Refúgio - Memórias de Alice Arschloch escrita por shouldertheblame


Capítulo 12
Capítulo XII.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/33453/chapter/12

      "Eu estava praticamente viva, outra vez."

      Depois daquela noite de sono, a qual eu não tinha há anos, me levantei e uma brisa leve entrava pelas pequenas janelas de madeira velha e empoeirada que ficavam contantemente abertas. Espreguicei-me e caminhei lentamente ao palco, de onde soavam murmurios, que iam se tornando palavras conforme me apoximava.

      O grupo estava a trabalhar. Enquanto Poliana e Afonso limpavam as poltronas empoeiradas, uma a uma, Eve mantinha sua atenção na máquina de costura, rodeada por panos de várias cores e texturas que se amontoavam em uma grande pilha que, com certeza, passava da altura da mesinha onde estava a velha máquina a coser, juntamente com Guilherme que observava atentamente seu trabalho e a ajudava quando preciso, e Eric decorava suas falas estensas juntamente com Helga. Os dois realmente faziam um belo casal. Isso me infejava. Muito.

      - Por que deixastes que o amor machuque esse coração delicado que, mesmo parecendo forte, está congelado pelas mágoas do passado? - Recitava Eric com sua voz doce e o talento que tinha.

      - Não é tão simples quanto parece, meu querido. - Helga olhava para o papel com as falas. - As dores do passado são difíceis de ignorar quando fortes. Sinto que, quando o vejo, meu frágil coração congelado passa a pingar, a derreter. Mas algo me impede de ficar contigo. Algo que vai além de mim, além de qualquer um de nós. É demais para que entendas. Me desculpe. - Ela saiu do palco chorando, largando a rosa vermelha que segurava, como mandava o roteiro, seguida por palmas de todos, inclusive minhas. Não pude contê-las.

      Meus olhos se encheram de lágrimas ao pensar que, finalmente, meu sonho estaria realizado. Essa peça seria apresentada para muitas pessoas que a aplaudiriam. Mas não iria contar vantagem, ainda se seguiam apenas os ensaios, nada mais.

      Eve me avistou e quase deu um "tchauzinho" com a mão delicada, mas se controlou. Deu alguma desculpa para Guilherme e veio ao meu encontro. Passou por mim e, com apenas um olhar, pediu que a seguisse. Chegando à sala do piano Eve abriu o maior sorrido, ia de orelha a orelha naquele rostinho. Seus olhos sintilavam tamanha era sua alegria.

      - Você viu, você viu? - Ela batia palmas e pulava. Nunca havia visto ela assim.

      - Vi o quê, Eve?

      Não sabia exatamente se ela falava da peça de teatro que enfim estava sendo preparada e ensaiada ou se falava de Guilherme que voltara a dar seus cortejos a menina, prestando total atenção nela enquanto costurava.

      - A peça vai realmente acontecer. Mal começamos a divulgá-la e muitas pessoas já se interessaram. Tudo bem que a maioria são da família dos integrantes do grupo, mas já confirmaram presença. Ainda falta muita coisa. Preciso terminar os figurinos, Afonso e Fernando ainda vão concertar as telhas do teatro e restaurar a fachada do, todos ainda temos que decorar as falas, já sei todas as minhas. - Eve não parava de falar. Pensei em interrompê-la, mas ela estava feliz demais para isso.- Ah, e é claro que temos que providenciar os folhetos para espalhar pela cidade e os ingressos. E mais do que importante, um nome para a peça. Não havia nome algum no livro que você nos entregou. - Já ia me pronunciar, mas ela continuou. - Por isso vim aqui perguntar a você qual nome quer dar, afinal a história é sua!

      Enfim ela parou, dando espaço para que pudesse falar.

      - Eu realmente não tenho idéia de um nome. Essa é mais que uma simples peça, é a história da minha vida, não posso nomea-la. Que tal deixar o nome por conta de vocês?

      - Não acho má idéia. Vou falar para nos reunirmos e escolheremos um nome. Agora eu preciso voltar antes que Guilherme ache que estou demorando e fugindo do trabalho. Até mais, Alice. - E se foi.

      Pouco tempo depois voltei para o palco e fiquei observando todos trabalharem. Queria poder ajudar.

      O dia seguiu tranquilamente, porém no fim da tarde algo inesperado aconteceu. Estavam todos conversando na sala do piano enquanto Eric tentava ensinar algumas notas para Guilherme que, desajeitadamente tocava em cada tecla do grande piano de calda com cuidado. Afonso passou a tossir descontroladamente, seguido por um desmaio que deixou a todos em pânico. Helga rapidamente pegou seu celular e ligou para a emergência, mas teve o celular arrancado de suas mãos por Fernando, que já segurava Afonso nos braços e correndo com Poliana e Eric para porta dos fundos e desaparecendo ali.

      Os ponteiros do relógio iam marcando apenas alguns minutos a mais, mas para todos, naquela sala silenciosa, perecia uma eternidade. Helga andava de um lado a outro, impacientemente enquanto Guilherme tentava alcalmar Eve.

      Muito tempo depois Fernando e Eric voltara, cabisbaixos e Helga correu até eles para perguntar de estava tudo bem com Afonso.

      - Sentem-se, por favor. - Eric se pronunciou, mais pálido do que nunca e com a voz trêmula. Todos obedeceram. - Afonso teve uma parada respiratória e ficou em coma. Segundo os médicos o estado dele é grave, mas vamos torcer para que tudo se resolva. Poliana ficou no hospital fazendo companhia a ele.

      Eve, que já chorava, passou a soluçar. A tristeza havia tomado conta de todos. Até de mim. Helga foi preparar algo para o jantar, mas ninguém quis comer. Estavam sentados com um prato nas mãos apenas brincando com a comida.

      Já passava da meia noite e todos permaneciam acordados, exceto Eve que havia adormecido no colo de Eric, sentado no sofá, quando o celular de Eric tocou. Ele levantou bruncamente fazendo com que Eve acordasse e todos passaram a prestar atenção nele.

      - Olá, Poliana. - Uma grande pausa se estabeleceu e então Eric ficou mais pálido que o comun. - Tudo bem, eu aviso a todos. Até daqui a pouco.

      Ao desligar o celular Eric não sabia o que dizer, apenas caiu ajoelhado no chão e passou a chorar. Todos entendetam o recado. Afonso estava morto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Seria muito deixar um review com seu comentário?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Refúgio - Memórias de Alice Arschloch" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.