Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 5
Capítulo 5




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ATO 05: algo sobre um romance químico

O ano eu não me recordo, mas era o décimo primeiro dia do mês de setembro.
Lembro de ter sido um período meio conturbado para mim, não só por todas aquelas questões sentimentais, as quais não estava acostumada a lidar, mas também pela quantidade absurda de pessoas como você que estavam morrendo ao redor do mundo em coisas que chamaram de “tragédia coletiva”.
Então, nesse décimo primeiro dia, eu estava em uma cidade chamada Nova York, parada em uma calçada, olhando as pessoas que viviam, que cruzavam comigo e nem sabiam.
Eu tinha trabalho a fazer naquele dia, só não sabia que o que estava prestes a acontecer iria mudar a vida de milhões de pessoas e que ia me atingir de novo no coração.
Uma grande sombra cruzou o asfalto, parecia ser um grande pássaro, ergui os olhos para o céu. Era realmente um pássaro, mas suas asas eram metálicas e não demorou para que aquele vôo extremamente baixo acertasse em cheio uma de duas torres idênticas, lhe abrindo uma ferida que cuspia fogo e fumaça.
Aos poucos as pessoas ao meu redor foram parando, observando tudo aquilo e entendendo que a única coisa que elas podia fazer era entrar em pânico.
Eu já havia entendido minha função naquela tragédia.
Corri na direção contrária a de todas as pessoas que fugiam.
No alto da torre alguns saltavam no vazio para cair em meus braços. E foram tantos... E quantos outros que vieram de dentro da torre e do avião. E eu só podia lamentar.
Foi quando a outra torre também foi atingida.
- Não... – lamentei. Quantos mais ainda teriam que partir daquela maneira tão desesperadora?
Tinha gritos, dor, sofrimento. Tudo o que eu menos desejava para as pessoas quando era chegada a sua hora. Havia também calor, mas era diferente do que eu sentia quando tocava o corpo de Gerard.
Foi quando as duas torres caíram derrotadas, feridas de morte. Eu as vi, uma após a outra cair e levantar uma onda de grossa poeira e escombros. Poeira, escombros e cadáveres.
Chorei, sentindo tão profundamente não só por aqueles que partiam, mas também pelos que haviam presenciado aquela matança demoníaca.

Junto com os bombeiros, fiz meu “trabalho de resgate”. Retirando aqueles que permaneciam atônitos, inconformados ao lado de seus corpos esmagados por pilastras, metal e concretos.
Ao final de tudo eu estava esgotada, física e emocionalmente. As ruas estavam cobertas por uma camada de poeira amarelada, de aspecto doentio. Me deixei cair no chão, e por mais bizarro que isso possa parecer, eu era a única coisa que possuía cor naquele momento.
Não havia nada nem ninguém naquela rua, exceto por alguém parado de pé a uns quinze passos de mim.
- Gerard! – eu disse com os olhos arregalados.
Ele estava mesmo ali?
Duas lágrimas abriam caminho no rosto coberto de poeira.
- Gerard... – chamei dessa vez.
Ele pareceu soluçar e correu em minha direção, se jogando em meus braços e me abraçando forte como fez da vez em que nos conhecemos.
Ele chorava tanto e estávamos juntos de novo, compartilhando aquela dor através do nosso abraço.

- Oh... Gerard...- eu disse quase afogando entre os cabelos dele. – Eu sinto muito.
Ele soluçou. E eu estava me sentindo envergonhada por ele ter visto a minha face mais triste e deprimente. Diante de todo aquele desespero, não esperava que ele respondesse qualquer coisa, nada poderia ser mais simbólico do que lágrimas por aquela tragédia. Eu não tinha o que dizer para ele.
- Eu... – ele arfou se afastando um pouco de mim. – Estou me sentindo tão culpado...
- O quê? – eu disse procurando os olhos dele.
- Eu me sinto culpado. – ele chorava. - Me sinto a mais repugnante das criaturas!
Eu estava quase entrando em pânico.
- Do que você está falando? – segurei o rosto dele com as duas mãos e o forcei a olhar para mim.
- PORQUE EU ESTOU FELIZ! – ele gritou - Eu estou feliz por ter te encontrado! Apesar de todas as pessoas que morreram hoje... E como se eu estivesse grato por elas terem dado suas vidas para eu te encontrar, já que você não aceitou a minha! Eu me sinto um imundo... Um incapaz. Porque eu não consegui fazer com que você me aceitasse, achei que virando uma porção de remédios conseguiria ter você...
- Você não sabe o que eu sou, Gerard... – disse com um grande lamento, e apontei para o lugar onde há alguns minutos existiam duas torres e várias vidas. – Essa é a minha face mais triste, e a que eu mais lamento. É o meu rosto de guerra, meu rosto manchado com sangue.
Era a hora de dizer algumas coisas para ele, naquele instante de uma aparição, de um abraço eu cheguei uma conclusão: para o bem dele, eu tinha que machucar seus sentimentos. Continuei:
- Você já disse que me amava. Mas eu vou lhe negar esse sentimento porque a única coisa que poderei fazer para retribuir esse amor é lhe roubar a vida.
Ele pareceu que ia dizer qualquer coisa de protesto.
Consegui sorrir.
- Você vive!
Gerard se levantou:
- Então vai ser isso? Você vai me pedir para esquecê-la? – ele estava irritado.
Balancei a cabeça. O sorriso se quebrou em mil pedaços. Ele continuou:
- Eu já disse que te amava. Não vou abrir mão desse sentimento, nem que você me peça. Mas sei quando desistir. Não vu mentir para você, também não sei como esse amor surgi dentro de mim, não sei por que eu desejei você mais do que tudo, ou porque eu abriria mão da minha própria vida. Mas naquele dia em que tentei me matar, quando o meu corpo amortecendo e eu senti o gosto azedo da espuma que saia da minha boca, tive a única certeza de que era exatamente o que eu mais desejava.
Aquelas palavras me acertaram em cheio. Ainda estava sentada no chão, Gerard se curvou sobre mim e me levantou.
- Agora, eu estou tentando acabar com vida medíocre que eu ainda tenho, entupindo minhas veias de o tipo de porcaria, acabando com meus malditos pulmões. – ele me segurava pelos ombros e me chacoalhava levemente.
- E eu... – gaguejei meio perdida naquela conversa e no rosto dele.
Gerard suspirou triste.
- Você sempre vai fugir de mim?
Não respondi. Por que ele me deixa assim, tão confusa? Com o rosto e todo o resto do corpo ardendo com uma doença? Por que eu sempre penso em fugir dele quando o que eu mais quero é ficar assim, junto dele, para sempre?
- Gerard, eu amo você. – disse baixinho.
- Hã...? – ele piscou os olhos.
- Eu amo tanto você. – solucei. - Mas eu não vejo como nós poderíamos ficar juntos...
E ele não disse nada. Não lembro se o mundo ainda girava naquele instante, e por alguns minutos esquecia a tristeza que enchia o ar, Gerard apenas puxou o meu corpo para junto do seu, e nossos lábios se encontraram sozinhos, primeiro tímidos e silenciosos, depois cheios de uma espécie de fúria.
Foi à coisa mais deliciosa que eu já havia sentido, era assim, com Gerard eu ia descobrindo que podia sentir, que podia amar. E eu queria tanto isso.


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