21 Contos Sobre O Fim Do Mundo escrita por Lara


Capítulo 12
O só e a inexistência


Notas iniciais do capítulo

Alguém ainda lê isso?
Perdão por tudo (pela demora, pelo conto, pela complexidade)
Se alguém perceber o que eu quis dizer com este conto: me diga, por favor.



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Seu lábio está derretido também.

Eu te vejo, inexistência, você é tão triste. Sou triste a você também? Acho que não. Talvez, por um descuido do Infinito o reflexo que vejo é o teu, por isso te falo: sinto-te.

Você gosta de literatura de Cordel? Assim, só para puxar assunto: não quero ficar só.

Acredito que o fim já venha, o meu plano é fugir. Assim, só porque não posso. Não sei se você consegue ler a minha alma, mas sou tetraplégico. Assim, não quero sua pena, inexistência. Acho que agora, nesse fim previsível não faz muita diferença, não é? Assim, se você só for contabilizar o final. É que todos vão morrer mesmo, inexistência, entretanto acho que você já conhece a morte, não é? (Lembro que dissestes que eram primas; diria que mando uma saudação mas acho que vou dá-la pessoalmente).

Não dá para fugir, mesmo que pareça tolo estou um pouco feliz: teremos igualdade na morte, inexistência. O mais engraçado é que me deixaram assolado na cama: na frente de você e do meu reflexo no espelho.

Se você quiser, admito: queria estar correndo entre o manguezal e sentindo toda a lama entre os meus dedos. Admito também: estou esperando que uma intervenção divina me permita levantar em meu último instante. Assim, já disse que pareço tolo, acontece que sou mesmo.

Sabe, inexistência: eu tenho uma filha.

Ela não está aqui comigo, na verdade, ninguém está. Creio que esperava que ela estivesse aqui: é minha filha afinal, mas acho que nunca fui um pai que marcasse presença e acredito que no momento ela não se lembre de minha existência. (Ora, será que você a consumiu inexistência?) Poderia dizer que não a culpo por isso, mas culpo. Quero companhia, devo merecer que alguém segure a minha mão. Pelo menos no fim.

Já tive uma mulher, só que morreu. No mesmo acidente em que quebrei a coluna. É, inexistência: a minha alma é tetraplégica mas nem sempre foi.

Sinto a falta dela, ou talvez sinta falta de sua companhia. É tão complicado estar só, inexistência.

Há algum tempo venho ouvindo uns estardalhaços, assim, altos e hiperbólicos. Acho que não me importo, ou talvez não possa me importar: acontece que não posso mover nada além do pescoço.

Não sei se você escutou: mas deixaram uma música fúnebre tocando. Na verdade é só um CD de Los Hermanos, você conhece inexistência?

Só se você quiser saber: eu tenho cinquenta anos. É.

(Promete que não vai me deixar sozinho? É que também tenho medo da loucura, segundo dizem ela vem mais rápido quando se está só).

Se bem que eu vou morrer mesmo, inexistência. Se quiser ir: vá. Só estou esperando a sua prima morte para ir também. A minha mãe dizia que a morte tem cara de gente querida: quem terá a cara de morte para mim? Ou a minha mãe ou você, nunca tive muitos amigos.

Tive um: José. Como será que ele está lidando com o fim? Será que ele treme todo por causa dos terremotos? Acho que sim. Assim, eu também estou tremendo, só que não sinto.

Sabe: tem um rato na minha perna, sei porque vejo. Pronto, inexistência, não estou mais só.

Acho que posso morrer.

José ( Drummond)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?


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Notas finais do capítulo

Giovanna! O seu conto... Sim, perdi-o... Mas reescreverei, juro, juro. É que venho estado meio mal e não consigo escrever nada bom.

Meus leitores... Escreverei um conto por semana, mesmo que não consiga. Pois é. Se gostaram, odiaram, amaram, tiveram refluxos.... Quero saber :3



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