Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 20
INTERLÚDIO :: Van Qüine


Notas iniciais do capítulo

Um pouco mais do Quine, em resposta ao último da qual apresentei Antares, a 'mulher-cavaleiro' ofendida pelo futuro Geminiano. Ao fim, leiam a nota especial para surpresas que aguardam.



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— Sabia que as Amazonas levam flores onde minha mãe morava? — comentou Qüine ignorando as indagações de Kiki por breves instantes, olhando para o Santuário da entrada de Áries. — Eu não sabia que a admiravam tanto.

O Cavaleiro de Ouro de Áries relaxou mais a sua postura, observando a expressão saudosista do rapaz ao seu lado. Estava ali para repreendê-lo, mas observando aquele breve instante, permitiu que falasse, esboçando um discreto sorriso.

— Não me espantaria com isso. Embora tenha passado muito pouco tempo junto de sua mãe, Qüine, percebi a quão boa ela era, alguém de bom coração... — dizia o lemuriano olhando um ponto qualquer, mas logo desviando para o rapaz ao seu lado. — Ela foi uma das quais mais lutava contra a intolerância que recaía no Santuário em seu tempo.

Qüine piscou algumas vezes, baixando seu olhar. Havia lido sobre isso, sobre a xenofobia que era presente na ocasião, da intolerância aos estrangeiros que chegavam para se tornarem guerreiros de Athena.

Pelas palavras e narrativas de sua mãe percebia o quanto ela se mostrava contrário e dos dois 'mundos' presentes no Santuário: dos gregos e de origem grega e o 'resto'. A sua mãe era uma grega aliada a esse 'resto'.

— Ela fala sobre isso em seu diário, no primeiro que li ainda em Jamir. Confesso que acho isso muito estúpido em vista que Athena luta por um todo e não parte. — disse com ar mais sério que seu habitual. Era uma ocasião rara, mudando até mesmo seu semblante. — E ele também parecia pensar assim.

Chegaram numa situação delicada. Kiki sabia que ele se referia ao seu pai, ao Saga. Embora fosse uma criança na ocasião, tinha conhecimento do que acontecia no Santuário, de como a rotina tinha se transformado e tudo havia ficado mais tenso.

— Qüine, conversamos sobre isso em Jamir antes de partir. — disse Kiki com sutileza, olhando o jovem que ainda mantinha o olhar perdido num ponto qualquer. — Embora muito não saibam ainda sobre você, não vai demorar.

— Eu não tenho pelo que me envergonhar, Kiki. Tudo que aconteceu foi esclarecido. Não tem pelo que falarem algo mais dele. — respondeu Qüine se voltando para ele. Diria algo mais, mas se calou, engolindo a seco e umedecendo os lábios. — Eu te invejo, Kiki.

Aquelas palavras tomaram ao ariano de surpresa. Por um instante pareceu ver os olhos do garoto bem mais brilhantes, como se contivesse as lágrimas. Kiki o chamou num fio de voz, pronto para indagar ou dizer qualquer coisa, mas foi Qüine quem falou.

— Você tem mais lembranças dela do que eu realmente queria. O que conheço dela são de algumas páginas amareladas. E-eu... Eu só queria ter... algo que pudesse lembrar dela... — dizia com a voz embargada, Kiki apenas assistindo-o silencioso. — Não tenho raiva dela, não a culpo pela sua escolha, mas...

Qüine sentiu as mãos de Kiki no alto de sua cabeça. O garoto engoliu as lágrimas, levantando a cabeça e olhando o céu, estrelado após aquele dia de chuva. “Será que está olhando por mim das estrelas, mãe?”, e a resposta veio de Kiki, fazendo Qüine perceber que seu pensamento ganhara voz.

— Sim, ela está. Eu convivi pouco mais de um ano com ela e posso dizer que ela o amava muito, Qüine. — Qüine engoliu a seco, fechando os olhos. — O Mestre Mu foi quem mais sofreu principalmente nos dias que se seguiram desde que ela partiu. Mas existe algo que nunca vou me esquecer. — Kiki sorriu naquele momento, olhando o rapaz que se voltou para ele um tanto curioso. — Ela me fez prometer que cuidaria de você, do meu ‘irmãozinho’ mais novo.

Uma breve pausa e os dois riram daquilo. Kiki bem se lembrava daquele momento.

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Estava a brincar com Qüine, com o bebê rindo enquanto ele brincava com um martelinho dourado quando surpreendido pela Amazona. Diversas vezes acabava adormecendo junto ao garoto até o dia que a ouviu conversar com Mu.

Foi numa madrugada, no térreo do palácio, sob os protestos de seu mestre, mas que acabava por ceder num abraço apertado de Selene, com os dois em prantos. Quando a viu subir, viu-a a conversando com o bebê, brincando com suas mãozinhas, pedindo perdão. Kiki não entendia o que acontecia até que a ouviu chamar para que se aproximasse, e ele assim o fez.

— Kiki, você gosta muito dele, não é? — Kiki apenas assentiu, brincando com o bebê que sorriu naquele momento e tentando pegar algo no ar. — Eu terei que fazer uma viagem e... Poderia cuidar dele pra mim? Ajudar o Mu a cuidar dele porque, ele... muito ocupado. — e piscou, com os dois rindo daquilo. — Mas, Kiki... Haja o que houver, não culpe o Mu. Pode me prometer isso? — ele assentiu, mesmo sem entender aquilo. O abraço que sentiu naquela noite foi quente e demorado.

Aquele abraço havia sido sua despedida. Kiki assimilou aquilo apenas dias mais tarde quando, seguindo ao quarto onde ficava o bebê, encontrou-o nos braços de Mu, em lágrimas silenciosas. Nunca mais Selene voltou, e quase uma semana depois era a vez de Qüine, ainda um bebê, também partir. “É para a sua própria segurança, Kiki”, disse seu mestre com um semblante de pesar, seguindo mesmo sob os protestos do garoto que ficou dias aborrecido.

Porém, com os sucessivos acontecimentos que se deram desde a chegada daquele Cavaleiro em Jamir, parecia compreender o que Mu dizia sobre segurança e prometeu reencontrá-lo antes da despedida de seu mestre na sua partida para o Submundo.

“Lembre-se da promessa, Kiki. Entregue isso a ele quando estiver pronto”, e foi quando recebeu os dois diários de Selene.

A busca não aconteceu de imediato, mas talvez tivesse sido melhor. O reencontro com o pequeno Qüine aconteceria 11 anos depois, quando o traria de volta para casa, de onde Kiki acreditava que jamais deveria ter partido. Entregara o primeiro diário ao garoto em seu aniversário de 16 anos, da qual soube conter parte da história de Selene e um ‘tutorial’ que ajudou no desenvolvimento de sua psicocinese — e Mu dizia o quanto sua irmã era extraordinária naquela habilidade.

Somente dias antes de sua partida para o Santuário entregou o outro diário, da qual estava ser carregada pelo garoto desde então.

Tão como havia prometido à Selene, e também ao seu Mestre Mu, se encarregara de saber sua localização e protegê-lo, sendo realmente como um irmão mais velho. A relação de mestre e aprendiz era apenas um acaso. Naquele momento mesmo, ouvindo o garoto, era seu confessor, mas não poderia ignorar o que acontecera naquela manhã.

Por mais que aquele fosse um momento delicado, não poderia adiar aquilo e Qüine percebia isso. A mudança do semblante do ariano já evidenciava algo que havia algo da qual queria conversar e não poderia adiar. Já suspeitava do que seria. O garoto limpou o rosto e respirou fundo.

— Qual a bronca, Kiki?

— Sobre o comportamento de hoje cedo. Eu não sei o que aconteceu entre você e Antares, mas o que disse foi extremamente desnecessário. — Qüine mantinha o ar sério, olhando pra frente não em indiferença, mas assimilando o que era dito. — Exatamente o que disse achar estúpida aquela xenofobia, a sua mãe também não aprovaria o modo como se dirigiu a ela.

Aquilo fez Qüine arregalar os olhos por breve momento. Foi como levar um soco na boca do estômago, levando-o a franzir o cenho e baixar a cabeça, nublando seu rosto com seus cabelos escuros.

— Passe esta noite aqui em Áries. Ficarei consertando algumas armaduras, pode dormir no meu quarto. Amanhã cedo vai se desculpar com ela. — disse Kiki se levantando, já percebendo que Qüine protestaria e apenas usou a mão de palma aberta e dedos juntos próximo a ele, calando-o. — Isso não está sendo uma opção. — e se afastou, deixando o garoto sozinho nas escadarias.

Qüine bufou com aquilo, mas Kiki não estava errado. Havia realmente pego pesado com a garota e havia sido um tanto babaca. Mas havia de admitir que, embora estivesse usando aquela máscara, podia ver bem seu rosto de brava e desconcertada naquela discussão enfadonha e mordiscou os lábios de modo sacana pensando naquilo.

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Subiu até Gêmeos, caminhando pelo terceiro templo zodiacal que ainda guardava as marcas das últimas Guerras Sacras. Os seus passos ecoavam pelo templo, chegando até onde tinha a armadura de Gêmeos, ainda com as marcas do embate de seu pai e de seu irmão.

Intencionou tocá-la, mas hesitou, fechando a mão e olhando seu reflexo na armadura. Por mais que ansiasse saber mais sobre seu pai, não seria imoral o bastante para tomar as memórias que havia na armadura.

O que era sabido de seu pai era vago, somente das palavras de sua mãe, com menções de quando estavam juntos, como quando ele a consolou após uma visita à Sala do Grande Mestre, ali mesmo em Gêmeos — da qual ele ficou imaginando onde ficaram juntos ali.

Um homem bom coração, visto como um homem íntegro e correto, mas que quando folheou algumas páginas, percebia transformações em sua narrativa. Algo estava acontecendo, e de frente a armadura, poderia ter todas as respostas.


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Notas finais do capítulo

Duas notas importantes:

1. Uma fic está sendo escrita em conjunto comigo e uma amiga sobre a personagem Antares e em breve será publicado, com Quine sendo seu parceiro de atuação. O primeiro arco está pronto, um segundo sendo desenvolvido. Aguardem!

2. Os próximos três capítulos são EXTRAS, não contidos no diário, com referenciais em outros personagens, principalmente no Saga, Mephisto, Mu, Aiolos e outros personagens que serão mais atuantes no terceiro Ciclo - ainda sem nome. Como tenho juntado dois pontos de vistas, superficiais com complementos, reservar os três próximos para fechar Dualidade.

3. Próximo capítulo, dia 24/01.
Obrigada a todos que acompanham e recomendam.



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