Hannah

– Acho que já chega de vodka, Hannah. – uma voz grossa e conhecida disse retirando o copo com o liquido transparente, de minhas mãos.

– Ora, vamos! Isso é uma festa ou o quê? – falei ainda sem reconhecer quem estava falando.

– Uma festa que para você, acaba agora. – a pessoa continuou e me senti sendo carregada.

– Me põe no chão. – falei tentando me debater, coisa típica de bêbada.

O som entorpecente da música ao fundo, ia ficando mais baixo, até que praticamente sumiu.

De braços quentes, fui passada para um colchão macio e gelado.

Provavelmente pensando que era um travesseiro, puxei a pessoa e a abracei com braços e pernas.

Ouvi um riso abafado.

– Me desculpe Hannah, mas tenho que ir. – a voz disse.

Resmunguei e a abracei mais forte.

– Hoje eu ainda terei de trabalhar, Hannah. – a pessoa disse e finalmente se desvencilhou de meus braços.

A última coisa que ouvi foi passos abafados, misturados com o som baixo da música que entrava pela porta.

Cassie

Eu estava dançando no meio da multidão, quando de repente, acontece um apagão.

Não me lembro se foi um blecaute, ou se eu estava muito bêbada e acabei caindo desacordada no chão.

Fico meio louca em festas, sabe. Não sei se aprendi isso com Hannah, ou sempre fui assim no meu íntimo.

Talvez isso seja uma espécie de reflexo, uma vez que minha família toda fica louca quando joga truco. É sempre ‘TRUCO’, ‘6’ e aqueles outros números da ordem que a dor de cabeça não me deixava lembrar.

Só sei que acordei em minha cama, com o infeliz do despertador soando ao meu lado e uma dor de cabeça terrível, que atacava com tudo o meu cérebro.

Para que inventaram o despertador? Devia ser proibido por alguma lei da saúde, devíamos ter de acordar naturalmente para nenhum problema futuro em nosso sistema imunológico.

Agora pareci até Hannah em seus momentos medicina.

Bati a mão do despertador, que depois de algum tempo, desligou.

Eu estava atrasada, mas somente depois de um tempo fui perceber isso.

Tomei um banho muito rápido, peteei meu cabelo de qualquer jeito, coloquei a melhor roupa que vi e sai correndo.

Fui parada com a imagem de uma Hannah descabelada, com a cabeça enterrada no sofá e o traseiro para cima.

– Tira essa porcaria de cinto que eu já te mandei jogar fora. – ela disse sem ao menos se virar para ver minha roupa.

As vezes me pergunto como ela faz isso. Será que ela me conhece tão bem a ponto de saber exatamente as roupas que visto, ou será que ela é uma ninja da mente? Não sei.

Adentrei meu Porche, e como sempre acontece quando estamos atrasados, o trânsito de cinquenta anos, decidiu voltar em um dia.

Cheguei na Agier (que claro, ganhou esse nome depois que meus pais a compraram da família Wickiher), e estacionei meu carro na vaga onde um placa bem grande deixava claro que me pertencia.

Corri o máximo que pude, entre vômitos e com aqueles saltos medíocres.

– Cassie Agier, você está muito atrasada. – a voz de minha investidora, Line Lockwood, ressoou pelo espaço da sala de reuniões.

Line Lockwood. Sinceramente, não sei sua história. Sério mesmo.

Sei lá, ela não é minha chefe nem nada, mas tenho que a respeitar muito se quiser dinheiro para investir nos projetos. Não que ela seja uma pessoa ruim, mas para uma garota de 25 anos, ela tem um gênio péssimo.

Hannah

Depois do pesadelo que tive com o cinto de Cassie, acordei novamente, com o despertador.

Bati e o derrubei no chão, mas ele não parou.

Calmamente (maniacamente, diga-se de passagem), levantei e levei o despertador que ainda buzinava em meu ouvido, até a janela.

– Suas últimas palavras? – perguntei para o despertador, que como resposta me deu um ‘bip bip’.

E o soltei janela abaixo.

Plaft. E ele cai sobre um carro.

Quando vi o estrago que o despertador fez, sai correndo para longe da janela.

Como estava atrasada mesmo, tomei um banho calmo, e demorei o costumeiro tempo para escolher uma roupa.

Cara, eu precisava de mais roupas.

Entrei em minha Hilux preta, coloquei os óculos de sol, e dirigi calmamente até a I.N.C, onde sabia que iria ouvir muito.

– Boa tarde, Juan. – falei para o segurança.

– É Henderson, senhora. – ele me respondeu.

– É, Henderson. – me martirizei mentalmente.

O arranha-céu era totalmente da I.N.C, contendo uma seção por andar. O meu era o último, já que como diz mamãe, o cosmos me ama.

– Boa tarde, falei a todos os meus estagiários, que encontravam-se de bocas abertas com o meu atraso.

– Hannah, você endoidou de vez? – Tyler, que se sentava na mesa à frente, perguntou.

– Ainda não, Tyler. – respondi entediada.

– Pois eu acho que sim. Esqueceu que hoje Alan estaria aqui? – ele disse como se não fosse óbvio.

– Hoje? Não, mas é só no dia quatro ... – olhei no celular. – Que por um acaso é hoje.

– Ele já está te esperando na sala de reuniões. – Ty alertou.

– Obrigado. Estou indo. – respondi e me levantei novamente.

Tyler Willians é o tipo de pessoa que você tem a primeira impressão errada. Juro que achava que ele era gay quando começou a fazer o estágio. Pensei que era mais um desperdício da natureza.

Um ótimo desenhista, Ty é o cara perfeito. Só que não para mim.

Ele galanteia tanto a mim quanto a todas as outras garotas do estúdio, mas viramos somente amigos. Melhores amigos.

Depois de Cassie, ele é com toda a certeza meu melhor amigo.

No auge de seus 23 anos, ele é com certeza o pretendente que todas as garotas querem.

Andei mais um pouco pelos corredores, até chegar na sala onde Alan me esperava.

– Sr. Ackerman?- disse duvidosa se deveria entrar ou não.

– Hannah, entre. – ele disse. – Precisamos conversar sobre algumas coisas.