A Dustland Fairytale escrita por Olivia Hathaway, Laradith


Capítulo 3
III - He's getting ready for the showdown


Notas iniciais do capítulo

Ai caramba, estou com 3 tipos de medo desse capítulo e da reação de vocês =x



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Os convidados começaram a chegar logo ao entardecer. Como eu esperava, praticamente toda a comunidade de dhampirs de Baia apareceram, trazendo pratos de comida para ajudar. Aquilo tudo era idêntico ao que aconteceu durante o serviço memorial de Dimitri, tirando que o clima agora era bem melhor.

No começo, todos ainda tinham certo constrangimento. Apesar ter tomado a decisão de focar no lado positivo, Dimitri ainda demonstrou uma dificuldade enquanto seu tempo com o Strigoi foi o assunto central. Alguns convidados também pareciam nervosos, como se nós tivéssemos nos enganado terrivelmente e ele ainda fosse um morto-vivo sanguinário. Claro que só bastou cinco minutos para constatarem que não era verdade e toda a tensão se dissipou. Dimitri conhecia quase todos eles, desde criança, e pareceu cada vez mais encantado em reencontrar rostos familiares. Eles, por sua vez, se alegraram por ele estar a salvo.

Do lado de fora, eu fiquei feliz em ver como tinha vindo muita gente. Eu reconheci vários deles, que me cumprimentaram, mas Dimitri era o centro das atenções. A maior parte das conversas era em russo, mas eu conseguia entender o sentido pelas suas expressões. Uma vez que ele se sentiu à vontade entre os seus velhos amigos e familiares, vi uma alegria tranquila se espalhar por ele. A tensão que sempre parecia estalar em seu corpo tinha se aliviado agora, e meu coração desmanchou-se ao vê-lo tão bem.

"Eles parecem tão surpresos quanto nós ficamos" Viktoria disse, pairando do meu lado. Ela sorria, e parecia agitada. "E Dimka parece que está lindando muito bem em ser o centro das atenções. Ele sempre detestou isso"

Não pude evitar sorrir, me lembrando da expressão desesperada do seu rosto ontem à noite quando soube que toda a comunidade dhampir iria estar aqui. "Sim, mas por incrível que pareça, ele realmente está se saindo muito bem" falei, olhando para onde Dimitri estava, assistindo a tudo com diversão, enquanto algumas crianças o interrogavam seriamente.

"Rose, posso te perguntar uma coisa?"

Meus olhos se voltaram para ela. "Claro"

Senti que ela parecia um pouco desconfortável. "Quem realmente era aquele Moroi que te trouxe aqui, aquele Abe Mazur? Eu vi que vocês não se deram muito bem, mas algumas semanas depois eu escutei uma conversa da vovó com Oksana... Bem, eu achei que ele estava te perseguindo ou algo assim. Ele parecia perigoso"

"Oh, isso" eu mordi meu lábio. Agora era eu quem estava desconfortável. Como eu iria contar para ela que aquele cara que estava me seguindo e que fez seu guardião tirá-la a força daquela boate,e que parecia um pirata, era o meu pai?E que ele provavelmente era chefe de uma máfia ou algo do tipo? Minha mãe podia negar, mas eu ainda tinha minhas suspeitas de que ele mexia com o mercado negro, especialmente depois que ele usou todos aqueles explosivos para me fazer escapar da Corte. Isso e mais algumas outras provas. "Abe estava apenas me checando, porque ninguém sabia onde eu realmente estava. Porque quando eu saí da Academia, não falei para ninguém onde eu estava indo"

"Mas parecia que ele era muito influente, para ter conseguido te achar tão rápido e ter controle sobre os alquimistas"

"Ele é" eu disse, desgostosa. "E recentemente eu descobri que ele também é meu pai"

Choque tomou conta das suas feições. "Sério?"
Assenti. "É, eu também não sei o que a minha mãe viu nele, mas..."

"Meu irmão está definitivamente encrencado!" cortou ela, rindo. Seus olhos castanhos brilhavam de excitação. Era engraçado, porque até a risada dela e esse brilho me lembravam um pouco de Dimitri. "Como se já não bastasse a sua mãe ser Janine Hathaway! Sem ofensa, todos dizem que ela é uma lenda e é uma das melhores guardiãs que já existiram. Mas eu fico imaginando como Dimitri sairia depois de uma conversa com eles"

"Bom" eu sorri. Isso também era algo que eu imaginava, apesar de eles já terem conversado algumas vezes - mas eu sempre estava presente para vigiá-los. Eu sabia que minha mãe estava esperando o momento certo para dar o bote sobre nosso relacionamento 'ilegal' na Academia. Meu pai provavelmente iria aproveitar essa chance. "Até agora eu tenho feito um ótimo trabalho em deixar os três separados. Só não sei por quanto tempo eu vou conseguir isso"

"Ele vai sobreviver" disse. Sim, ele sobreviveria. Provavelmente com algumas cicatrizes e uma ameaça de morte muito bem explicada pairando sobre sua cabeça se ele me fizesse algum mal. Mas eu não falei isso para ela. A reputação dos meus pais já assustava muita gente, e eu não queria que ela fosse mais uma integrante desse clube.

"Viktoria!" nós ouvimos a voz de Olena chamá-la.

"Eu já volto" ela disse antes de gritar uma resposta em russo para Olena. "Mamãe precisa de ajuda com a comida"

Eu decidi checar Dimitri depois que ela se afastou. Ele estava conversando em russo com um casal de Moroi quando eu me aproximei. Os olhos do casal caíram em mim, me avaliando. Dimitri gesticulou para eles.

"Rose, esses são Yulia e Vladmir" eu apertei a mão deles.

"É um prazer conhecer vocês" eu disse em um russo mal falado. Ei, eu poderia continuar não sabendo nada de russo e muito menos ainda aquele alfabeto cirílico, mas algumas palavras eu tinha aprendido na minha visita anterior. E ao que me pareceu, eles entenderam o que eu disse.

A mulher sorriu para mim e disse alguma coisa que fez Dimitri abrir um enorme sorriso - um que enrugava levemente o canto dos seus olhos. Ele respondeu, novamente em russo, meu nome novamente mencionado. Yulia riu como se estivesse provocando Dimitri por alguma coisa, e Vladmir se inclinou e perguntou algo. Dimitri respondeu também em tom de brincadeira,e eu me senti perdida, e um pouco chateada por ele não ter trazido a conversa para o inglês, já que eu estava presente e aparentemente era sobre mim que estavam falando.

Ele passou um braço pela minha cintura e me puxou para mais perto antes de me dar um beijo na testa. "Não é, Rose?"

Ergui uma sobrancelha – ou tentei, já que esse não era um truque eu sabia fazer. “Não sei do que estão falando, Dimitri. Não falo russo fluentemente.”

Aparentemente, nem Yulia nem Vladmir sabiam falar inglês – o que me colocava em uma ligeira vantagem sobre eles – já que os dois ficaram olhando para mim como se estivessem esperando uma resposta, e não como se eu tivesse acabado de dar uma pequena bronca em Dimitri.

Mas mesmo estando completamente perdida, eu podia ver que Yulia e Vladmir eram amigos de Dimitri, e ele estava gostando da conversa, mesmo que eu não pudesse participar dela. Portanto, mesmo chateada por estar sendo deixada de fora, suspirei e revirei os olhos.

“Claro, claro,” eu respondi em russo, ganhando duas risadas. Dimitri fez um comentário, e Yulia arregalou os olhos. Ela se inclinou para frente, perguntou alguma coisa que soava ligeiramente como um “por quê”, e quando Dimitri deu sua resposta, os dois ficaram ainda mais surpresos. Eu estava prestes a perguntar o que eles estavam falando quando me chamaram.

"Rose?"

Fiquei surpresa ao me deparar comdos rostos conhecidos e bem vindos: uma mulher Moroi de cabelo louro morango que chegava perto dos trinta, e um dhampir alto e bem constituído que tinha o cabelo já um pouco grisalho.

“Mark, Oksana!” Exclamei, abraçando o casal. “Eu não sabia que estariam aqui”

“Como não estaríamos?” Perguntou Oksana, com um sorriso. Ela era uma usuária de espírito, uma das poucas que eu conhecia. Ao seu lado, seu marido Mark também sorria. Ele era seu shadow-kissed– ele tinha morrido em uma batalha e Oksana o trouxera de volta a vida, criando um laço entre eles. Era o mesmo laço que eu tinha com Lissa antes dele ser quebrado, alguns meses atrás. O relacionamento deles era considerado escandaloso para a maioria dos Moroi, e era por isso que eles mantinham isso mais reservado.

“Nós queríamos te ver novamente,” Mark disse, então inclinou a cabeça na direção de Dimitri. "E é claro, queríamos ver o milagre com os próprios olhos"

“Você fez isso,” Disse Oksana, com o rosto cheio de uma suave admiração. “Você o salvou, depois de tudo. Eu achava que era impossível... mas aqui está a prova viva de que aquilo não era um conto de fadas”

“Essa não era a minha ideia original” comentei. Quando eu decidi vir à Rússia, meuprincipal objetivo era caçar e matar Dimitri, a fim de libertar sua alma do estado obscuro em que ela se encontrava. Até então, eu não sabia que existia outra alternativa.

"Como você conseguiu?" perguntou Mark, visivelmente curioso. Oksana me olhava, esperando também uma resposta. "Quantos... quantos já foram restaurados?"

"Até agora, contando com Dimitri, três Strigoi já foram restaurados" Então eu comecei a dar a eles toda a informação que eu pude. Os dois ficaram surpresos quando eu contei da estaca, que apenas um usuário de espírito poderia acertá-la no coração de um Strigoi para que ele voltasse.

"Como eu não pensei nisso antes!" murmurou Mark. "Mas ainda acho que é arriscado. Espírito te consome, pouco a pouco. E quando você menos espera, acaba se afogando na escuridão. A Corte tem que tomar cuidado com isso, muitos Moroi podem querer explorar esses usuários. É perigoso, por mais milagroso que pareça"

Eu estava prestes a respondê-lo quando notei o olhar de Oksana em mim, me estudando. Ela tinha o cenho franzido. "O que foi?"

"É a sua aura" ela disse,ainda me observando com perplexidade. "Está estranha. Não há mais aquela escuridão rodeando ela. Está tão dourada, como a aura de uma pessoa normal... Eu nunca vi nada disso antes em um shadow-kissed"

"É porque eu não sou mais uma shadow-kissed" Eu sorri. Se ver Dimitri vivo já os tinha chocado, a quebra do meu laço com Lissa era mais assustador ainda. E tão impossível quanto. "Eu acho que vocês ouviram sobre o assassinato da antiga Rainha, certo?"

"Claro que sim!" Oksana parecia incrédula. "Como não saberíamos? Ficamos chocados quando apontaram que você quem tinha matado a Rainha"

Oh, acredite em mim, pensei. Eu tinha ficado mais chocada ainda quando um exército de guardiões apareceu para me prender na cafeteria.

Eu contei a eles sobre como meu laço com Lissa tinha sido quebrado. Ainda doía quando eu me lembrava desse episódio, pois tínhamos acabado de descobrir que tinha sido Tasha Ozera quem tinha assassinado Tatiana. Ela tinha ficado irritada sobre o decreto da idade, em que dhampirs iriam se formar com apenas dezesseis anos. E aproveitou a oportunidade de eu também não ter gostado e ter feito ameaças de morte á Rainha. Parte do motivo de ela ter me escolhido foi que isso deixaria o caminho livre para ela conquistar Dimitri, que ela nunca tinha parado de amar.

Agora ela estava presa, ainda aguardando o julgamento. E embora a ideia de Tasha ser punida pelo o que havia feito me trouxesse um senso de justiça, eu não pude evitar simpatizar com os seus motivos políticos. Suas ações haviam sido completamente extremistas e calculistas? Com certeza. Mas ela tinha feito aquilo, mesmo assim, visando uma mudança na sociedade dos Moroi. Eu não podia negar isso.

Oksana, Mark e eu conversamos um pouco mais sobre o que havia acontecido com Lissa e como isso afetaria suas relações com o espírito – e chegamos a uma conclusão perturbadora sobre o assunto – quando Dimitri se juntou a nós. Aparentemente, Yulia e Vladmir precisaram ir embora cedo.

“Dimitri, Oksana e Mark,” eu os apresentei, e o rosto de Oksana se transformou em uma máscara de interesse. Isso de certa forma me incomodou, mas Dimitri simplesmente sorriu com educação e apertou a mão dos dois.

“Rose me falou sobre vocês,” ele disse.

“Ah, ela também nos falou sobre você,” Mark disse, e Dimitri sorriu. “Incrível o que aconteceu com você. Uma mudança dessa... acho que ainda não caiu a ficha.”

“Me sinto da mesma maneira,” Dimitri disse, o que pareceu quebrar o gelo entre nós quatro. Oksana pareceu sair do seu devaneio – sem duvidas estava martelando em sua mente o que havia acontecido com Dimitri.

“É uma benção,” Oksana disse, segurando uma das mãos de Dimitri. “Assim como o que vocês sentem um pelo outro.”

Dimitri olhou para mim com uma pergunta em seus olhos, como se eu tivesse tido uma conversa entre garotas com Oksana e surtado sobre o nosso relacionamento. Oksana percebeu a duvida nos seus olhos e balançou a cabeça com um sorriso leve em seu rosto, o que pareceu envelhecê-la uns cinco anos. "Qualquer um pode ver isso na aura de vocês. Elas brilham. Um relacionamento tão jovem e já tendo passado por tantas coisas... Elas não podem ficar separadas"

Mark a puxou de volta e passou um braço protetoramente ao redor dela, e percebi que não era exatamente Oksana falando, e sim o espírito. Era a primeira vez que eu via Oksana se comportando dessa maneira, e realmente, ela parecia bem mais estável que a maioria dos usuários de espírito, mas ninguém era imune. Ela poderia ter Mark a ajudando, mas quanto mais do elemento ela usasse, mas efeitos colaterais ela teria. .

“É melhor irmos,” Mark disse, e Oksana assentiu. Troquei um olhar com Dimitri. “Foi ótimo ver vocês dois.”

“Igualmente,” eu disse.

“Rose?” Oksana me chamou quando Dimitri e eu estávamos nos afastando. “Tome cuidado. As sombras não estão só na sua aura.”

Fiquei arrepiada, mas assenti antes de olhar para Dimitri e me afastar dos dois.

Aparentemente, agora que já tinha escurecido, era hora de um outro tipo de festa – o tipo que era famoso por vodka russa. Esta reunião não tinha toda aquela melancolia da anterior, onde eu abri meu coração pela primeira vez desde que Dimitri tinha se tornado um Strigoi. Agora estávamos todos eufóricos e fascinados com o milagre. Tínhamos que comemorar isso. E estar ao lado de Dimitri só tornou as coisas ainda melhores.

Quando Dimitri passou uma mão pela minha cintura, me deu um beijo no rosto, e me puxou para o circulo de pessoas que rapidamente se formava, eu me aconcheguei nele e segui sua direção. Duas pessoas deram a ele copos, e uma garrafa de vodka, e depois de nos sentarmos, ele me passou um dos copos, e o encheu.

“Quem diria que o grande Dimitri Belikov iria me dar bebida alcóolica” eu disse. “Kirova te mataria e te processaria por isso. Ou entraria em coma.”

Dimitri estava dando um gole do seu copo, mas quase cuspiu tudo. Ele riu, e eu não pude deixar de gargalhar junto com ele. A visão dele quase babando toda sua vodka era adorável demais para deixar passar. Ele ergueu seu copo. “E quem diria que a famosa Rose Hathaway estaria hesitando para beber vodka.”

Balancei a cabeça. “Não estou hesitando. Estou, hã... me preparando.”

Ele ergueu um sobrancelha. “Para quê?”

“Para... virar o copo todo de uma vez. Sabe como é,” eu disse, socando seu braço levemente, “vodka russa tem que ser bebida apropriadamente. Esse negócio é tipo combustível para foguete.”

Dimitri ergueu sua sobrancelha ainda mais, se isso fosse possível. Droga, como eu queria aprender a fazer aquilo! “Ok, então. Vamos virar o copo juntos.”

“Você não tem que se socializar com, você sabe... a população inteira de Baia?”

“Isso é medo que estou ouvindo em sua voz, Roza?” provocou.

A verdade era que eu não queria beber vodka russa. Da última vez que eu tinha bebido junto com a família de Dimitri, era porque ele estava morto, e embora eu tivesse percebido que a vodka me ajudou a desabafar e seu gosto melhorou gradativamente, eu não queria uma repetição. Não para ser acordada mais tarde em plena ressaca por chutes de uma velha louca. Sem falar que seria humilhante se eu ficasse bêbada na frente dos Belikov. De novo.

Mas Dimitri sabia muito bem reconhecer hesitação quando via uma. Ele sabia que eu não queria beber por algum outro motivo, e queria me ajudar a superar isso. E provavelmente, era um tipo de ofensa capital recusar vodka russa. Eu conseguia imaginarpessoas morrendo por isso aqui. Estávamos na Sibéria, afinal de contas. Casa dos ursos polares e pinguins.

Tudo isso sem mencionar o fato de que Dimitri adoraria me desafiar. Mas ele, acima de todos, devia saber que nunca era sã apostar contra Rose Hathaway.

“Medo? Só se for medo de te humilhar,” respondi, e sem demorar mais um segundo, virei o copo. Minha garganta queimou, como se alguém estivesse enfiando um ferro quente nela, e meus olhos se encheram de lágrimas. Comecei a tossir, e depois de alguns segundos, olhei para Dimitri e vi que ele estava sorrindo.

“Achei que íamos virar a vodka juntos,” ele disse.

“Nós vamos,” eu retruquei, e ofereci meu copo novamente. Dimitri balançou a cabeça, encheu-o, e depois de compartilharmos um longo olhar, bebemos juntos. Dimitri mal sentiu o efeito da vodka, enquanto eu tossia e tirava lágrimas dos meus olhos como uma pessoa com pneumonia. Mas naquele momento, eu surpreendentemente não me importei. Tínhamos brindado não só pela vodka, mas pela viagem, pelo fato de estarmos juntos... e pelo fato de termos superado todos os desafios que se colocaram no nosso caminho.

A festa voou depois disso. Houve histórias à beira de uma fogueira, risadas, lembranças, abraços – e muita vodka. Dimitri se levantou uma hora e foi até o centro do círculo. Ele então começou a falar com todos os presentes, e embora eu só conseguisse captar algumas palavras, como “luz”, “Strigoi”, e “alma”, entendi o teor do seu discurso. Ele estava falando como havia sido para ele toda essa experiência – e embora ele estivesse revelando tudo isso na frente de toda a comunidade, amanhã não haveria pessoas espalhando fofocas e falando mal dos Belikov. Não... isso aqui era uma família. Nem todos eram próximos de Dimitri, mas eles entendiam o que tinha acontecido com ele, e eles respeitavam isso.

Seu discurso foi breve, e em vários momentos ele captou meu olhar – momentos que ele estava obviamente falando sobre mim, já que várias pessoas se viraram e me olharam também, com um sorriso triste ou com um olhar entendedor. Percebi onde Viktoria e Olena estavam sentadas, as duas completamente concentradas nas palavras de Dimitri, com olhares indecifráveis. Até Yeva estava ouvindo, embora ela tivesse se mantido separada de toda a algazarra e observasse seu neto com concentração. Senti um aperto no coração ao olhar para elas. Agora, eles também eram a minha família.


Quando Dimitri acabou seu discurso, todos estavam emocionados – mas alegres ao mesmo tempo. Ele ofereceu um brinde e todos beberam juntos – a vodka já não queimava mais a minha garganta. Quando ele se sentou ao meu lado de novo, porém, parecia mais leve. Como se um grande peso tivesse sido tirado dos seus ombros. Me inclinei, e me apoiei no seu ombro. Ele colocou um braço ao meu redor, e assim ficamos por um bom tempo.


***

Nosso pequeno momento de paz não durou tanto tampo assim, afinal de contas. Eu estava quase dormindo contra o ombro de Dimitri enquanto uma moça cantava uma música em russo quando Viktoria me chamou. Me levantando – e lutando contra a onda de tontura que quase me tomou – eu fui até onde ela estava, na borda do circulo. Eu devia ter bebido mais vodka do que pensava.

Viktoria não estava sozinha, entretanto. Havia três pessoas com ela – e pelo formato do corpo e musculatura, eu sabia muito bem quem eram. Sob um olhar mais perto, minhas duvidas se confirmaram.

“Rose!” Denis exclamou, rindo. Ele veio até mim e me deu um rápido abraço. “Quanto tempo faz que não nos vimos, hein?”

Abri um sorriso. “Confesso que não estava esperando que vocês aparecessem aqui. Achei que ainda estavam em Novosibirsk.”

“Nunca ficamos em um lugar por mais de um mês” Denis disse. “É perigoso. Não podemos ter nossos padrões de caça identificados.”

“Falou bonito, Denis. Como um caçador de Strigoi.” eu zombei, socando seu braço.

A verdade era que os três realmente eram caçadores de Strigoi, de certo modo. Eles não tinham marcas molnija, nem a marca de graduação, mas sabiam lutar muito bem, e viajavam com o objetivo de matar quantos Strigoi conseguissem. Mark desaprovava essa atitude, ele achava que era suicídio - e eu também concordava em partes. Mas participei de uma caçada com eles brevemente, em Novosibirsk – uma tentativa que acabou sendo bem sucedida em encontrar Dimitri.

Denis revirou os olhos. “A verdade, Rose, é que eu só estava preocupado com você. Todos nós estávamos. Você era uma de nós, e devíamos ter nos encontrado na casa da Tamara, e você sumiu do mapa mais rápido do que conseguiríamos soletrar ‘Strigoi’. O que você acha que pensamos?”

Suspirei. “Desculpe. Fiquei... ocupada com outras coisas.”

Dimitri se mexeu desconfortavelmente ao meu lado. Ele sabia muito bem do que eu estava falando, e sentia culpado – de novo – pelo o que tinha acontecido. Claro, agora nós dois conseguíamos lutar contra isso.

“O que você quer dizer, Rose era uma de vocês?” Ele perguntou, tentando dispersar a tensão. Eu sabia que ele sabia do nosso grupo, pois tínhamos feito um belo estrago na cidade e como ele tinha me rastreado, com certeza me viu na companhia deles.

Denis olhou para Dimitri pela primeira vez. “Não acredito que nos conhecemos.”

“Dimitri Belikov,” Dimitri se introduziu com um tom seco em sua voz, e ele e Denis apertaram mãos.

“Sabe como é, Dimitri. Nós íamos atrás dos Strigoi, lutávamos com ele, Rose os interrogava. Se ele tivesse informações sobre você, ótimo. Se não, o matávamos.”

Denis não melhorou a situação. Ele sabia exatamente quem Dimitri era assim que olhou para ele, mas mesmo assim, ele tinha que provocá-lo. E explicar o que fazíamos em Novosibirsk era como jogar na cara de Dimitri que tinha sido tudo por causa dele. O que não era mentira, mas não dava a Denis o direito de fazer isso.

“Você caçou Strigoi em Novosibirsk com novatos?” Dimitri me perguntou, embora o comentário fosse claramente direcionado a Denis. Em seus olhos, vi algo que não consegui decifrar. Desaprovação?

“Novatos?” Denis disse, ultrajado. “Sabemos usar uma estaca muito bem. Melhor do que a maioria dos guardiões.”

Artur e Lev pareciam igualmente ofendidos, mas eu não os defendi. Eles mereciam, pelo o que tinham dito a Dimitri. “De um jeito ou de outro... formamos um bom time” eu disse, acenando. “Coloquei vocês três nos eixos.”

Artur riu. “Isso já é exagerar, Hathaway. Mas sim, matamos bastante em Novosibirsk”

“Bons tempos,” Denis disse.

“Desculpe se eu não puder concordar com isso,” Dimitri murmurou, ainda olhando para Denis como se ele fosse uma espécie de animal que ele adoraria dissecar. A testosterona estava me sufocando.

“E então, qual é a próxima parada de vocês?” eu perguntei, cruzando os braços e lançando o olhar mais severo que consegui a Dimitri.

“Moscou,” Denis respondeu. Troquei um olhar com Dimitri, dessa vez cheio de preocupação. No nosso tempo em Moscou, não havíamos visto nenhum Strigoi – literalmente.

“Estivemos lá há alguns dias,” Dimitri disse, “e não vimos nenhuma atividade suspeita.”

“Duvido que vocês tenham ido aos bares hardcore de Moscou,” Denis murmurou, olhando para Lev como se estivesse passando uma mensagem mental entre eles. “Aquela pode ser uma cidade violenta. Ouvimos rumores de que há muitos Strigoi perambulando por lá.”

“Cuidado,” eu disse. “Vocês podem ser bons, mas não são imortais.”

“Não como Rose Hathaway, certo? A acusada de matar a Rainha que conseguiu fugir causando um estrago na Corte e deixando a população Moroi morrendo de medo” Denis retrucou. Dimitri imediatamente ficou tenso ao meu lado, sem dúvida achando que ele havia me ofendido de propósito, mas eu conhecia Denis. Seu tom, embora mais sério do que a maioria das pessoas usaria numa situação como essa, demonstrava descontração – talvez pela primeira vez durante a conversa inteira.

Dimitri simplesmente balançou a cabeça e murmurou algo em russo que eu não entendi – algo que provavelmente não era um elogio.

Denis ergueu uma sobrancelha - cara, eu era a única que não conseguia fazer isso? – e murmurou, “Uma boca digna de Rose Hathaway.”

Balancei a cabeça. “Mesmo sem ter dito aquilo, Dimitri ainda seria digno de mim. Agora você... nem xingando em hebraico você conseguiria me ganhar.”

O que provavelmente era uma mentira, já que Denis era atraente, mas Dimitri riu, e tocou meu ombro. “Venha, Rose Hathaway,” ele disse, em tom de zombaria, “Acho que você já teve o bastante por hoje.”

Eu não podia concordar mais. Com as horas passando, a maioria das pessoas já tinha ido embora. Somente os mais próximos da família estavam no circulo, conversando com Olena, Karolina, e até Yeva. Como alguém conseguia manter uma conversa com ela ia além dos meus conhecimentos. Mas Dimitri estava certo. Eu estava exausta.

***

Duas horas depois – e um banho quente que me deixou nas alturas – Dimitri e eu descemos para a sala. Olena havia nos chamado, provavelmente para conversar conosco e ter um pouquinho de tempo familiar. Embora tivéssemos passado a tarde e a noite inteira festejando, não era a mesma coisa que estar aqui, na casa dos Belikov, tomando um ótimo chocolate quente e desfrutando de um prato de biscoitos que Olena tinha preparado de manhã.

Só Viktoria, Olena e Karolina estavam na sala quando chegamos, e depois de nos aconchegarmos, foi como se todo mundo desse um suspiro coletivo. O dia havia sido muito cansativo. “E então... como foi a festa, Dimka?” Viktoria perguntou, se apoiando no braço do sofá.

Dimitri e eu estávamos sentados ao lado dela, e admito, ficar aconchegado contra ele era maravilhoso. “Foi... surpreendentemente bom,” ele respondeu. “Sentia falta deles.”

“Você esteve longe por muito tempo,” Olena comentou. “Não foi fácil para nós.... não deve ter sido fácil para você.”

“E não foi,” Dimitri disse. “Mas algumas coisas me mantiveram fora do tédio,” Olena e Karolina olharam para mim, e eu revirei meus olhos, sorrindo.

“Sim, foi preciso uma força tarefa, camarada,” brinquei. Mesmo entre os Belikov, ficava cada vez mais fácil aceitar meu relacionamento com Dimitri em público, principalmente entre os dhampirs. Eu sentiria falta disso quando voltássemos para a Corte – onde as intrigas dos Moroi com certeza chegariam a nós.

Olena sorriu com as nossas provocações, e se inclinou para frente. “Rose, eu queria lhe perguntar uma coisa. Aqueles três garotos que apareceram aqui, Denis, Lev, e Artur. Eles são famosos na comunidade, mas não sabia que você tinha relações com eles.”

Esse ainda era um assunto... delicado, por assim dizer, portanto tomei extremo cuidado ao responder. “Sim, nós trabalhamos juntos por um tempo.”

A linguagem corporal de Dimitri mudou instantaneamente, e ficou óbvio para mim que ainda íamos conversar sobre o tempo que passei em Novosibirsk com Denis e os meninos. Dimitri não tinha ficado nada feliz quando descobriu que eu tinha ido caçar Strigoi, criaturas mortais e perigosas, com apenas três novatos que nem haviam se formado me dando cobertura.

Eu estava formulando uma forma de quebrar o gelo do ambiente quando a campainha tocou. Fui a primeira a me levantar, embora Karolina também tenha se movido em direção à porta. Nós duas estávamos loucas para fugir da tensão que os meninos trouxeram.

Querendo deixar os quatro sozinhos um pouco, eu disse, “Eu atendo.” E fui em direção à entrada, torcendo para que fosse alguém que soubesse falar inglês.

Um homem de cabelos castanhos escuros, quase pretos, com olhos azuis esverdeados, sorriu para mim quando eu abri a porta. Ele devia ter uns 40 anos, embora parecesse mais jovem. Ao me ver, o cara disse algo em russo que eu não entendi, mas rapidamente mudou para o inglês quando percebeu que eu não entendi o que ele havia dito.

“Olá, minha jovem,” ele disse, sua voz estranhamente profunda para um cara com uma idade um tanto avançada. “Nunca te vi por aqui.”

O comentário foi completamente bizarro, e desconfiei de suas intenções na hora. Por simpático que ele estivesse sendo, seu olhar era frio, e seu sorriso parecia forçado. Coloquei meu próprio sorriso no rosto e respondi o mais educadamente que consegui. “Posso ajudar?”

“Acredito que sim. Estou procurando os Belikov. Tenho quase certeza que eles ainda residem nessa casa, mas, tendo em vista que você veio me dar boas-vindas e nunca a vi aqui antes...”

“Quem quer saber?”

“AndreyDrozdov.” O que a Realeza estava fazendo em uma comunidade de Dhampirs na Sibéria, no meio da noite, eu não tinha ideia. Embora Andreytivesse um ar um tanto perigoso, ele não seria capaz de machucar ninguém, sendo um Moroi. “Seria maravilhoso se eu soubesse seu nome, minha bela dhampir.”

Minha bela dhampir? A Realeza Moroi era bem antiquada em alguns aspectos, mas pelo jeito que Andrey falou comigo, era como se meu próprio avô estivesse ali. Não que eu tenha conhecido ele. Mas mesmo assim.

Eu estava sendo rude mantendo um Moroi fora da casa, e era óbvio que eu teria de deixá-lo entrar em algum ponto da conversa, mas algo me impedia. Eu não tinha um bom pressentimento quanto a Andrey.

“Rose,” eu disse, fazendo uma rápida decisão. Andrey se aproximou e eu imediatamente fiquei em posição defensiva, até perceber como era ridícula essa situação. Até de mãos amarradas eu seria capaz de ganhar de um Moroi Real de 40 anos. Andrey não estava pensando em me atacar, entretanto. Ele pegou minha mão, e a beijou, molhando-a mais do que eu preferiria.

Sem querer ser mal educada, mas sentindo que ele havia passado dos limites, retirei minha mão. “Um prazer,” ele disse. Um fiapo de pensamento começou a entrar na minha mente – me falando de que talvez, deixá-lo entrar e ver os Belikov seria uma ótima idéia.

Isso parecia errado, de alguma forma. Tentei lembrar dos seus olhos frios e sua expressão charmosa demais, mas quando olhei para Andrey de novo, só consegui ver um homem honesto, que queria visitar seus amigos. Não havia mal naquilo... certo?

“Entre, por favor, sr.Drozdov” eu disse, dando espaço para ele entrar na casa.

Olena, Viktoria, e Dimitri pareciam estar conversando sobre algo sem importância quando Andrey e eu irrompemos pela sala de estar. Um clima jovial, e de relaxamento rapidamente se transformou em pura tensão. Dimitri se levantou do sofá e deu um passo na nossa direção, seu rosto se transformando na máscara que eu tanto conhecia – a que ele usava quando havia algum perigo perto de nós.

“Dimka,” Andrey disse.

Dimitri disse algo em russo que soava como uma ameaça. O Moroi balançou a cabeça. “Você ainda não tem modos? A moça aqui não fala russo.”

Eu não sabia o que esse cara era para eles, mas não gostava dele. E de repente, todo aquele charme sumiu, meus olhos se arregalando de surpresa e incredulidade. Não, não havia nada de atraente nele, muito menos simpatia. Sua presença causava desconforto e me fazia ficar em alerta, pronta para atacar. Raiva começou a ferver em mim quando a realidade me atingiu com tudo: ele tinha usando compulsão em mim para entrar. O bastardo conseguiu manipular a minha mente e agora os Belikov estavam irritados.

"Filho da p-"

“O que você está fazendo aqui?” Dimitri perguntou, dessa vez em inglês, sua voz mal contendo a raiva e indignação que sentia. Seu sotaque estava mais forte que o normal. “E fique longe dela,” ele disse, olhando para mim pela primeira vez. Eu teria reclamado se estivéssemos sobre circunstâncias normais – afinal de contas, eu não precisava de um salvador. Mas havia uma história entre Andrey e Dimitri, algo profundo que provavelmente envolvia a família Belikov inteira.

Eu não tinha ideia do que era, mas tinha uma boa sugestão. E ao julgar pelo fato de que ele havia me compelido ligeiramente a deixá-lo entrar, Andrey não era flor que se cheirasse. Rapidamente me afastei dele e me coloquei ao lado de Dimitri.

“Você não devia ter voltado,” Viktoria disse, seu rosto cheio de medo – mas também cheio de ódio.

“Como você pode me falar isso, Viktoria?” Andrey disse, balançando a cabeça e logo depois, encarando Dimitri. “Eu tinha que voltar a ver se os rumores sobre o milagre eram verdadeiros. Eu tinha que ver se meu filho realmente voltou dos mortos.”


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Notas finais do capítulo

Ok, essa ideia do pai dele aparecer foi uma ideia de última hora haha Sempre estive curiosa para saber mais sobre o pai do Dimitri, então decidimos meter ele aí no meio!
Por causa disso a fic provavelmente vai ganhar mais um capítulo, ou um epílogo, ainda não sei. Bom, espero que vocês gostem :3
Laka, espero não ter exagerado no drama! Mas colocar o pai dele aqui foi uma ideia brilhante haha
Se estiver muito dramático, me avisem que eu vou reescrever esse capítulo!!! SÉRIO!
Mais uma vez, obrigada pelos comentários! Estou suuuper feliz em saber que vocês estão gostando da fic *o* Por favor, me falem o que acharam desse capítulo porque acho que exagerei no drama!
- Anita