Dois dias já tinham passado e o clima entre Carol e Lucas estava péssimo, quanto mais o tempo corria, mais aflita Carolina ficava, ela mal conseguia acreditar que Lucas não a apoiaria, tudo bem que um filho não faria bem aos dois agora, mas ela não havia feito sozinha e o minimo que esperava era o apoio do seu namorado, que, aquela altura, ela já nem sabia se era realmente seu namorado. Lucas estava tão diferente de quando eles haviam se conhecido e mais ainda de quando eles começaram a namorar, aquele garoto meigo, atencioso e gentil que Carol conhecia sumira instantaneamente depois da noticia da gravidez, em seu lugar estava um garoto frio, distante, e o pior de tudo, que queria que a sua namorada abortasse.

Mas, por mais cruel e insensível que essa ideia parecesse, Carol começou a considerar essa hipótese, afinal, como ela criaria um filho sozinha, sem nem ter completado o ensino médio? Não importava qual fosse a decisão que ela tomaria, teria que ser tomada logo, até porque se ela optasse pelo aborto precisaria ser feito imediatamente. Hora ou outra ela também se lembrava de todas as vezes que Samantha a havia alertado, e se arrependia profundamente por não ter seguido os conselhos da amiga, que já sabia sobre a decisão e opinião do Lucas sobre a gravidez de sua namorada. Para Samantha um aborto estava fora de cogitação, pois poderia colocar a vida da sua amiga em risco, e era tudo o que ela menos queria.

Os dias de Carol estavam se arrastando, ela não conseguia se concentrar nas aulas e só tinha Samantha como refúgio, pois além de ser uma das três únicas pessoas a saber, ela era também a sua única e melhor amiga. Lucas não ligava pra ela, não mandava sms, só se falavam no colégio, aonde ele sempre exigia uma decisão sua, deixando cada vez mais claro que não assumiria o filho. Camilla ainda era nova para entender a gravidade da situação, sendo que ela só pensava no futuro sobrinho como como bebezinho que ia tomar um espaço do quarto que ela dividia com a irmã.

Na manhã do terceiro dia após ter dado a notícia ao Lucas, Carol acorda com o barulho do celular tocando, era o seu namorado.

- Alô?

- Oi Lucas, resolveu lembrar que eu tenho um celular?

- Não começa Carolina. Então, eu descobri uma clínica num bairro do outro lado cidade que pode tirar a criança, eu tenho um dinheiro guardado, não vai ser barato, mas dá pra pagar o procedimento e...

- Perae Lucas, quando foi que eu disse que ia tirar nosso filho?

- Você não vai insistir em ter o bebe sozinha né? Eu to pensando em você também Carol.

- Não Lucas, se você estivesse pensando em mim estaria do meu lado agora, me dando apoio, mas tudo o que você faz é me pressionar e se afastar cada vez mais de mim.

- Eu vou fazer vestibular, ano que vem entro na faculdade, começa uma nova fase na minha vida e você não quer que eu faça isso com um fardo nas costas não é?

- Esse "fardo" é o nosso filho Lucas!

- Nosso não, já disse que não vou assumir e aposto que, por mais que me achem errado e me julguem, meu pais ficarão do meu lado, acha mesmo que minha mãe vai querer ser avó agora?

- Eu ainda não acredito que você está sendo capaz de dizer essas coisas pra mim, até três ou quatro dias atrás você me amava e disse que ficaria comigo em tudo o que acontecesse.

- Tudo, menos um filho. É só você não deixar ele nascer e a gente esquece isso e volta a ser tudo como era antes Carolina, é simples.

- Simples pra você Lucas, a criança não está na sua barriga!

- Olha Carol, eu já marquei uma "consulta" contigo naquela clínica, hoje ás 17 horas, se você quiser me encontra ás 16 no portão da escola e eu te levo lá, já disse que pago tudo.Se não quiser o problema é todo seu.

- Tchau Lucas

- Lembra hein, 16 horas no portão da escola.

Carolina desligou o telefone e estava perplexa, no fundo ela ainda tinha uma esperança de que Lucas iria se tocar de tudo o que estava fazendo e dizendo, mas depois do que havia escutado ela teve a certeza absoluta de que estava sozinha nessa. O dia, como todos os outros, passou se arrastando, até a hora de ir para o colégio. Por sorte a empregada da sua casa já havia voltado de férias e ela e sua irmã não precisavam mais arrumar a casa todos os dias, o que era um alívio para Carol, já que ela estava se sentindo cansada e dormente o tempo inteiro.

Ao chegar ao colégio, como já era de costume, esperou a Samantha para entrar, achou melhor não comentar com a amiga sobre a conversa que ela havia tido mais cedo com Lucas, pois sabia que ela diria para não ir em frente, e, por mais que Carol ainda não estivesse totalmente certa do que faria, a ideia de que um aborto realmente seria a solução do problema estava dominando sua mente. Quando deu 16 horas Carol inventou que estava com uma forte dor de cabeça, avisou a Samantha que iria para casa e pediu para ela deixar a Camilla no ponto de ônibus, mesmo com um pé atrás Samantha concordou.Ao chegar no portão da escola Lucas já estava lá.

- Por um momento, achei mesmo que você não viria - Disse Lucas, ao vê-la chegar.

- Anda logo antes que eu me arrependa. - Carol parecia confusa, indecisa e nervosa, mas a presença dela deixou Lucas mais confortável, pois ele sabia que finalmente o problema da gravidez seria resolvido.

Eles pegaram um ônibus e se dirigiram até a clínica onde seria realizado o aborto, chegaram depois de 40 minutos. Lucas foi até a recepção e, após passar algumas informações para a atendente, sentaram para aguardar. Carolina estava surpresa, pois o lugar era totalmente o oposto do que ela imaginava, a estrutura era realmente muito boa e lá o aborto não era tratado como algo ilegal. 15 minutos se passaram e, apesar de um pouco mais tranquila, as mãos de Carol suavam sem parar. Lucas parecia um pouco nervoso também, mas não dava o braço a torcer.

- Carolina Pacheco - A recepcionista chamou e a levou até a sala onde seria realizado o procedimento. Enquanto caminhava Carol olhou para trás, Lucas não parecia nem um pouco arrependido.

- Vai ficar tudo bem, é o melhor que você faz, para nós dois. - Foi a última coisa que Carol ouviu de Lucas, enquanto a porta que dava acesso as salas de cirurgia se fechava.