uma cratera à sua volta.

— Como ela... pôde se mover... tão rápido...? — dizia Selene se levantando com alguma dificuldade, percebendo uma pequena rachadura em sua máscara. — Um momento estava diante de mim... e depois...

— Mwahahaha!!! Surpresa, minha doce Prata? A diversão está apenas começando. — dizia ainda do alto, concentrando seu cosmo no punho e avançando sobre Selene sem hesitação.

Entretanto, Selene apenas aguardou a aproximação suficiente para se teleportar e deixar que ela golpeasse o chão, mas que conseguiu conter no último segundo e conseguindo pousar, suavemente, no chão.

A Amazona Negra sorriu em perceber o artífice de sua oponente, mantendo os olhos atentos à sua volta enquanto lambia os lábios.

— Espertinha, você... — desafiou a mulher para a Prata e fazendo uma falsa censura levando a mão aos lábios. — Acho que cometi uma falta em não me apresentar. Não que isso importe, mas sou Chade de Mosca Negra... E você, Prata? O Santuário não mais apresenta bons modos...?

Chade parou suas palavras e apenas ouviu um assovio antes de um golpe atingi-la de tal modo que a Amazona apenas teve tempo de cruzar os braços frente ao corpo, mas não impedindo-a de lançá-la a alguns metros de distância rodopiando no ar, ainda que tenha conseguido se estabilizar com suas asas.

— Selene de Pyxis, e para quem preza uma etiqueta, por que não desce para conversarmos? — dizia Selene erguendo o braço diante do corpo e fechando o punho, gerando forte pulsação.

Chade sentiu o corpo pesar naquele momento, não conseguindo sustentar o próprio peso. "Mas o que diabos...", era o que dizia enquanto tentava manter sua estabilidade, mas sentiu um forte puxão para baixo lançando-a contra o chão igualmente fez a Prata  que executou aquela ação somente ao descer bruscamente a mão como se a puxasse.

Selene se aproximava da Amazona Negra, levantando-se com grande corte nos lábios e na testa, com uma expressão séria e de poucos amigos. Uma ordem e o enxame de moscas avançou novamente, contida pela barreira assim como antes.

— As suas moscas não podem fazer nada contra mim, Chade! — disse Selene fazendo sua barreira 'implodi-las' e, com isso desintegrar o enxame que a cercava, criando uma nuvem de partículas de pó.

— Tão previsível... — sorriu a Amazona Negra olhando para a Prata.

Ao aspirar aquilo, Selene arregalou os olhos e sentiu uma forte secura na garganta, levando a mão ao pescoço e caindo ajoelhada no chão. "O que é isso? Sinto a minha garganta queimar, os meus olhos lacrimejarem...", dizia, percebendo as partículas ganharem uma coloração esverdeada. "Uma nuvem tóxica...?".

— Tolinha! Acha mesmo que mandaria minhas crianças até você por nada? A sua barreira pode impedi-las de picá-la, ou mesmo atordoá-la pelos seus zumbidos... mas não pode deixar de respirar, não é mesmo? — dizia se aproximando de Selene, tomando-a pelo pescoço e levantando-a. Plegma Virus. — disse somente antes de lamber seu rosto sob a máscara e sorrir. — Vou ensinar aos Cavaleiros... — e a empurrava, enterrando-a no chão. — O SEU DEVIDO LUGAR!

Selene, no entanto, conseguiu se teleportar-se à tempo, mas sentia-se debilitada, fraca demais para ir muito longe, acabando por aparecer alguns metros à frente e caindo quase sem ar. Tinha dificuldade em respirar. Sentia até mesmo seus movimentos mais lentos, o que a impediu de esquivar-se do golpe que Chade deferiu sobre seu rosto arrancando parte de sua máscara na altura do olho esquerdo, ferindo-a na sobrancelha — apesar de já sentir o gosto ferroso na boca provocada pelo golpe.

— Olha... que belos olhos você tem. — dizia puxando o rosto da Amazona para ela. — Imagino o belo rostinho por trás dessa máscara. Por que se esconder-se atrás dela? Por que não se mostra para mim, Pyxis...

— N-Não estou... me escondendo...! — disse Selene com a voz rouca, segurando a mão da Amazona Negro. — Se existe alguém... quem deveria se colocar... em seu lugar... é você... por trair... o código...! — e emitiu mais um pulso de seu corpo, mas não forte o suficiente para golpear sua oponente que desvencilhou com incrível habilidade, deixando a Prata cair de quatro.

Ouviu a Mosca Negra rir de sua investida fracassada, mas Selene estava mais preocupada com Aiolos, percebendo que sua aura perdia cada vez mais sua luminosidade, assim como dos dois aldeões se tornarem cada vez mais transparentes. "Preciso fazer alguma coisa... antes que seja tarde demais...".

— Deveria pensar em seu estado, Prata de Pyxis. Não está nas melhores condições que eles. — disse Chade olhando-a com as pernas cruzadas, ainda de pé, uma mão na cintura e a outra frente aos lábios, rindo. — Incrível como os Cavaleiros sempre estão mais preocupados com o resto do mundo que consigo mesmos... — e meneava negativamente. — Não se preocupe. Logo fará companhia a eles quando começar drenar a sua energia pra mim.

— Drenar... energia...? — questionou Selene, arregalando os olhos, compreendendo porquê sentir aquele poder crescer de maneira tão repentina e sua agilidade no combate. "Ela está drenando a energia de Aiolos, por isso consegue se mover tão rápido... Maldita!", pensava Selene. — Também faz isso... com os aldeões...?

— Como disse, eles são apenas gados, uma energia pífia sem efeito para mim, mas ainda assim supri minhas necessidades. — disse com total indiferença, dando os ombros. — Quando não mais me forem úteis...

— Como pode ser tão perversa? — questionou Selene fechando os punhos. — Como pode... menosprezar assim... a vida... das pessoas...?

— Perversa? Será mesmo eu a grande vilã nessa história, Prata? — dizia voltando-se para ela, caminhando alguns passos próximo à Selene. — Ou seria sua digníssima deusa que manda seus Cavaleiros para a Morte enquanto se mantém segura em seu templo enquanto um bando de buchas luta em seu nome? — e ri contidamente. — Ao menos aqui, sou bastante recompensada em minhas ações enquanto vocês recolhem apenas migalhas!

— C-como assim? — Selene questionou atordoada. — Do que você está falando?

— Acha mesmo que usaria minhas habilidades e não receberia nada em troca por isso? — e riu daquilo. — Não vou me limitar a uma ideologia utópica de um discurso barato sobre lutar por uma humanidade corrompida... — disse tornando seu semblante sério. — Vocês Cavaleiros tem um ideal, enquanto nós, os Cavaleiros Negros outro. Fomos banidos por questioná-los, não aceitar os termos, degredados para longe. Não satisfeitos com nossa deserção, enviam vocês para nos caçar e por quê? Por não baixarmos a cabeça para uma deusinha egoísta e mimada? — e arqueou o semblante. — Seria mesmo eu a perversa, Prateada de Pyxis?

Selene apenas a olhava, abismada com o que ela estava a discursar. Meneava negativamente mediante aquilo, conseguindo levantar-se, ainda que ajoelhada ao chão e levantando somente uma perna da qual se apoiava.

— O que fazem... é errado! — disse ela com a voz cansada. — Fala como se suas ações não tivessem consequências. São responsáveis por inúmeros atentados contra a vida de muitos...  Envolvidos em terrorismo... sequestros e assassinatos...

— E bem pagos para isso. — disse friamente e olhando para Selene com indiferença. — Trata-se nada mais que um serviço, uma encomenda. Cumprimos apenas aquilo que nos é mandado. — e riu. — Escuta, queridinha... Os seres humanos são criaturas vis. Uma a mais outro a menos... Que diferença isso faz?  — e arqueou o semblante, quase arregalando os olhos de modo a beirar insanidade. — Não estamos livrando o mundo de maus elementos?

— Como pode dizer isso...? — Os olhos de Selene irradiavam raiva enquanto ouvia tudo aquilo, apesar de algumas lágrimas ganharem sua face. — Como pode amaldiçoar sua estrela com tamanha barbaridade, proferir tamanho absurdo?! — questionava perplexa. — Ameaça a vida de centenas, milhares de pessoas somente por dinheiro e riqueza, sob a miséria e angústia de tantos outros somente para saciar um desejo mesquinho?

— Mesquinho? HAHAHAHA!!!! — gargalhou. — Já disse que não luto sem que ganhe algo em troca, que eu seja bem recompensada. O Sr. Halfeti de Peixes Negro... — nome do qual entoou com certa devoção. — ... a quem devo o que sou hoje, resgatando-me daquele navio, ficará orgulhoso quando entregar suas cabeças numa bandeja de Prata... — e olhou em direção de Aiolos. — E Ouro, por suas armaduras talvez, servindo de troféu à nossa vitória.

Chade movia as mãos, mantendo os olhos arregalados, totalmente insanos. Um enxame se reunia sobre sua mão, como que convocadas por todo o vilarejo. Selene observava aquilo, com os olhos trêmulos.

— Não se preocupe, Prata de Pyxis, prometo que farei você, o Cavaleiro de Sagitário e a todos aqui terem uma morte pacífica, indolor. — disse Chade de Mosca Negra com largo sorriso em sua face.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos:
A luta final de Chade x Selene, Finalmente Halfeti de Peixes se revela com grandes segredos. Aguarde!



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