Red Hood escrita por Hannah Mila


Capítulo 4
Uma Segunda Vez


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, demorei? *pisca os olhos inocentemente* Me desculpem!! Motivos: estudos e preguiça. Sim, podem me bater.
Enfim, trabalhei bastante no capítulo, mas como sou preguiçosa e não tenho vergonha na cara, trouxe ele sem nem revisar.
E ah! Muitíssimo obrigada à SofiaM pela recomendação! *----* Quase morri quando vi.
Espero que gostem e boa leitura!



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Não demorou muito para que Chloe se acostumasse com Keegan.

No começo era chato, é claro: ele a levava para a escola, para o trabalho e a seguia por todo lado. Chloe ficava desconfortável, mas com o tempo, foi se acostumando. Eles escapavam do trabalho e passavam o dia passeando pelo shopping. Hora ou outra, Keegan comprava algo para Chloe, por mais que ela protestasse. Ele cuidava dos gêmeos se fosse preciso e ficava com eles até o fim do expediente. Às vezes, até pagava um jantar para os outros. Chloe se sentia mal, mas ele dizia que não tinha problema. E sorria.

Chloe percebeu que adorava aquele sorriso. Quando ela começava a lembrar do pai, do assalto e de todas as outras tragédias de sua vida, Keegan fazia um piada e dava um sorriso... E tudo parecia sumir da cabeça de Chloe.

– Vamos, logo, Chloe, senão pegamos ainda mais trânsito – dizia Keegan, sentado no balcão da Winters Eletronics. Era fim da tarde e na loja estavam apenas Chloe, Keegan e os gêmeos.

– Calma – respondeu Chloe enquanto pegava as chaves – Pronto, vamos.

Eles estavam a passos da porta quando ouviram um barulho vindo do quartinho dos fundos. Eles se viraram e encararam a portinha. Chloe suspirou e disse:

– Alguma coisa deve ter caído – e dirigiu-se à porta dos fundos – Vão indo, eu arrumo o resto por aqui.

– Mas, Chloe... – começou Keegan, com um olhar preocupado.

– Tudo bem – disse Chloe, e sorriu – Eu alcanço vocês.

Keegan hesitou, mas sorriu de volta e foi com os gêmeos para a saída. Chloe adentrou no quartinho dos fundos e ligou as luzes, logo antes de ouvir o clique de uma arma sendo engatilhada. Engasgou com o que viu.

Ele não parecia ter mudado nada. Mesma postura, mesma roupa, mesma faixa vermelha no braço. Parecia que tinha sumido naquele dia para aparecer novamente nesse. Era ele. O assaltante de Chloe. O homem que havia atirado nela um dia lhe apontava uma arma uma segunda vez.

Chloe havia congelado. Não estava esperando por aquilo. Como em câmera lenta, ela viu o homem apertar o gatilho. Mas quem a bala acertou foi Michael, que veio como um foguete por trás de Chloe e a atirou no chão.

Antes que o homem pudesse armar o revólver novamente, algo o acertou no peito e ele caiu. Chloe viu, atordoada, Keegan guardando a arma de choque de volta no bolso da jaqueta. Então, virou a cabeça para o chão e avistou a poça de sangue em volta de Michael.

As imagens daquele dia passaram em frente aos olhos de Chloe, mas ela lutou contra o blecaute. Tinha que ficar com irmão... Tinha que ajuda-lo...

Ela ouviu vagamente o choro fraco de Tobias, e os gemidos de Michael, e a voz tremida de Keegan chamando a polícia. E Chloe tentou, e tentou ficar consciente, mas não levou muito e ela desabou, ouvindo o suspiro do irmão:

– Viu só, Chloe? Agora eu que te salvei...

***

Chloe achou sinceramente que tinha morrido.

A brancura e a clareza do lugar onde acordou garantiam isso. Mas não: ela não estava no céu, apenas no hospital, deitada numa poltrona em um dos quartos.

Demorou alguns segundos para se situar. Mais alguns para lembrar porque estava ali. Mais alguns para perceber que, na cama ao lado de sua poltrona, havia um garoto dormindo, o ombro enrolado em ataduras. Seu irmão.

– Chloe? – ela ouviu a voz da mãe vagamente – Chloe, você está bem?

A mãe tocou no ombro da garota. Chloe olhou para a mãe, que estava com os olhos inchados e o nariz vermelho, embora sua postura e expressão não passassem a mínima impressão de que chorara. Chloe conhecia aquele aspecto da mãe. Ela ficara daquele jeito quando Chloe levou um tiro... E quando o pai morreu um ano depois. Agora, ela chorava escondido por Michael.

Não se podia dizer que aquela era a família mais afortunada do mundo.

– Chloe – a mãe chamou novamente a atenção da filha – Você não está bem, não é?

Ela não estava bem mesmo. Estava atordoada. Ela havia ficado atordoada antes. Quando levou um tiro. Quando soube que o pai morrera. Mesmo quando seu peixinho dourado morreu, quando ela era menor. Não era difícil para Chloe ficar atordoada, mas era difícil admitir. Se ela admitisse, a mãe se preocuparia.

Mas, especialmente, se Chloe admitisse, ela se sentiria fraca. Por isso ela nunca falava a verdade. Por isso ela mentia e dizia que estava tudo bem. Talvez, se ela continuasse fazendo aquilo chegasse um dia que realmente esteja tudo bem.

Daquela vez, porém, Chloe não se importou. Ela sentiu os olhos marejarem e abraçou forte a mãe, chorando. A mãe a abraçou de volta e acariciou seus cabelos. E Chloe chorou. Chorou e chorou e não ligou para tudo no que sempre acreditara. Havia um turbilhão de emoções dentro dela, impulsionando-a a deixar tudo de lado. Ela nunca havia chorado. Nunca havia se permitido isso antes. Mas, naquele momento, ela não deu a mínimo. Nada fazia mais sentido, de qualquer maneira. Chloe Winters chorando não faria mais diferença.

***

Era uma da madrugada quando Chloe acordou novamente. Estava em uma posição bastante desconfortável, sentada ao lado da cama do irmão e debruçada, a coluna torta. O que a acordara foi um movimento bem suave a seu lado. Ela sorriu para o irmão quando este pôs a mão em sua cabeça.

– Ei, mana – disse Michael, sorrindo. Parecia tão fraco, mas mesmo assim sorria. Assim como todos da família – Te preocupei?

Chloe deu um sorrisinho fraco de volta. As lágrimas começavam a brotar novamente em seus olhos. Ela as limpou e respondeu:

– Mas é claro, seu idiota! – ela deu um tapa de leve na perna do irmão – De onde você tirou aquela ideia maluca de se atirar no meu lugar?

Michael deu de ombros, e então fez uma careta de dor. Virou a cabeça para ver as bandagens em seu ombro direito. Então olhou para Chloe, a cabeça levemente inclinada, indicando que ele estava curioso sobre algo.

– Então, estou correndo risco de morte ou algo assim? – perguntou ele, com uma risadinha baixa. Chloe tentou sorrir de volta, mas não conseguiu. Apenas falou:

– Os médicos disseram que felizmente a bala não acertou nenhum osso – ela segurou a mão de Michael – Que você teve sorte. Eu não concordo – completou, dando ao irmão um olhar irônico – Qualquer um que leva um tiro não é sortudo.

– Especialmente da nossa família – acrescentou o irmão, um pouco hesitante.

Chloe se surpreendeu. Nunca ouvira o irmão reclamando. Os gêmeos ficaram tristes nas diversas vezes que os Winters passaram por... Dificuldades. Mas nunca reclamavam, e sempre seguiam em frente. Para falar a verdade, eles eram bem mais fortes que Chloe.

Michael deve ter percebido a tensão nos olhos de Chloe, pois rapidamente tentou mudar de assunto:

– Ei, Keegan tem uma arma de choque! Não é legal?

Keegan. Chloe havia esquecido completamente dele. Onde será que estava? Estaria preocupado? Mais importante: por que diabos Keegan tinha uma arma de choque?

– Hum – foi o que Chloe respondeu –Por que ele tinha uma arma de choque?

– E eu sei lá! – disse Michael. Parecia animado. Se estivesse mais forte, Chloe tinha certeza que ele daria pulinhos na cama – É tão legal! Mas podemos perguntar para ele quando o virmos.

Chloe finalmente conseguiu sorrir. Aquele era Michael: animado, tagarela e sempre pensando nas coisas como “legais” ou “interessantes”. E Chloe o amava. Não sabia o que faria sem ele ou Tobias.

Michael finalmente se acalmou e recostou-se na cama. Ele olhou ao redor e perguntou:

– Onde está Tobias? E mamãe?

Chloe franziu a testa. De fato: onde estavam? A mãe estava lá quando Chloe adormecera mais cedo, mas Tobias... Ela não o havia visto desde que desmaiara na loja.

Como se para responder a pergunta, a porta do quarto se abriu e a mãe entrou no quarto. Trazia na mão um copo de café e ao ver Michael, seus olhos brilharam em lágrimas. Chloe podia jurar que ela ia deixar o café cair, mas a mãe conseguia manter a compostura. Caminhou até a cama, pôs o copo na mesinha de cabeceira e pegou a mão do filho.

– Como você está, querido? – perguntou, os olhos ainda brilhando.

– Estou ótimo, mamãe – respondeu Michael. Parecia incomodado – E Tobias? Cadê ele?

A mãe congelou. Sua mão, que apertava a de Michael, tremia de leve, e Chloe reconheceu o sinal. Preocupação. E tensão, muito tensão. Chloe lançou um olhar inquisitivo para a mãe. Ela olhou para Chloe, e novamente para Michael. Depois de muita hesitação, finalmente falou:

– Tobias está em outro quarto. Um médico o examinou – Michael arregalou os olhos. Chloe juntou as sobrancelhas em preocupação e ansiedade. As lágrimas da mãe finalmente começaram a cair – Ele não falava. Comigo nem com ninguém. Só chorou baixinho, por horas e horas. Agora ele finalmente parou. O doutor Thompson diz que... Que ele teve um colapso nervoso. Que está passando por algum tipo de estresse pós-traumático. Mas não é grave – completou a mãe rapidamente. As expressões nos rostos dos filhos deviam estar muito dolorosas – Ele vai melhorar. Eu... Eu prometo, crianças.

Dito isso, ela os abraçou, com cuidado e delicadeza. Eles deviam parecer tão frágeis. Tão tristes e tão sofridos. Mas Chloe não se sentia frágil ou triste. Sentia-se furiosa. Furiosa com a pessoa que fez da sua vida uma desgraça atrás da outra. Furiosa do homem forte e alto, com a faixa vermelha no braço.

E aquela não seria uma fúria fácil de apaziguar.


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Notas finais do capítulo

Pensei seriamente em chamar esse capítulos de "feelings" ou algo assim. Até eu fiquei com o coração apertado escrevendo-o... Espero que tenham gostado e não se esqueçam de comentar!



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