Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 3
Livro 1 :: Como tudo começou - Ato 1


Notas iniciais do capítulo

Saga e Kanon, dois irmãos que seguiam seus caminhos rumo seus sonhos quando são destinos cruzam-se com outro alguém. Não imaginariam o quanto aquele evento poderia transformar suas vidas.



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ALGUNS ANOS ANTES

A chuva estava intensa naquele início de noite. Aqueles que estavam nas ruas buscavam abrigos onde podiam se proteger, sendo estes desde algumas barracas de alguns feirantes a toldos de alguns comércios. Outros buscavam o que tinham em mãos ou acesso como caixas, capas de chuvas improvisadas enquanto corriam de um lado a outro buscando um teto. Poças de lamas já se formavam criando armadilhas e derrubando os mais desavisados. Os raios que começaram a iluminar o céu era o que mais assustava a todos.

Dois garotos, que não deveriam ter mais que 11 anos, buscaram inutilmente abrigos, sendo expulsos de alguns deles até se distanciarem do centro, encontrando um lugar sob a marquise de um velho portão de grades. Só então puderam retirar as capas e revelando-se gêmeos, quase idênticos, se não fossem nuances de seus cabelos com tonalidade mais claro que do outro. Sacudiam os braços e o casaco que usaram de abrigo, assim como os cabelos que chegavam aos ombros respingados pela chuva.

— Que droga! Ficamos presos aqui. — resmungou um deles que tinha o tom de cabelo mais claro, tirando a mochila das costas e conferindo o mesmo.

O outro mantinha-se de pé, com semblante desconfiado, inquieto e com seus olhos analisando o ambiente até perceber a propriedade que tinha por trás do portão.

— Ufa! Menos mal. — reagiu o outro que fechava a mochila. — Não molhou nada! Se demorássemos mais, perdíamos nossa janta... — dizia quando percebeu o semblante sério do irmão. — O que foi, Saga?

— Não está sentindo nada, Kanon? — indagou Saga com seu olhar para a propriedade atrás deles e se voltando em seguida para o irmão que meneava negativamente sem entender o que o irmão dizia. — Acho que não chegamos aqui por acaso.

— Claro que não! Começou a chover e corremos para cá. — respondeu impaciente. Percebeu que o irmão pouco pareceu se importar com aquela sua resposta. Percebia que os olhos dele estavam voltados para a propriedade que mais parecia abandonada. — Assim... — insistiu falar buscando atenção do irmão. — Precisamos é de um lugar para pernoitar, ou até essa chuva passar... — dizia quando percebe o irmão olhando para o prédio.  — Talvez aqui sirva.

Era um prédio antigo, com as paredes enegrecidas e manchadas pelo tempo, as janelas com suas vidraças todas e parcialmente quebradas. O portão de grades estava enferrujado, fechado com correntes, estas nem tão velhas, apenas com uma camada de corrosão pela exposição ao tempo. Havia preso a ela uma pequena placa com o aviso de ‘FECHADO — NÃO ULTRAPASSE’, mas com algumas letras faltando ou apagadas. Contudo, não havia qualquer impedimento para crianças ou alguém do tamanho dos dois.

Os olhos desconfiados de Saga estavam voltados para o prédio, até que um lampejo foi notado pelos dois irmãos — e não havia sido o reflexo do relâmpago que cruzou o céu naquele mesmo momento. Os dois se entreolharam surpresos.

— Você sentiu isso? — disse Saga com olhar perplexo ainda olhando na direção da propriedade. Voltou-se para seu irmão que ainda olhava para o local com a mesma expressão.

— Sim... E-eu senti...! Saga, olhe aquilo! — Kanon apontou para a propriedade de onde assistiram uma explosão de luz.

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Um corpo foi arremessado violentamente contra a parede, caindo sobre uma poça de água suja provocada pela chuva que entrava pelas janelas quebradas, tomando aquele chão enegrecido pela poeira, pela terra e outros detritos meio a móveis empilhados e quebrados num canto da sala. Conforme foi jogado, derrubou algumas madeiras podres e assustando algumas aves que se abrigavam do mau-tempo, restando à vítima encolher-se para se proteger. A sua ação deixou visível as mãos sujas e feridas, exibindo arranhões e ferimentos que sangravam, além das mãos trêmulas.

Apesar do casaco sujo e surrado acompanhado de um capuz que cobria o rosto daquela criança que não tinha mais que 7 anos, era possível ver o corte em sua boca e o filete de sangue que ganhava seu pescoço, assim como a expressão de dor. Reuniu o pouco de suas forças e buscava se levantar. Porém, sentiu um peso em suas costas pressionando-o novamente para baixo, engolindo parte daquela água suja.

— E então, moleque? Eu disse que acertaríamos as contas, não disse? — respondeu um garoto de uns 13-14 anos, pele alva e cabelos espetados para o alto loiros. Tinha uma expressão vil estampado em seu rosto. — Por onde devo começar...

Percebia que o moleque tentava se levantar e tirou os pés, mas somente para chutá-lo, fazendo-o cuspir sangue e tentar fugir engatinhando até um canto, perto da parede. O garoto, que carregava um taco em mãos, balançava este no ar e batendo em sua mão, aproximando-se lentamente do moleque que tremia de medo.

Apesar da penumbra do lugar, o jovem com o taco percebia o brilho de medo e horror estampado em seus olhos. Preparava o taco segurando-o firme e alargando um sorriso insano. O pequeno assustou-se ao ouvir gritos, intimidando-o ainda mais e meneando negativamente. Tentava falar, mas nenhuma voz saia, somente as lágrimas e o soluço. Voltou-se para seu algoz quando este riu.

— Hey, não se preocupe. Logo será você a fazer companhia... AOS SEUS AMIGOS!

Exclamou levantando o taco e arregalando os olhos, trincando os dentes. Havia prazer naquele olhar enquanto avançava contra o moleque. Este apenas esticou os braços numa tentativa de evitar o golpe. Naquele mesmo instante, uma forte trovoada reluziu acompanhada de uma luz que explodiu naquela sala. O garoto com o taco recuou, cobrindo os olhos. Foi questão de segundos e quando recuperava a visão percebeu um vulto correr ao seu lado. Tentou agarrá-lo, mas em vão. Tudo que via era um grande borrão.

— MALDITO MOLEQUE... VOLTA AQUI!

Correndo pelos corredores escuros, arfando, seguia o som dos gritos. Caiu algumas vezes, apoiando-se na parede, mas sua corrida foi interrompida quando ouviu alguns estampidos, fazendo seu corpo congelar. Lágrimas desciam por sua face suja e todo seu corpo estremecia. A cada passo agora era de medo e hesitação até chegar à porta e ver quatro corpos caídos no chão meio à lama e sangue.

O moleque trincou os dentes e ficou hesitante por alguns instantes até correr ao menor corpo daqueles caídos no chão e abraçando. Somente depois perceberia algumas silhuetas escondidas nas sombras — três garotos como aquele que deixara pra trás. Um deles tinha uma arma em mãos, outro carregava correntes e o terceiro um taco como daquele que fugiu. O que tinha as correntes, rodava no alto, segurando com as duas mãos e esticando-os.

— Olha só! Parece que alguém fugiu... — disse rindo, batendo com força sobre uma mesa próxima e arrancando uma lasca.

— Sabia que ele não daria conta. — falou aquele com taco em mãos, repousando em seus ombros. — Vamos acabar logo com isso e cair fora!

As correntes ganharam o alto após algumas voltas e avançavam contra o moleque que se encolheu, sem mais para onde fugir quando encurralado pelo trio que ria daquilo. Porém, os risos cessaram quando a corrente se voltou contra seu agressor e atingindo-o no rosto, fazendo com que caísse contorcendo-se de dor e as mãos já sujas de sangue. Era um bom momento para fugir.

Contudo, nem conseguiu ir muito longe, pois logo foi bloqueado por outro com o taco que bateu num armário velho e despejando o lixo que havia ali, bloqueando a passagem. Tentou outro acesso, mas apenas sentiu ser puxado e ser jogado na poça de água e sangue que havia ali. Mais uma vez tinha seu corpo pressionado contra o chão como peso dos pés de um dos garotos, restando apenas se debater buscando respirar.

— Moleque desgraçado! Vou arrebentar sua cabeça a paulada! — dizia o que trazia o taco, batendo de leve na cabeça e já preparando o golpe, ignorando o choro da sua vítima.

— Esse filho da puta vai ter o que merece! — dizia o que foi acertado pelas correntes, o rosto lavado em sangue, iniciando uma sequência de chutes e acompanhado pelos outros. — Vamos, grite pra mim, porque vou acabar com você!

Um grito de dor ecoou naquela sala em sinal do desespero.

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.

.

"Maldito moleque! Aonde foi que se meteu...?", pensava o primeiro marginalzinho que saiu cambaleando da sala, ainda desnorteado com a luz que o cegou por breves instantes. Não havia espelhos na sala para refletir aquela luz, mas se negava acreditar que aquele garoto fosse capaz de fazer algo parecido por mais incrível que aquilo soasse.

Um tropeço e precisou se equilibrar no taco, e quando de pé, quebrou o vidro de um armário no corredor e chutando qualquer obstáculo que obstruísse seu caminho para extravasar sua raiva.

— Quando eu encontrá-lo... vou arrancar sua cabeça e jogar futebol com ele, moleque desgraçado, miserável! — praguejava, tomado de extremo mau-humor. — Eles vão curtir com a minha cara. Maldição!!!

Deixar o garoto escapar era a última coisa que queria, e faria dele alvo de gozações dos amigos. Isso o levou a liberar novamente suas frustrações contra uma cadeira, tomando-a em mãos e jogando no outro canto de uma sala, fazendo-a voar pela janela.

Nesse mesmo instante ouviu gritos vindos da outra sala, reconhecendo ser de seus amigos, fazendo-o segurar mais forte o taco em mãos. O que verdadeiramente o assustou foi assistir o mesmo clarão de poucos instantes. Hesitou, mas correu o mais rápido que pôde e parando na porta, perplexo.

Naquela sala, que há algumas horas ele e seus amigos havia encurralados os pivetes, encontrou seus amigos inconscientes no chão, como se tivessem sido arremessados contra a parede de maneira tão violenta que acabara criando marcas onde foram amortecidos.

No centro da sala, estava o mesmo moleque que fugiu, por duas vezes, de suas mãos, tentando se levantar da poça onde era pisoteado e chutado, encarando-o cheio de medo.

— Moleque desgraçado... Eu vou acabar com você, seu demônio! — dizia o único dos garotos ainda de pé, com a expressão estarrecida o suficiente que o fez apoiar-se no batente da porta. Puxou o taco pelo chão e avançaria até ele. — EU VOU ACABAR COM VOCÊ!

Há algumas semanas, ele e seus amigos conseguiram fugir da polícia após um golpe daqueles pivetes. Sujeitavam-nos a esmolar e roubar turistas e transeuntes e entregar seus espólios, surrando quando não atingia a meta do dia, prendendo-os em caixas e molestando-os.

Porém, haviam menosprezado sua esperteza e se deixaram ser enganados e levando a polícia até eles, sendo obrigados a se esconder. Um deles havia sido preso na ocasião, mas os outros juraram se vingar e encontrando-os escondidos no velho prédio, e agora só restava um deles.

O garoto varreu uma mesa com seu taco na tentativa de golpeá-lo, mas seu alvo se agachou, sendo salvo do golpe que certamente teria arrancado sua cabeça. A cólera do agressor era tanta que virava mesas e cadeiras sem se importar com a barulheira criada, sendo guiado pelos soluços e choro da criança que se encolhera num canto, amedrontado. Aquilo fez o rapaz com o taco sorrir de maneira insana, quase babando tamanho prazer que sentia em ver aquilo, os olhos brilhando.

— Vou fazer você pagar primeiro pelo Akylas, meu irmão, preso pelo golpe sujo de vocês... — dizia segurando firmemente o taco em mãos e na altura da cabeça do garoto. — Depois por cada um deles aqui que não tenho idéia do que fez para deixá-los assim, arrancando sua cabeça e de seus amigos e pendurando como se fossem bolas de festa de aniversário.

Embora o capuz cobrisse seu rosto, era notável seu desespero, nas lágrimas que escorriam em sua face. Aguardou o momento que ele levantou o taco e tentou escapar, mas recebeu um chute tão violento que o fez perder o controle e cair no chão. O seu algoz gargalhou, segurando-o com os pés em suas costas e levantando o taco, pronto para descer sobre sua cabeça. A sua única reação foi cobrir-se e gritar o mais alto que pôde. Deveria ser seu fim... mas não foi.

O que ouviu foi o baque do taco ganhar o chão ao seu lado, assim como peso de suas costas desaparecer. O seu algoz foi jogado para o outro lado, enquanto que frente a ele podia ver quatro pé próximos e o reflexo de duas silhuetas nas águas. Por um instante pensou ser um dos garotos que lhe chutava mais cedo, mas encontrou um deles com punho fechado e falando de maneira firme para seu agressor.

— Então gosta de bater em garotos pequenos? Por que não briga com alguém do seu tamanho, idiota? — disse Kanon assistindo com tom raivoso e se voltando para o agressor. — Quem sabe não queira lidar com como eu?

Aquele atingido por Kanon já se levantava, e como tinha caído próximo ao parceiro da corrente, tomou-o em mãos e avançando contra quem o golpeou de maneira covarde. Contudo, o seu alvo esquivou-secom maestria conseguindo segurar as correntes e puxá-lo de modo a jogá-lo para o lado e chutá-lo nas costas, voando sobre a mesa que varrera com o taco há alguns instantes.

— Saga, tire logo o moleque daqui...! — dizia Kanon para o irmão que assentiu e puxando a razão de tudo aquilo, ainda petrificado pelo medo.

Kanon se distraiu por rápido momento, voltando seus olhos para o gangsterzinho que havia desaparecido atrás da mesa, mas logo vendo-o se levantar. Preparava-se para golpeá-lo, mas viu apenas ele jogar algo em sua direção e sua reação foi apenas cobrir o rosto, não sendo suficiente de impedir que algo o atingisse nos olhos e deixando-o desorientado, tateando à sua volta.

— Cadê sua esperteza agora, seu idiota? — dizia o covarde garoto para Kanon que limpava o canto da boca sujo de sangue. Retomava o taco em mãos. — Vai aprender a não se meter onde não é chamado...!

E mais uma vez teve seu golpe impedido, e desta vez alguém segurava seu braço. Ao virar-se, viu o mesmo garoto... não, outro semelhante a ele, mas com uma expressão e olhar mais duro. Exclamou surpreso e vendo uma luz dourada iluminar o ambiente. O seu corpo foi arremessado até o corredor, atingindo a parede e caindo ao chão. Assustado e horrorizado, levantou-se, cambaleando e fugindo pelas escadarias.

O moleque, assim chamado pelo agressor, ainda estava encolhido e temeroso, chorando muito, meio a soluços. Saga se aproximou, vendo-o encolher-se ainda mais no canto e cobrir o rosto.

— Está tudo bem? Não tenha medo, não vamos machucá-lo. — Saga esboçou um sorriso gentil. — Não sei o que aconteceu aqui, mas o que quer que tenha feito, sempre termine o que começou, ou terá de lidar com as conseqüências... — disse olhando o moleque que voltou-se para ele.

— ARGH... MALDITO! — praguejou Kanon usando a água da chuva que entrava pela janela para lavar o rosto e conseguindo enxergar novamente. A primeira coisa que fez foi buscar pelo seu adversário e questionando seu irmão sobre ele respondendo que havia fugido. — Como assim fugiu? Você o deixou fugir? Droga, Saga! Queria acertar aquele desgraçado. Olha como estou? Todo molhado. — dizia se aproximando do irmão e vendo o corpo das crianças e dos outros garotos caídos no chão.  — Tsc! Melhor a gente cair fora daqui ou teremos problemas.

Saga concordou, levantando-se quando sentiu o garoto puxar-lhe o casaco. O garoto ainda estava muito assustado, podia ver em seus olhos, mesmo acolhido nas sombras. Kanon o chamava no corredor. Saga voltou os olhos para o garoto e apenas estendeu os braços em direção ao moleque.


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo...Continuando sua jornada, Saga e Kanon chegam ao pequeno vilarejo onde assistem a Aclamação à deusa Atena, mas não esperam pelo que os aguardam.Obrigada a todos que chegaram até aqui e espero que estejam gostando, curtindo, favoritando, indicando.Comentem e deixem suas críticas. ^^



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