Angel escrita por Dayane Alves de Oliveira
Apesar do dia chuvoso, o movimento foi constante na loja. Angélica mal teve tempo de parar para tomar um café. Mas ela gostava do serviço, estava se sentindo útil e isso á fez ficar tranquila quanto as outras preocupações.
Pouco antes da loja fechar, finalmente ela parou um pouco. Ficou encarando a estante de maquiagens um tempo e resolveu comprar uma sobra preta, já que a sua estava acabando. Pegou também uma marrom, e um rímel. Era tudo o que precisava, pensou ela. Quando desviou o olhar para a prateleira de baixo onde continham batons. Ela sorriu ao lembrar de Carol, para ela os batons eram tão importantes quanto a sombra preta era pra Angélica. Se lembrou de uma frase que a amiga sempre dizia: “Escolher o batom certo é um ritual, no final, ele que vai determinar se o garoto vai te beijar ou recuar.” Acabou pegando um vermelho em homenagem á amiga, e um simples rosa cor de boca, pois Raphael ia gostar.
Quando chegou em casa, todos já estavam se arrumando para ir á igreja. Tirou o uniforme e tomou um longo banho. Ao entrar no quarto, abriu uma mensagem de Raphael;
“Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa. Vamos fazer algo diferente hj, vem aqui pra gente assistir um filme.” –R
-Você vai? –Perguntou Natália.
-Hã?
-Á igreja.
-Não. Vou ficar.
-Ok. Tchau.
-Tchau.
Angélica se arrumou tranquila sem ninguém por perto. Apesar do frio, ela pôs um vestidinho florido com cinto de tachas e meia-calça preta com all-star cano médio. Ela não se maquiou, já que Raphael fez a gentileza de convida-la, ela também queria fazer essa surpresa á ele. Passou apenas o batom rosa que trouxe da loja. Pôs uma jaqueta jeans e pegou o guarda chuva para atravessar a rua.
Foi correndo e deixou o guarda chuva na varanda e entrou. Ela tirou a jaqueta e foi até Raphael, que estava sentado no chão da sala com uma pilha de dvd’s á sua volta.
Ela se sentou no sofá e ele perguntou:
-E aí? O que você quer ver?
-Qualquer coisa que não seja “A Paixão de Cristo”.
-Então hoje é seu dia de sorte. Comédia? –Disse sacudindo “O Mentiroso”
-Claro! Adoro “O Massacre da Serra Elétrica”
Ele olhou surpreso pra ela, que estava mesmo falando sério, então pegou o primeiro filme de terror que viu pela frente e colocou.
O começo do filme foi tranquilo, com um contando vantagem sobre o outro. Mas quando era chegada a hora da primeira morte, no sofá ele foi se aproximando de Angélica que mordia uma almofada. No momento em que o assassino ia chegando perto da coadjuvante ingênua, houve o barulho de trovão lá fora e a televisão desligou, e tudo ficou escuro. Angélica gritou enquanto Raphael caiu na gargalhada:
-Para de rir! –Disse jogando uma almofada nele.
-Desculpa. –Disse ele rindo mais.
-Quase que eu morro de susto!
Se recompondo, Raphael foi até o interruptor tentar acender a luz:
-Ops... acho que a gente tá sem energia.
-Fala sério.
-O raio deve ter atingido um poste.
-Que droga.
-Estamos presos no escuro. –Disse ele
-Que ótimo. –Disse ela irritada, cruzando os braços.
Ficaram em silêncio um tempo, completamente entediados. Raphael foi até o quarto e trouxe alguns cobertores por causa do frio. Angélica afastou a mesa de centro e sentou-se no tapete se enrolando num cobertor. Foi quando reparou que Raphael estava acendendo velas por toda a sala:
-Pra que isso? –Perguntou ela hesitante.
-Precisamos de um pouco de luz até eu conseguir acender a lareira.
-Ah... –Respondeu ela aliviada. Ele á olhou um instante, como que dizendo “eu sei o que você pensou”, e ela ficou vermelha por isso.
Após acender uma quantidade considerável de velas, ele começou a se dedicar em acender a lareira. Impaciente, Angélica foi até a cozinha preparar algo para comerem. Fez leite com chocolate, e achou alguns biscoitos, pegou também algumas frutas e pôs tudo numa linda bandeja. Voltou para a sala onde Raphael tinha acabado de acender a lareira.
-Com fome? –Disse ela se sentando no chão pondo a bandeja entre eles.
-Muita! –Respondeu pegando uma xicara.
Eles comeram em silêncio, encostados no sofá e encarando a lareira. Mas de repente, Raphael se pegou observando Angélica, e reparou que ela estava sem maquiagem:
-Bonito batom..
-Obrigada. Pensei em você quando comprei. –Disse com ar de convencida.
-Eu que agradeço então. –Falou sorrindo.
-Na verdade... Estava pensando na minha amiga Carol também.
Raphael sabia que Carol era a amiga morta, então apenas deixou que ela continuasse:
-Ela adorava batons. Dizia que era até um tipo de ritual usa-los.
-Que bom que ela te ensinou alguma coisa. –Brincou ele e Angélica riu.
Houve mais uma pausa. Até que ela decidiu que esse era o momento de falar com ele sobre o sonho/pesadelo:
-Rapha... Se eu te perguntar uma coisa, você promete ser sincero?
-Prometo! O que foi? –Disse ele dando o ultimo gole no leite.
-Quando éramos crianças... Você me beijou alguma vez?
Ele ficou surpreso, se lembrava muito bem do acontecido, mas antes de confirmar, ele quis saber mais:
-Por que a pergunta?
-É que eu tive um pesadelo... Sonho! Em que isso acontecia. Então fiquei confusa entre lembrança ou fantasia.
-Ah... Eu não me lembro disso. –Ele mentiu, mas pensou que se ela não lembrava era por que não foi importante, então melhor não falar. Mas acabou perguntando:
-Como foi?
-O pesadelo?
-O beijo.
-Ah... Eu não sei. Foi só um selinho. Coisa de criança, tipo naquele filme : ABC do amor. –Disse dando de ombros, estava se sentindo desconfortável, porém ele continuou:
-Foi bom?
-Eu sei lá... Foi um sonho, não dá pra saber.
-Mesmo? –Disse contendo a risada.
-É... –Ela não estava sem graça como ele esperava, mas sim impaciente com a conversa.
-Você não sabe se foi... Firme... quente?
-Não sei! Não dá pra comparar sonho com realidade. –Ela evitou olha-lo nos olhos e então ficou encarando o outro lado da sala.
-Foi tipo assim...? –De repente, ele segurou o rosto dela, como no sonho, á virou e sem dar tempo pra que ela pudesse recuar, deu um breve selinho nela.
-RAPHAEL!!! -Gritou ela lhe dando um tapa no braço, enquanto ele não parava de rir.
-Agora você tem com o que comparar –Disse se contendo.
Ela cruzou os braços emburrada. Ele percebeu e parou de rir, então disse:
-E aí? Foi bom?
Ela suspirou impaciente e olhou para ele de modo sarcástico.
-Pra mim foi. –Disse ele –As duas vezes.
-Mas você disse que não aconteceu.
-É... Mas aconteceu sim. Desculpe ter mentido.
Ela pensou um pouco, então disse:
-Tudo bem.
-Mas... Por que você não lembra?
-Não sei... Você me pegou de surpresa, vai ver eu fiquei com tanto medo que meu cérebro bloqueou.
-Medo?
-Eu só tinha 7 anos!!!
Ele riu e disse:
-Ta bom, eu entendo.
-E você?? Por que me beijou??
Ele apenas sorriu olhando pra ela.
-Por que Raphael? –Insistiu ela.
-Por nada. Deixa pra lá... –Disse ficando sério, mas com um sorriso bobo.
Ficaram um pouco em silêncio, depois voltaram a conversar normalmente. Depois de um tempo, de repente ele observou tudo e começou a dar risada.
-O que foi? –Perguntou ela.
-Nada. –Mas continuou dando risada.
-Fala!
-É que... É romântico.
-Romântico?
-É... O “piquenique”, as velas...
-Ah...
-Se fosse combinado não teria dado tão certo.
Ela riu e disse:
-É verdade. Mas eu duvido que alguém faria tudo isso pra mim...
-E por que não?
-Por que eu não sou esse tipo de garota.
-Que tipo?
-O tipo... que os caras se esforçam pra fazer uma surpresa bonitinha, só pra dizer que gosta.
-Ah... Se te ajuda a se sentir melhor, eu posso dizer que tudo isso foi de propósito. Afinal, a gente até se beijou.
Ela apenas deu risada, depois disse;
-Você parece o tipo de cara que faz essas coisas...
-Não mesmo! Sério! Já fiz essas surpresas e no final deu tudo errado.
-O que houve?
-Em resumo, eu quis uma menina que não era pra mim, fiz uma surpresa muito legal, e ela me humilhou em publico dizendo que nunca ia ficar com um “nerd” como eu.
Ela ficou séria, depois disse:
-Que menina horrível.
-Eu me vinguei depois, relaxa. –Disse rindo
Mas ela continuou séria, e uma lagrima caiu de seus olhos, ao lembrar que ela mesma também já havia feito aquilo, e não com um, mas com vários garotos.
-Mesmo assim, ela não é nem nunca vai ser a garota que eu mais amei. –Disse ele dando de ombros.
-Então quem foi?
Ele pensou um pouco para responder, e quando se virou para falar, as luzes acenderam. Angélica gritou de alegria ao ver que tinha voltado a energia:
-Ainda bem!!!
Ele apenas riu e pensou: “bem na hora”, depois disse:
-É melhor a gente aproveitar pra arrumar aqui.
Eles dobraram e guardaram os cobertores, apagaram as velas e lavaram a louça. Enquanto Raphael guardava as coisas no armário, Angélica pensou no que Andressa disse sobre quebrar as regras, sem pensar direito, acabou dizendo á Raphael:
-A gente devia sair.
-Sair?
-É, pra se divertir.
-E sua vó ia deixar?
-Eu podia dar um jeito... Tô ficando entediada me encontrando só com você. –Disse dando uma risada debochada.
-Ah é? Então tá. Só tem 2 problemas.
-Quais?
-1. Não tem nada pra fazer nessa cidade. 2. Não podemos ser vistos juntos.
-2 problemas, 1 solução! –Falou ela como num comercial de produto de limpeza. –Não precisa ser aqui.
-Hum... –Ele ficou pensativo.
-Olha! Eu dou um jeito de sair de casa e você arranja o resto tá?
-Tá né?
Ela deu um beijo no rosto dele se despedindo, e foi pra casa.
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