Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 8
Capítulo 8




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ATO 08: quando você partir

Os dias se passaram de uma maneira que eu não podia controlar assim como o estado de depressão em que mergulhei.
Três dias iriam se passar, e eu tentava juntar coragem para ir encontrar Helena. Ao mesmo tempo se eu não fosse tomar sua alma seu corpo sofreria mais e mais, seria como lhe conceder um sofrimento maior e desnecessário.
Eu esperava sentir a dor, que eu me avisava sempre quando tinha “trabalho” a fazer, como uma enorme agonia. Esperava também para sofrer, só não sabia que ia ser tão terrível.

Ao final do terceiro dia o único lugar onde pude me refugiar foi em um cemitério desativado, por mais clichê que isso possa lhe parecer. Era um lugar de uma paz tão grande, mas a angústia dentro de mim vibrava com tal intensidade que eu temia perturbar os que descansavam ali.
O aspecto das árvores secas, aquelas folhas amareladas me lembravam tempos passados e não me deixavam esquecer minhas preocupações. O mato crescia descontrolado, tomando conta de algumas lapides mais mal-cuidadas, sob uma e outra estátua de um anjo que havia caído do céu e sentenciado a vigiar os mortos.
Eu chorava. Por razões, por emoções que eram tão complexas e, ao mesmo tempo, tão simples.
Um ruído despertou minha atenção, de trás de uma árvore alguém me observava.
Enxuguei o rosto e disse:
- Você não precisa ter medo do mim, não vou lhe fazer mal.
Timidamente uma pequena pessoa saiu de trás da árvore e se amostrou para mim. Era uma garotinha, de cabelos claros e vestidinho branco.
- O que houve? O que você está fazendo aqui, minha linda? – ao ouvir isso ela tomou mais coragem e se aproximou mais da lápide onde eu estava sentada.
- É que... – ela começo colocando as pequenas mãozinhas sobre minhas pernas, procurando uma espécie de abrigo ou conforto. – a mamãe me pediu tanto para não ir...
Ela era um fantasma, e estava presa a esse mundo por uma forte corrente.
- Como ela estava triste, acabei ficando... – ela esfregou os olhinhos com os punhos cerrados. – Mas agora não sei como sair daqui!
Segurei o rosto dela com uma das mãos e com a outra acariciei seus cabelos.
- Como você se chama?
- Cecília... – ela respondeu. Aquele era o pior lugar para uma alma ficar presa, por que era triste demais para se suportar acompanhar o próprio corpo apodrecendo em baixo da terra. Cecília não foi para o céu por que clamaram tanto para ela não partir que isso a deixou confusa demais para tomar uma decisão importante.
- Tem algo importante que você precisa me responder primeiro, Cecília. – eu disse e como ela apenas me olhou como resposta continuei. – Você quer mesmo deixar esse mundo, quer partir mesmo sabendo que sua mãe ficará aqui?
Ela pensou um pouquinho, e balançou triste a cabeça que sim.
- Ouça, minha criança: vamos sair desse lugar. Levarei você comigo...
- Ah! - Ela me interrompeu – Por favor, será que você pode me levar para ver o papai? È que mamãe sempre dizia que nós iríamos nos encontrar novamente, e acho que deveria ser agora, não? Já que ele está morto...
Lembrei de quando Gerard era criança e de toda aquela sinceridade que possuía, assim como todas as crianças, sejam elas vivas ou mortas.
- Vou fazer o possível! – disse com um sorriso. Ela abraçou minha cintura.
- Obrigada, anjo! – ela sorriu.
- “Anjo”...? – repeti absorta.
- É! – ela se aninhou mais em mim. – Como um daqueles! – apontou para uma estátua que olhava para o céu de mão juntas.
- Er... – fiz sem jeito, quando o senti como se o meu rosto tivesse sido acertado por um soco.
O sol estava se pondo atrás de nós e Helena morria em algum lugar.
- Cecília... – eu disse com o peito arfando. – Vou levá-la até o seu pai, mas primeiro precisamos ir até um lugar... – me pus de pé.
- Vamos encontrar alguém? – ela segurou em uma de minhas mãos.
- É... Vamos.

- Segure-se bem em mim. – disse e Cecília se agarrou ao meu vestido.
- O que vai acontecer? Onde está essa pessoa?
- Está um pouco longe daqui, mas vamos viajar rapidamente até ela. Aí, ela se juntará a nós e levarei vocês duas para um lugar melhor.
- Para junto do papai? – ela disse esperançosa.
- Isso.
- Oh! Então vamos, por favor! – eu gostaria de compartilhar aquela alegria, mas a minha expectativa era exatamente o oposto do que Cecília sentia.
- Eu também gostaria de me juntar as duas belas senhoritas nessa empreitada! – disse uma voz masculina que eu sabia muito bem a quem pertencia.
Cecília se agarrou mais em mim com medo do Destino.
- O que é que você está fazendo aqui? – disse com rispidez.
- Vim acompanhar você, meu amor. – ele disse da maneira mais natural possível.
- Ele é seu namorado...? – Cecília disse quase inaudível.
Destino pareceu adorar aquele comentário, porque abriu um enorme sorriso e se abaixou para olhar Cecília.
- Ora, ora! E quem é essa mocinha tão esperta?
- É alguém que você não favoreceu também. – disse com raiva.
- Eu só faço o meu trabalho. – ele disse convicto. – Só dou o que eles merecem.
Cecília se escondeu atrás de mim.
- Não me faça perder tempo, Destino!
Destino mudou sua expressão para uma nova que eu nunca tinha visto. Ele estava sério e parecia ter um ar furioso.
- Você não vai conseguir. – ele se levantou e ficou a minha frente.
- O quê...?
De repente ele avançou sobre mim e me beijou na boca. Eu senti um misto de susto com nojo, enquanto sentia os lábios dele tocando os meus, seus dentes me ferindo, a língua mexendo feito uma serpente dentro da minha boca. Eu me debatia presa entre os braços dele, em vão, oprimida pela força e pelo tamanho dele.
Procurei desesperada por Cecília e a achei encolhida no chão, soluçando com medo.
Foi então que senti algo descendo pela minha garganta, ele havia me feito engolir algo. E o efeito foi mais do que imediato. Ao mesmo tempo em que ele ia afrouxando as verdadeiras amarras que eram seus braços, eu ia perdendo noção de mim, ia perdendo a consciência.
O céu alaranjado ia morrendo sobre minha cabeça.

Aos poucos voltei a sentir meu corpo, ia sentindo os pequenos sinais que meu cérebro ia recuperando suas funções.
Duas mãozinhas me sacudiam com a força que uma criança de seus nove anos podia ter:
- Por favor! Por favor, acorde! Acorde! – Cecília chorava.
Abri os olhos sem nenhuma perspectiva como se tivesse acabado de acordar de um sonho confuso. E como se tivesse sido acertada por um raio me lembrei de tudo o que tinha acabado de acontecer.
- Cecília! – quase gritei para a menina ao meu lado. – Você está bem?
Ela pareceu mais tranqüila ao me ver desperta. Sacudiu a cabeça que sim.
- Oh, minha nossa! Por quanto tempo eu desmaiei?
- Faz um bom tempo... – ela disse insegura.
Eu começava a entender e quanto ódio senti de Destino por estar interferindo em tudo.
- Precisamos ir, Cecília. – disse e ao me colocar de pé, meus joelhos tremeram muito e quase não dei conta do meu próprio peso. Mas não havia tempo para pensar em nada disso. Eu não poderia sequer imaginar o que me esperava.
Cecília segurou em minha mão e sem dizer mais nada uma para outra, fomos até onde Helena estava naquele momento.

Mais um vez estava de volta a New Jersey, era um fim de tarde e chovia muito.
Paramos em frente a um escadaria de pedra de uma igreja de aspecto deteriorado, muitos carros estavam parados ali do lado de fora.
Fiquei parada por muitos minutos contemplando a fachada daquele prédio e tentando me lembrar se poderia entrar ali. Estava perdida em meus pensamentos quando Cecília me disse baixinho:
- Será que podemos entrar?
- Claro... – disse com uma certeza que não tinha.
Como que por mágica a porta da frente da igreja se abriu, um rapaz de cabelos loiros e barba por fazer entregava uns folhetos, Li o que havia escrito: “HELENA”.
Muitas pessoas estavam ali, trajando preto, umas se limitava a chorar em silêncio, outros lamentava com a pessoa sentada ao seu lado.
Gostaria de descrever-lhe beleza daquela igreja, mas vou pedir que me perdoe mais uma vez, porque a única recordação que possuo daquela ocasião foi o grande caixão em frente ao altar e senhora parada ao seu lado.


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