O Deus Sem Nome e o Narciso De Prata escrita por Luiza


Capítulo 17
Assassinos, filhos bastardos e Alquimistas do mal


Notas iniciais do capítulo

Falei que eu não ia demorar dessa vez!
Depois desse, só mais três capítulos, uhuul! Sério, acho que vocês vão amar o próximo "livro", estou muito animada...
Esse cap. ficou grandão, eu espero que vocês gostem (ele também é dedicado à Marcela Monteiro, que escreveu uma recomendação diva!).
Não se esqueçam de comentar para me deixar feliz. Semana que vem tem mais (ou antes...).
Boa leitura!
~Lu



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Afastei-me o mais rápido que pude, com lágrimas de dor nos olhos. Conseguia sentir o sangue escorrendo por debaixo de minha camiseta, deixando uma sensação quente por onde quer que passasse. Wainwood abriu a boca para conjurar mais um feitiço para me torturar, mas dessa vez eu não a deixaria vencer, ou me ferir.

Antes que pudesse perceber o que fazia, antes que pudesse me conter, as palavras voaram para fora de minha boca, rápidas como um raio.

Avada Kedavra!

Tudo o que pude assimilar depois disso, foi o corpo inerte de Athne caindo sobre a grama.

Tudo aconteceu tão rápido e, mesmo assim, parecia mover-se em câmera lenta. Gregory e Kryptos desaparataram assim que viram sua líder ser morta. Ela estava morta.

Eu a havia matado.

Tudo o que consegui fazer foi ficar ali, parada, com os olhos arregalados enquanto a frase “o que foi que eu fiz?” passava por minha mente algumas centenas de vezes. Meu coração pulsava contra meu peito e me fazia sentir nauseada, a varinha caiu lentamente de minha mão. Logo, algumas moscas foram acomodar-se perto do cadáver e não demorou muito, as lágrimas vieram. Escorreram por meu rosto suado e cansado sem dó nem piedade.

Eu me sentia suja. Sentia nojo e raiva por não poder ficar longe de mim mesma.

— Meu Deus. — murmurou Constance — O que você fez?

Queria fuzilá-la com o olhar, mas não podia. Ela estava certa.

— Você a matou. — Complementou Joonie. Que tipo de melhores amigas eram elas, afinal?

Meus pés moveram-se por conta própria, me carregando para longe das palavras e olhares de meus amigos, para dentro da floresta úmida. Corri meio sem rumo, talvez querendo me perder, ir para qualquer lugar longe dali e permanecer lá até o fim dos tempos. Mas tudo o que eu achei foi nosso pequeno acampamento, a fogueira ainda crepitando em frente à barraca.

Há quanto tempo será que aqueles bruxos das trevas estavam lá? Será que estavam nos observando? Para falar a verdade, não dei importância a isso naquele momento, simplesmente entrei e me esparramei no sofá, permitindo-me chorar ainda mais, como já não fazia há um bom tempo.

Ainda à beira do lago...

— O que foi que vocês fizeram? — perguntou Tanner com raiva para Joonie e Constance — Era para serem suas melhores amigas! Que tipo de ajuda foi essa?

— Eu sinto muito Tan. — pediu a semideusa com lágrimas nos olhos — Eu... eu não...

— Não se desculpe, Joonie. — interrompeu a garota de pele cor de café — O que ela fez foi errado, você sabe o que vai acontecer com ela?

— Nada vai acontecer com ela! Vocês não a conhecem tão bem quanto eu.

— Ah, por favor, Tanner! Odeio estragar suas esperanças de garoto apaixonado, mas passo o ano todo com ela, a você não sabe a metade das coisas sobre a Rose.

O garoto parou por um breve instante, chocado com a afirmação confiante da bruxa. Seus olhos castanhos brilharam como se pensar nisso – pensar nela – o fizesse esquecer do que acontecia à sua volta.

— Eu sei, — murmurou ele baixinho — que a comida favorita dela são tacos. Que ela ama café, mas só toma descafeinado porque sua mãe diz que é melhor para a hiperatividade. Sei que ela escuta música clássica para dormir, e que não gosta de quase nenhuma das atuais. Que ela se faz de durona, mas adora filmes de romance. Ela dorme com uma das pernas para fora do cobertor, odeia sentir frio mais do que tudo. Sei coisas sobre ela que você nem imagina, coisas que ela só conta para mim, ou que nem conta, eu sei pelo seu olhar, porque sou o melhor amigo dela. E não importa o que digam, ou se me acham idiota por isso, mas eu prefiro ficar em silêncio sobre o que sinto do que não poder ficar perto dela.

Tanner corou. Não acreditava que havia acabado de dizer isso tudo na frente dos irmãos dela, mas valeu a pena ver as expressões abismadas nos rostos dos outros, especialmente na de Constance. Não que tivesse algo contra a garota, mas ela não estava ajudando.

— Agora, se me dão licença, — pediu tentando manter a voz firme — vou falar com ela.

— Vou com você — exclamou a corvina.

— Não. Você já fez o bastante.

E adentrou a floresta.

_____________


Quando ele entrou, quis jogar um abajur em seu rosto, mas o máximo que consegui fazer foi abraça-lo e chorar em seu peito, molhando sua camiseta vermelha destruída.

— Por que está chorando? — perguntou

— Por quê? Sou uma assassina! — gritei — Ganhei um bilhete só de ida para Azkaban.

— Você não vai ser presa, Rose!

— Como sabe? — afastei-me dele para olhar em seus olhos — Eu usei uma maldição imperdoável. Não sei se entendeu, mas não é algo perdoável...

— Era para ela estar presa, não? O que ela fez?

Suspirei. Athne Wainwood era uma das mais terríveis bruxas das trevas já conhecidas, me dava um arrepio só de tocar no assunto.

— Ela matou trouxas. Crianças, milhares delas.

Ele observou-me incrédulo.

— E você está assim por ter matado uma assassina de crianças?

— Você não entende, Tanner! — falei — Era para ela estar em Azkaban para o resto da vida, talvez até fosse executada, mas eu não tinha o direito de tirar sua vida. Além disso, o Ministro Bailey me odeia, e...

— E o que?

— E, quando eu a matei eu... Me senti bem, poderosa, como se tudo estivesse em minhas mãos.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, olhando um para o outro, até Constance entrar. Sequei as lágrimas rapidamente com as costas das mãos. Não queria que me visse chorar.

— Desde quando eles estavam aqui? — perguntou ela.

— Pensei que tinha dito para ficar lá fora — disse Tanner irritado. O que estava acontecendo?

— Você não manda em mim, Adams, vim falar com minha amiga.

— Para poder dizer que ela vai ser presa? Obrigada, ela não precisa da sua ajuda.

— Eu estou tentando falar a verdade! — exclamou, irritada — Ela vai ser presa, ou pelo menos julgada.

— Eu falei. — murmurei.

— Mas provavelmente não por muito tempo, a McGonagall vai dar um jeito. Você sai dessa, Rosita.

Mais seis pessoas adentraram a cabana.

— Desde quando eles estavam aqui? — indagou Dylan, mas antes que eu pudesse dizer que não sabia, uma voz gélida ecoou em minha cabeça.

“Acha que pode matar meus seguidores assim, semideusa?”, perguntou a voz de Dárion. E eu que pensava que demoraria para escutá-la novamente. “Usando uma maldição imperdoável? Parece que você não é tão fraca quanto eu esperava, afinal”.

— Rose? — chamou Daniel — Rose, o que aconteceu?

— Ah, não. — suspirou Tanner — Ele está falando com ela.

Meus amigos soltaram exclamações.

“Vamos ver se eu também consigo?”, sussurrou ele, para meu desespero. Não queria acreditar, mas sabia o que estava por vir. “Timorem Crucio”.

Instantaneamente, caí no chão frio. Pareceu-me que cada osso, cada partezinha de meu corpo estava em chamas, ao mesmo tempo em que levava algumas machadadas de um martelo de duzentos quilos. Gritei, não consegui resistir, e pude ouvir vagamente o desespero nas vozes dos outros ali presentes. Lágrimas doloridas soltaram de meus olhos, deixando uma sensação de ardência por onde passavam.

Como se não fosse o suficiente, meus olhos me pregaram uma peça. Todos os meus piores medos e pesadelos passaram por minha mente como um flash e tornaram tudo ainda pior.

Gritos, penhascos, torturas e a dor, tudo junto, me atingindo como um tsunami negro. Não sei bem quanto tempo durou, pareceu uma eternidade, mas sessou de repente. Finalmente pude respirar, os resquícios do feitiço e os terrores da visões ainda me atormentando.

“Acho que posso fazer isso com seus amigos também”, disse Dárion, rindo-se.

— Não, por favor! — choraminguei fraca em voz alta — Não faça isso, eu imploro.

Tarde de mais.

Tanner foi o primeiro a cair no chão, berrando em agonia. Esforcei-me para levantar e ajoelhar-me ao seu lado, mas não havia nada que pudesse fazer.

Apesar de tudo que eu sabia que ele sentia, Tan não derramou uma lágrima sequer. Cerrava as mandíbulas com força para evitar fazê-lo, logo o sangue escorreu pelo canto de seus lábios. Ele pousou uma mão em meu rosto.

— Faça isso parar — sussurrou.

— Vai acabar logo — prometi, então gritei, esperando que Dárion me ouvisse: — Pare! Pare, por favor, o deixe fora disso.

Ele atendeu meu pedido, mas foi a vez de Joonie cair, seu corpo magro e miúdo debatendo-se no chão. Dan começou a gritar desesperado, e teve de ser contido por Dylan antes que começasse a destruir tudo.

Foi mais rápido com ela, como se o Deus tivesse perdido a força. Sua voz desapareceu de minha mente, deixando-me apenas com meus dois melhores amigos caídos no chão.

­­­­­­___________

Depois que nos recuperamos um pouco, sentamos todos em volta da mesa de madeira da cozinha improvisada.

— Mas esse feitiço não existe! — constatou Constance pela milésima vez — “Timorem Crucio” não é uma coisa real. Vão por mim, conheço praticamente todos os feitiços existentes.

— Mas foi o que ele disse. — falei — Tenho certeza, Cons.

— E você disse que viram seus maiores medos também? — perguntou Irelia.

— Isso mesmo — respondeu Joonie. Estávamos todos abatidos com a situação.

— Ele me mostrou uma coisa — murmurou Tan, com os lábios brancos, olhos fixos na parede — Dárion.

— O que? — espantei-me — Tipo, uma visão?

Ele assentiu.

— Me chamou de... irmão.

O silêncio tomou conta do ambiente. Irmão?

— Como assim?

— Ele me chamou de irmão, Rose. Ele é filho de Ares. Pelo quê vi, Afrodite não queria que Hefesto descobrisse que estava grávida. Eles tramaram tudo para parecer que Dárion era algum Deus perdido.

Lembrei-me de uma das primeiras vezes que sonhei com o passado do Deus no Olimpo, quando assisti sua expulsão. Como Afrodite chorava desesperadamente e como ares pareceu culpado. Fazia sentido.

E eu podia entender por que Tanner estava assim. Não era todo o dia que se descobria irmão de um dos maiores vilões de todos os tempos. Mas também não era todo o dia que se virava uma assassina.

Agora aquilo já nem estava mais em minha cabeça, tinha mais com o que me preocupar.

— Tenho uma teoria — murmurei, fazendo com que todos os olhares caíssem sobre mim — Essa é a esfera de poder dele, certo? Roubar as forças dos outros. Se ele conseguiu recrutar bruxos para seu exército, é possível que consiga fazer magia.

— Pode ser. — disse Nick — Mas isso não explica como ele conseguiu criar um feitiço novo.

—Bom... — sussurrou Constance — Eu sei um jeito.

Ela fez uma pausa dramática, mas não tínhamos tempo para aquilo. Dylan a mandou parar de enrolar e ela começou:

— Existem os bruxos que criam feitiços novos para o Ministério, contratados do governo. Eles são chamados Sênides. Mas existem também aqueles que criam feitiços ilegais, sem permissão. Esses são os Alquimistas. É possível que Dárion tenha se aliado a um. Ou vários.

— Isso explicaria também as experiências com monstros. Mas por que esses Alquimistas se juntariam a ele?

— Bom, isso é simples. Alquimistas trabalham muito duro. É difícil conseguir ingredientes adequados, alguns já foram até presos por roubo, mas quase nunca seu trabalho é reconhecido. Como eu disse, são ilegais. Talvez tenham feito isso para divulgar seu trabalho.

Era isso. Só podia ser. Dárion estava trabalhando com bruxos também.

Mais um mistério resolvido, mas ainda tínhamos um problema: A última tarefa nos aguardava no outro dia pela manhã, e eu não sabia se conseguiríamos dormir.


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Notas finais do capítulo

Entãããão??? O que acharam? Gostaram do momento love do Tanner lá em cima? Espero que sim, me deixem saber, okay?
~Lu



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