O Deus Sem Nome e o Narciso De Prata escrita por Luiza


Capítulo 14
3ª e 4ª tarefas: O Cinto e o Cão


Notas iniciais do capítulo

Meus Deuses, perdão pela demora! Quase cinco semanas sem postar, eu estou até com vergonha...
O lado bom da demora é que eu tive muuuitas ideias, e acho que até consegui melhorar minha escrita! Acho que nesse cap. dá para perceber algumas mudanças (ele ficou bem grande, espero que não se importem).
Mais uma vez, me desculpem, e aproveitem o capítulo (comentem, que eu estou com saudades de suas palavras!!!!)...
~Lu W.Z



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Revirei mais uma vez os olhos para a faladeira de Constance. Ela estava espantando todas as possibilidades de café-da-manhã que eu havia encontrado até agora na floresta, o que não me agradava nem um pouco.

–Ele é muito afim de você!- Afirmou novamente.

–Não, não é!- Neguei com veemência, dessa vez espantando, eu própria um esquilo que daria uma excelente refeição- Joonie, diga para ela.

–Ah, é. Ele está caidinho por você.- respondeu-me ela, o que me fez lançar um olhar quase mortal em sua direção- Rose, só você não vê! Na verdade, eu acho que você deveria dar uma chance para ele. O Tanner é tão fofo!

–Eu não vou dar uma chance ao Tanner, porque ele não gosta de mim, e porque nós estamos aqui para achar alguma coisa para comer, não para fofocar sobre minha vida amorosa!

–Certo,-concordou Constance- vamos fofocar sobre a minha. Eu não gosto de ser apressada, mas aquele garoto, o Jake, ele é um...

–Shhh!- coloquei o dedo indicador sobre os lábios para pedir silêncio e armei meu arco.

Um coelho do tamanho de um filhote de porco saltitou a alguns metros de nós, agitando algumas folhas. Antes que o bichinho pudesse pressentir o que viria, disparei uma flecha certeira bem entre seus olhos avermelhados. Joonie e Constance gemeram.

–Oh, você o matou- exclamou a bruxa.

–Obrigada pelo alerta, Cons.- falei com sarcasmo- Se você não me dissesse, eu não teria como saber.- observando sua expressão de desespero, acrescentei:- Olha, não se preocupe, okay? Faço isso o tempo todo, apenas que não são coelhos, são monstros gigantes. E, de qualquer forma, ele acabaria morto por um lobo, ou um coiote, provavelmente de um jeito bem mais doloroso que esse, então vamos comê-lo e fingir que nada aconteceu, sim?

Ela apenas concordou levemente com a cabeça e nós fizemos meia-volta para retornar à “Base de Comando”, como Irelia apelidara nosso pequeno acampamento.

Segundo a posição do sol, devia ser por volta das nove horas, e o calor já nos fazia transpirar, principalmente na humidade da mata. Minhas amigas murmuravam algumas coisas nas quais eu não estava prestando muita atenção, mas pareciam estar se dando bem, o que era bom.

Depois de um pequeno tempo de caminhada, alcançamos a pequena clareira, onde Tanner tentava reacender o fogo, sem muito sucesso. Isso provocou algumas risadinhas das meninas, eu só não sabia se era porque ele estava suando de tanto tentar, ou porque ele era o assunto da conversa delas. Vou apostar na segunda opção. Com um movimento de varinha, Constance incendiou a madeira, o fazendo corar.

–Tudo bem- falei- Já que estão de tão bom humor hoje, por que não limpam nosso amigo aqui?

Arranquei a flecha dos miolos do coelho e joguei a carcaça para elas, que se encolheram, mas o seguraram, e entraram na cabana a contragosto.

–Tem algo que eu devo saber?- perguntou Tanner assim que pode ter certeza de que não o ouviam.

–Não, não é nada. Apenas esqueça isso, certo?

Uma cabeça loira pipocou para fora da barraca, sorridente.

–Bom dia, maninha!- exclamou Dylan- Já decidiu que tarefa quer fazer hoje?

–Eu não sou a única no comando, pergunte ao Jake.

–Ele não sabe o que fazer, mandou eu te perguntar.- suspirei e pensei por alguns segundos. Que tipo de pessoa, em sã consciência deixava uma menina de treze anos no comando de alguma coisa?- Quem sabe o cinto de Hipólita? Não me parece assim tão horrível.

–Nem pensar!- gritou outra cabeça que aparecia de repente. Jake- Hipólita é a rainha das Amazonas, e elas odeiam homens tanto quanto Ártemis e as caçadoras.

–E daí?- perguntei- Nada nos impede de ir até lá sozinhas. Estamos em um número maior agora.

–Sabe, Rose, nós também queremos fazer alguma coisa. Não somos inúteis.

–O que sugere, então?

–Eu tinha pensado... Bem, eu pensei... Sabe, como sou filho de Hades, acho que não seria muito difícil pegar Cérbero e trazê-lo até a superfície.

Congelei. Só a ideia de descer ao mundo inferior me dava calafrios. Ficava muito no subsolo, só os Deuses sabiam a última vez que aquele lugar vira a luz do sol, se é que já havia visto. Gaguejei:

–E-eu não s-sei, Jake.

–Façamos assim:- propôs Tanner- Vocês, meninas, vão pegar o cinto de Hipólita, e nós descemos e buscamos Cérbero, o que acham?

A ideia pareceu boa para mim, mas meu irmão ficou pálido, provavelmente tendo o mesmo pensamento que eu. Além do quê, só a ideia de deixá-los ir até lá sem mim me fazia pensar na profecia, e no quanto eu fui estúpida de trazer ele e Daniel comigo. Porém, ele confirmou.

–Acho que podemos fazer assim.

–Combinado, então- sorriu Tan.

__________________

Depois do café – o coelho era ainda maior do que parecia- todos pegamos nossas mochilas e as enchemos com água, néctar e ambrosia, bandagens, um pouco do dinheiro que nos foi dado, e cada um dos grupos recebeu um dos dois mapas que apareceram na mesa de nossa barraca durante a noite. Em um bilhete ao lado dos tais mapas, estava escrito:


Achei que talvez fossem precisar de orientação.

Geralmente não favoreço semideuses, mas

acho que para vocês posso fazer uma

exceção.

Mantenham as mãos nos bolsos,

Hermes.

Já do lado de fora, alertei meus irmãos:

–Apenas tomem cuidado, por favor.

–Relaxa, mana!- disse Dylan- não tem com o quê se preocupar.

–Ela fala sério.- murmurou Joonie, e eu pude sentir a preocupação crescente em sua voz- Não façam nada perigoso de mais.

É claro que aquele are um pedido inútil, uma vez que estávamos no meio de uma missão, mas Daniel segurou sua mão e a abraçou.

–Eu vejo você depois, baixinha. Tenha cuidado- então a puxou para perto, dando-lhe um beijo nos lábios. Acho que eu não havia percebido o quanto gostavam e se importavam um com o outro até aquele momento.

Dirigi meus olhos ao mapa em minhas mãos. Um ponto ao leste brilhava levemente, indicando Seattle. Ah, não!, pensei. Desde o que aconteceu no último ano, eu não me sentia exatamente à vontade para voltar ao estado de Washington. Bom, parece que eu não tinha muita escolha, certo?

Uma mão segurou a minha, e eu olhei para cima para ver Tanner com uma expressão preocupada.

–Você está bem?- perguntou- Está pálida.

–A sede das Amazonas- respondi, tentando fingir que não me importava- É em Seattle, na central da Amazon, pelo que vejo.

De um jeito estranho, seus olhos brilharam quando mencionei a cidade, e ele deu um meio sorriso.

–Eu sou de Seattle- murmurou baixinho.

– O que?

–É, eu... Esqueça, certo? Acho que você deve estar nervosa em retornar. Não fique, apenas pegue aquele cinto.

–Vocês dois!- chamou Nick- Chega de papo furado e nos ajudem a descobrir como vamos do Illinois à Califórnia sem ter que pegar um avião? É do outro lado do País!

Eu estava pensando a mesma coisa. Para chegar até D.C, teríamos eu atravessar os estados de Indiana, Ohio, Virgínia Ocidental e parte da Virgínia, e o caminho que eles teriam que pegar era ainda mais longo.

–Bom- pensou Constance. Ela sempre tinha algo em mente- Rose, está com a sua vassoura, certo? Eu estou com a minha, podemos ir até Seattle voando.

–Mas e nós?- desesperou-se Jake.

–Calma, apressadinho, eu já ia chegar lá!- ela tirou uma bolsa de tecido de dentro da mochila e se dirigiu às chamas da fogueira, lançando o pó sobre o fogo- É só não deixar ninguém na prefeitura de Los Angeles notar cinco garotos saindo de uma lareira.

________________

Resolvi que Joonie deveria ir com Constance, e Irelia deveria dirigir minha vassoura, já que não podia garantir que minha sanidade mental estaria intacta até Seattle. Eu havia conseguido me controlar da floresta até Chicago, mas não sabia se repetiria a façanha durante três estados e meio.

Demoramos umas duas horas para avistar a torre em forma de disco voador, e mais uma meia hora para chegar à Amazon. Devo admitir que nunca teria feito a conexão entre a empresa e as guerreiras.

Quando adentramos o prédio, uma garota de uns vinte anos num terninho bordô e óculos redondos segurando uma prancheta se dirigiu a nós.

–Boa tarde. Sou Christina- disse, apontando o crachá de plástico em seu peito- em que posso ajuda-las?

Nem precisei procurar muito para encontrar um leve brilho dourado em seu cinto. Ela era, com certeza, uma das guerreiras.

–Gostaríamos de uma reunião com a Rainha Hipólita, por favor.

A garota –Christina, que seja- gargalhou como se eu tivesse falado a maior besteira do mundo.

–Ah, por favor- exclamou ela entre as risadas- Hipólita já morreu há anos. Pelo menos foi a última vez que ela morreu. Posso deixar falarem com a Rainha Hylla se for de seu agrado.

–Posso fazer uma pergunta?- pediu Irelia, evidentemente assustada com a reação de Christina- Essa tal Hylla... Ela usa um cinto, humm... Especial?

A atendente segurou-se para não rir novamente e concordou.

–Sim, senhorita, o cinto é passado de rainha para rainha. Venham comigo, vou leva-las até ela.

Até aquele ponto, minha segunda missão estava consideravelmente melhor que a primeira. Tudo que eu havia feito até o momento era lutar contra um touro e conversar com líderes de guerreiras para pedir algo emprestado. É, eu poderia me acostumar com isso.

A sede das Amazonas era ainda mais impressionante que o acampamento das Caçadoras. Cavalos Alados e outros animais mitológicos em jaulas de metal eram selados e preparados para o envio, assim como máquinas e computadores normais. Todos os lotes eram carregados por homens em macacões iguais, parecendo prisioneiros, enquanto mais mulheres em terninhos faziam anotações em suas pranchetas metálicas.

–Eles são alguma espécie de prisioneiros, ou...?- quis saber Constance, mas foi cortada por Christina.

–É, são... Alguma espécie.

–E vocês odeiam os homens?- indagou Irelia.

–Não, não, o que é isso? Nós apenas mostramos a eles quem manda.

Sem mais nenhuma pergunta a ser respondida, ela abriu um par de portas que davam para um compartimento ainda maior, onde se encontrava um trono feito inteiramente de livros com capa azul-claro, ocupado por uma mulher mais velha que todas as outras. Devia ter por volta de quarenta e cinco anos, mas era bonita e atlética, seus cabelos negros com poucos fios brancos presos numa trança. Ela vestia uma roupa justa de couro preto, e o cinto dourado cintilava imponente em sua cintura. Apenas sua postura me fez precisar resistir ao impulso de me curvar.

–Meninas, eu já estava esperando uma visita de vocês.- disse a rainha desfazendo-se da cara severa e abrindo um sorriso- Foram inteligentes em mandar os homens fazerem outra coisa, temo que perderiam cinco membros de seu grupo.

–Como sabe quem somos?- perguntou Joonie- Como todos sabem quem somos?

–Ah, aquele Deus maluco, Vulcano... Acho que você o conhecem por Hefesto, fica passando reportagens sobre vocês a sua missão naquela emissora boba dele.

Uma das Amazonas posicionou uma tevê de tela plana em nossa frente e a ligou. Pude ver um homem forte, carrancudo e tatuado, de óculos escuros que parecia um motoqueiro sentado em uma poltrona mínima para o tamanho de seus músculos. Ele sorria orgulho, enquanto o repórter –Hefesto, supus- fazia uma pergunta:

–Como se sente em relação ao seu filho? Acha que ele está se saindo bem?

–Que tipo de pergunta é essa, Hefesto?- exclamou o homem, quase enojado- Ele é meu filho, é claro que está se saindo bem! Seus irmão acham que ele é fraco, mas eu digo que ele é mais forte do que pensam, mais forte do que eles! É o meu Tanner!

Eu sorri de leve antes que a imagem se modificasse para outro homem, sentado na mesma poltrona, que agora parecia tão espaçosa. Era tão pálido que chegava a ser cinza, e eu não sabia direito no quê me concentrar: Seus cabelos azulados, seu terno prateado ou seu rosto que parecia ter recebido mais cirurgias do que aquele cantor que morreu uns vinte anos atrás. Michael alguma coisa...

–Você geralmente não ganha toda essa publicidade, sendo um Deus menor, estou certo?- indagou Hefesto atrás da câmera- Como se sente com isso?

As orelhas de Joonie ficaram mais vermelhas que um pimentão.

–Eu me sinto ótimo, na verdade! A audiência do meu programa aumentou vinte por cento desde que Joonie se tornou uma das Heroínas de Perséfone. Mas maior do que a felicidade é o orgulho. Eu me sinto orgulhoso dela, e espero poder dizê-la. Nós não temos uma relação exatamente aberta, vê?

Mais uma mudança, em que meu pai apareceu na tela, sua típica aparência jovem e sorridente.

–Você é um caso especial, Apolo. Além de ter três filhos na missão, Rose é a líder. Você tem um apreço especial por ela, não está preocupado com todo esse peso sobre uma criança?

–Eu confio na Rose como confiava na mãe dela. Ela não vai me decepcionar, tenho certeza. Dylan e Daniel também não, eles são ótimos. São todos ótimos.

–E sobre a profecia. Tem uma linha preocupante, estou certo? Como Deus do Oráculo, você sabe o que vai acontecer?

O rosto de meu pai apagou-se mais rápido que uma varinha quebrada. Ele levantou da poltrona e apontou um dedo para a câmera.

–Chega, Hefesto! Corta! Encerramos por aqui.

A tevê ficou preta, e então foi retirada da nossa vista. Tanto eu, quanto Joonie sentimos um choque pelo corpo, um mau pressentimento, mas resolvi não comentar. Eu tinha que me convencer que estavam bem. Estavam todos bem.

–Os deuses querem ajudar vocês- disse a rainha Hylla, fazendo-me lembrar de sua existência- Todos querem ajudar, e assim quero eu.

Ela ergueu-se do trono e tirou o cinto dourado, colocando-o em minha mão.

–Ele será devolvi—

–Em breve, eu sei, Rose. Mas, eu quero que saibam: Acabaram as tarefas fáceis. A partir de agora, terão de lutar de verdade, e eu realmente espero que todos sobrevivam, pois sei como é difícil ser um semideus. E, se precisarem de ajuda na batalha final, quero que entrem em contato comigo.

Ao som de suas palavras, fomos envoltas pela já conhecida fumaça cinza e levadas de volta à arena, onde as coisas estavam prestes a esquentar.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam. Estão achando melhor ou pior que o primeiro? Prometo que vou fazer com mais ação o próximo, mas quero me livrar das tarefas mais sem graça de uma vez. Acho que atualizo de novo no fim de semana, okay?
~Lu



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