Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 13
Capítulo 13




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ATO 13: fios dourados
- Como é que você vai me matar, seu idiota! Eu sou a Morte? – gritei irada.
Destino riu.
- O que a dor não faz, não é mesmo? Torna os mais plácidos carneirinhos em lobos uivantes de fome.
Ele me ergue do chão. De fato eu sentia muita dor, meus cabelos estavam molhados de suor e colavam na minha costa.
- O que vai fazer? – murmurei com dificuldade quando ele começou a me arrastar pela igreja. Não bastou mais um segundo em nossa caminhada, ele me lançou sobre o altar de madeira. Ofegante, olhei para uma imagem de Cristo crucificado, pensei em orar, pensei em Gerard, pensei em orar para que ele ficasse longe do que estava acontecendo agora, que ele não voltasse. Mas será que Ele me ouviria?
Destino se aproximou de mim. Eu apoiava uma das mãos na mesa. Ficamos muito perto um do outro.
Ele afastou com delicadeza algumas das mechas de cabelo que me grudavam na testa, depois me desceu a mão pelo rosto e me estudou antes de falar.
- A culpa é sua... - ele disse com uma certa tristeza. – Você vai morrer porque foi. Você merece ser como aquele mortalzinho imundo, por isso eu irei fazer os dois sofrerem.
- Você não irá tocar nele. – disse com raiva.
- O que você vai fazer? Quando ele chegar aqui só terá um cadáver para abraçar! Mas que ironia! – ele riu. – Vocês queriam tanto ficar juntos...
- Nós iremos ficar! – eu chorava, talvez de dor, de desespero.
- Será? O que vai acontecer depois que você morrer? Pra onde sua alma vai? Ou melhor: você tem alma?
- Você não vai me matar!
- Acontece – ele gritou – que eu fiz você engolir um fio de cabelo da Vida!
Eu parei.
Medo pareceu também não ter conhecimento de todas as ações de Destino até aquele momento porque se ergue de supetão de onde estava sentado.
- Do que você está falando? – disse o meu irmão.
Destino continuou para mim:
- Eu roubei um único fio daquela linda cabeleira dourada. Fiz uma bolinha – ele esfregou o dedo indicador no polegar – e dei pra você engolir! Foi fácil! Essa dor que você sente é o efeito contrário de nascer, mas também é o contrário de morrer. Essa é a dor de cada minúsculo e miserável vasinho, das fibras do seu coração, e de tudo mais, nascendo e morrendo. Você vai se tornar nada, não vai nem para o céu nem para o inferno, vai direto para o vazio.
Essa era a explicação de Destino. Como ele iria me “matar”.
- É um plano interessante. – disse Medo – Mas como pretende que aquele rapaz não interfira?
- Acho que quem poderia interferir... – ele olhou para o mesmo teto da igreja que a pouco eu contemplara – não virá esta noite. Quero dizer, - ele se virou para mim – que só os céus poderiam salvá-la, querida.
A porta da igreja se abriu com um estrondo violento. Todos nós nos voltamos para ver quem chegava. Eu torci para que o vento tivesse tido força o suficiente para abrir aquela porta e que tivesse me enganado. Fechei os olhos e quando criei coragem o suficiente para abri-los, enxerguei Gerard parado nos olhando. Ele parecia ter caído do céu.
- O que está acontecendo aqui? – ele parecia terrivelmente calmo. – O que vocês estão fazendo com ela?
- Gerard! – eu ia correndo em direção a ele. Mas, antes que pudesse, Destino me segurou pelo pulso e me jogou de volta na mesa do altar.
- EI! – Gerard gritou e começou vir para cima de nós.
- Agonia. – Destino a chamou de um jeito carinhoso – Dê as boas-vindas ao rapaz.
Agonia se postou a nossa frente, Destino e Medo me cercavam, e esticou os braços para frente. Em um piscar de olhos as correntes que tinha pareceram ganhar vida, e se contorciam em uma dança louca como duas cobras enquanto se lançavam em direção a Gerard.
- NÃO!- eu gritei quando as duas correntes alcançaram juntas os dois braços de Gerard e o detiveram, fazendo com que ele caísse de joelhos no chão com os braços abertos.
Mas uma vez tentei correr para ele e sequer notei que Destino me segurava forte em seus braços. Me debati, tentei arranhá-lo, gritei. Ele, como resposta, apenas me jogou no peito de Medo que também me segurou.
Para meu maior desespero, Destino sumiu da nossa frente e reapareceu no outro segundo na frente de Gerard.
Destino o estudava concentrado.
- Então, é você? Uma criancinha tola...?
Gerard bufou de raiva.
- E você, seu merda? Quem pensa que é?
- Eu sou o Destino...
- Éééé... – Gerard respondeu rápido. – Me libera só uma das mãos que eu mostro pra você quem eu sou enchendo essa sua cara nojenta de porrada. Encosta nela de novo, pra você ver...
Destino gargalhou:
- Mas que pessoinha interessante! –disse e depois estalou os dedos para Agonia que imediatamente fez com que as correntes abrissem mais os braços de Gerard.
Ele gemeu baixinho.
- Medo! – eu disse acompanhando a cena. – Medo, meu irmão! Por favor, me solte! Deixe-me ir socorrer Gerard! Por favor, meu irmão... – chorei.
- Deixe. – ele me respondeu grave – Talvez se esse rapaz morrer seja melhor...
- Não... – solucei sem forças e tossindo.
- Eu vim até aqui para tomar uma atitude contra esse seu amor, mas não tinha conhecimento do que Destino havia feito com você e com a sua imortalidade lhe condenando ao vazio. Acredite, eu não queria que nada de mal lhe acontecesse...
- Se não deseja nada de mal para mim, então me ajude a poupar Gerard...
Mas não tive tempo de ouvir uma resposta do meu irmão. Por um longo instante meu corpo pareceu estar se abrindo como em um corte lento e ardido. Não agüentei, gritei de dor.
- Me solta!! – distingui a voz de Gerard em resposta à minha suplica. – O que vocês fizeram com ela?!
- Agonia? Por favor... – Destino disse agachado a frente de Gerard.
Ela fez um movimento simples com os braços e as mãos de Gerard obedeceram sozinhas. De seus dedos saiam ritmados os barulhos secos das falanges se quebrando, uma a uma.
Gerard gritou. Eu gritei junto, desejei com todas as forças que alguém me colocasse no lugar dele. Era insuportável vê-lo sofrendo!
Chorei muito. E quando o décimo barulhinho seco terminou, Gerard olhou para mim e deu um sorriso dolorido.
- Eu te amo... – ele apenas mexeu os lábios.
Solucei angustiada. Eu estava implorando a Deus que aquilo terminasse, que Gerard fosse poupado, que se houvesse justiça que fosse feita agora. Que o meu amor não sofresse!
Senti a mão fria de Medo me descendo pelo rosto.
- Parece que é tarde de mais para se fazer qualquer coisa, minha irmã...
- Medo! – me agarrei na capa dele. – Por favor!
Ele tirou a máscara e eu pude ver aquele rosto lindo que ele tinha, um rosto de menino que contrastava com a sua altura e sua voz máscula.
- Estou pensando se faz sentido ter uma esperança. – ele segredou em meu ouvido.
- Sempre faz... – murmurei sem muito ar.
Ele sorriu, pela primeira vez.
- Destino também colocou o fio de cabelo da Vida na boca.
Eu havia entendido, mesmo com aquela confusão febril na minha cabeça. Será que bastava ter tido esse pequeno contato com a força da Vida para aniquilar um de nós? Será que Destino adoeceria como eu?


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