Shouganai Yume Oibito

Incurável caçador de sonhos

Acendo meu cigarro, esperando a nicótica reproduzir seu efeito calmante sobre mim. Sento-me na minha poltrona amarela, pegando logo em seguida o meu PSP na mesinha branca com um abajur que separava o meu assento do amarelo que geralmente era ocupado pelo Mello. Mihael estava para chegar a qualquer momento nesse lugar mal cuidado, o qual nós nos escondíamos. Sua presença desde tempo em que vivíamos na Wammy’s era motivo das batidas descompassadas do meu coração.

Ouvi a porta bater confirmando que o loiro havia voltado. Um suspiro se desprendeu dos meus lábios, parece que cada segundo ao seu lado me faz beirar a loucura.

Se eu ficar ainda mais tempo com você

Talvez eu perca o controle, talvez eu ceda à insanidade. Ouvi seus passos próximos a mim. Olhei por cima do meu PSP a tempo de vê-lo sentando na poltrona amarela. Ligando o notebook que ficava na mesinha ao lado do abajur. O loiro estava com uma feição irritada. E em poucos momentos me olhava de relance. Talvez ele precisasse descontar sua raiva no Matt aqui, de novo.

Você me colocará para baixo também

Seus olhos faíscam. Você puxa uma barra de chocolate meio amargo do bolso do seu casaco preto. Mordendo raivosamente grandes pedaços do doce, logo depois seu olhar cai sobre mim.

— Matt, nós vamos sequestrar Takada Kiyomi.

Fiquei antônimo, sequestrar a porta-voz de Kira era sem duvida um caminho para morte. Tudo para capturar Kira, tudo para que você possa superar o Near, tudo por esse sonho maldito de ser o número um, o sucessor de grande detetive L.

Quando é que esse seu sonho se tornará realidade?

Esse sonho que te tirou do orfanato, que te fez entrar para máfia, a qual depois que te reencontrei, eu me juntei também, mas apesar de tudo não posso reclamar dele. Se fosse algo que você queria então eu queria também. Apenas para que você continuasse a ser o meu Mello, o garotinho de cabelos amarelos e olhos azuis com um brilho perigoso.

Você é como um garotinho, sempre brilhando

— O que você disse Mello?

— Ficou surdo agora ruivo?— Me devolveu a pergunta com sua cara típica de escárnio. Você ainda era apenas um chocólatra...

Fazendo apenas o que quer

Agindo por impulso, tendo tudo que queria na hora que queria. Esperei calmamente enquanto me explicava o plano pelo qual seguiríamos, percebendo que a chance de que eu saísse vivo dessa vez era desconfortavelmente baixa, era praticamente nula. Assim que você terminou a explicação ficamos nos encarando e eu me perdi nos teus olhos.

Esses são os olhos pelos quais me apaixonei naquele dia

Ah, sim aquele mar turbulento e imprevisível que eram esses orbes azuis.

Você cortou nosso contato visual voltando seu olhar para a barra de chocolate quase acabada em suas mãos. O canto da tua boca estava sujo. Fixei meu olhar naquele ponto, lembrando-me de quando éramos crianças e vivíamos no orfanato.

Você já percebeu

Que o tempo passou?

Acho que não, porque por um lado você com certeza não sentiu o passar dos anos. Suas atitudes, seu jeito de pensar e agir ainda eram o mesmo. É como se...

É como se você ainda estivesse na escola

É como se nós dois ainda estivéssemos subindo e descendo pelas escadas do nosso antigo lar. Assustando alguns pirralhos, dando trabalho ao Roger. Você destruindo os castelos do albino e eu jogando meu vídeo game portátil, bem pelo menos eu ainda posso jogar meu game portátil.

Ainda perdido nas minhas lembranças, sinto você passando por mim. Seguia a direção do que atualmente chamávamos de quarto. Era um cômodo simples com uma cama de casal a qual dividíamos, com uma parede branca desbotada.

Continuei jogando Super Mario no meu inseparável PSP. Acendi mais um cigarro, e deixei meus pensamentos se perderem na loucura que iríamos fazer. Bem eu iria morrer isso era um fato que só seria mudado por um milagre, e cá entre nós acho que Deus não gosta muito dos mafiosos. Todavia esse não era o meu problema. O que estava me deixando agoniado nessa ideia ridícula de sequestro era a real e absurda possibilidade de que você não sobrevivesse. Apaguei o cigarro e segui para o quarto. Encontrei o líder da máfia deitado na cama, com uma expressão serena, a qual não fazia parte da sua personalidade. Somando isso aos seus olhos fechados e sua respiração tranquila conclui que você tinha adormecido.

Quando te vejo dormindo

Meu coração dispara retiro meus coturnos e meu casaco e sento no lado vago da cama. Um pequeno e singelo sorriso brota em meu rosto, levo minha mão aos seus fios dourados sentindo a maciez do mesmo fazendo um cafuné calmo. Continuo com o carinho e você se remexe.

Sem saber de nada

Abre os olhos lentamente, me encara um pouco confuso, mas logo para a minha surpresa você não afasta a minha mão, apenas suaviza a sua expressão. Eu não conseguido aguentar a nostalgia que este ato me traz sinto que...

Memórias e lágrimas transbordam

As pequenas gotas de água escorrem não me deixando fazer nada. Apenas esperar que elas parassem e que eu me acalmasse. Sua mão chega ao meu rosto limpando um pouco das lagrimas que eu impotente não posso aguentar...

O pensamento de acabar tudo

Esse pensamento de fim próximo que me corroí. Você se levanta até ficar sentado como eu e me abraça como há muito tempo não fazia, esse momento acontecendo de novo...

Passou várias vezes pela minha cabeça

É quase inacreditável, e eu prontamente retribuo o apertando desesperado. O sorriso volta ao meu rosto ainda no meio das poucas lagrimas que restaram.

Mas penso no seu sorriso branco e brilhante

E ele aplaca o meu mal estar, me acalmando afinal você ainda é o meu.

Incurável caçador de sonhos

Já faz quatro dias desde a noite que Mello traçou o plano que seria realizado amanhã. Estávamos nesse exato momento na cozinha, eu tomava um suco de laranja que era a única coisa a não serem chocolates e comida congelada que havia na geladeira e o germânico a minha frente devora uma das suas inseparáveis barras Wonka.

“Mas essa noite será mesmo a última”

O clima entre nós dois não um dos melhores, o silencio sempre tão cômodo agora era insuportável. Os únicos ruídos vinham dos insetos que infestavam o local e da mastigação do viciado em chocolate.

— Matt

— Sim?

— Eu sei que é impossível, mas tente sair vivo eu realmente não queria que as coisas acabassem assim.

Juro pra mim mesmo no meu coração

Prometo que tentarei apenas para que possa te ver de novo.

— Ok Mello, eu — repiro fundo pra tentar manter o tom desinteressado, que ele sabia que era falso — eu prometo tentar.

Termino o suco ao mesmo tempo em que você termina sua droga particular. Levantamos-nos e caminhamos para a sala. Surpreendo-me quando sinto seus braços me rodearem.

Mas nesse dia você é muito doce

Virou o suficiente para ficar de frente e encarar o ser com roupas de coro exageradamente apertadas, e o aperto contra o meu corpo trocando um rápido olhar.

Você entende, não é?

E selei nossos lábios, era assim não precisávamos de muitas palavras. Pedi passagem e você entreabriu a boca me deixando explorar seu interior. Chocolate, sim extremamente doce era o gosto da sua boca. Nós separamos porque o oxigênio mostrou que precisávamos dele. Porém Continuamos abraçados.

Está apenas fingindo ignorar

Você no fundo está apenas ignorando que estou sentenciado a morte. Tentando apenas esquecer a realidade ao qual nos encontramos.

Aquela grande parede chamada realidade, não é?

Aquela parede dura que nós faz pensar se tudo realmente vale a pena. Aquela que me faz pensar que seria simplesmente mais fácil

Desisti de seguir com você.

Mas eu não posso apesar de que esse pensamento passou

Tantas vezes

Pela minha cabeça, eu não tenho força pra te largar.

Eu simplesmente não sei o que fazer

Beijamos-nos mais uma vez e você foi dormir, eu podia jurar que vi uma lágrima descendo do seu olho esquerdo. O lado onde ficava a cicatriz que ocupava metade do seu rosto.

Você não sabe de nada

Mas estou preparando uma ultima sutil surpresa, um agrado, pego a roupa que sei que você usará amanhã e sigo para o quarto tomando o cuidado de não fazer barulho. Estendo-a no meu lado da cama e ligo o ferro.

Enquanto passo o ferro nas suas roupas

Admiro-te dormindo como um anjo, mas você está bem longe de ser um. Passando as poucas peças que não são de couro sentindo um aperto no meu coração.

Uma lágrima cai na minha mão

E percebo como me tornei pateticamente fraco.

Esse seu sonho

Pelo qual você luta tanto.

Se realizará algum dia?

Torço para que sim.

Conseguiremos comemorar juntos?

Provavelmente não, o plano de comemorar sua vitoria juntos foi substituído. Guardo o ferro e sua roupa e me deito ao seu lado. Abraçando o meu

Incurável caçador de sonhos.

Acordo e olho para lado confirmando que você já levantou. Vou ao banheiro lavo meu rosto e ajeito meus goggles sobre meus olhos. Encontro-te na cozinha, rodeado por papeis de barras de chocolate, o que significava que não a primeira que devoravas pela manhã. Tomei o suco de laranja lavei o copo que sujei. Peguei minha carteira de cigarros, a arma que seria necessária e o meu game portátil. Andamos lado a lado até onde se encontravam a sua moto e o meu carro. O abracei, o abraço mais forte que já avia dado em alguém, afinal, era provavelmente o ultimo. Demos um beijo calmo, um beijo de despedida. Olhei uma vez pra você, o verde dos meus olhos se perdendo no azul dos teus e sem mais delongas entrei no carro vermelho, ao passo que você colocava o capacete e montava na moto preta.

Acendi um cigarro, segui para onde a apresentadora estaria. Lembrei-me de coisas bobas durante o caminho. Como por exemplo, que.

Quando te vejo dormindo

Sinto uma mistura de sensações. Sinto-me feliz porque lembro que éramos apenas pequenos pivetes que

Sem saber de nada

Apaixonavam-se cada dia um pouco mais.

Memórias e lágrimas transbordam

Deixei as pequenas gotículas salgadas, afinal era impossível conte-las.

Você não sabe de nada

Talvez eu também não saiba provavelmente eu seja apenas um ruivo esquisito que usa goggles na cabeça. Um gamer viciado da porra, como você me chamava carinhosamente. Cheguei ao local acendi mais um cigarro e disparei a arma criando uma cortina de fumaça e atraindo os seguranças para uma perseguição.

Enquanto passo o ferro nas suas roupas

É eu não ia poder te mimar como fiz ontem, os carros atrás de mim estavam numa velocidade assustadora, mas eu tenho que admitir é divertido brincar de pega-pega.

Uma lágrima cai na minha mão

A ultima, pois eu finalmente parei de chorar. Apenas deixe uma expressão desinteressada em meu rosto.

Esse seu sonho

Se realizará algum dia?

Torço para que sim. Para que minha morte não tenha sido em vão e você tenha a posição que sempre quis, que a vitória seja sua, que você capture o usuário do caderno, que saia vivo e feliz desse pesadelo chamado Kira.

Avisto a barreia. “Ridículos precisam dessa frota inteira pra me segurar? Quantos guarda-costas essa Takada tem?”

Conseguiremos comemorar juntos?

Desculpa Mello, realmente não vamos comemorar juntos, como iríamos fazer quando nos reencontramos, já posso ver os seguranças levantando suas armas.

Abri um sorriso debochado, já que eu vou morrer vou zuar um pouquinho. Sai do carro ainda com meu cigarro na boca e os goggles nos olhos, mas com as mãos levantadas em sinal de rendição.

— Ei,ei desde de quando japas andam com armas dessas? Afinal... Sou cúmplice do sequestro da Takada! Têm muito a me perguntar, não? Não podem sair atiran...— minha frase foi cortada enquanto eu recebia os tiros. Doeu e senti meu corpo mexendo-se involuntariamente, precisavam da tantos tiros? Alguns segundos depois meu corpo finalmente foi de encontro ao chão.

Dizem que quando você está morrendo sua vida passa toda na frente dos seus olhos, pra você se acostumar com a ideia de morrer e também para ver se a sua estadia na terra valeu a pena. A minha, mesmo que eu a amaldiçoasse a maior parte do tempo valeu. Afinal eu passei a maior parte dela fumando e jogando.

E principalmente passei a maior parte dela ao seu lado meu

Incurável caçador de sonhos.

Ah! Mihael Keehl

Mesmo assim eu te amo.