A Dustland Fairytale escrita por Olivia Hathaway, Laradith


Capítulo 2
II - She says she always knew he'd come around


Notas iniciais do capítulo

Aí o segundo capítulo :) Há várias partes de Homecoming nele, pois só damos uma "complementadinha" hehe. Espero que gostem! Nos vemos lá embaixo!
Ps: https://fbcdn-sphotos-g-a.akamaihd.net/hphotos-ak-prn1/538011_269105853219415_284144355_n.png (foto via Leitoras de Fanfics da Depressão)



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"Outro Honda? Sério?" perguntei, olhando para o carro que seria nosso pelos próximos dias. "Minha vida é um comercial da Honda, só pode."

Dimitri sorriu, mas parecia distraído. O fato de que estávamos cada vez mais perto de sua família estava finalmente pesando nele, e embora eu tentasse melhorar seu humor com piadas, era quase impossível. Ele estava ansioso demais para se importar com um simples carro.

"Vamos passar em um fast-food primeiro," eu disse, entrando no carro. "Estou morrendo de fome."

"Eu presumi," disse ele, ainda sorrindo. Mas dessa vez sem aquela preocupação de antes. "Quando você recusou aquela comida do avião, eu já sabia que teria que parar em algum restaurante aqui para te alimentar."

"Camarada, você se esquece: eu sempre estou com fome. Então de um jeito ou de outro você teria que parar em algum restaurante."

Depois que paramos em um pequeno restaurante - a tradução do lugar estava além da minha capacidade, nós fomos para a estrada. Omsk era uma cidade de porte médio da Sibéria, e de lá nós teríamos que ir de carro por uma estrada de terra para Baia. Estava perto da hora do almoço, e como a viagem para Baia não chegava a durar um dia, estaríamos lá ao anoitecer.

Por mais que eu adorasse cutucar Dimitri com piadas sobre a Sibéria ser como a Antártida e ter ursos polares e pingüins, eu sabia que nada disso era verdade. Quando eu estive nessa mesma estrada no começo do ano com Sydney, a paisagem tinha um visual um tanto miserável, mas ainda sim lindo.A neve dava-lhe esse aspecto, e na época ela ainda não estava totalmente derretida. Agora, mesmo ainda no final do verão, ela estava inteiramente verde e cheia de vida. Era por isso que Dimitri amava aquela terra.

"Acho que eu me ferrei com a coisa toda dos pinguins e gelo" eu falei depois de um tempo. Apontei para a floresta do outro lado da estrada. "Isso aqui não é como a Antártida, é muito mais bonito. Imagino como Baia deve estar linda assim também."

A luz da manhã ressaltou os traços esculturais de seu rosto e iluminou os seus cabelos. Nada podia ser comparado ao brilho que irradiava dele. Dimitri estava quieto, imerso em seus próprios pensamentos, mas eu sabia que ele tinha escutado.

“Faz muito tempo, desde que eu estive em Baia” ele murmurou, seus olhos escuros se perdendo em memórias. “Faz muito tempo desde que eu os vi. Você acha..." ele olhou para mim, pela primeira vez não se importando em esconder o nervosismo. Eu tinha o observado durante toda a viagem de Moscou até aqui, e ele estava sempre usando aquela máscara que quase sempre conseguia esconder suas emoções dos outros. “Você acha que eles vão ficar felizes em me ver?”

Eu apertei a sua mão e senti um pequeno aperto em meu peito. Não era normal ver Dimitri inseguro de alguma coisa. Eu poderia contar nos dedos da minha mão quantas vezes eu o testemunhei realmente vulnerável. Desde que nos conhecemos, ele se destacou como a pessoa mais decidida, confiante e forte que eu já vi. Ele sempre estava em movimento, ajudando os outros e nunca aparentando ter medo de alguma ameaça, mesmo que isso significasse arriscar a sua vida. Por exemplo, se algum monstro sanguinário tivesse surgido na cabine do avião, Dimitri seria o primeiro a atacá-lo calmamente, armado apenas com o seu cartão de embarque. Impossíveis combates não eram problema algum para ele. Mas enfrentar a sua família depois de ter sido um monstro morto-vivo? Sim, isso o assustava.

“É claro que eles vão ficar felizes” eu lhe assegurei, me maravilhando com as mudanças que ocorreram em nosso relacionamento. No começo, eu era apenas uma aluna, precisando conquistar a sua confiança. Então eu me formei, tornando sua companheira e igual. "E eles vão ficar loucos quando te verem, vai ser a maior surpresa de suas vidas. Inferno," eu sorri. "você deveria ter visto a festa que eles fizeram quando pensaram que você estava morto, camarada. Imagine a que irão fazer quando verem que você está vivo!"

Ele deu um de seus raros sorrisos, aquele que me fazia aquecer por dentro. "Vamos esperar por isso" ele disse, voltando a olhar para o retrovisor. "Vamos esperar por isso."

O humor de Dimitri oscilou entre a nostalgia e a ansiedade conforme chegávamos mais perto de Baia. Eu mesma me vi inquieta para chegar logo ao nosso destino. Quanto mais cedo chegássemos, mais cedo ele veria que não havia nada com que se preocupar.

Os dias eram mais longos nessa época do verão, e a noite estava começando a cair quando chegamos em Baia. Strigois raramente se aventuravam entrar lá, mas gostavam de ficar pelos arredores da cidade, perseguindo quem passava pelas estradas. Baia não era uma cidade grande como Omsk e Moscou, muito menos se parecia como uma área rural. Ela tinha uma quantidade razoável de pessoas, o suficiente para não se esbarrar em ninguém por acidente. Havia também um número considerável de dhampirs vivendo aqui. Mas eles não guardavam os Moroi dos Strigoi como Dimitri e eu fazíamos; eles tinham decidido se misturar com a população humana e levar uma vida normal. A família de Dimitri era assim.

O sol dava a Dimitri uma boa visão da casa onde sua família morava. Desligando o carro, ele encostou-se por um tempo, contemplando a antiga construção de dois andares. Os raios vermelhos e dourados a banhavam, dando-lhe uma aparência de algo de outro planeta. Eu me inclinei e beijei a bochecha dele.

"Está tudo bem" falei gentilmente, tentando acalmá-lo. Mas a verdade era que nem eu estava me sentindo calma naquele momento. As palmas das minhas mãos suavam. Era agora o tão esperado momento. O ponto da virada. "Eles vão amar te ver, Dimitri."

Ele permaneceu sentado e em silêncio, imerso em pensamentos. Confrontando seus demônios. Seus olhos se encontraram com os meus, nervosos."Eu não sei como vou fazer isso" disse por fim, com a voz pesada e cheia de sotaque.

Meu coração se apertou. Mais uma vez eu me senti feliz por ele confiar em mim daquela maneira, e que eu era a única que poderia ajudá-lo naquele momento. "Que tal assim: eu os chamo e depois você aparece?"

"Não, vamos juntos"

"Tem certeza?" perguntei, preocupada. Queria ter certeza de que aquela abordagem era boa para ele. “De um modo ou de outro, vou estar ao seu lado.”

Ele hesitou por um momento, mas logo deu um firme aceno com a cabeça, colocando aquela mesma máscara que ele usava quando ia lutar. Nós saímos do carro e caminhamos até ficar de frente para a casa. Uma das janelas estava aberta, e dava para ouvir alguns sons vindo de lá.

Eu me inclinei e beijei a bochecha de Dimitri. "Hora do show, camarada"

Eu bati palma e alguns segundos depois, uma porta se abriu e eu pude ver a silhueta de uma jovem mulher. Ela congelou por um momento, a mão agarrada na maçaneta enquanto seus olhos analisavam seus visitantes. Eu mal tive a chance de formular uma única palavra porque fui cortada pelo grito da irmã caçula de Dimitri, Viktoria Belikova.

"Dimka!"

Se um Strigoi tivesse saltado para fora da casa e atacado, Dimitri teria respondido imediatamente. Mas ao ver sua irmã caçula, seus incríveis reflexos foram surpreendidos, e a ele só restou ficar parado lá enquanto Vikoria lançava seus braços em volta dele e despejava palavras em russo, tão rápido que eu nem ousei tentar acompanhar.

Dimitri levou alguns momentos para se recuperar do choque, mas logo devolveu ferozmente o abraço, respondendo-lhe de volta em russo. Eu fiquei ali, sem jeito, até ela me notar. Com um grito de alegria, ela correu e me deu um abraço tão forte quanto o que ela havia dado em seu irmão. Eu admito. Eu estava quase tão chocada quanto ele. No passado, quando eu e Viktoria nos separamos, não foi muito amigável. Eu tinha deixado claro que não concordava com um envolvimento que ela tinha com certo cara Moroi. E ela se fez igualmente clara que não gostou da minha intromissão, acusando-me de ter sido incapaz de amar seu irmão e de não pertencer àquela família. Parecia que agora tudo estava resolvido entre nós, e embora eu não conseguisse entender uma palavra do que ela me dizia, eu tive a impressão que ela estava grata a mim por ter trazido Dimitri de volta para ela.

"Eu não acredito. Eu não consigo acreditar,"ela disse em um inglês carregado de sotaque, sua voz trêmula. Percebi que ela chorava. "Ele - ele está vivo. E você está aqui! Você voltou!"

Nesse momento, as outras duas irmãs apareceram - Karolina e Sonya, seguidas pela mãe de Dimitri, Olena. Ela congelou por um momento, e a sua mão foi para sua boca enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas assim que ela nos reconheceu. Ela estava igualmente chocada por nos ver ali, na frente da sua casa. As três juntaram-se a Victoria abraçando a mim e a ele. O russo fluía rápido e furioso. Normalmente, uma reunião como esta, na porta de casa, me faria rolar os olhos, mas eu também terminei me rasgando em lágrimas. Aquilo tudo era demais para Dimitri. Era demais para todos nós.

Eu acho que nenhum de nós esperava compartilhar um momento como este. Muito menos depois da trágica notícia que eu tinha lhes trazido na primavera.

A mãe de Dimitri tentava se recuperar, sorrindo, enquanto enxugava as lágrimas dos olhos. “Entrem, entrem,” ela falou, lembrando que eu não entendi russo muito bem. “Vamos sentar e conversar.”

Entre mais sorrisos e lágrimas, nós entramos na casa, passando pela acolhedora sala de estar. Ela permanecia a mesma que eu vi em minha última visita, rodeada por painéis de madeira e prateleiras de livros encadernados em couro e letras encontramos mais um membro da família. Paul, o filho de Karolina, olhava para o tio com fascínio. Ele ainda era muito pequeno quando Dimitri saiu pelo mundo, e tudo que ele sabia sobre o tio vinha das fantásticas histórias contadas. Próximo a Paul, havia um bebê dormindo em um berço, enrolado em um cobertor. Era o bebê de Sonya, eu associei. Ela estava grávida quando eu estive aqui, no último verão.

Eu fiquei o tempo inteiro perto de Dimitri, mas neste momento, eu soube que deveria me afastar um pouco. Ele se sentou no sofá e, rapidamente, Karolina e Sonya sentaram, uma de cada lado, o cercando, como se tivessem medo de que ele fosse embora logo. Viktoria, parecendo irritada por ter perdido um assento, sentou-se no chão, à frente dele, encostando a cabeça em seus joelhos. Ela tinha dezessete anos, apenas um ano a menos que eu, mas vendo-a olhar para o irmão com tanta adoração, tive a impressão que ela era muito mais jovem que isso.

Olena finalmente se aproximou, parecendo um pouco nervosa e esperançosa ao mesmo tempo, os observou, e colocou uma mão no rosto de Dimitri, olhando para o filho. “Isso é um milagre,” ela falou em inglês, com um forte sotaque russo. “Não posso acreditar nisso. Quando eu recebi a noticia, pensei que fosse um engano ou uma mentira.” Ela deu um suspiro feliz. “Mas aqui está você. Vivo. O mesmo.”

“O mesmo” Dimitri confirmou. “Quando te deram a noticia?”

“Logo depois que confirmaram que você realmente era um dhampir. Eles... não queriam me dar falsas esperanças, eu acho.”

“Então, a mentira foi a primeira possibilidade quando recebemos a ligação” Karolina fez uma pausa, com o cenho franzido carregando em suas belas feições. Ela parecia escolher cuidadosamente as palavras. “Então, foi tudo um engano? Você não era realmente... verdadeiramente um Strigoi?”

Essa última palavra pairou no ar por um momento, fazendo uma brisa fria soprar naquela noite de verão. Minha respiração ficou suspensa, durante o tempo de uma batida de coração. De repente, meus pensamentos foram para outro lugar, não muito longe dali, eu estava presa em uma casa diferente, com um Dimitri muito diferente. Sua pele era branca como giz e seus olhos tinham anéis vermelhos em volta da íris. Sua força e velocidade superavam e muito a que ele tinha agora, e ele usava essas habilidades para caçar vitimas e beber o seu sangue. Ele era terrível – e quase havia me matado também.

Poucos segundos depois, comecei a respirar novamente. Aquele terrível Dimitri tinha ido embora. E este – quente, amoroso, vivo, estava diante de mim agora. No entanto, antes de responder, os olhos escuros dele encontraram os meus. Naquele momento, eu soube que ele havia pensado as mesmas coisas que eu. O passado era uma coisa terrível, difícil de ser esquecido.

“Não” ele disse. “Eu fui um Strigoi. Eu fui um deles. Eu fiz... coisas terríveis.” As suas palavras eram leves, mas seu tom era carregado de tormento. As expressões hesitantes dos membros da sua família se tornaram sóbrias. “Eu estava perdido. Não havia esperança para mim. Exceto... por Rose. Ela acreditou em mim e nunca desistiu.”

“Então... Rose te salvou?” Viktoria perguntou, olhando para Dimitri e depois para mim com um expressão indecifrável em seu rosto.

Novamente, minha respiração ficou suspensa no ar. Eu tinha medo da resposta de Dimitri. Mesmo depois de tudo que havíamos passado, eu não sabia como reagiria se Dimitri dissesse a família dele que foi Lissa, e não eu, que o salvei.

“Sim,” ele respondeu, olhando para mim, e em seus olhos, vi uma gratidão que muitas vezes havia me surpreendido. “Rose me salvou da escuridão. Daquele estado... sem alma, sem vida. Ela e Lissa, sua amiga, foram as responsáveis por me trazer de volta.”

Como um só, todos os Belikov olharam para mim, seus olhos idênticos cheios com tamanha gratidão que senti lágrimas surgirem nos meus. Abaixei o olhar, constrangida pelo momento íntimo.

Olena deu um passo à frente, para perto de mim, e colocou a mão carinhosamente no meu rosto exatamente como havia feito com Dimitri, dessa vez, levantando-o. “Nunca abaixe seu rosto na minha presença, Rose. Nunca vou esquecer do que fez. Você trouxe meu filho de volta para mim. Antes, você já tinha o meu amor, mas agora, você ganhou minha gratidão.”

Duas lágrimas traiçoeiras caíram dos meus olhos, mas não me preocupei em limpá-las. Uma rápida olhada na direção de Dimitri me revelou que ele também estava com os olhos cheios de lágrimas, e olhava para nós com uma mistura de felicidade e amor. Olena beijou minha bochecha, e estava prestes e dizer algo mais quando uma voz carregada pela idade ecoou pela sala.

“Então, aconteceu exatamente como eu previ.”

Todos nós olhamos para a mulher que apareceu de repente da porta. Ela era bem mais baixa do que eu, mas sua personalidade era tão grande que podia encher todo o ambiente. Ela era Yeva, a avó de Dimitri. Pequena e com aparência frágil, com cabelos castanhos grisalhos e profundos olhos castanhos que poderiam te incinerar apenas com um olhar, era considerada por todos como uma espécie de uma sábia ou bruxa. Tentei pensar em uma palavra diferente para definir Yeva, mas somente “bruxa” me vinha à mente.

“Como assim, como você previa?” perguntei, me sentindo irritada.

Yeva me ignorou, e andou até a sala de estar, mas Dimitri foi até ela, a encontrando no meio do caminho. Ele cuidadosamente a abraçou, murmurando algo, que acho que era em russo, pois eu só consegui entender a palavra “vovó”. A diferente de altura entre eles era insana e seria engraçada, em outras circunstâncias.

Depois do abraço, Yeva colocou uma mão no ombro de Dimitri – tendo que esticar todo o braço – e finalmente olhou para mim. “Você fez bem, Rose.”

Acho que fiquei parada por alguns segundos, simplesmente olhando para ela. Yeva, me elogiando? Isso era tão comum quanto a realeza Moroi convidar os Strigoi para um pouco de chá à tarde – ou seja, nunca acontecia.

“Obrigada... eu acho.” Respondi. “O que você quis dizer com ‘como eu previ’? Tudo que me disse foi que eu precisava ir embora daqui, para fazer ‘alguma outra coisa’”

Yeva suspirou, e, apoiada no braço de Dimitri, sentou no lugar de Karolina, que havia levantando do sofá. “Exatamente. Você precisava ir restaurar o meu Dimka.”

Eu estava completamente confusa. Yeva havia tido uma visão e simplesmente não tinha me dito nada? “Mas... por quê não me avisou que eu o encontraria? Você tem idéia do que eu tive que fazer para saber como transformá-lo de volta?” Dimitri se mexeu, inquieto, e meus pensamentos voaram para Victor Dashkov. Eu tive que libertar um dos criminosos mais perigosos da Corte, simplesmente para consegui informação sobre o espírito. Um aviso de Yeva teria bastado. Algo como “ei, Rose, tem algo a ver com o espírito, ok? Encante uma estaca, e seu problema estará resolvido.”

“Por quê você não avisa a uma pessoa que ela vai morrer atropelada?” Yeva deixou a pergunta no ar por uns segundos, e quando viu que ninguém estava disposto a responde-la, suspirou de novo. “Porque se você o fizer, ela vai sair do caminho que foi destinado a ela. Seu caminho, menina, era encontrar o meu Dimka, sofrer exatamente tudo que sofreu, e depois salvá-lo”

“Então isso estava no meu destino?” A idéia era tão ridícula que eu mal conseguia entendê-la.

Dimitri olhou para mim como se quisesse dizer: Rose, esqueça isso. Mas eu não estava brava com Yeva – pelo menos, não tanto assim. E pelo o que me disseram, e pelo o que eu presenciei nas semanas que fiquei com os Belikov, Yeva não era o tipo de mulher da qual se podia tirar satisfação. Eu começar uma briga com ela não resultaria em nada a não ser uma grande falta de respeito com a família, e muita dor de cabeça.

“Sempre esteve no seu destino. Ou você realmente acha que uma diferença de idade e o fato dele ter sido seu mentor era o único obstáculo na frente de vocês? Um amor assim...” ela pausou, pensativa. “Emoções explosivas e duradouras... sempre vem com um preço. E vocês acabaram de pagá-lo.”

Senti um arrepio descendo pela minha espinha. Saber que Dimitri sempre esteve destinado a ser um Strigoi – por mais absurda que essa teoria parecesse – me fez pensar se todo o resto também teria acontecido conforme alguma vontade louca do universo. A soltura de Victor, a coroação de Lissa...

Eu não sabia como uma peça de xadrez se sentia, mas imaginei que não muito bem, levando em consideração o que eu estava sentindo agora.

“Mas como isso aconteceu?” Sonya perguntou, acabando com os meus devaneios, como se navegasse em águas perigosas. “Quero dizer, como você voltou a ser um dhampir?”

Eu e Dimitri nos olhamos novamente, mas a sua alegria havia indo embora.

“O espírito,” ele disse calmamente.

Isso fez com que a respiração das suas irmãs se alterasse.

“Minha amiga, Lissa, sendo uma usuária do espírito, o golpeou com uma estaca de prata encantada” falei.

Ao mesmo tempo em que eu me sentia feliz por relembrar aquilo, a imagem dele sendo acertado no coração por uma estaca ainda era um problema para mim. Até o último momento, nenhum de nós sabia se aquilo o mataria ou não.

Paul arregalou os olhos. Ele tinha ficado muito quieto, até então. “Você quer dizer, a Rainha Vasilisa?”

“Oh, sim” respondi. “Ela mesma.”

Isso causou expressões de surpresa entre a família, e embora eu entendesse a reação, ainda era estranho lembrar que a minha melhor amiga desde o jardim de infância era agora a rainha que governava todos os Moroi do mundo.

Eu e os Belikov ficamos até tarde conversando. Tinham muitas perguntas para serem respondidas, até mesmo de antes de ele ter sido transformado à força em um Strigoi. Dimitri esteve longe de casa por um bom tempo. Ele continuou tentando saber o que tinha acontecido à sua família nestes últimos anos, mas eles ignoravam suas perguntas, considerando as experiências dele mais importante. Ele era o milagre. E eles não conseguiam obter o suficiente dele.

Eu sabia bem o que era isso.

Quando Paul e sua irmã pegaram no sono, percebi que já era hora de irmos para a cama também. Amanhã seria um grande dia.

Quando entramos no nosso quarto – sob insistência de Olena – Dimitri sentou-se à beira da cama, colocou a cabeça entre as mãos e murmurou algo em russo. Eu não conseguia entender exatamente o que ele falava, mas podia dizer que era algo do tipo, “no que eu fui me meter?”

Parte de sua reação poderia ser explicada com o fato de que amanhã, quase metade de Baia viria nos ver. Olena havia explicado – para o nosso desespero – que para o pequeno vilarejo, Dimitri era um milagre que andava e respirava. Boa parte da população havia ficado estupefata quando rumores de que um Strigoi havia sido transformado de volta a dhampir chegaram aos seus ouvidos por fofocas locais, mas agora, que a prova viva estava bem ali, ao seu alcance? Eles queriam ver Dimitri por si sós.

Fui até Dimitri, sentei em seu colo e passei os braços pelo seu pescoço, para que pudesse encará-lo. “Por que tanta tristeza, Camarada?”

“Você sabe porque,” ele respondeu, brincando um uma mecha do meu cabelo. “Eu vou ter que continuar falando sobre... aquele período.”

Eu senti uma ternura queimando em mim. Eu sabia que ele se sentia culpado pelo que tinha feito quando era um Strigoi, e que apenas recentemente conseguiu admitir que não podia ser responsabilizado por aqueles seus atos. Ele tinha sido transformado contra a sua vontade por outro Strigoi, e não podia controlar a si mesmo. Ainda assim, ainda era difícil ele aceitar isso.

“É verdade” eu disse. “Mas eles só vão falar sobre isso para desvendar o restante da história. Ninguém vai se concentrar nos seus atos como Strigoi. Eles vão querer saber como você voltou. Sobre o milagre. Eu vi estas pessoas no inicio do ano. Eles lamentaram por você estar morto. Agora eles vão querer comemorar por você estar vivo. O foco deve estar aí.” Eu beijei seus lábios com força. “Esta é, com certeza, minha parte favorita da história.”

Ele me puxou para mais perto dele. “A minha parte favorita da historia foi quando você me golpeou, chamando o meu bom senso de volta, me fazendo parar de sentir pena de mim mesmo.”

“Golpeei? Não é exatamente disso que eu me lembro” Para ser honesta, eu e Dimitri tínhamos nos batido e nos chutado muitas vezes, no passado. Isso era inevitável ao rigoroso treinamento que os guardiões recebiam. Mas com ele tentando superar seus dias como Strigoi... bem, eu tive que abrir mão dessas brigas e da minha maneira de argumentar, deixando que ele curasse a si mesmo. Ou bem, também tivemos incidentes envolvendo quartos de hotel e remoções de roupas, mas eu não acho que tenha sido tão fundamental para esse processo de cura.

Mesmo assim, quando Dimitri caiu para trás e me fez deitar na cama com ele, eu tive a sensação de que aquela memória, em especial, também estava fresca em sua mente.“Talvez você possa me ajudar a lembrar” ele disse diplomaticamente.

“Lembrar, hum?” Envolvida em seus braços, eu lancei um olhar preocupado para a porta. “Eu me sinto estranha por estarmos em um quarto dentro da casa da sua mãe! É como se estivéssemos escondendo algo.”

Ele segurou meu rosto entre suas mãos. “Eles são muito mente aberta” disse ele.

“Além disso, depois de tudo pelo que passamos, é meio como se já estivéssemos casados. A maioria deles já pensa assim.”

“Eu também tenho essa impressão” eu admiti. “Quando eu estava no serviço do seu memorial, a maioria dos dhampir me tratou como se eu fosse a sua viúva. Os relacionamentos dos dhampir não se prendem a convenções”

“Não é uma má idéia” ele brincou.

Eu tentei lhe dar uma cotovelada, mas era difícil, considerando o quão entrelaçados nós estávamos.

“Não. Não comece, camarada.” Eu amava Dimitri mais do que a qualquer outra coisa, mas eu já tinha deixado bem claro de que não queria me casar com ele antes que existisse um “2” no início da minha idade. Ele era sete anos mais velho do que eu, então a ideia de casamento soava razoável para ele. Para mim, mesmo que não houvesse mais ninguém que eu quisesse, dezoito anos ainda era muito jovem para me tornar uma mulher casada.

“Você diz isso agora” ele falou, tentando não sorrir. “Mas qualquer hora dessas, você vai ceder.”

“De jeito nenhum” eu disse. Seus dedos correram pelo contorno do meu pescoço, fazendo minha pele aquecer. “Você já deu alguns argumentos bastante convincentes, mas ainda precisa percorrer um longo caminho para poder me fazer mudar de idéia”

“Eu nem sequer realmente tentei,” ele respondeu com uma rara arrogância. “Quando eu quero, eu posso ser muito persuasivo.”

“Pode? Então, prove.”

Seus lábios se moveram na direção dos meus. “Eu estava esperando que você falasse isso.”

***

Quando Dimitri e eu descemos para o café da manhã - isso foi um pouco tarde, pois ainda não tínhamos nos acostumados com o fuso-horário- , a cozinha dos Belikov já estava funcionando a todo vapor, enchendo a casa com deliciosos aromas. Confesso que a culinária russa não era a minha preferida, mas não teve pratos – especialmente os preparados por Olena - que eu não tivesse aprendido a gostar. Ela e suas filhas cozinhavam enormes quantidades de tudo, e eu sabia que mais tarde os convidados iriam aparecer com mais comida.

"Vocês estão com fome?" perguntou ela, deixando uma colher de pau na pia. Ela apontou para um cesto que tinha alguns embrulhos. "Tem pão ali, junto com alguns biscoitos. Rose, se você quiser manteiga, tem na geladeira. Fique a vontade."

"Você precisa de ajuda com alguma coisa, mama?" perguntou Dimitri, indo até ela dar um beijo de bom dia.

"Eu preciso que alguém vá ao mercado comprar alguns ingredientes," ela entregou a ele uma folha de papel na mesma hora em que Viktoria entrou na cozinha. Seu cabelo castanho com mechas estava preso em um rabo de cavalo.

"Não, deixa que eu vou," ela disse, pegando a lista da mão de Dimitri. Seus olhos encontraram com os meus. "Você vem comigo, Rose?"

Dimitri estava prestes a protestar quando Viktoria lançou-lhe um olhar de advertência. "Vovó disse que era pra você estar consertando aquela mesa. Ou seja, eu vou no mercado."

Era engraçado ver os dois irmãos interagindo, especialmente quando tinham um temperamento um tanto parecido. Dimitri poderia ser perigoso e quase sempre estar no controle das coisas, mas neste momento era a sua irmã caçula de 17 anos que gritava as ordens. E ele não retrucou.

Eu comi rapidamente e fui com ela. Nós mal tínhamos atravessado a rua quando ela falou.

"Rose," eu sabia exatamente o que ela queria me falar. Era apenas uma questão de tempo para que tivéssemos essa conversa. "Eu queria me desculpar pelo jeito que te tratei naquela noite. Não deveria ter dito todas aquelas coisas horríveis que disse-"

"Viktoria-" eu comecei, me sentindo desconfortável com o rum que a conversa levava. Mas ela me cortou.

"Não, deixa eu falar. Eu fui uma vaca com você!" exclamou ela, frustrada. "Disse que você não amava o meu irmão e não se importava com ele, mas era mentira. Você o ama de verdade. Eu vejo isso. Você arriscou o seu futuro, saiu da escola e viajou até aqui para caçá-lo e eu nem sabia disso! Eu apenas te desprezei e deixei as coisas ainda mais complicadas para você. Se eu soubesse o que você estava passando e que estava me fazendo enxergar a verdade, eu juro que não teria dito aquilo!"

"Não há nada para perdoar. Você não tinha culpa. Estava apaixonada e confusa, suas emoções tomaram o controle," falei, tocando seu braço. "É perfeitamente normal isso. E eu também não ajudei muito naquela noite dizendo tudo aquilo" nem Abe, quando fez seu guardião arrastá-la para fora daquele jeito. Bem, aquela era a única maneira para impedi-la de ser mais um troféu para Rolan.

"E você tinha razão sobre o bebê da Sonya," confessou. "Depois que você partiu, ela me contou que Rolan realmente era o pai. Eu fiquei tão chocada e envergonhada que não sabia onde enfiar a cabeça. Precisava arrumar uma maneira de me desculpar, mas eu sabia que era tarde demais. E quando Denis nos contou que você estava procurando pelo meu irmão em Novosibirsk antes de desaparecer ..." ela engoliu em seco e baixou os olhos "eu queria morrer. A culpa me queimava por dentro, porque eu realmente soube que você amava Dimitri mais do que qualquer coisa nesse mundo. Você estava indo libertá-lo daquele estado, estava arriscando a sua vida e se destruindo por isso. E eu duvidei de tudo isso."

"Não há nada para perdoar,” eu repeti, tentando desesperadamente fazê-la parar de se sentir daquele jeito. Aqueles olhos castanhos, tão parecidos com os de Dimitri me encaravam abatidos, me lembrando de como os dele tinham me olhado assim quando ele ainda se culpava por seu passado como Strigoi. Ele estava se punindo. E ela estava fazendo isso agora. E eu não podia deixar isso continuar a afetá-la. "Pare de remoer isso. São águas passadas. Nós estamos todos aqui, reunidos. Vivos. É isso o que importa no final das contas."

Por mais que eu tivesse ficado irritada com todas aquelas coisas que ela tinha dito no passado, especialmente sobre meu amor por Dimitri, eu a tinha perdoado no momento em que ela disse todas aquelas palavras. E eu falava sério.

"Obrigada," ela disse, seu rosto agora tomado por puro alívio. E quando eu menos esperava, ela me puxou para um abraço apertado e enterrou sua cabeça no meu ombro. "Obrigada, Rose. Eu quero que saiba que eu ainda te considero minha irmã - sempre considerei, na verdade. E eu estou tão feliz por você estar aqui!"

Eu apenas retribui o abraço. "Eu também estou feliz por estar aqui."


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a todos que comentaram e leram A Dustland Fairytale. Postamos só o primeiro capítulo, e já tivemos 16 leitores. Muito obrigada! ^.^ Não esperávamos tudo aquilo com somente o começo da fic. É ótimo saber que a dosagem de Romitri foi certa e direto ao ponto, hehe.
O que vocês acharam do reencontro da família Belikov? Foi como vocês imaginavam? Tentamos colocar a mesma estrutura que a Richelle usou no conto, mas sem aquela briga da Rose com a Yeva, e com bem mais emoção - algo que achamos que faltou em Homecoming ;)
Enfim... Comentem, e mandem sugestões sobre momentos entre o Dimitri e a Rose, e entre a família Belikov.!
E lembrem-se, leitores fantasmas, nós não mordemos! Haha ♥
- Laradith