Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 3
Capítulo 3




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ATO 3 : não esperarei para sempre

Alguns anos se passaram e eu tinha o meu coração dividido entre a vontade louca de ver Gerard novamente e a alegria de não ter que encontrar o seu corpo por aí, como muitos dos jovens que já recolhi drogas, suicídios, assassinatos... Eu torcia para que Gerard estivesse bem.
Nosso primeiro encontro me deixou extremamente confusa, ele era uma criança especial, uma criança que podia enxergar a morte embora não soubesse ao certo o que ela era. Vou confessar que dedicava meu raro tempo ocioso a pensar em que tipo de homem ele estava se tornando.

Você deve imaginar o quando freqüento hospitais. Lugares cercados por paredes falsamente brancas e com odor de éter e doença.
Odeio hospitais. Mas foi onde encontrei Gerard de novo.
Caminhava por um corredor aguardando as próximas almas que deveria levar desse mundo, quando avistei um grupo de pessoas, formado por um homem e duas mulheres. A mulher mais velha consolava a mais jovem, que soluçava com o rosto afundado nas mãos e o homem andava de um lado para outro.
Contornei os três, tentando, em vão, fazer minha presença a mais discreta possível. Foi quando vi Mikey sozinho, largado em um banco com um copo na mão. Seus olhos úmidos ainda eram os da criança de onze anos atrás, agora emoldurados por um par de óculos.
- Mikey... – chamei seu nome inconsciente e pude ver o desconforto que lhe provoquei. Eu sabia o que tudo aquilo significava e não podia acreditar que não senti Gerard morrendo.
Tinha que encontrá-lo. Ele estava por perto, atrás de uma das portas daquele corredor.
- Mikey? Oi... – alguém disse atrás de mim, e voltei-me para ver quem falava com ele. Era um rapaz de cabelos castanhos, ele também estava aflito. Continuou. – Vim o mais rápido que pude... Como ele está?
- Acabaram de fazer uma lavagem no estômago dele... – Mikey respondeu. – Ele está bem, mas por pouco não se matou de verdade...
Houve um silêncio tão profundo que eu só escutava minha própria respiração.
- Ray... Ele tentou se matar... – Mikey não conseguiu segurar o choro. Ray se agachou a sua frente e o abraçou, o copo caiu no chão se fazer barulho algum, derramando um liquido negro de odor forte que maculou a brancura daquele corredor e deixou a cena, para uma espectadora como eu, ainda mais bonita e triste.
Foi quando senti Gerard e fui até ele. Não hesitei em entrar no quarto, ignorando o médico que saia e a enfermeira que ainda mexia em alguns aparelhos saindo logo em seguida.
Aproximei-me de Gerard e me debrucei sobre o seu corpo, dediquei alguns segundos para contemplar o seu rosto agora com formas masculinas e com os cabelos escuros como quando era criança.
Os aparelhos faziam barulhos contínuos. Colei a boca na orelha dele e depois de beijá-la disse:
- Estou aqui...
Um barulho de respiração pesada antecedeu-lhe a voz:
- Eu sabia que você viria. Queria tanto te ver...
- Ainda não é o seu momento, Gerard. – eu disse com o coração doendo.
- Você...- ele ofegou. - Deveria saber que eu não esperaria para sempre...
Ele abriu os olhos e, como uma cura para a minha dor, vi aquele verde inabalável por trás de algumas olheiras.
- Tinha me esquecido o quando você é bonita. – ele esticou a mão para tocar meu rosto, mas eu o detive no meio do caminho.
- Não... – e disse triste lhe negando o meu rosto.
Ele tornou a pousar o braço sobre a cama e ficamos alguns segundos em silêncio.
- Levei alguns anos para entender o que você era, quem você era. Sabe porque eu fiz isso?
Não respondi, temia a resposta. Ele continuou:
- Porque eu comecei a te amar quando vi a sua dor... Quando vi todo aquele pesar nos seus ombros eu tive certeza do meu sentimento...
- Eu...- o interrompi. - Não permitirei que perca a sua vida por um... Por um sentimento inútil. - Fui fria com ele.
Gerard arregalou os olhos e pareceu mais abatido.
- Então diga... Diga que não me ama, diga que você não liga para esse "sentimento inútil"! Eu quero ouvir!!
Foi um choque. Comecei a chorar e antes que pudesse ficar de pé, Gerard me segurou pelo pulso e me puxou para junto de si.
- Eu te amo. - ele me abraçou. - Quero ficar com você.
- Não podemos...Não é certo...- choraminguei colada no peito dele, trocando calor, ouvindo o seu coração.
- Não entendo... Um dia eu irei morrer, porque não podemos adiantar logo isso tudo, para que possamos ficar juntos?
Me afastei dele e enxuguei o rosto.
- Eu sou a única que pode tirar a sua vida, caso você tente por meios próprios sua alma sofrerá muito e...
- Mas minha alma JÀ está sofrendo! - ele gritou fazendo um esforço enorme.
Eu sabia que aquela não ia ser a nossa última conversa sobre o assunto. Então com toda a seriedade e ignorando aqueles sentimentos, disse:
- Sua vida é o que você tem de mais precioso, nunca a desmereça. Não vou voltar a vê-lo, nem quero mais vê-lo até que seja chegado o seu momento.
Os olhos de Gerard se encheram de lágrimas.
- Não quero esperar...
- Nós dois vamos esperar. - eu disse fingindo impassividade. - Vou deixá-lo agora.
- Você prometeu que nunca ia me machucar... - ele murmurou sem forças, como se fosse adormecendo.
Eu fugi. Também estava sofrendo.


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