Cassie

– HANNAH! – gritei de cima do sofá.

– O que foi agora, Cassie? Outra joaninha? - Hannah perguntou com deboche.

– UMA ARANHA! – gritei.

Hannah tem horrores por aranhas. Talvez seja a única coisa que ela realmente tem medo.

Eu também estava apavorada, mas não iria perder a chance de ver a carinha de pânico dela.

Hannah paralisou ao ver aquele bicho peludo no chão, e quando retomou a consciência, começou a gritar e prontamente pulou para o sofá.

– SOCORRO! – ela gritava. – ESSE BICHO VAI ME COMER!

Em mais alguns minutos de uma sinfonia de gritos estrelada pela dupla Cassie e Hannah, arrombam nossa porta e um rapaz alto e musculoso surge com um pé-de-cabra em mãos:

– Onde está a ratazana? – ele perguntou ofegante.

– É uma aranha, não uma ratazana. – eu disse.

Ele olhou para a aranha no chão e falou:

– Verusca? O que está fazendo ai, sua danada! – o homem disse.

– MATA, MATA, MATA! – Hannah continuou a gritar.

– Calma, esse é a minha aranha de estimação, a Verusca. – ele disse pegando a aranha.

– POR QUE EM SÃ CONSCIÊNCIA, UMA PESSOA ADOTA UMA TARANTULA MAIOR QUE A MINHA MÃO, COMO BICHO DE ESTIMAÇÃO? – Hannah gritou nervosa.

– E olha que ela tem a mão grande ... – murmurei e Hannah me jogou no chão.

– De qualquer modo – Hannah disse descendo do sofá, e ficando a distancia segura do homem – quem é você?

– Derews. Derews Johnn. – ele disse estendendo a mão para Hannah, que ignorou, uma vez que ele ainda segurava a aranha.

– Der o quê? – perguntei sem conseguir pronunciar o nome do rapaz.

– Derews. – ele repetiu.

Tentei pronunciar o nome dele mentalmente, mas mesmo assim não consegui. Vai ser eternamente Der.

– Posso te chamar de Der? – perguntei.

– Ah ... pode. – ele respondeu incerto.

– Deeeeer. – Hannah zombou, mas Der não intendeu.

– Desde quando você mora aqui? – perguntei.

– Me mudei há alguns meses para o apartamento ao lado, mas nunca vi vocês por aqui. – ele explicou.

– Hum. – muxoxei.

– Que legal. – Hannah disse. – Mas agora, se não se importa, tenho que tentar colocar minha porta no lugar, porque sua aranha invadiu minha casa.

– A propósito, vamos dar uma festa daqui a duas horas, se quiser vir ... – falei.

– Então ... até mais. – Der falou e se foi.

Olhei para Hannah, e sabendo que ela pesava em deeer ainda, dei risada.

Risada não, gargalhada. Um ataque, como geralmente acontece.

– O que você pensa em fazer a respeito da porta? – perguntei.

– Sabe aquela maleta de ferramentas que meu pai me deu quando nos mudamos para cá? - Hannah perguntou retoricamente. – Pois é, vou estreiá-la agora.

Hannah

Sério mesmo que o eu vizinho do lado tem uma aranha? Uma T-A-R-A-N-T-U-L-A.

Calma Hannah, respira para não mutilar aquele ser. Enfim, acabei tendo que usar minha noite para concertar uma porta. E justo na noite em que programamos a festa.

Quando comecei a parafusar aquela porcaria útil que chamamos de madeira moldada, de dez em dez minutos chegava alguma coisa para a festa: se não era cerveja era amarula; se não era amarula era vodka; se não era vodka eram os canapés; se não eram os canapés eram os brigadeiros importados; se não eram brigadeiros eram copos e assim foi.

Quando finalmente coloquei o último parafuso, faltavam 15 minutos para que os convidados chegassem, e eu ainda estava suada, vestindo um blusão e um shorts.

Cassie já estava pronta, então, enquanto ela mudava o layout* da casa (com aqueles controles universais), fui tomar banho e me arrumar. Tudo em quinze minutos, porque o ‘cosmos’, como diz minha mãe, acha que eu sou o The Flash.

Terminei meu banho, e coloquei uma roupa até simples para uma festa à noite.

Quando cheguei à sala, já tinha um considerável numero de pessoas.

Identifiquei três dos meus estagiários, Tyler Willians; Mini Allard e Jade Marin. Vi também nossos vizinhos, o Derews Johnn ; Carolina Ioshua e a insuportável Anabelle Willians (que por incrível que seja a força da coincidência, ela é irmã de Tyler).

Meu chefe (não sou a mais importante na I.N.C), Alan Ackerman, também estava presente.

Tinha mais algumas pessoas que não conheço muito, como a estágiaria de Cassie e uns outros vizinhos ai.

– Finalmente Hannah! – Cassie disse puxando-me pelo braço. – Já estava ficando louca com os convidados perguntando se podem trazer acompanhantes.

– Cassie, regra básica: nossas festas são exclusivas. Imagine se todos pudessem trazer acompanhantes? – expliquei, tentando soar mais alto que o som de She Wolf.

– Bem que dizem que nossas festas são lendárias; sinceramente, não sei porque. – Cassie falou pensativa e eu revirei os olhos.

De repente, Cassie saiu de perto de mim e pegou um microfone com o DJ:

– Pessoal, a Hannah finalmente chegou! – ela disse e todos gritaram um ‘uhu’ olhando em minha direção.

Eu posso ser muito louca, mais muito louca. Mas também sou um pouco tímida com essas coisas.

Por algum motivo, a luz refletiu diretamente na face de Alan, e cara, olhar para o meu chefe me deixou mais encabulada ainda.

– Discurso! Discurso! – todos começaram a gritar, seguindo Cassie.

– Obrigada, Cassie. – murmurei sarcástica e peguei o microfone. – Então ... ah ... É FESTAAAA! – gritei pegando o copo de vodka do DJ e virando, ouvindo todos gritarem ‘uhu’ novamente.

E, cara, se você me imagina bêbada e presa, multiplique esse pensamento por Cassie.

Cassie

– Handerson, manda mais uma rodada de Heineken ai! – pedi.

– É Juan, senhora, Juan. – o barman corrigiu, colocando mais duas garrafas de cerveja para mim e Hannah.

– Me desculpe, Dom Juan, Handerson é o faxineiro ali. – apontei para uma pessoa que parecia estar vomitando.

– Cassie, acho que a Ann esta pensando que o vomito da Beatrice é uma piscina. – Hannah falou gargalhando.

– Hannah, você tá bem? – perguntei tentando fazer uma cara séria, que foi totalmente em vão.

– Senhoras, acho melhor darem uma trégua para a bebida. – o barman disse.

– Oo Joãozinho ...

– Juan.

– Tanto faz. – Hannah continuou. – Temos 24 anos, acho que sabemos nos cuidar. – ela completou e voltou a rir.

Só lembro que minha barriga doía muito, de tanto rir. E quando a campainha tocou, tudo piorou.

Eu e Hannah fomos cambaleando até a porta, com as garrafas de cerveja em mãos:

– Boa noite, sou a Sra. Thandgeas, e me mudei há pouco menos de uma semana para cá, e sabendo que não me conhecem ainda, vim pedir pacificamente que abaixem o volume da música. – uma senhora com cara de buldogue velho disse enquanto eu ria.

– Desculpe, não ouvi nada depois do ‘tem giz’. – respondi.

– Esse é mesmo seu nome? – Hannah perguntou. – TemGiz?

– Thandgeas, Sra. Thandgeas. – a senhora respondeu impaciente.

– A Sra. Thandgeas tem giz. – Hannah disse e começamos a rir.

– Loucas e mal educadas. – Thandgeas reclamou e saiu andando.

– Calma, senhora. – gritei pelo corredor. – São apenas três horas, a festa está só começando ...