21 Contos Sobre O Fim Do Mundo escrita por Lara


Capítulo 5
O cigarro dum garoto, e um garoto do cigarro.


Notas iniciais do capítulo

Cuidado: Texto hermético e provido de pedantismo decadente.
Desculpem-me pela demora.



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O cigarro dum garoto, e um garoto do cigarro.

O cigarro ia consumindo-se de forma calma, como se toda a nicotina ali presente fosse uma parte de uma obra de Mozart, consumia-se e consumia-se dançando a ópera da vida escrava.

A fumaça engrandecia o cômodo incomodo e o garoto fingia fazer parte duma sincronia hermética. Fingia ser Morissey, fingia galopar de um lado a outro da sala, fingia sorrir, com um ricto grosso nos lábios.

Na verdade, tremia ao ouvir as explosões, sincronizadas ao tum-tum do seu coração, tão longe. Podia ouvir os gritos das pessoas, passos numa marcha descontrolada, lágrimas inundando toda a sua cidade maravilhosa.

O cigarro deixou a cair as cinzas acumuladas no carpete, o mundo recebeu o impacto dágua do oceano borbulhante. O garoto aterrorizou-se, viu pela janela milhões de prédios demolir-se, viu-se no espelho e chorou.

Pareceu-lhe certo chorar, o garoto estava sozinho. Gemeu de incredulidade, vendo tudo acabar em refrãos de Nirvana e freios da velha motocicleta do Che. Gemeu de dor, tentando reprimir os seus gritos jubilosos, envaidecendo as sombras do planeta.

O cigarro carregava o fim. Milhões de cinzas caíram compassadas novamente, a floresta queimava e o som do fogo consumindo todos aqueles tijolos de cimento ricocheteava nas tristes paredes que abrigavam o garoto.

Tudo parecia desprovido de objetivo real, a vida parecia uma prece não atendida, e a liberdade um cover mal-feito de Elvis Presley . O garoto continuou chorando, deixando as lágrimas acompanharem o terremoto de seu corpo aflito.

O garoto não se importava de verdade, seguia seus instintos descontrolados e repreendidos pelo seu Superego vacilante. Galgou o sofá, seus pés sujos encontrando-se com lã sedosa. O meteoro sendo recebido pela fofa areia da praia.

Ele preocupava-se em sugar o cigarro, o toco que mantinha entre os lábios como sua salvação eterna. O garoto fez sua cabeça colar-se aos joelhos, cobertos pela calça em farrapos. O vulcão cumprimentou o oxigênio, com uma vênia desajeitada e um aperto de mãos quebrador de ossos.

Chorou um pouco mais, esticou os dedos e os estalou, vendo a sua agonia sendo sufocada pelo tremor do universo. O garoto olhou em volta, viu o pôster que decorava a parede: uma borboleta. Linda e livre, condicionada a sê-lo.

Fez-se levantar, fez-se consumir pelo cigarro. Chegou junto da janela de madeira corroída pelos cupins famintos.

Olhou para baixo, viu o nada consumindo o tudo tranquilamente, chutou a lei da gravidade na cara e jogou-se do quinto andar. Não esperou o fim, fez seu fim sozinho com uma consciência irracional de seus atos.

Caiu rápido, sendo sugado pelo vácuo, sendo consumido pelo cigarro que não caiu de sua boca.


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Notas finais do capítulo

Sei que deveria permanecer com o padrão de no final, ter algo. Se vocês quiserem, escutem essa música... The Smiths: This Night Has Opened My Eyes


Peço opiniões.



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