Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 7
Capítulo 7




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ATO 07: adeus e boa noite.

Não quero lhe importunar, amigo leitor, narrando os infortúnios do meu trabalho. Como eu gostaria de apenas escrever meus sentimentos por Gerard e as oníricas perspectivas para o nosso amor, mas eu sou um instrumento da fatalidade e, como tal, deveria ter ciência que nada fica apenas na calmaria.
Eis aqui a minha tempestade.

Haviam se passado alguns meses desde a ultima vez em que estive com Gerard, e eu não tinha mais o visto. Eu continuei com o meu caminho, confesso que até satisfeita por tudo estar relativamente calmo.
Era um pôr-do-sol, eu estava em Londres. Foi quando encontrei com o Destino, sim, além de mim, existem muitas outras entidades.
- Olá, minha querida. – ele disse aparecendo do meu lado. Destino era mais alto do que eu tinha os cabelos loiros e costumeiramente aparecia usando um terno branco. Ele possui uma personalidade intempestiva, por vezes é amável, caridoso, em outras é cruel e amargo. Mas de uma coisa não podem acusá-lo, de tirano. Ele é incrivelmente justo, embora costume ser também muito alheio ao que acontece no mundo.
- Destino. – eu disse olhando para ele.
Ele se sentou ao meu lado.
- Soube do casal de namorados que você encontrou no deserto. – ele sorriu.
- É...
- Eu estava lá quando aquele garoto se envolveu com quem não devia. Você sabe como funciona o meu trabalho, Morte, assim como o seu, nós não impomos nada a eles, apenas acompanhamos e regemos a coisa toda.
- Foi muito triste o que aconteceu com eles, mesmo depois da partida.
- Mas o que nós podemos fazer nessas horas, hã? – ele me foi solidário.
- Temos que fazer nosso trabalho. – respondi como se fosse uma aluna respondendo ao professor.
Ele sorriu mais uma vez.
- Você está com um ar diferente.
- Como?
- É... Não aparenta mais tanta melancolia como antes. – coçou o queixo. – Eu sei o que é isso.
Engasguei.
- Do que você está falando...?
- Eu tenho uma pequena surpresa para vocês.
Meu coração quase parou. Destino continuou.
- Nós dois, Morte, sempre andamos juntos. Você sempre vai ser minha “conseqüência”, e por isso, confesso que morri de ciúmes quando você se aproximou daquele rapaz. Mas, acho que depois do que vai acontecer hoje... – o sarcasmo escorria pela boca dele.
- O que você fez? – perguntei com raiva. Pus-me de pé.
- Você sabe que não faço nada, a culpa é sempre deles. – ele respondeu distraído.
- Você vem até mim, apenas para me afligir?
- Não! – ele também ficou de pé. – Vim mostrar a idiotice que você está fazendo! Quer se envolver com esses estúpidos humanos? Ótimo! Você vai ver o quanto eles são sujos e mesquinhos.
Meu corpo começou a doer, alguém estava morrendo. Antes que eu pudesse ir, Destino me segurou pelo braço me impedindo de partir.
Ele riu na minha cara.
- Você que é tão ética com seu trabalho... Tão zelosa com esses cretinos... Como cometeu o erro de se apaixonar? – e ia aproximando o rosto do meu.
Tirei o meu braço com tanta força que até me machuquei.
- Se você está me fazendo essa pergunta, é o sinal de que nunca vai entender.
- Nem que ele morra, vocês não vão ficar juntos. E hoje ele vai te odiar!
- Cale-se! – e fui, direto para o medo das palavras do Destino.

- O que você vai fazer mesmo quando chegar lá? – eu ainda o ouvir disser, sua voz grave ia sumindo conforme eu me distanciava.
Destino havia me atrasado muito, cheguei ao exato momento em que dois carros, uma pequena van e um carro preto, iam colidindo.
O motorista do carro preto quebrou o pescoço com a colisão, atravessei o banco e o aparei como uma folha caindo. Foi rápido.
A senhora que dirigia a van, bateu uma vez com a cabeça no vidro e desmaiou.
- Ainda não... – disse para mim mesma. Abracei a alma do primeiro motorista e ele subiu. Enquanto acompanhava sua ida, a luz do sol me ofuscou os olhos. Tentava me proteger da luminosidade quando um vulto preto me derrubou no chão.
- Bem... – Destino disse. – Agora vem a parte interessante.
Ele me levantou pelos cabelos e me contorci de dor.
- O que você achou? – ele disse com excitação aos meus ouvidos e me fazendo olhar para o acidente.
- Vo... Você não pode interferir... – disse com dificuldade.
- Eu já lhe disse, minha querida, a culpa é unicamente deles. Eles avançam um sinal, é a culpa é do destino, eles afogam um bebê e a culpa é do destino. – ele ia dizendo enquanto nos aproximávamos da van. – Eles escolhem se apaixonar é a culpa é do destino!
Ele segurou o meu rosto com força e me fez olhar para dentro da van.
- Sabem quem é esta amável velhota? – ele riu.
Eu soube naquele instante. E compreendi tudo o que Destino estava querendo me dizer por trás dos seus joguinhos estúpidos com a vida das pessoas.
Foi com muita amargura que tive que responder:
- Helena...

- Oh! Palmas para você minha menina! – ele disse ao meu ouvido. – Mas como você bem sabe, ela não irá morrer agora.
- Ela ainda vai viver por mais três dias... – eu disse quase como que em transe.
- E depois você vai ter que dizer pro seu “namoradinho” a coincidência estranha de ter levado a vovozinha querida dele. – Destino carregava cada palavra com o máximo de desprezo que podia. – Será que esse amor idiota vai resistir a isso?
Eu respirava com dificuldade com Destino me apertando o pescoço e segurando meus cabelos com força, mas não apenas por isso. No fundo eu sabia que ele tinha razão. Gerard poderia me perdoar por isso?
- E então? – ele me soltou. – Não seria mais fácil desistir?
- Se fosse em um outro momento eu até pensaria em deixar o amor que eu sinto por ele. – eu comecei a dizer me aproximando do banco do motorista e observando aquela senhora, que eu já havia visto no hospital quando Gerard tentou se matar. – Quero acreditar que o que eu sinto por Gerard é maior do que eu mesma, que é maior que você, Destino. E mais do que tudo quero acreditar nele, que ele seja capaz de me aceitar... – e completei com um sorriso triste. – Vou ter que pedir essa triste prova de amor para ele...
Passei a mão sobre os cabelos brancos daquela senhora. Eu ia ter que confiar em Gerard, confiar que ele poderia vencer essa dor. Embora eu tivesse certeza, e compreendia, que não seria algo tão simples.
As sirenes das ambulâncias já se aproximavam.
- Vamos descobrir isso em breve, minha querida. – ele disse e partiu.
Também não me adiantava ficar ali. E ia ter que amargar mais três dias de existência para esperar a morte de Helena e encarar Gerard.


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