Más Intenções - Litor escrita por Mari W


Capítulo 37
Capítulo 37 - A Festa




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Vitor mal conseguia acreditar que iria realmente à uma festa de colégio com roupas sociais. Completamente contra seus princípios. Ao perceber que as calças não ficariam nada boas com o gesso na perna direita, o único que ainda restava, resolveu apenas  botar uma bermuda preta e jogar uma coberta da mesma cor em cima. Se olhou no espelho. Não parecia nada atraente em uma cadeira de rodas, mas era o máximo que conseguiria.

Ficou decidido que Vitor ficaria no apartamento alugado de Sal até se recuperar - ou seja, até abandonar as muletas. Sal também se ofereceu para levar o irmão às aulas, sendo que o irmão não teve nem como argumentar, já que não andaria de moto por um tempo e pegar um ônibus naquele estado não seria nada legal.

- Eu tô ridículo. - Disse Vitor.

- Ai Vitor, por favor. Você tá um gato, pra variar. - Encorajou a amiga.

- Sério, parece que agora minha vontade de ir foi pra menos mil. - Disse Vitor, irritado. - Não me levem a mal, pessoal. Mas eu vou ter que te pedir pra me levar pro seu apartamento. - Se dirigiu ao irmão.

- Você tá maluco. - Disseram Sal e Fatinha, ao mesmo tempo.

- Não, sério. Me levem lá. É minha última palavra. - Sal revirou os olhos e piscou pra Fatinha de canto.

- Ceerto, te levaremos lá. - Fatinha sorriu para Sal, entendendo que o destino dos três acabaria sendo o Quadrante.

Quando Vitor sacou o plano já começou a reclamar dentro do carro, mas Fatinha e Sal apenas diziam que ele ia ter que ir de qualquer jeito, pelo menos ver como está lá e depois, se ainda quisesse ir, Sal o levaria sem problemas.

Os três chegaram no colégio pontualmente, às 22h, horário de início da festa. Poucas pessoas entravam junto com os três até o ginásio da escola, mas até estranhos chegavam pra cumprimentar Vitor, que se sentia horrível. Via pena nos olhos dos outros e isso era uma coisa abominável pra ele. Não queria que ninguém o enxergasse fraco ou vulnerável. Mas não tinha como negar isso, se até pra sair do carro a dor às vezes encomodava sua perna direita.

- Que grande porcaria. - Disse Vitor, revoltado ao entrar na quadra.

- Calma, calma. Você vai tentar ficar um tempo até pedir pra gente ir embora, falou? - Pediu Sal.

- Não me levem a mal, mas vou ficar naquele canto lá. - Vitor apontou pra um canto distante da quadra, onde ninguém estava.

- Tá maluco, né? Vou te levar pra pista de dança. - Disse Fatinha.

- Não! - Gritou ele. - Desculpa, Fatinha. Mas eu tô com dor, quero ficar na minha um pouco. Vão dançar. - Os dois olhavam pra ele, com medo. - É sério, eu tô bem. Eu preciso ficar sozinho, você sabe que eu gosto disso, Sal.

- É, isso é verdade. - Concordou o irmão. - Bom, Fatinha, vamos deixar ele lá um pouco e depois o forçamos a interagir com a galera.

- Pode ser. - Respondeu Vitor. - Depois eu vou com vocês.

Vitor foi sozinho até o canto, empurrando a cadeira pelas rodas com facilidade, evitando ao máximo o olhar de todos, alguns felizes por ver ele,  alguns com pena... Mas a maioria estava muito entretida dançando. Não demorou muito pra outra pessoa que estava tão deslocada quanto ele, se juntar ao canto.

- Tá se escondendo, moleque? - Perguntou Orelha.

- É, mais ou menos. 

- Posso? - Orelha arrastou uma cadeira e colocou do lado de Vitor. E começou a olhar para Morgana, fazendo Vitor perceber rapidamente.

- É amor mesmo, então? - Vitor riu.

- Só pode ser. - Disse Orelha, em um tom de voz triste. - Cara... Eu preciso saber de uma coisa. Você gosta da Lia ou aquele lance da aposta foi só pra se livrar? - Orelha cogitava falar sobre o beijo de Dinho e Lia, caso Vitor acabasse confirmando o que ele achava: Que Vitor não dava a mínima.

- Me livrei de uma boa, Orelha. Já fiquei com várias depois desse fim de namoro, nem ligo mais. E não quero falar sobre isso. - Disse ele, raivoso.

- Não tá mais aqui quem falou!

Orelha estava tão focado em Morgana que nem viu a expressão de Vitor mudar completamente quando Lia entrou na quadra, acompanhada de Ju e Gil. O ar de Vitor parecia ter saído dos pulmões. Era a melhor visão que já teve em sua vida. Um sorriso começou a se desenhar em seu rosto, à medida que ele percorria os olhos pelo corpo de Lia. Era bom que ele estava em uma cadeira de rodas, porque a probabilidade de ele esquecer disso e tentar ir andando até ela, sem pensar em mais nada, era grande. Ele tentava com todas as forças se focar na raiva que deveria sentir dela, mas aquilo ali já era provocação demais. Resistir seria quase impossível.

- Mas sacanagem marcarem prova pra segunda-feira, quando as aulas voltam. Não que seja um problema pra nós. - Disse Orelha, rindo.

- É. - Respondeu Vitor, sem prestar atenção em uma palavra que Orelha dizia. Só tinha olhos para Lia.

- O Mathias tava falando de dar uma bolsa, tipo um salário, pra quem se candidatar a dar aulas de monitoria semestre que vem. Dinheiro fácil, pra nós pelo menos.

- É. - Vitor ainda não ouvia nada. Nem estava perto de ouvir. Ainda mantinha o sorriso bobo no rosto. Aquela garota era ainda mais linda do que ele achava, se é que isso era possível.

- Tô pensando em me candidatar pra Matemática. Você iria pra História ou Matemática? Não quero concorrência, né.

- É.

- Quer um pouco de refri? - Disse Orelha, estendendo a mão para alcançar o copo para Vitor.

- É. - Demorou um pouco para Vitor se dar conta da mão em sua frente, até que pegou o copo, disfarçando sua distração.

- Cacete! - Disse Orelha, esfregando os olhos. - Aquela é a Lia? - Vitor sorriu. - Ela tá gostosa pra cara... Opa. Mal aí, cara.

- Tudo bem. Ela tá mesmo. Até demais.

Foi quando, do nada, no meio de uma música, Lia foi puxada para o canto pelas mãos de... Dinho? O copo não mão de Vitor foi amassado rapidamente, movida pela raiva que ele estava sentindo. Dinho conversava bem perto dela, falando no ouvido, provavelmente pelo som alto, mas aquilo era demais pra Vitor. Quando Lia abraçou o seu primeiro namorado demoradamente, ele sentiu sua cabeça girar. Se estivesse livre da cadeira de rodas, provavelmente a cara de Dinho estaria sendo esfregada no chão.


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