Momento Infernal escrita por Elizzabeth Haaps


Capítulo 5
Capítulo 01 (parte 2) — Nascimento.


Notas iniciais do capítulo

E sem mais delongas apresento-lhes o FIM do PRIMEIRO CAPÍTULO de MI. Tive que dividir o capítulo 01 em DUAS PARTES, pelo mesmo ser um pouco grande e para a leitura não ficar tão cansativa.

Espero que gostem das aventuras do meu preferido e unico SK. Qualquer coisa reviews são extremamente bem vindas e importante também lindos.

Apreciem e degustem lentamente, pois os trabalhos apenas começaram.



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Oliver partiu para sua casa feliz. Depois de muitas voltas e um longo caminho com matas densas e pouca iluminação; a luz dos faróis mostrou aquela velha casa no meio do nada, distante de tudo e de todos. Estacionara o carro perto da entrada, abrira a porta rapidamente e com cuidado retirou a garota dali. Com ela em seus braços caminhou normalmente, ainda sorrindo. Dentro da sua modesta casa, no primeiro cômodo, não tinha mais nada além de uma cadeira e uma mesa; no segundo: alguns recortes de jornal velho enfeitavam a parede, uma maca meio enferrujada e uma mesa cumprida cheia de ferramentas especiais. Oliver a colocou na maca amarrando seus pés e mãos firmemente; ela ainda estava inconsciente, seu corpo mole e respiração quase parada. E enquanto uns determinados olhos não se abriam, ele esperava pacientemente; as vezes amolava suas ferramentas, arrumavam-nas por ordem de tamanho, andava de um lado para outro, sentava... Enfim o efeito estava passando.

A garota não entendia o que a tinha levado àquele local. Com suas mãos e pés amarrados, o que prendia parcialmente a circulação do sangue, tanto a sua respiração quanto seu coração estavam numa velocidade fora do normal, e acelerando... Seus pensamentos eram ilógicos, mas de uma coisa ela tinha certeza: estava encantada. Não literalmente digo, embora na etapa dos acontecimentos magia fosse ser uma boa coisa para acreditar agora, pelo menos ela escaparia com vida daquele lugar úmido e medonho...



O unico ruído era... Uma risada... Talvez. Aquilo se aproximava lentamente. A menina queria gritar com todas as suas forças, mas elas tinham deixado seu corpo que agora estava frágil e fraco. O som ia se aproximando... Seria esse o som da morte? Ela ria mesmo na sua cara? Pouco a pouco sua visão foi clareando e ela pode ver quem emitia aquele som.

Era ele.

— Lucas.... — Ela falou, mas sua voz estava tão fraca que mais parecia um sussurro. Ele se aproximou e sorriu para ela. Seu sorriso era largo e muito, muito feliz.

— O que... está... acontecendo... — Ela tentava formular uma pergunta, mas era quase impossível.



— Oi querida! — Exclamou Oliver. — Como você está? Fraquinha eu suponho... O que você quer? — Ele sorriu novamente. A garota olhou em sua volta e percebeu que estava num lugar plano, amarrada e que ao seu lado havia algumas... Ferramentas.

— O que... está havendo? Porque eu...

— Por que você está aqui? — Oliver interrompeu-a e parou para pensar. — Bem, como você vai morrer mesmo, vou lhe contar um segredo. Meu segredo para a felicidade. Não tenha sentimentos. Eles podem te matar.

A garota começa a chorar quase que instantaneamente; as lágrimas embaçavam sua visão e os seus esforços de sair dali não estavam adiantando de nada. Ela se perguntava o que estava acontecendo de fato e não encontrava razão para estar naquele local. Porque Lucas estava ali? Como ela veio parar aqui? Fechara os olhos por um instante tentando lembrar a ultima coisa que vinha à sua mente... Tinha o restaurante, o beijo, o carro e Lucas. Isso! Ela estava no carro prestes a ir embora quando de repente acorda aqui... Um turbilhão de pensamentos ainda meio ilógicos passava pela sua mente, ela queria construir uma razão plausível em estar ali amarrada naquele local úmido e assustador, mas não conseguia.

— Você deve estar se perguntando muita coisa, não? Ou tentando pelo menos. — Oliver disse olhando para Natália. Ela não respondeu. Apenas ficou encarando-o seria, mas ainda com lágrimas em seus olhos.

— Então você perdeu a voz ou quê? Vamos, eu te dou uma chance. Qualquer pergunta... — Ainda sem responder Natália apenas o olhava.

— Esse jogo não foi feito para um jogador apenas. Temos que ter diálogo. Trocar experiências. Se não, onde fica toda a diversão? Você não gosta de se divertir? — Oliver olhou-a com olhos pidões. Vendo que nada aconteceria ele encostou-se ao ouvido dela e sussurrou: — Eu posso te dar o que você quiser. Vida ou morte.

— Vida. — Finalmente Natália falou, o que fez Oliver sorrir. — Por favor, me tire daqui, não fiz nada para você. Por favor...

— Isso é verdade. Mas eu andei pensando em como seria divertido tirar a vida de alguém de novo. — Nessa hora Natália arregalou seus olhos. Se alguém parasse para lê-los só encontraria medo, desespero, desesperança. — Assustada? Por quê? Afinal, ambos aqui sabemos lidar muito bem com isso, certo? Impressiona-me você temer tanto o que causou...

— Do que... Do que você esta falando?

— 3 palavras: Natália, Matheus, aborto.

Com a menção dessa ultima palavra a garota que estava seria começou a chorar novamente. As tantas emoções que tomava aquele corpo eram indescritíveis. Várias cenas passaram-se pela mente de Natália muito rapidamente; um flaskback. Lembrou-se de quando dormiu com Matheus pela primeira vez; de como sentiu-se quando soube que estava grávida; do medo (que era muitos níveis abaixo do qual ela sentia agora) tomando o seu corpo, apenas pela remota possibilidade da sua amiga Jéssica imaginar algo entre ela e ele; lembrou-se do que ela sentiu quando o médico falou que era sua vez; quando ela fez o aborto... Uma mesclagem de alívio e egoísmo... Foram tantos os sentimentos pra tão pouco tempo e tanta pressão...

— Como você soube...? — Nesse momento Oliver pegou algumas folhas amassadas que descansavam sobre a mesa à sua frente, mostrou-as para a menina lentamente, saboreando cada sensação que passava pelos seus olhos: a surpresa, o pavor, a incredulidade... E como Natália não disse nenhuma palavra ele começou a ler o que fora escrito à mão ali.

“Querido diário, hoje fui ao hospital e fiz um aborto. Não podia continuar com aquela coisa crescendo na minha barriga; uma coisa indesejada, não programada, que só traria desgraça para minha vida.” — Olhando para ela o açougueiro sorriu novamente — Vou confessar que no instante que te vi no parque pensei que seria apenas pra diversão mesmo, sabe? — Ele disse rodeando a maca. — Que você não teria nada de interessante pra ser descoberto; que eu não poderia ver essa surpresa emergir do fundo de seus olhos como estou vendo agora... Mas garota... — Oliver sorriu largo e feliz — Você conseguiu o inesperado, e olha que isso não é tão comum assim. Já te disse o quanto estou feliz? O quanto isso me excita? O quanto o jogo fica mais prazeroso?

— Você... É louco. — Com essas palavras Oliver se dirigiu para frente da mesa onde ele tinha as várias ferramentas expostas à sua disposição. Ele escolhe a arma branca: uma faca de tamanho médio, bem afiada e um cabo preto com uma pedra vermelha perto da lâmina, feita de titânio – o aço mais resistente e um dos mais leves –, ao lado uma razoável quantidade de ácido sulfúrico.

— Louco, psicopata, assassino, pode escolher. — Ele disse admirando aquela ferramenta. — Não são esses adjetivos que vão me definir, ou mudar-me. A partir desse momento, nascerá uma mesma fase com uma face diferente, esperada. Hoje, nasce em Nova Serrana, Oliver Linth, o açougueiro.

O carrasco deixou escapar uma risada, a moça tremeu. Ele esperava por ela, queria ouvir sua voz chamando por ele, implorando pela liberdade... Então ela ouviu mais um barulho – agudo, com certeza; algum metal batendo em alguma coisa. Natália tentou se mexer mais uma vez, agora com mais força, rápido; tentou muitas vezes, porém, suas tentativas tinham sido em vão e novamente lágrimas faziam parte daquela desgraça.

— Você pode implorar, sabe? — Ela não falou nada. Oliver por outro lado, ligava uma filmadora. — Quanto sua vida vale? — Ele disse enquanto colocava a maquina num ângulo que pudesse pegar a maca completamente.

— Eu imploro. Não faça...

— Eu poderia te ouvir, acredite. Eu sei que sim. Poderia te soltar. Você, iria pra casa; primeiro ficaria paralisada, mas depois contaria para alguém, e este lhe aconselharia a entrar em contato com a polícia. Você com medo e vulnerável obedeceria e depois... Depois é um trabalho mal feito e muito sangue.

— Por favor... O que você quer? Dinheiro? — A voz dela estava travada, quase não passava de um sussurro.

— Alguns dizem que o prazer está no sexo. Bem, é verdade, mas quando você acrescenta algumas gotas de sangue esse prazer é multiplicado inúmeras vezes... A linha tênue que essas duas coisas formam... — Oliver se calou. Estava falando demais. Ele pode ver um pequeno, quase inexistente, fio de esperança no olhar de Natália; ela não respirava mais profundamente como antes, não havia mais tanto terror em seus olhos, ela estava até... Normal.

Então, com toda calma e cuidado que alguém poderia ter, Oliver mergulha a ponta da arma no ácido e faz um pequeno risco na coxa esquerda da garota. Ver aquele líquido escarlate ainda meio morno escorrer daquele machucado o fez morder os lábios. Aquela sensação se expandia a cada gota de sangue derramada. Fechando os olhos, ele imaginava o quanto tinha esperado por isso, o quanto ansiava por aquele momento, o quanto ele seria prazeroso. Seu corpo estava num frenesi de excitação que ele mal se aguentava; olhava aquela carne sendo deteriorada aos poucos, ao som daquela sinfonia belíssima – gritos –, tão bela, que para ele, comparava-se à nona sinfonia de Beethoven.

Enquanto um lado era excitação pura, o outro o sofrimento se tornara seu melhor e inseparável amigo. Natália uivava de dor enquanto sua perna queimava como brasa, óleo fervente, como ácido. Ela tentava sair dali com todas as suas forças, porém sem sucesso; a sua expressão de desespero aumentava em largos passos; seus gritos não tinham intervalo, o eco dos mesmos fazia com que seu pesadelo apenas se alongasse mais e mais. Não tinha como sair dali, agora ela tinha a certeza. Iria morrer. Aquele seria o seu ultimo dia de vida... Mas acontece, que ela não queria morrer assim, na verdade ninguém se quer cogitaria uma possibilidade dessas. Ela queria se formar, trabalhar, criar sua uma família, ter seus filhos, netos... Agora, todos os planos do futuro perfeito estavam, assim como sua carne, se deteriorando; sua esperança fora tragada por uma fera, um louco, um ser humano que ela nem se quer sabia o verdadeiro nome.

Seus olhos estavam grudados naquela linha escarlate que se desenvolvia ao passar dos segundos. Em um movimento sem pensar Oliver mela seus dedos com o sangue da garota desesperada e inspira. Aquele cheiro quando entrado pelas suas narinas o fez ter um déjà vu. Lembrou-se dos seus primeiros passos como praticante de artes ocultas, por assim dizer; da sua primeira experiência. Como ele tinha sido descuidado naquela noite... Nunca irá esquece-se de quando teve que voltar para aquela cabana para pegar de volta sua carteira; como já desde pequeno tinha essa vontade insaciável, oculta, dentro de si que clamava por atenção...

— Nã... o... fa...ça... is...so... — Natália tentava dizer algo coerente, porém suas palavras mal podiam ser entendidas. A dor que antes estacionara na sua perna esquerda, aos poucos estava tomando conta do seu corpo; ela tentava afastar aquela aflição negando com sua cabeça; tentava não pensar naquilo, tentava visualizar um arco-íris, flores, até pôneis... Valia qualquer coisa que afastasse aquilo dela, mas seus esforços eram inúteis.

— Já se cansou? Apenas começamos.

Oliver deixou a faca de lado e se afastou de Natália indo na direção do fundo da casa. Em um canto de um quarto muito pequeno havia uma luz. Não... Parecia mais uma... Churrasqueira. Sim, era uma churrasqueira e sobre a mesma havia dois espetos. Ele se aproximou e sorriu. As chamas das brasas iluminaram seus olhos de modo que os fizeram brilhar, e aquele velho sorriso completou a peça. Ele pegou um dos espetos e o colocou perto de seus olhos para visualizá-lo melhor. O objeto tinha cerca de trinta centímetros, um cabo de madeira, e na outra ponta a letra O; o outro seguia a mesma linha descritiva, porém tinha a letra L na ponta. Juntos formavam as iniciais do seu nome: Oliver Linth. Era dessa forma que ele marcava seus animais, suas caças, suas vítimas, seus objetos, seus brinquedos. Afinal, se o que é seu não for marcado alguém poderá roubá-lo, certo?


Ele pegou os dois espetos e voltou para Natália, que no maior nível de otimismo possível pensava que aquilo finalmente havia cessado. O caçador chegando perto da sua presa, cuidou de mostrar a mesma os objetos que estavam em suas mãos; os olhos dela se arregalaram e sua respiração voltou a ser rápida. Cuidadosamente colocara um dos espetos na mesa e o outro segurou firmemente na sua mão; sem demora, o pressionou na pele da sua vítima, que gritou. Muito. Enquanto outra sinfonia bela invadia todo o ambiente do cômodo ele ria. Seu riso era tão alto, feliz, espontâneo, que se houvesse alguém observando aquilo também gargalharia como ele. Pouco a pouco a primeira letra do seu nome se formava na pele da menina, constituindo assim, uma tatuagem que ela jamais esqueceria, se tivesse tempo para lembra-se, claro.

Cansada de tanto demonstrar sua dor com gritos Natália se calou. Não gritava mais como antes, estava apenas fora do controle de seu próprio corpo; não parava de tremer e lágrimas desciam de seus olhos descontroladamente. Como um zumbido que nunca te deixa, a risada de Oliver ecoava pela sala e se fixava na mente de Natália como açúcar caramelizado. Do outro lado da situação, ele procurava sua próxima arma, ou melhor, a outra face de uma mesma moeda. Agora era a vez do L, pois, pode até haver outro Oliver por ai, mas Oliver Linth? Difícil.

Com a mesma calma e habilidade da ultima vez, ele pressionou o outro objeto contra a pele da garota, dessa vez no outro braço, o direito. Ela mais uma vez gritou, chorou, tremeu, tentou sair dali, e mais uma vez fora em vão. E a cada tentativa, cada choro, cada grito, o corpo do carrasco respondia com um jorro de excitação, prazer, felicidade, realização. As milhares de bolinhas saltitante que estavam adormecidas em seu corpo, voltam a pular como pipoca; todas as sensações que fora guardadas com cuidado estavam acordadas, se fartando do banquete à sua frente.

A menina estava cansada. Ela era fraca, frágil, não aguentaria por muito tempo. Oliver vendo aqueles olhos que imploravam por uma trégua, por piedade, entendeu que ela não poderia suportar mais. Maldita. Nem pra divertir serve. – pensou. Felizmente para Natália aquela era uma notícia boa. Realmente seu corpo estava cansado e não resistiria lutar por muito tempo, seus esforços em sair dali finalmente seriam aceitos, porém, seu desejo primário seria facilmente ignorado. Ela não sairia dali com vida.


Vendo que a vida de sua vítima seria ceifada logo, logo e, não tendo a sua satisfação chegada ao ápice, ele parou de torturá-la. Ficou apreciando sua caça com ternura e carinho, escolhendo sua próxima arma, aquela que finalizaria seu trabalho por essa noite. Ela apenas gemia baixinho e chorava, sentindo desesperança, o que era a única coisa que ela podia, conseguia sentir naquele momento. A dor que outrora tomou conta do seu corpo parecia estar enjoada da musica que tocava, ou melhor, o local da festa estava desgastado, velho, era uma mercadoria usada. Ele deu uma volta lentamente na maca onde sua caça estava posta, sorriu com satisfação ao vê-la daquele jeito, sofrendo.



O corpo dela já tinha sido usado, agora é hora da sua face. Desta vez sem a presença do ácido, Oliver pegou aquela faca e a girou diante de seus olhos. Deu uma rápida olhadela para Natália, foi em sua direção e, com todo o cuidado e zelo que poderia ter, prendeu sua cabeça com uma ferramenta que ele mesmo tinha feito, a chamava de esmaga batata, e usando uma pinça – que estava sobre a mesa –, pressionou o olho direito da garota. Ela quis se debater, tirar de qualquer forma aquele objeto de seu olho, mas de nada adiantava, ela estava bem amarrada, sua cabeça presa com força... O que lhe restava era apena o sofrimento e o arrependimento de, por um momento, ter pensado que Lucas, ou melhor, Oliver, poderia ser um homem bondoso. Confiável.



Os seis músculos que estão ligados ao olho foram expostos. Com destreza e conhecimento do que fazia, Oliver corta de vez um dos mesmos: o Reto Superior, que tinha como função girar o globo para cima e para perto do nariz. A garota grita desesperadamente, chora, mas de nada adiantaria aquilo. Ele continuou com a mesma habilidade de antes: cortara o Reto Medial, que girava o globo para o lado... Logo após, o Reto Inferior; o Oblíquo Inferior... Nessa etapa da tortura Natália já não se expressava mais; aquele lindo papel curvilíneo, que tinha suas pernas, braços, barriga, todos marcados violentamente, resistiu até onde pode. Agora porém, suas forças tinham se dissipado.

Com uma ultima tentativa de se livrar daquele pesadelo, Natália se balançou fracamente querendo sair das amarras. A vida que antes possuía seus olhos havia dado adeus. A garota estava morta. E ele? Estava parado, olhando a garota que tanto fora torturada, que morreu com os olhos ainda abertos e molhados, a boca entreaberta. Seu coração já não bombeava o sangue que Oliver tanto havia gostado, ele havia parado, assim como todo o corpo.

— No final ela foi apenas uma fraca. — Oliver disse para si mesmo.




Jazia naquela maca Natália Albuquerque; aquela que iniciou um novo lado de uma mesma moeda; aquela que o fez lembrar como era a sensação de ser o dono de uma vida; de como era saboroso o momento, em por uma mera troca de olhares, ele sabia que a comida estaria na mesa brevemente, e que estaria deliciosa. Mas agora ele teria que finalizar seu trabalho.


Ainda com os olhos meio abertos e molhados ela permanecia parada. Seu corpo tinha lutado até o fim, ela tentara até a ultima gota, tinha sugado toda a esperança que alguém poderia ter, mas fora em vão. Oliver foi ao encontro da moça e a observou; olhou todas as marcas expostas naquele corpo; suas inicias, o osso exposto na coxa pelo ácido que comeu toda a sua carne, o olho... Deveria ter ido com mais calma, pensou ele. A verdade é que ele estava certo. Normalmente o ácido só viria depois da sessão das armas brancas, mas ele estava tão ansioso, tinha esperado por aquilo tanto tempo que não conseguiu obedecer às etapas e pegou um atalho. Queria logo sentir aquilo novamente, queria logo ver o desespero chegando ao ápice; ouvir os gritos formando aquela bela sinfonia... Mas agora acabou. E foi perfeito enquanto durou.

Oliver respirou fundo e foi lentamente desamarrando a garota. Em seus pulsos as marcas eram mostradas por uma vermelhidão forte; a corda que outrora envolvia os tornozelos não mais o fazia; estava jogada em cima da mesa como se nunca tivesse saído dali. Ainda olhando-a ele sorriu, ainda meio ofegante, e logo passou sua mão nos olhos da moça fechando-os. Com um pequeno esforço, ele tomou aquela menina em seus braços e foi caminhando sem qualquer pressa para o fundo da casa. Residente em um terreno amplo, porém com muita mata densa em volta, ele a colocou cuidadosamente no chão e saiu dali.

No outro lado, havia três tonéis de tamanho grande, ainda meio enferrujados, colocados deitados em fila indiana. Aquela era uma noite muito densa e começava a ventar; o vento uivava como se sentisse a morte daquela garota, e como um ato de rebeldia bagunçava os cabelos dele na tentativa de punir de alguma forma, qualquer forma, ele pelo que tinha feito. Ignorando tudo, Oliver pegou um dos tonéis e voltou onde tinha deixado o corpo. Com um pouco de dificuldade abriu aquele objeto e retornou para dentro casa. Sem perder tempo tomou em seus braços um grande, enorme, galão de formol e o colocou perto de Natália.

Já com alguma habilidade, ele depositou aquele corpo dentro do tonel e começou a jogar o formol dentro. É claro que seria mais fácil queimar, enterrar normalmente ou jogar em qualquer lugar abandonado, deixando assim a natureza fazer seu trabalho, mas Oliver era diferente, organizado; gostava de guardar seus brinquedos depois de brincar; saber que se voltasse algum dia poderia vê-los novamente, admirá-los, obter lembranças concretas.

Com um pouco de dificuldade, ajeitou a garota na nova casa dela, e depois de tentar algumas vezes conseguiu fechar o tonel, deitando-o logo após; chutara-o para longe dali. Depois de muito esforço, Oliver conseguiu colocá-la onde queria, onde já a sua espera estava uma pá que ele obviamente usaria para construir, ou melhor, desconstruir a nova moradia dela.


As horas arrastaram-se lentamente, a noite foi crescendo e o vento frio não perdoava – uivando alto, rápido, violento; a madrugada finalmente entrara em ação, e o silêncio timidamente se fazia presente. Ele não deixava-se abater pelo cansaço, pela fome ou pela dificuldade que aquilo estava sendo, apenas fazia sorrindo; sorria por estar com aquela sensação em seu corpo finalmente; sorria por sentir-se vivo. Com pesar e muito esforço, ele consegue aprontar aquele buraco – com dois metros de profundidade aproximadamente. Pula para sair dali e com seu ultimo empurrão ele consegue jogar aquele tonel no buraco. Ficara com suas mãos na cintura admirando-o por algum tempo, lembrando-se dos gritos, lágrimas, desespero... Como aquilo tudo tinha valido apena; como todo o esforço para não matá-la no instante que a mesma se atrasou foi recompensador...



Começa a etapa de tapamento do buraco, e minutos depois toda aquela terra estava em cima de Natália, selando assim mais um dia; mais um trabalho. Completava-se mais uma vez aquele ciclo que tanto fora repetido, que tanto o fazia lembrar-se de como era ter uma razão para viver, uma razão para estar ali, existir; de praticar coisas, que eram especificamente por ele, claro.







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Notas finais do capítulo

Comentem, roam unhas, especulem, imaginem... É isso que faz de vocês leitores de fato. E claro, aguardem surpresas para o SEGUNDO capítulo de Momento Infernal, onde o terror mora ao lado.

Obrigada ♥