Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 26
Livro 1 :: Destino - Ato 13


Notas iniciais do capítulo

Os medos e anseios de duas almas destinadas desde os primórdios que nem mesmo o tempo foi capaz de impedir fechando um ciclo e abrindo-se para um novo tempo.



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— Selene? — disse ele ao vê-la desnorteada, assustada, chorando compulsivamente.

Saga a chamou mais uma vez, aproximando-se, mas ela parecia completamente alheia, e quando o percebeu, se deixou cair, gritando assustada. Os seus olhos estavam arregalados, vermelhos pelas lágrimas. Todo seu corpo tremia. Ela até tentava esboçar um sorriso diante de Saga, mas apenas chorava.

Saga removeu a capa que vestia e envolveu seu corpo, sentindo-o frio. As suas mãos estavam geladas, tremendo sem parar. Teve dificuldade em ajudá-la a se levantar, e quando o fez, ele a abraçou forte, buscando acalmá-la. Foi hesitante, mas ele sentiu quando ela o abraçou e o apertou, como na noite em que a conheceu.

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— Sei que será uma pergunta idiota, mas... como se sente? — indagou Saga ainda mantendo-a em seu colo totalmente encolhida. Não tremia mais, o que era um avanço, e seu corpo já não estava tão frio de quando a encontrou. — Você me assustou, sabia? Quer me contar o que aconteceu.

Ele mexeu em seus cabelos, fazendo-a fechar os olhos, mas levantar a cabeça para fitá-lo em seguida, forçando um sorriso. Encontrá-lo foi a melhor coisa que Selene poderia desejar, pois nem bem sabia como conseguiu se teleportar no estado em que se encontrava no templo.

A primeira regra era jamais fazer tal ação sem uma orientação precisa, sem um local pré-estabelecido para evitar acidentes ou mesmo não se matasse no processo. Um erro e ela poderia se teleportar para uma parede.

Quando caiu meio àquela clareira, sentiu-se nauseada o bastante para expelir o pouco que havia ingerido naquela noite. Não fazia ideia para onde tinha se teleportado. Poderia estar dentro dos limites do Santuário, como realmente aconteceu, ou em qualquer lugar do mundo. Nem bem sabia para onde ir, somente de fugir.

Encontrar Saga era mais que um alívio, mas tudo que realmente precisava. Abraçou-o tão forte porque temia que ele fosse alguma ilusão, mas era real o bastante para tomá-la no colo e levá-la dali, até próxima ao lago onde ajudara a lavar seu rosto e mantendo-a, junto a ele, buscando aquecê-la.

— Eu sei que isso pode te irritar, mas... — ela engolia a seco, abrindo a boca para poder falar, explicar, mas as palavras não saíam. — Parecia estar sonhando acordada... ou melhor, estivesse num pesadelo! — dizia após várias tentativas. — E... E simplesmente... n-não conseguia... acordar!

Aquelas palavras ainda sufocavam Selene, e Saga percebeu o quanto aquilo ainda a perturbava e a puxava de volta para ele, beijando no alto de sua cabeça.

Ainda que Saga dissesse para 'deixar para lá', Selene narrou o que tinha acontecido, sobre estar em Star Hill e estudando os documentos quando ouviu vozes e sussurros, mas não falando da aparição com as vestes do Grande Mestre e seus olhos vermelhos. Aquilo era algo que contaria somente a Arles e ao Patriarca se preciso. Mesmo porque, também, não queria nem mesmo lembrar daquela imagem pavorosa.

— Não devia ficar nesse lugar sozinha. — disse Saga preocupado. — Mestre Arles deveria estar com você.

— Geralmente está, mas só preciso cumprir meu dever e depois me retirar para descansar em minha casa... — Selene respira fundo. — Isso nunca aconteceu antes. Não sei por que agora. Talvez... — ela tentava encontrar alguma explicação, voltando-se de frente para Saga. — Acho que minha mente ainda está muito sensível e eu tenha me impressionando com algo que li ou do que aconteceu hoje... — ela baixou o olhar, percebendo que falara demais.

Saga também baixou os olhos quanto aquilo. Tão como aquela tarde mexeu com ela, também mexeu com ele, principalmente porque foi responsável por aquele desentendimento por suas duras palavras. Aquilo era algo que até mesmo Kanon diversas vezes o censurava com sua mania de 'certinho'.

— Selene, eu... — dizia Saga chamando a atenção de Selene. — Eu não queria falar contigo daquela maneira mais cedo... Eu fui um idiota!

— Não... Não! — dizia ela tocando em seu rosto com a ponta dos dedos. — Não foi idiota, nem nada disso. Eu que fui porque... — ela soltou um longo suspiro, fechando momentaneamente os olhos. — Eu fiquei pensando no que disse e... você tinha razão. Não havia nada de fato que pudesse falar ao mestre Arles e somente poderia comprometê-lo por uma cisma pessoal. Não tenho nada contra ele de fato, apenas...

Saga ficou a fitá-la por alguns instantes e virando os olhos num estado pensativo. Tão como naquela tarde, Selene não havia o que exatamente dizer, senão uma perturbação enquanto na presença daquele italiano. Por fim, Saga franziu o cenho e falando algo que chamou a atenção da garota com certo estranhamento.

— Uma má impressão. Foi o que senti quando o encontrei pela primeira vez na Itália. Não tive uma boa impressão dele também. — dizia Saga entrelaçando seus dedos ao dela, e Selene assentiu, pois era algo em igual que podia resumir do que sentia por Mephisto. — Talvez isso seja influência da técnica nata de Mephisto, uma habilidade que o liga ao Mundo dos Mortos.

Selene piscou aturdida, prendendo o cabelo atrás da orelha. Ainda em Jamir, dentre as histórias contadas por Arles, dizia sobre dois irmãos que dominavam o Seikishiki, uma energia que os permitia abrir passagem para o Mundo dos Mortos, o Yomotsu Hirasaka. Saga assentiu afirmando que Mephisto utilizava dessa técnica em seus combates, chegando a levá-lo para esse mundo durante uma das batalhas na ilha siciliana.

— Então entende um pouco do que quero dizer. Mephisto é um cavaleiro, único capaz de ir e vir ao Mundo dos Mortos. Não propriamente no Submundo como bem disse. Diria que minha viagem até lá não foi das mais agradáveis. — confessou Saga com um sorriso tímido.

— E por que foi parar no Mundo dos Mortos? — indagou Selene assustada ao ouvir aquilo. — Quero dizer, o que exatamente aconteceu para isso acontecer?

Aquela não seria sua melhor lembrança. Naquele momento, não havia qualquer confiança em Mephisto com seu comportamento dúbio. Ele tinha bom conhecimento sobre os Cavaleiros Negros que agiam na região, sobre seus hábitos e suas rotas comerciais, e quando aconteceu o primeiro confronto, tudo aconteceu rápido demais. Alguns daqueles cavaleiros eram fortes o bastante para conseguir o controle do embate, até que Mephisto agiu levando-os todos para próximo do Yomostsu, junto com Saga.

A ideia de ver seu corpo não era nada agradável, mas foi a estratégia pensada pelo italiano para tirar a vantagem do inimigo. Somente por contar aquilo provocava desconforto pela sensação de ter sua alma arrancada daquela forma. Era como ter os pés e as mãos amarradas, impossível de se esquivar ou mesmo bloquear aquela ação.

— Isso deve ser simplesmente... — dizia Selene engolindo a seco ao ouvir aquilo.

— Horrível! Eu já tinha ouvido meu mestre comentar a respeito já que o seu mestre era o antigo Cavaleiro de Cancer, o mesmo que seguiu para essa ilha. O pior em tudo isso são as almas junto à entrada do Yomotsu. É uma imagem da qual não consigo descrever. — dizia dando os ombros. — Havia homens, mulheres... até mesmo crianças.

Aquele assunto era realmente desconfortante, e Saga somente se deu conta disso após ver o quanto Selene se encolhia novamente, arrepiando-se. Ele a tomou para junto dele e massageando seus braços, desculpando-se por aquilo.

— Desculpa! Não queria impressioná-la mais do que já está... — comentou forçando um riso. — Mas, ele fez o que foi preciso na ocasião. Ironicamente a sua presença agora à noite, quando ele se recolhia, meio que veio essas lembranças, da sensação e má impressão de que tive dele... e lembrando o que disse hoje à tarde. Eu deveria ter sido mais compreensível com você.

— Você não fez nada de errado, Saga. — dizia Selene fitando-o. — Era eu quem estava prestes a cometer o mesmo erro que cometi com Kanon que, desde então, nunca mais voltou.

Aquelas palavras incomodaram Saga, mas Selene não percebeu por que desviara seus olhos para o lago, brincando com seus pés naquelas águas. O Geminiano engoliu a seco aquilo, pois não havia dito que seu irmão estava escondido em Gêmeos há algumas semanas, quando ela ainda estava se recuperando em Áries. Ainda não havia encontrado uma oportunidade de falar com ela sobre o retorno de seu irmão, e nem mesmo Saga achava oportuno contar agora quando estavam juntos, e conhecendo bem o irmão...

— Bom, isso ajuda a explicar essa.. sensação quando diante dele. — disse Selene chamando Saga de volta para a realidade ali, junto dela. — Eu sinto uma aura estranha vir dele que me causa arrepios como agora. — disse Selene sem graça. — Ele é quem vai herdar a armadura de Cancer, não é mesmo? — e Saga assentiu confirmando. — Apenas aqueles protegidos por Cancer são capazes de despertar essa habilidade. Os dois irmãos, um deles se tornou Cavaleiro de Ouro de Cancer, posteriormente o Patriarca... — Selene riu levando a mão à testa. — Que besteira minha...!

— Não, não é. Apenas consegue sentir com mais intensidade que outras pessoas e eu já deveria saber disso. Aliás, eu já sei. — corrigiu-se de imediato, mantendo sua mão junto ao dela. — Mas não é isso que está aprendendo a controlar com aquele garoto na Casa de Virgem?

— Sim, estou. Shaka, é o nome dele. Ele está me ajudando bastante a controlar isso. — ela sorriu, mas logo ficando séria. — Mas hoje... não foi como acontece com Mephisto, foi algo mais... — aquilo a fez se calar novamente, levando a mão à boca, mordiscando o dedo. — Assustador.

— Não pretende voltar para lá hoje, não é? — indagou saga a fitando.

— E-Eu preciso voltar. Ao menos, deveria. — disse ela com relutância, olhando para o alto como se visse Star Hill por trás das grandes copas fechadas de árvores. — Mas, não quero.

— E eu também não deixaria. — disse Saga de modo imperativo. — Não depois da maneira que a encontrei naquela clareira. Acha mesmo que a deixaria voltar?

Selene apenas abaixou a cabeça. Não sentia mais a dor de cabeça, nem mesmo o enjoo, mas a ideia de retornar ao templo após aquilo, simplesmente a deixava desconfortável. Embora tentasse argumentar se convencendo de que teria de voltar, algo nas palavras de Saga a deixou simplesmente sem ação naquele momento.

— Fica aqui comigo. — interrompeu Saga, tocando em sua face e fitando aqueles olhos violetas de Selene. Não havia o tom imperativo de há pouco, mas uma voz aveludada e acolhedora. — Ainda vejo a apreensão em seus olhos, do medo que sentiu seja o que foi que aconteceu. Como acha que ficarei aqui sabendo que está lá... sozinha? E se acontecer de se teleportar... sei lá... para qualquer outro lugar?

— Mas... — ela umedeceu os lábios, mordiscando-os em seguida. — Mas você precisa... voltar ao Santuário. Precisa... voltar para Gêmeos.

— Existe alguém aqui que está precisando mais da minha proteção agora. — respondeu Saga de imediato, ainda tocando em sua face, limpando das mechas do cabelo. — E não posso defender um mundo se não posso defender aquilo que mais amo.

Aquelas palavras fizeram Selene corar, fechar momentaneamente seus olhos e baixar levemente a cabeça. Ela queria falar algo, mas não sabia o que dizer. Era bem simples, mas simplesmente não conseguia e Saga percebeu isso. Tomou a pelo queixo, levantando seu rosto e tocando seus lábios com leveza antes de um beijo cuidadoso. As mãos de Selene tocavam a face de Saga, descendo suavemente de sua costeleta até o queixo.

— T-Tem certeza que... que não sentirão sua falta? — indagou ela mais uma vez, olhando naqueles olhos verdes do Geminiano. — Não quero causar problemas pra você.

— Não vai causar problema algum. — disse ele abrindo um sorriso. — Além do mais, não sentirão tanto minha falta quanto sentirei de você. Mesmo porque...  — ele aproximava seu rosto novamente junto ao dela, mantendo proximidade com seus lábios ao dela e roubando um beijo que foi prontamente correspondido. — Quando poderemos ficarmos assim como agora... juntinhos?

— Não está chateado ou aborrecido comigo? — perguntou ela com um sorriso, sentindo a respiração dele pela proximidade de seu rosto ao dela.

— Não. Na verdade, estava com muita saudade e chateado comigo mesmo por ser um completo idiota, principalmente com você.

Selene intencionava dizer algo, mas foi calada por Saga com a ponta de seu dedo sobre seus lábios, tocando-os de leve enquanto a outra mão descia para sua cintura, puxando-a para mais perto dele, ao mesmo tempo que buscou sedento por seus lábios e a beijando de modo intenso.

Não houve relutância por parte dela que o tocou na face a acariciando-o com a ponta de seus dedos enquanto trocavam olhares. O medo de há pouco desaparecia e a sombra do medo dava lugar a um brilho que Saga admirava, da qual realmente o encantava. Passara a mão de leve nas mechas de seus cabelos para limpar seu rosto, tocando de leva sua face abaixo dos olhos.

— Sabe o que realmente queria? — comentou Saga num sussurro, ainda com seu rosto bem próximo ao dela. — Queria eu poder afastá-la de tudo aquilo que te dá medo. Ser seu porto seguro...

— Mas você já é meu porto seguro! — disse ela com um sorriso sereno iluminando sua face anteriormente triste e assustada. — Sei que posso confiar em você, e quer saber...? — ela umedeceu os lábios, sem desviar os olhos dele. — O meu medo é perdê-lo, Saga. Temo decepcioná-lo como... como naquela vez que... que achei que fosse perdê-lo pra sempre...!

— Posso te confessar uma coisa? — ela assentiu, enquanto ele limpava uma lágrima que descia por sua face. — Eu também pensei que a tivesse perdido até encontrá-la naquela clareira, e prometi a mim mesmo que não deixaria acontecer novamente. Que queria que fosse minha! A minha Selene.

Ela piscava para ele, acariciando sua face. Aquelas palavras a fizeram rir, corando sua face enquanto ele a beijava mais uma vez.

— Então me deixa ser a sua Selene, Saga. — sussurrava Selene ao pé do ouvido de Saga, com sua mão acariciando sua nuca.  — Faça-me ser então ser totalmente sua.

— Ser a minha Selene? — questionou ele, sorrindo de volta, dirigindo-lhe um olhar caloroso, as mãos subindo pelos seus braços até seus ombros. — Totalmente minha? Como?

— Quero pertencer inteiramente a você, Saga. Meus pensamentos já são seus, não tem um minuto sequer que eu não pense em você. Não tem um só momento em que eu não sinta falta do seu toque, do seu calor, do seu beijo. — Ela disse, fitando-o com seus olhos violetas. — Ficar longe de você, entre treinos e estudos, tem sido uma tortura sem tamanho. Eu quero poder aproveitar sua presença ao máximo, quero sentir meu coração bater uníssono com o seu... Saga... eu quero ser unicamente sua...

Cada palavra dita era como uma descarga elétrica no corpo do Cavaleiro, fazendo-o se controlar. Cada palavra dita parecia incentivá-lo a tomar aquela jovem em seus braços e acalentá-la com seu corpo. Porém aquelas últimas, ditas por aqueles lábios que ele tanto desejava foram a permissão que ele tanto ansiava escutar.

As mãos dele apertaram os ombros de Selene, e seus dedos se entrelaçaram nas alças de seu vestido de linho e descendo-o vagarosamente, enquanto fechava os olhos verdes e a beijava. Num breve momento, a sentiu respirar fundo e Saga hesitou. Porém, as mãos dela entrelaçaram seus cabelos, descendo até sua nuca e beijando-o com mais paixão, prontamente correspondido. As mãos quentes dele envolveram o corpo frio dela, trazendo-a junto de seu corpo, compartilhando um pouco daquilo que ela ansiava, sem que suas bocas se afastassem.

Não houve qualquer impedimento ou hesitação de qualquer um dos dois que se amaram junto àquele lago, testemunhado somente pelas estrelas que ela sempre contemplava.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos...
Mais informações sobre Selene, mais sobre a relação de Saga e Aiolos e sobre quem são Shura e Mephisto.



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